Excertos da “Análise da actividade da guerrilha”, contida no
último relatório da 2ª REP do CTIG (2ª Repartição do Comando Territorial
Independente da Guiné), do qual já dei notícia aqui. Os meus agradecimentos, mais uma vez, ao Luís Vaz pela cedência desse documento, e também ao Sousa e Castro, de cujo blogue copiei duas fotografias.
"A actividade da guerrilha do PAIGC, em 1973, processou-se de acordo com os padrões normais dos anos anteriores, tendo apresentado no entanto a seguinte particularidade: o ponto alto verificado no final da época seca (em MAI73) correspondeu a cerca do dobro das acções registadas em 1972, na mesma altura, e o decréscimo observado durante a época das chuvas foi mais acentuado e prolongou-se para além da época seca, até NOV73.
No entanto a partir do final de DEZ73, a actividade da guerrilha aumentou muito acentuadamente, tendo sido em todos os meses do primeiro trimestre de 1974 mais elevada que nos meses homólogos do ano anterior.
Deste modo ao empolamento da actividadfe da guerrilha em 1973, sucedia outro tanto em 1974.
O habitual ponto alto que se previa para ABR/MAI74, e tudo fazia admitir mais violento que o de 73, só foi sustido pela ocorrência do Movimento de 25ABR."
ANÁLISE DOS QUADROS JÁ PUBLICADOS ANTES (VER):
▀ No ano de 1973 as acções de guerrilha (1.514 – 1.033 de iniciativa do PAIGC e 481 de reacção), aumentaram em 11%
relativamente a 1972
(1.359 – 760 de iniciativa do PAIGC
e 599 de reacção). Houve um
aumento de iniciativas do PAIGC em 35%. Acrescenta o relatório que “Esta tendência – aumento da actividade de
iniciativa – acentuou-se mais nos primeiros quatro meses de 1974 (+50%),
período em que se registaram 415 acções de iniciativa, total significativamente
superior às 276 realizadas pelo PAIGC em igual período de 1973”. Refere que
estes números reflectem uma maior agressividade e potencial revelados pelas
FARP (Forças Armadas Revolucionárias do Povo, exército do PAIGC) e uma
diminuição da reacção e menor capacidade ofensiva das NT (Nossas Tropas).
▀ Em 1973
as NT tiveram mais do dobro dos mortos (185) do que em 1972 (84), sendo o total de mortos até 30 de Abril de 1974 (81)
quase tantos como em 1972.
Diz: “Era notória a
evolução do abandono progressivo de actividade de guerrilha dispersa em
superfície, em proveito das acções maciças contra objectivos definidos,
obrigando a grandes balanceamentos de meios, por vezes, envolvendo elementos de
todo o TO [Teatro de Operações].” E menciona o PAIGC com novas armas
(Míssil Strella e Viaturas Blindadas) e maior emprego de outras (Mort 120, Fog
122, Canh 85, Canh 130, Minas Especiais).
DISPOSITIVO GERAL DO PAIGC E OBJECTIVOS:
“Ao longo de toda a
fronteira e nos países limítrofes, o PAIGC dispunha de Bases com estruturas e Comandos
próprios, perfeitamente integrados na sua organização militar e que, em
conjunto com os corredores de infiltração e áreas fulcrais no interior do TO,
constituíam a malha do seu dispositivo.
Algumas das Bases
ao longo da fronteira tinham simultaneamente carácter operacional e logístico,
constituindo pontos de apoio à entrada de grupos armados e de colunas de
reabastecimento.”
As Bases eram estas:
▀ Na ZONA OESTE: N’PACK,
CAMPADA, SIKOUM, CUMBAMORY e HERMACONO, na faixa fronteiriça do Senegal, actuando
contra as fortificações de S. DOMINGOS, INGORÉ, GUIDAGE, FARIM e CUNTIMA e
infiltrando-se, pelos corredores de SAMBUIÁ e LAMEL, para as áreas fulcrais de:
- TILIGI, NAGA-BIAMBE e CABOIANA-CHURO, ameaçando
directamente o Chão Manjaco e as povoações e aquartelamentos ao longo do eixo CÓ-BULA-BINAR-BIAMBE-BISSORÃ;
- BRICAMA, MORÉS e SARA donde ameaçava as povoações e
aquartelamentos ao longo do eixo MANSOA-MANSABÁ-FARIM, a península de NHACRA e,
indirectamente, a ilha de BISSAU.
