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4 de abril de 2012

439-Fabulário dos Biafadas


FABULÁRIO
Não possuem os biafadas grandes colecções de histórias para contar às crianças ou para, entre si, os homens contarem para matar o tempo.
Das poucas que possuem, figuram nelas quase sempre animais e por vezes, de cada conto transparece um conceito moral. Nos contos figura quase sempre a lebre e é a ela que cabe o papel que nas fábulas que se contam às crianças europeias cabe à astuta raposa. É a lebre que sempre intruja ou vence os animais mais fortes e nos papéis de tolo é a hiena que figura.
Apresentam-se a seguir algumas histórias.

A lebre e a hiena
A lebre e hiena jornadeavam. Depois de caminhar durante algum tempo avistaram uma povoação. A lebre parou e disse à hiena: «Quando chegarmos ao povoado, se nos perguntarem os nossos nomes não os dize­mos e daremos nomes falsos. Desde já podemos assentar quais os nomes que usaremos: tu serás «Só-trabalho» e eu «Só-como».
Caminharam mais um pouco e chegaram à povoação. O chefe desta ordenou que eles se apresentassem em sua casa e, quando chegaram, a primeira pergunta que lhes fez foi para saber os seus nomes. A lebre respondeu que se chamava «Só-como» e a hiena «Só-trabalho».
O chefe disse à hiena que, visto que só trabalhava, fosse para o mato cortar lenha e mandou trazer comida para a lebre, uma vez que só comia.
A hiena passou o dia todo a cortar lenha e, quando caiu a noite, foi pedir comida ao chefe da povoação, este recusou-se a dar-lha. Na manhã seguinte o chefe ordenou novamente à hiena que voltasse ao mato cortar lenha. Vendo a hiena que estava metida em trabalhos por via da lebre, pensou em vingar-se dela. Partiu o machado au meio e foi à procura do chefe a quem disse que não podia continuar a trabalhar por o machado se ter partido e acrescentou; «Isso, porém, não tem importância porque conheço alguém que é capaz de coser O machado e ele fica como novo». O chefe perguntou-lhe quem era capaz de fazer tal e ela respondeu que era o «Só-como». O chefe mandou chamar a lebre à sua presença e comu­nicou-lhe o que a hiena tinha dito. A lebre escutou serenamente o chefe e quando este acabou de falar respondeu: «Na verdade posso coser o machado mas não com linha. Posso cosê-lo, sim, com os tendões do «Só-trabalho». O chefe ordenou que a hiena fosse morta e que se lhe tirassem os tendões. Para se livrar da morte certa, a hiena fugiu e jurou a si mesma nunca mais associar-se com a lebre.

Como a rapariga experimentou o seu namorado
Uma rapariga tinha um namorado que passava os dias pelos campos a apascentar o gado. Certa tarde começou a chover torrencialmente e relampejar continuamente e o rapaz, não podendo regressar a casa, meteu-se no seu abrigo. A mãe deste pediu a toda a gente do povoado para ir levar comida ao filho mas ninguém quis. Então a noiva do seu filho foi ter com ela e disse-lhe que iria à floresta levar comida ao seu noivo. Assim fez.
Depois do seu namorado ter comido, a rapariga voltou para a casa.
No caminho encontrou alguns lobos e pediu-lhes que fingissem que a comiam e que começaria a gritar para ver se o seu noivo a iria socorrer. Os lobos entraram para a sua toca levando a rapariga que se pôs a gritar com quanta força tinha. Aos gritos da rapariga, o rapaz foi ao local, onde, juntamente com os gritos da sua namorada, ouviu vozes falando assim: «eu fico com a perna», «eu fico com a cabeça», «eu fico com os braços». «Não vale a pena discutir - disse um dos lobos - esperemos por aquele que está à entrada da nossa toca». Ouvindo assim falar, o rapaz fugiu a bom fugir. A rapariga saiu e agradeceu aos lobos o ser­viço que lhe tinham prestado e nunca mais quis saber do seu namorado.

De como a lebre se viu livre do elefante e do hipopótamo
A lebre não se entendia muito bem com o elefante e o hipopótamo e esse desentendimento vinha, ao que parece, de questões de comida - a lebre, mais fraca, ficava sempre mal.
Depois de magicar durante alguns dias, a lebre foi junto do elefante e disse-lhe: «Vou fazer-te uma proposta: amarras uma ponta desta corda que aqui trago a uma perna e eu faço o mesmo com a outra ponta e cada um puxa para o seu lado. Aquele que arrastar o adversário ganhará um monte de milho que aqui está perto». O elefante aceitou a proposta. A lebre amarrou o elefante com a corda por uma perna e seguiu com a outra em direcção ao rio. Ali encontrou o hipopótamo a quem fez a mesma proposta que tinha feito ao elefante. O hipopótamo aceitou. Pôs a corda ao hipopótamo e disse-lhe que iria amarrar-se com a outra ponta depois do que começaria a competição. A lebre desapareceu e o elefante e o hipopótamo começaram a puxar, cada um para seu lado. Depois de puxar durante algum tempo, ficaram admirados que a lebre tivesse tanta força - qualquer deles estava convencido que tinha a lebre por adver­sário. Tiveram o mesmo pensamento ao mesmo tempo: ir verificar se de facto era a lebre que estava a bater-se com eles. Quando se encontraram e compreenderam que tinham sido enganados pela lebre, combinaram ir em sua perseguição para a castigar A lebre que andava perto ouviu tudo e tratou logo de se esconder. Vendo perto uma pele de gazela a apodrecer, meteu-se dentro dela e aí deixou-se ficar. Pouco tempo depois o elefante passou por ali e ao ver a pele, disse: «Pobre gazela, certa­mente foi alguma hiena que a matou». Mas a lebre, escondida lá dentro, respondeu imitando a voz da gazela: «Nada disso foi; tive uma desa­vença com a lebre e ela rogou-me uma praga e eu fiquei neste estado». «Se ela é dessa força, exclamou o elefante, não quero nada com ela, apesar de termos umas contas a ajustar».
Algum tempo depois o hipopótamo encontrou a pele da gazela e o mesmo aconteceu com ele.
A partir daquele dia a lebre andou à vontade e nunca foi incomodada pelo elefante ou pelo hipopótamo.

