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16 de fevereiro de 2011

62-A guerra já estava perdida na Guiné em 1974?

Como vou agarrar a questão da evolução da guerra e o seu fim?... Não é fácil para quem, como eu, tem conhecimentos restritos de toda a situação da guerra passada na Guiné. Estive na Guiné em 1967, 1968 e princípios de 1969, e andei sempre pelo mato, em operações, emboscadas, reconhecimentos, patrulhas, colunas de abastecimento, e outras que tais, à excepção de algum tempo em Bissau, e mesmo aí tive de ir montar uma emboscada perto do aeroporto... Além do tempo que estive no hospital, ferido. Por um lado nunca tive conhecimento dos meandros e esquemas globais da guerra, apenas a prática na mata, por outro lado, mesmo no terreno, não tive a experiência, de certeza mais rica, que outros tiveram nos anos subsequentes até 1974.
É claro que tenho de me socorrer de alguma obras. Mas elas já são tantas, não é possível lê-las todas, e nem sequer as tenho todas...Vou agarrar-me a uma que tenho mesmo aqui à mão: “Guerra Colonial”, de Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes (fascículos editados pelo "Diário de Notícias" em 1997/1998). O Aniceto foi da Comissão Coordenadora do MFA em Moçambique e era Director do Arquivo Histórico Militar quando a obra foi escrita, é considerado um dos oficiais mais cultos do Exército; o Matos Gomes foi da Comissão Coordenadora do MFA na Guiné e foi um grande operacional e conhecedor dos meandros do Estado-Maior do Comando-Chefe do CTIG. Merecem-me toda a consideração e credibilidade. E vou também à internet, onde me parece que o Virgínio Briote e o Carlos Fortunato, nomeadamente, têm elementos de interesse nos seus “Tantas Vidas” e “Portalguine”. Os meus agradecimentos a todos eles. E fica claro que alguns dos meus pensamentos em voz alta são, ipsis verbis, o que eles escreveram, Porque é o que eu acho e, confesso, não tenho pachorra para glosar (ou embaralhar...) o que eles já escreveram.
A SITUAÇÃO NA GUINÉ (alguns dados)
1962
Avanço das acções do PAIGC no terreno

             4 de Março – Foram presos em Bissau o Presidente do Comité Central do PAIGC, Rafael Barbosa, e outros elementos responsáveis do “Bureau Político de Bissau”, tendo sido ainda apreendida propaganda e variada documentação, incluindo o planeamento de acções em pontos importantes de Bissau.
25 de Junho - A jangada de Bedanda apareceu destruída e correram notícias de cortes de estradas e fios telefónicos.
Julho – Neste mês e no seguinte foram desmanteladas várias redes do PAIGC espalhadas por toda a Província: Binar, T. Pinto (Cachungo), Calequisse, Pelundo, Pecixe, Cacheu, S. Domingos, Suzana, Sedengal, Bafatá, Geba, Nova Lamego (Gabú), Contuboel, Sonaco, Empada, Darsalame, Fulacunda, Bolama e Arquipélago dos Bijagós. Além da captura de activistas e suspeitos foi apreendida numerosa documentação, armas e munições.
Outubro - Referenciados os primeiros sobrevoos suspeitos, em especial de helicópteros. Elementos do PAIGC recebem instrução de guerra de guerrilha na Checoslováquia, no Gana, em Marrocos, no Mali e em Conakry, onde um grupo de instrutores argelinos (FLN) se encontrava desde Maio. 

1963

23 de Janeiro - Início “oficial” da luta armada na Guiné, com um ataque ao quartel de Tite pelo PAIGC
24 de Janeiro - Fulacunda foi flagelada por Arafan Mané.
Março - Captura por guerrilheiros do PAIGC, dos navios Mirandela e Arouca perto de Cacine, que mais tarde utilizou para transporte de pessoal e material na Guiné-Conacri
10 de Março - Declaração de Amílcar Cabral em Paris sobre a disponibilidade de o PAIGC suspender a luta, se Portugal quisesse solucionar pacificamente o problema colonial
9 de Abril - Comunicado oficial do Governo do Senegal sobre o bombardeamento efectuado por quatro aviões portugueses a uma aldeia fronteiriça, sendo o assunto comunicado ao Conselho de Segurança da ONU
Maio - François Mendy, presidente da Frente de Luta pela Independência da Guiné (FLING), preconiza uma conferência para o reagrupamento de todos os movimentos nacionalistas das colónias portuguesas. Abatidos os dois primeiros aviões T6 Harvard, tendo morrido um piloto e sido feito prisioneiro o piloto do outro, o Sargento Lobato.
30 de Maio - Passagem das acções do PAIGC para norte do rio Geba
Junho - Referenciadas actividades da guerrilha no Sector Leste, em especial na área de Xime.
Julho - Corte de relações diplomáticas do Senegal com Portugal, com proibição de circulação de pessoas e mercadorias na fronteira com a Guiné. Notícia do Le Monde sobre um contacto de Benjamim Pinto Buli, secretário-geral da União dos Naturais da Guiné (UNGP) com as autoridades portuguesas para a criação de um regime de autonomia interna. Utilização pelo PAIGC, da primeira mina anti-carro, na estrada Fulacunda-São João. Abertura de frentes de combate a norte.
16 de Julho - Encontro de Salazar com Benjamim Pinto Bull, dirigente de uma das facções da FLING
Agosto – Registam-se as primeiras acções violentas no Sector Oeste (Oio) e rebentou a primeira mina anticarro no Sector Sul (S. João).
23 de Agosto - Interdição do espaço aéreo do Senegal a aviões procedentes ou destinados a Portugal e à África do Sul
16 de Setembro - Comunicado oficial do Governo do Senegal sobre o bombardeamento efectuado por quatro aviões portugueses a uma aldeia fronteiriça, sendo o assunto comunicado ao Conselho de Segurança da ONU
3 de Outubro - Posse em Bissau, do novo secretário-geral da província da Guiné, James Pinto Bull