▀ Na ZONA LESTE: na zona
fronteiriça do Senegal, FAKINA, SAMBOLECUNDA, SARE LALI, SUCO/PAYONGON e
LENGUEL/SERENAFE, ameaçando as regiões da fronteira Norte em direcção a
BAFATÁ/NOVA LAMEGO.
▀ Na REP. GUINÉ:
- FOULAMANSA/KAORANÉ/MISSIRÁ e FOULAMORY, ameaçando toda
a zona Lesta e particularmente, a NE, os aquartelamentos de PICHE, BURUNTUMA e
CANQUELIFÁ;
- KAMBERA, por ORE/CAPEGE, e CHECHE-PIRI, ameaçando as
regiões de Dulombi/Camjadude e, mais remotamente, GALOMARO/BAFATÁ;
- KOUNDARA, centro
logístico que apoiava todo o Leste e Norte.
▀ Na ZONA SUL:
- KANDIAFARA, a partir da qual irradiava para actuar
sobre as guarnições fronteiriças de ALDEIA FORMOSA, GADAMAEL e CAMECONDE e
servia de pnto de apoio aos grupos de guerrilheiros e colunas logísticas que penetravam
pelo corredor de GUILEDGE em direcção ao UNAL, área fulcral do Sul, donde se
dirigiam para:
. INJASSANE depois para-»QUÍNARA e BAFATÁ/XITOLE/SARA
. TOMBALI, CUBUCARÉ, COMO
- BOKÉ, centro logístico que apoia toda a Zona Sul e orienta
os abastecimentos para Leste e Norte desembarcados no seu próprio porto ou no
de KANSAR.
Mas, como se vê no mapa acima, eram mais as Bases que o PAIGC tinha quer no Senegal quer na Rep. Guiné.
Mas, como se vê no mapa acima, eram mais as Bases que o PAIGC tinha quer no Senegal quer na Rep. Guiné.
Ver também aqui os
corredores de infiltração a Norte.
POTENCIAL DE COMBATE DO PAIGC
▀ Cerca de 7.500 combatentes, em 1973/74: 4.500 nas FARP e 3.000 nas forças
armadas locais (milícia popular e guerrilha).
No princípio de 1974 encontravam-se em instrução no CIPM
de KAMBERA (MADINA DO BOÉ) cerca de 300 elementos por trimestre e que nos CI
dos países de Leste e em Cuba se encontravam 500 dos seus quadros em diversos
grupos de preparação.
Durante a ofensiva de Maio/Junho de 1973 e 1º trimestre
de 1974 foram referenciados vários elementos estranhos ao PAIGC, de tez branca,
depreendendo-se que recebiam ajuda em homens de países apoiantes, nomeadamente
de Cuba.
▀ Nesse período foi detectado novo armamento e maior quantidade
de outro já utilizado, destacando-se:
Míssil SA-7 Strella
Morteiro 120
Foguetão 122
Canhão 130mm
“Refere-se que num relatório do Comité de Libertação da OUA, efectuada em MOGADÍSCIO de 15 a 21OUT73, se mencionava a futura satisfação para 1974 das seguintes necessidades fundamentais do PAIGC, no que diz respeito a material de guerra:
. Artilharia de
longo alcance (15 e 30 km)
. Material de
transmissões mais eficaz para coordenação das acções Inf-Art.
. Maior
quantidade de Míssies terra-ar portáteis individuais, visto que as peças ou
metralhadoras que possuíam (37: 12,7 e 14,5mm) em virtude do seu peso não podem
actuar no interior do TO.
. Viaturas
blindadas.
. Vedetas
ultra-rápidas (40 nós de velocidade) para actuar especialmente na área do porto
de BISSAU.
. Batrcos de
borracha para actuação nos rios e minas aquáticas.
. 2 a 3 navios de
longo curso para ligações com as ilhas de CABO VERDE.
Quanto a meios
aéreos, apesar de várias notícias o referirem com insistência, o PAIGC não
dispunha de aviação para apoio aéreo eficaz. Sabia-se da existência e aviões
ligeiros na REP GUINÉ e era referenciado grande número de sobrevoos suspeitos,
nomeadamente com MIG’s-17 e helicópteros. Admitia-se, entretanto, que a
situação evoluísse, e o PAIGC pudesse vir a dispor de alguns aviões (seus ou
cedidos pela REP GUINÉ) pois sabe-se de fonte segura, que estavam na RÚSSIA,
para frequentar um curso de pilotagem (desconhece-se o tipo de avião), 28
recrutas do PAIGC.”
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