De como a mulher se livrou das pancadas do seu marido
Havia certo homem que tinha por hábito discutir com a sua mulher acabando sempre por lhe dar uma tosa. No final de cada tareia, espetava a sua espada no chão, subia para cima dela e gritava: «Não há homem como eu». A mulher acrescentava: «Nesta povoação».
Mas ele continuava convencido que não havia homem tão forte como ele.
O tempo foi correndo e um dia a mulher pediu-lhe que a acompa­nhasse a casa de seu pai ao que de aquiesceu.
Partiram de madrugada e, depois de muito caminhar, encontraram um grande rio no qual navegavam grandes canoas. O homem admirado por encontrar um rio num local por onde já havia passado anteriormente sem ver água, manifestou a sua admiração à mulher.
Ela respondeu que o pai, quando dormia, babava muito e que o rio que via não era mais que a baba do pai que, naquele momento, estava a dormir.
Andaram mais um pouco e começaram a ouvir um barulho ensur­decedor. O homem, assustado, perguntou à mulher o que era aquilo ao que ela respondeu: «Estão a acordar o meu pai. Só com este barulho c com fortes marteladas no corpo se consegue acordá-lo porque ele é muito forte.
Passados alguns dias voltaram a sua casa e, pelo caminho, o homem disse à mulher:
«De facto há homens mais fortes do que eu». A partir daquele dia não mais bateu na mulher.

 

A seguir apresentam-se pequenas histórias, charadas afinal, escuta­das com grandes risadas e no fim das quais cada um tenta apresentar melhores respostas às perguntas que se formulam.


Perante uma grande multidão, dois cavaleiros discutiam as suas habilidades, cada um se considerando superior ao outro. Como a dis­cussão parecia eternizar-se sem chegarem a Um acordo, decidiram que cada um faria uma proeza e os presentes avaliariam as suas habilidades.
Um deles espetou uma agulha no tronco de um poilão e, afastando-se um pouco, meteu o seu cavalo a galope e passou pelo buraco. O segundo cavaleiro arrancou a agulha que estava espetada no tronco e, recuando alguns metros, partiu em direcção ao poilão em cujo tronco fez um ori­fício com a agulha que empunhava como se fora uma lança, passando através do orifício.
Qual deles o mais habilidoso?
                                                                                                                                       

o homem teimava ser mais ligeiro que a mulher que não lhe reco­nhecia essa superioridade.
Uma manhã saíram de casa para fazer uma viagem. A mulher levava à cabeça um balaio com farinha. Ao chegarem junto de uma lagoa, a mulher escorregou e caiu e a farinha que levava derramou-se pelo chão. Antes dela se levantar já o homem tinha recolhido toda a farinha no balaio. A mulher ficou despeitada mas não disse nada. Mais adiante encontraram uma lala - terreno alagadiço. O homem escorregou e caiu. Levantou-se e perguntou à mulher se a sua roupa tinha ficado enlameada. Mas ela, apresentando-lhe a roupa, disse-lhe que não estava suja porque lha tinha despido antes dele tocar o chão.
Qual deles o mais ligeiro?




Iufu e Iafá conduziam uma vaca, indo o primeiro à frente com a corda e o segundo, atrás, a enxotá-la.
No meio do caminho a vaca fugiu. Quando chegaram notaram com espanto que o animal tinha fugido. Puseram-se a perguntar pela vaca.
 - Então tu levas a corda e não sentes a vaca fugir, diz Iafá.
 - E tu vais atrás dela e não a vez fugir? - replica Iufu.
Qual deles o mais tolo?



Cabucu dunia (1)
Um velho saiu com o seu filho a correr o mundo a fim de o pôr em contacto com a vida porque o rapaz era novo e inexperiente.
Andaram algumas horas e encontraram três fontes: duas com água e no meio delas, uma seca.
De uma das fontes que tinha água, esta corria para a outra e vice­-versa. Para a que estava seca não ia uma gota.
O rapaz admirou-se e perguntou ao pai por que as fontes que tinham água trocavam-na entre si e não mandavam uma gota para aquela que estava seca. O pai respondeu-lhe: «Os ricos associam-se entre si mas nunca verás os ricos associarem-se aos pobres».
Mais adiante encontraram um homem a colher lenha, tendo já feito um grande feixe com o qual não podia. De vez em quando experimentava o feixe e, apesar de não o poder fazer, ia-o sempre aumentando. O filho manifestou a sua estranheza ao pai, tendo-lhe este respondido: «Há homens que mal podendo sustentar uma mulher, nem por isso deixam de tomar todas as que lhe aparecem. Homens assim nunca conseguem ir para diante».
Finalmente encontraram duas vacas a pastar num campo. Uma, coberta de moscas, comia pachorrentamente ao passo que a outra sa­cudia-se e fugia de um lado para outro para se livrar de uma só mosca que tinha pousado nela. Perante o espanto do filho, o velho explicou: «Há homens que têm muita família e trabalham sempre para a sustentar mas hás-de encontrar quem só tenha um parente para sustentar e que empregará todos os meios para se livrar dele».
(1) Cabucu dunia significa: coisas de pasmar.


OCTÁVIO C. GOMES BARBOSA






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