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24 de maio de 2012

490-Tabanka de lebre, lala



Tabanka de lebre, lala*

(Djitu ku pui lala bida Tabanka di lebre:
como é que a lala se tornou a Tabanka do lebrão)

Era, era…
Era uma vez, uma grande Tabanka de animais, chamada “lala”. Lá moravam quatro famílias. A
família lebre, a família cabra, a família lobo (hiena) e a família onça. Todos eram parentes tocados.
Porque eram todos animais da floresta. Mas mesmo assim, cada família, como é caso de todos os
Seres, tinha a sua Morança própria, dentro da grande Tabanka. Também cada família tinha o seu
dono de Morança, o chefe. 
E o problema na Tabanka de lala era esse. Os donos de Morança não se entendiam. Ao contrário
das suas crianças. Essas se entendiam. Não tão perfeitamente bem, mas sim razoavelmente.
Porque se cruzavam sós sem acompanhamento, não se roubavam a comida de uns aos outros,
segundo a lei do mais forte, nem se furtavam, segundo a lei do mais intriguista, e nem se brigavam
(como isso acontecia no caso dos seus pais, as vezes até a morte), segundo a lei do mais feroz. 
Havia uma hierarquia entre os donos de Morança que não era observado entre os filhos. O Papai
lebre era da categoria inferior de todos. Porque o mais fraco (fisicamente), menos intriguista e
menos feroz. O sobrinho de todos. Ele tinha que apelar e tratar os outros três de Tio. Tinha todavia
uma qualidade excepcional. Era uma pessoa de bem muito respeitadora de outros seus
congéneres e uma pessoa de bons planos. E porque sobrinho, cultiva esses valores em todas as
situações de vida. 
O Papai cabra-bode era o sobrinho dos Papais lobo e onça. O Papai lobo, o sobrinho do Papai
onça, que era assim o único sem Tio na Tabanka. Só para lá fora tinha ele os Tios tigre, leão e
pecador que moravam em outras Tabankas.  
Um dia, do regresso da caça, o Papai lebre encontra o Tio cabra-bode numa fonte. Disse que caiu
lá por descuido. Fez tudo e não conseguia sair. Pedia por isso o socorro ao sobrinho lebre. 
O Papai lebre que não era forte, nem intriguista e nem feroz, mas sim pessoa de bem, muito
respeitador das regras da vida conjunta e muito respeitadora da força dos bons planos, pôs-se
logo a fabricar um bom plano sobre o assunto. Diz-se à si então, “ah, se dos três Tios maus, o
Senhor Deus mandou neutralizar um pelo calaboiço da fonte, então há que continuar por essa
via”. Princípio da solução encontrada, solução encontrada. 
O Papai lebre fabrica logo então um acordo que apresenta ao Tio cabra-bode. Oferecer-lhe-ia seu
socorro contra o abandono da Tabanka de lala, para ir morar doravante e em definitivo, com a
família toda, na Tabanka do Tio pecador. Ele, o Papai lebre sabe, que o Tio pecador, até a um certo
ponto, tolerava bem as famílias de animais do género de Tio cabra-bode. O Tio cabra-bode, ciente
da sua situação e vantagens de se salvar a vida, aceita o acordo. Celebram em seguida esse pela
partilha de uma cola de juramento. Cada um comendo uma parte, jurando pela honra e alma deles
mesmos e pela honra e alma de todos os seus antepassados. O Papai lebre vai e informa a família
do Tio cabra-bode, onde até lá ainda ninguém sabia de nada. Socorrido, o Tio cabra-bode parte 
com a família toda de uma vez para sempre para a Tabanka do Tio pecador. (A menos que viesse
mudar da atitude e do comportamento no futuro de um Tio mau para um Tio bom).  
O Papai lebre, a partir daí, vai estabelecer um grande plano. Vai fabricar com a ajuda do amigo
arquitecto, pedreiro e carpinteiro bagabaga, um calçado com a forma das patas dos pés do Tio
cabra-bode. Depois camufla a abertura da fonte e caminha com os sapatos da forma das patas dos
pés do Tio cabra-bode, calçados, até perto da Morança do Tio lobo para depois regressar ao local
da fonte.

