Foi este. Era uma publicação trimestral e, por isso, tem a data de "Abril de 1973". No entanto, um dos articulistas, o padre franciscano Henrique Pinto Rema, aponta no final da sua resenha: "Prefeitura Apostólica, em Bissau, 8 de Outubro de 1973". É evidente, pois, que, embora com data de Abril, só terá saído depois desta data. Saíra um (109) em Janeiro, deveria sair um outro em Julho. Com a situação militar difícil vivida na Guiné compreendem-se as dificuldades, bem visíveis na feitura deste boletim, o que já era evidente também nos boletins anteriores.
O primeiro articulista relata-nos como era feito o controlo do paludismo em várias localidades perto de Bissau (Prábis, Safim e Quinhamel), porque, naturalmente, não seria possível ir fazê-lo mais longe. Inicia o seu trabalho com uma exposição técnica sobre o paludismo e a caracterização climática e social da Ilha de Bissau (4 páginas). Relata, depois, os trabalhos realizados por outros em 1948 e 1953, e um seu em 1966 e aquele a que se refere o artigo, iniciado em 1971, virado especialmente para a captura de mosquitos e sua análise. Tem alguma fotografias sem indicação dos locais onde foram tiradas e sem indicação de datas. Era um especialista, é verdade, era o chefe dessa missão. Mas era também um político afecto ao regime, natural que se empenhasse por ele (pesquisei na internet):

Há também um artigo do padre António Ambrósio, missionário em S. Tomé e Príncipe, sobre Costa Alegre, um poeta africano dessas ilhas.
Quer o texto deste quer o de Manuel Lopes foram extraídos de outras publicações, não eram especialmente feitos para o boletim.
Fala da Guiné o padre franciscano Henrique Pinto Rema, que penso ser, nesta altura, o único dinamizador do boletim, porque se mantinha lá como disse acima. Estava lá há muitos anos e era, também há muito tempo, da Direcção do BCGP. O seu é um extenso texto (118 páginas), como outros publicados em edições anteriores, sobre as missões franciscanas na Guiné. Tem uma parte interessante sobre "As missões da Guiné na conjuntura da guerrilha" (ver aqui). Também sinal das dificuldades da altura são as fotografias que apresenta: da visita a uma missão perto de Bissau feita por Américo Tomás em 1968, de uma visita do Governador Arnaldo Schultz a outra, com o Prefeito Apostólico e o Secretário-Geral da Província, em 1967. Não dava, se calhar, para os governantes dos últimos anos andarem em vistas destas...
Vêm no final os habituais: Cónica da Província, Economia e Estatística, Publicações Diversas, Movimento da Biblioteca Nacional.
Quanto à "Crónica da Província" há coisas interessantes:
Isto é, foi um padre porque, parece, nenhum "civil" havia ou se atreveu a vir para a Guiné ocupar aquele cargo. De facto, este aguentava-se lá. Ele próprio o disse na sua intervenção:
Uma outra notícia da "Crónica":
Fui ver quem seriam estas raparigas.
Não encontrei nada da Sacardandó. Palpitou-me que seria libanesa, ou coisa do género.
Quanto à eleita "Rapariga Ideal da Guiné", Maria José Matamouros Resende Costa, descobri que era médica no Brasil. Porquê não sei. Mas fui ver mais. E vi, no trabalho do Leopoldo Amado "Da Embriologia Nacionalista" que, quando Cabral iniciou o movimento de erradicação do sistema colonialista, foi assinalado "o facto de no grupo de Benjamim Correia haver um branco de nome Luís Mata-Mouros Resende Costa, de 36 anos de idade, natural de Bissau, que era encarregado de tratar de vários assuntos relativos ao grupo Benjamim Correia, disfarçados em um grupo associativo com uma comissão directiva, tendo justamente como Secretário o Luís Mata-Mouros Resende Costa." Não consegui saber se essa Maria José era filha desse Luís, do qual não consegui saber mais nada, mas penso que deveria ser da família dele, uma vez que também era natural da Guiné. Quem seriam os elementos do júri, que não tiveram em conta que essa rapariga era de família oposicionista? Na situação, seria normal (ou não?) que tivessem isso em conta. Mas não sei quem eram.
Vi no blogue do Didinho que a Isabel Maria Garcia de Almeida (Bélita) é nutricionista, com acção na Guiné-Bissau, mas com muitas queixas:
«Não pude evitar olhar para o meu próprio umbigo e recuar 34 anos. Lembrei-me em particular do meu pai, da desagregação da minha família nuclear original e “da minha solidão” no chão da Guiné. Foi devido à intolerância, mesquinhez e barbárie que o meu pai foi arbitrariamente preso em 1975, durante quase 3 anos, sem culpa formada e libertado sem nunca se ter provado as acusações de que fora alvo...
Para fugir à perseguição após a soltura, viu-se obrigado a emigrar para Portugal com toda a família... menos as 2 filhas. Tinha eu 19 anos na altura e a minha irmã 17. Acreditávamos que tudo não passava de equívocos, de custos às vezes inevitáveis de um pós-guerra.
