o
rapazinho e a pomba de milagres
(Atitude ku konduta ki pui rapasseada
di gossi ka ta fasi milagre;
a atitude e a conduta que fez que a
rapaziada dos nossos dias já não faz milagres)
Era, era ...
"[ ... ]. Era uma vez um rapazinho que foi
educado num colégio qualquer de padres e que acreditava muito em milagres. Não
conhecia nada da vida, porque fez a sua vida no colégio e saiu de lá homem, com
vinte e um anos. Todas as injustiças que ele verifica, eram mal; não entendia
que havia dum lado a miséria, gente que sofre, e do outro os ricos. Mas ele
conseguiu encontrar uma pomba que fazia milagres. E então, porque o seu
pensamento estava ligado ao sofrimento dos outros, resolveu fazer tudo para
ajudar os outros, para não haver fome, nem frio, para todos terem casas para
morar, para cada um realizar os seus desejos; ele não pensou em si mesmo, mas
pedia à pomba para fazer milagres para outros. Então a pomba apareceu-lhe e sentou-se
na sua mão. Ele disse: - "pomba, dá casas para aqueles pobres," - e
apareceram as casas com tudo, dentro delas. "Dá comida àqueles
famintos", e aparecia a comida, boa comida. Chamava mesmo as pessoas para
perguntar o que é que queriam, e dava. Até o dia em que arranjou a sua namorada
e sentou-se com ela. A namorada pedialhe uma coisa e ele dava. Outra gente dizia que também
queria, mas ele não tinha tempo, agora era só para a namorada. Repentinamente a
pomba voou, foi-se embora. Acabaram-se os milagres e tudo o que ele tinha feito
como milagre tornou a desaparecer, mesmo ainda com a pomba na mão os milagres
acabaram. Ele já não podia fazer nada pelos outros, porque só pensava na sua bojuda,
na sua barriga"
(CABRAL, Amilcar, 1978: 155, "III. o nosso Partido e a luta devem ser dirigidos
pelos melhores filhos do nosso povo", in: Arma da teoria: unidade e
luta, obras escolhidas, Lisboa, Seara Nova, 2ª ed., 248 p)*
l-I = Contado por Amilcar Cabral, o pai fundador das nacionalidades
bissau-guineense e cabo-verdiana aos quadros dirigentes e responsáveis do
PAIGC, participantes num importante seminário decorrido em Conakry
(Guiné-Conakry) entre 19 e 24 de
Novembro de 1969.
I-} = Moral
da história (sempre citando Amilcar Cabral): "Na medida em que somos capazes
de pensar no nosso problema comum, nos problemas do nosso povo, da nossa
gente, pondo no devido nível os nossos problemas pessoais e, se necessário,
sacrificando os interesses pessoais, somos capazes de fazer milagres. Assim
devem ser todos os dirigentes, responsáveis e militantes do nosso grande
Partido, ao serviço da liberdade e do progresso do nosso povo".
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