FÁBULAS
(STORIAS)
Estes textos foram
extraídos do livro O CRIOULO PORTUGUÊS DA GUINÉ-BISSAU, de Hildo Honório do
Couto, publicado em Hamburgo pela editora Helmut Buske Verlag, na série
Kreolische Bibliotheke, n.º 14, em 1994.
* * *
(NOTA: na leitura em crioulo, c = tch, j=dj, N = velar nasal)
1. Lobo co garça
(texto em crioulo)
Narrador: -- Er-ier...
Ouvintes: -- Era ba, certo!
Narr.: -- Lobo ta comê dessalmado!
Ouv.: -- Bardade!
Narr.: -- Falado, comâ lobo co sê
okessa comê um dia tork oss trabessal na gargante.
Ouv.: -- Bom fêto!
Narr.: -- Pó preto sta ba tarpalhado;
nim par púpa. Par si sorte, garça sá ba ta passâ; mofino fassel sinal, garça
bem: surjon-grande! kel ora, ê cabâ rincal-óss d'garganta ê pidi sê págo.
Ouv.: -- Cô rossom.
Narr.: -- Mas ti-lobo jobéel ... ê bidâ
ê falal: abóo .. bo stá na mangaçom: comâ-ké? bô pago! ... Logo bô ca contente
inda êm dessá bo bussô bô gargante dentro na nha gherla? -- Assó bái! ... bô
mal concido. Tamá sintido cam-torna panhabo, park-ê-ca dreto.
(Publicado por Marcelino de Barros e
Adolfo da Silva em A Fraternidade, Guiné a Cabo Verde, Bolama, 31 de
outubro de 1883. Reproduzido por COELHO 1886, cf. MORAIS-BARBOSA 1967, p.
156-157).
A hiena e a garça
(tradução)
Narrador: -- Era uma vez...
Ouvintes: -- Sim, era uma vez!
Narr.: -- A hiena é uma glutona!
Ouv.: -- É verdade!
Narr.: -- Dizem que a hiena, com sua
gulodice, um dia comeu até que um osso ficou atravessado em sua garganta.
Ouv.: -- Bem feito!
Narr.: -- A gulosa estava apavorada;
não podia nem uivar. Para sua sorte, a garça estava passando; a mesquinha lhe
fez um sinal e a garça se aproximou: esta era uma grande cirurgiã! Quando
acabou de tirar o osso da garganta da hiena pediu-lhe a recompensa.
Ouv.: -- Isso é justo.
Narr.: -- Mas, a hiena olhou para ela
... virou e disse: você ... está querendo me fazer de boba: o quê? seu
pagamento!! ... Você não ficou satisfeita só com o facto de eu deixar você
enfiar seu bico em minha goela? -- Vai embora! ... sua infeliz. Cuidado para
que eu não torne a vê-la, isso não é justo.
2.
Kandonga ku amparante (texto em crioulo)
I ten ba un bias un omi ku tene kandonga, ma i ka
tene kusa riba. I tene un kacon tras. I mbarka son un amparante ku sukundi na
kacon. I bai i bai tok i ciga na Safin. Jintis e bin pidi buleia. E
inci jintis karu. Suma cuba na cobi i mbarka kil jintis tras. E bai tok e ciga
na Jugudul. Cuba para,
cuba para son. Amparante manera ku i miti dentru di kacon i iabri son kacon. Ku
velosidadi ku karu na bin ba ki jintis oja son manera ku kacon iabri. Omi
lanta. Kada kin na kai na si ladu. Kada kin na kai. Te pa e ciga Gan-Mamudu,
tudu ku sta ba na karu e muri. Amparante boka mara. Ma i bin fala elis kuma i
cuba ku pul ba i miti dentru di kacon. Ami i ka kuma di difuntu. I ka algin ku
muri ku tenedu na kacon. Bu obi.
A candonga e o
cobrador (tradução)
Havia um homem que tinha uma candonga
que não tinha tecto. Na carroceria havia um caixão. Em seguida o cobrador
embarcou e se escondeu dentro do caixão. Assim foram até chegar a Safim.
Algumas pessoas pediram carona. O homem encheu o carro de gente. Estava
chovendo muito, mas embarcaram todos atrás (na carroceria). Continuaram a
viagem até chegar a Jugudul. A chuva parou. O cobrador saiu de dentro do
caixão. Na velocidade em que o veículo corria todos viram o caixão se abrir. O
cobrador se levantou. Cada uma das pessoas caiu para um lado. Todos caíram. O
cobrador ficou sem fala (boquiaberto). Todos que estavam na candonga caíram,
até chegar a Gã Mamudu todos morreram. Apesar de ele lhes ter dito que não era
defunto, que se metera dentro do caixão por causa da chuva.
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