Tivemos o atrevimento e a ousadia de sonhar com a possibilidade de assumir a nossa quota-parte de responsabilidade e participar de corpo e alma, na construção de um futuro de justiça e desenvolvimento para as gerações vindouras, com o risco de ruptura com a restante família, o meu pai em particular, que nos rotulava de “aliadas dos seus inimigos”. Com o tempo, mesmo sem nunca ter compreendido as nossas motivações, acabou por se resignar, aceitar e respeitar a nossa escolha…
A morte ceifou a vida à minha irmã muito cedo, aos 27 anos de idade e eu continuei a dar o meu máximo para a paz e a prosperidade deste chão querido, assim como o gozo de cidadania plena, transmitindo esse mesmo espírito aos meus filhos e a todos os jovens com que cruzo na minha vida, e não só…
Se por um lado construí a minha própria família, por outro, continuei a sentir-me sempre só, órfã de pai, de mãe, de irmãos...
Apesar de longe, o meu pai “foi perseguido até à morte pelo percurso político da Guiné-Bissau”. Aos 40 anos de idade os traumas da prisão impediram-lhe de continuar a levar uma vida familiar, social e economicamente activas.
Sem que se lhe conhecessem antecedentes cardíacos, 30 (trinta) anos depois de ter saído da Guiné, 20 (vinte) dias após a eclosão da guerra de 98, sucumbe, relativamente novo, aos 62 anos de idade, a um ataque cardíaco, quiçá fruto das recordações e emoções provocadas pelas imagens dos horrores da guerra apresentados a todo o mundo através da televisão.» ? Penso, pelo que ela diz, que o seu pai não seria do agrado dos "combatentes da liberdade da pátria".
Quanto à Maria Munira Jauad, tem uma empresa familiar na Guiné-Bissau, a RUMU, «criada em 1996 e que chegou a ter um volume de negócios superior a 1 milhão de dólares entre o período 1996-1998 graças á exportação de grandes quantidades de castanha de cajú.
Com início da guerra civil, coube aos empresários guineenses de financiar o conflito armado, sendo que como consequência da instabilidade política acabaram por ver as suas produções saqueadas. A partir do fim da guerra a Rumu começou a retomar o seu negócio maioritariamente com empresários indianos e a partir de 2003 voltou a poder financiar-se em consequência do regresso do sector bancário ao país.
Após uma pausa na minha actividade empresarial entre 2006 e 2011 – durante a qual desempenhei funções de Embaixadora da Guiné-Bissau na Gâmbia – voltei a reabrir actividade, direcionando-me para a exportação de manga e de castanha de cajú, áreas de negócio que têm vindo a ser apoiadas por alguns programas de desenvolvimento. Queremos posicionar a nossa exportação para os mercados Europeu e Americano.»
Quanto à família desta, de ascendência indiana, parece, estaria nas boas graças dos que ganharam a independência.
Não consegui saber nada sobre a última classificada, Antónia de Pádua Gomes Semedo. No entanto, como as famílias Gomes (como o actual Primeiro-Ministro golpeado) e Semedo (o engenheiro Júlio Semedo, por exemplo) estão ligadas à luta de libertação, talvez ela pertencesse a essas famílias, não sei.
O que quero dizer é que me parece que o júri, para escolher a "Rapariga Ideal da Guiné", não se terá preocupado, nem procurado ter em conta, sobre os eventuais ventos políticos pairantes sobre essas famílias. O que não era normal. Sinais da situação e das perspectivas futuras? Talvez. Mas teve em conta outra coisa, e isso é evidente: nenhuma rapariga do Pilão nem nenhuma bajuda do mato. Mas percebe-se: estas só terão brilhado nas provas práticas, nas teóricas não.
E uma surpresa: circo na Guiné:
Em Bissau acredito. Mas "no interior da Província" em "digressão por terras da Guiné" tenho dúvidas. Para não dizer que não acredito. Se alguém tiver visto esse circo que diga, agradeço.
E o desporto:
É evidente que todas estas provas se realizaram em Bissau.
No tiro aos pratos palpita-me que não esteve lá nenhum habituado ao "tiro aos turras". Ainda por cima era de iniciados...
Nas corridas e saltos, no Torneio de Atletismo, devia ser a "camada estudantil" de Bissau, especialmente do Liceu Honório Barreto.
Quanto à "deslocação do Boavista à Província", limitou-se a estes jogos "em terras da Guiné": selecção da Guiné e Sporting Clube de Bissau. Nem é referido que jogou com o UDIB e o Benfica de Bissau. Mas talvez, admito. Já não acredito que fossem a Mansoa defrontar o Clube de Futebol Os Balantas.
Campeonato "Provincial" de Futebol - Havia o Benfica de Bissau, o Sporting Clube de Bissau, a União Desportiva Internacional de Bissau, o Ténis Clube de Bissau e o Clube de Futebol Os Balantas. Era capaz de haver outros mas não sei. Não sou bom a fazer contas em futebol, mas parece-me que, tendo sido feitos 14 jogos, Os Balantas não entraram neste campeonato. Seria difícil estes deslocarem-se a Bissau e muito mais os outros irem a Mansoa. Se alguém souber mais destas contas que me diga.
Quem assina a "Crónica da Província" é Alfredo Garrido Ferreira, que assina também a tabela das leituras feitas na "Biblioteca Nacional" como seu Director, e que diz ser Professor do Ensino Secundário, no Liceu Honório Barreto naturalmente. Mais um sinal das dificuldades de gente para estas tarefas.
Dificuldades que já vinham de antes:
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