O Tio lobo, no dia seguinte, reparando as pegadas do cabra-bode, seu sobrinho mal querido e
sempre mal tratado, lança-se logo na perseguição deste sem nenhuma desconfiança. Finda a
caminhada exactamente na fonte. 
O sobrinho lebre que aparece um tempo depois apresentá-lo-á a proposta do mesmo tipo de
acordo que celebrara com o Tio cabra-bode. Propondo-lhe mudar, doravante e em definitivo, com
toda a família, para a Tabanka da mata de tarrafe e/ou de mantampa de serra do Tio tigre. O Tio
lobo, ciente da sua situação e vantagens de se salvar a vida, aceita o acordo. Os dois celebram em
seguida esse pela partilha de uma cola de juramento. Cada um comendo uma parte, jurando pela
honra e alma deles mesmos e pela honra e alma de todos os seus antepassados. O Papai lebre vai
e informa a família do Tio lobo da mesma maneira como fez com a família do Tio cabra-bode.
Socorrido, o Tio lobo parte com a família toda de uma vez para sempre para a Tabanka da mata de
tarrafe e/ou de mantampa de serra do Tio tigre. (A menos que viesse mudar da atitude e do
comportamento no futuro de um Tio mau para um Tio bom).
O Tio onça é afastado pelo sobrinho lebre com a ajuda do mesmo tipo de plano. Fabrica também
com a ajuda do amigo arquitecto, pedreiro e carpinteiro bagabaga um calçado com a forma das
patas dos pés do Tio lobo. Depois camufla a abertura da fonte como fez antes nos outros dois
casos e caminha com os sapatos da forma das patas dos pés do Tio lobo, calçados, até perto da
Morança do Tio onça para depois regressar ao local da fonte. 
O Tio onça ao acordar-se no dia seguinte e reparando as pegadas do lobo, seu sobrinho mal
querido e sempre mal tratado, à volta da sua casa, lança-se logo na perseguição. Sem
desconfiança nenhuma. E finda também a caminhada exactamente como os Tios cabra-bode e
lobo na fonte. 
O sobrinho lebre aparece um tempo depois como fez nos dois outros casos. Apresenta ao Tio onça
a proposta do mesmo tipo de acordo que apresentara aos Tios cabra-bode e lobo e que celebrara
com eles. Propondo-lhe mudar, doravante e em definitivo, com toda a família, para a Tabanka da
mata serrada do Tio leão. O Tio onça, também ciente da sua situação e vantagens de se salvar a
vida, fez como fizeram os Tios cabra-bode e lobo. Aceita o acordo. Os dois celebram esse
partilhando a cola de juramento. Cada um comendo uma parte, jurando pela honra e alma deles
mesmos e pela honra e alma de todos os seus antepassados. O Papai lebre vai e informa a família
do Tio onça da mesma maneira como fez com a família do Tio cabra-bode e do Tio lobo. Socorrido,
também o Tio onça parte com a família toda de uma vez para sempre para a Tabanka da mata
serrada do Tio leão. (A menos que viesse mudar da atitude e do comportamento no futuro de um
Tio mau para um Tio bom). 
Feito tudo, a lebre, sem nunca se ter metido na categoria do mais forte, nem do mais intriguista e
muito menos, do mais feroz, foi chamar toda a família para um grande meeting. Onde fez um
grande discurso com grandes palavras que ficaram para sempre na memória de todos os Seres da 
Tabanka de lala. E cujo alguns trechos são ainda frequentemente utilizados por muitos. Ele disse:
“Minha família, todos vocês sabem. Os três Papais das nossas três outras famílias parentes desta
nossa Tabanka transformaram-se todos em Seres maus contra nós. Há muito tempo que se
tornaram fontes permanentes de todas as espécies de maltratos pelo uso da força, da intriga ou
da ferocidade na nossa Tabanka. Mas, Deus obrigado. Porque Ele, o Senhor, nãé de mal
mandado. Porque Ele o Senhor, sempre que quer cada um de nós pode fazer e conseguir.  
Antes de ontem, ontem e hoje de manhã, os três Papais das nossas três outras famílias parentes
viram-se todos cair, um por um; todos, no calaboiço da fonte. Pediram-nos socorro. Socorremo-
los. Mas antes celebramos com cada um, um acordo muito humano e justo. Fim de todas as
espécies de maltratos pelo uso da força, da intriga e da ferocidade na nossa Tabanka; libertação
do calaboiço da fonte, salvação da vida e asilo para eles. Aceitaram e partiram todos. Se se
tornarem parentes bons, aqui em diante, poderão voltar. Senão, terão partido para sempre. Deus
obrigado! Viva a bondade na nossa Tabanka de lala”. Rau, rau, rau… de aplausos e vivas de todos
retumbaram com muito entusiasmo, misturados, para depois se findarem com abraços e coladas.
Também gestos, até hoje, conservados e observados por muitos na Tabanka de lala.      
Do resto, é desde então que as famílias lebre, cabra, lobo e onça, que eram antes parentes
tocados e que sempre habitaram a Tabanka de lala, se viram separar-se; até hoje. O cabra-bode
foi morar com toda a família na Tabanka dos pecadores, o lobo na Tabanka dos tigres e a onça na
Tabanka dos leões. 



A família lebre ficou como a única na lala. Mas, sempre esperançada de que algum dia os seus
parentes asilados conseguir-se-iam transformar-se em Seres bons para assim poderem regressar
na sua Tabanka de lala. A sua Tabanka natal. Por isso, as lebres até hoje, quando saem fora das
suas casas (esconderijos) bem arranjadas na lala, não passam o lapso de um tempinho sem
levantar as suas grandes orelhas para todas as direcções. É para ver se as famílias cabra, lobo e
onça já estão de regresso. 
                                                          
Moral da história (entre outras): 
Uma comunidade com muitos membros poderosos maus; se consegue ver colocado um desses maus, por um
ou outro meio qualquer no estado de inocuidade: (1) é deixa-lo evidentemente naquele estado, reforçando-o (o estado inócuo), sem agressão, nem atentado contra a sua integridade física; (2) estabelece em seguida uma estratégia e plano visando colocar todos os outros membros poderosos maus, ainda restantes, também no mesmo estado de inocuidade; (3) e por aplicação desse plano estabelecido, coloca    
realmente, todos, em definitivo, no estado de inocuidade. Pelo bem da estabilidade, tranquilidade e paz comunitária definitiva e duradoura. Mesmo se com muita dor de separação nos corações.


*Por Abdulai Keita, Pesquisador Independente, Sociólogo (DEA – Estudos de Desenvolvimento) e Engenheiro de Engenharia Rural (Mecânica de Tractores e Máquinas Agrícolas).

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