1964

Avanço das acções do PAIGC no terreno


14 de Janeiro - Início da operação Tridente. O estratego militar chinês Sun Tzu terá dito (cito de memória) que uma táctica com ausência de estratégia é apenas barulho antes da derrota. Acho que foi isso, a operação Tridente. Com toda a admiração e respeito por todos os que nela participaram. Não são eles que estão em causa. A Operação Tridente teve como objectivo a ocupação das ilhas Como, Caiar e Catungo, que estavam controladas pelo PAIGC desde 1963, e desenrolou-se em três fases: uma, a partir de 15 de Janeiro de 1964, com o desembarque sob a protecção dos T6 (um foi atingido) e da artilharia de Catió; outra, de 17 a 24 de Janeiro, consistiu no patrulhamento das ilhas; e na terceira fase, de 24 de Janeiro a 24 de Março, os esforços foram concentrados na ilha de Como, onde houve vários combates (um, em Uncomené e Cachil, durou 10 horas, tendo os guerrilheiros sofrido 40 baixas). Em números foi isto:
Dias de operação....................................71
Mortos portugueses...............................  9
Feridos portugueses............................. 47
Militares port. evacuados por doença. 193 (132 só de uma companhia)
Guerrilheiros mortos..............................76
Guerrilheiros feridos..............................15
Prisioneiros................................................ 9
Munições gastas:
7,62mm...........................................124 000
Granadas de artilharia 8,8..............1 200
Granadas de morteiro 81 mm.......... 550
Intendência:
Rações colectivas de combate.....  8 900
Rações individuais de combate...  4 000
Vinho.................................................. 22 900 litros
Cerveja............................................... 15 500 unidades
Tabaco............................................... 10 100 maços
Meios navais:
1 fragata
4 lanchas de fiscalização
4 lanchas de desembarque pequenas (LDP)
2 lanchas de desembarque médias (LDM)
Meios aéreos:
Missões tácticas................ 851
Saídas por tipo de aeronave
F-86...........................................73
T-6..................................….....141
DO-27.....................…............180
Auster.......................................46
Helicóptero...........................323
P2V5.........................................16
C-47(Dakota).............................2
Total das saídas...................781
Horas de voo......................1 105
Pessoal transportado.......1 477
Pessoal evacuado................134
Munições de avião
Bombas...................................326
Foguetes.................................719
Aviões atingidos........................6
Aviões abatidos.........................1
Mas, como disse o mesmo Sun Tzu, a conquista do terreno raramente é definitiva e, menos ainda, decisiva. E, de facto, os guerrilheiros voltaram ao Como logo após aqueles dias de ocupação. E mais: foram ocupando progressivamente o Cantanhês e o Quitafine, cercando os aquartelamento de Catió e Bedanda.
Fevereiro - Na Guiné a FLING, dirigida por François Mendy e a UNGT dirigida por Pinto Bull, tentam a aproximação embora alguns elementos prefiram o entendimento com Amílcar Cabral
13 de Fevereiro - Inicio do I Congresso do PAIGC, realizado em Cassacá no Sul da Guiné. Neste Congresso foi feita a separação entre poderes civis e militares, definindo o conceito de território nacional e criados os comandos militares inter-regionais
Abril – Uma força tentou chegar a Cassacá, precedida de trinta minutos de bombardeamentos dos obuses de CatióA, das bombas de um PV25 e de dois F-86. Tentou entrar na mata do Cachil com o apoio de dois T-6. Mas encontrou a guerrilha bem instalda, sofre uma dezena de feridos e foi obrigada a recuar. Utilização pelo PAIGC, da mina A/P POMZ-2 e do Morteiro 82
Maio - O PAIGC procura criar condições favoráveis ao seu reconhecimento pela OUA como único partido nacionalista da Guiné através de uma intensa actividade diplomática e de propaganda
8 de Maio - Nomeação do brigadeiro Arnaldo Schulz governador-geral e comandante-chefe da Guiné
Julho - Manuel Lopes da Silva, secretário-geral da FLING na Guiné
O PAIGC utiliza a metralhadora pesada Bren (apreendida em 1963) e a metralhadora Borsig
Setembro - O PAIGC utiliza o seguinte armamento: metralhadora 7.62 Guryumov m/944 com reparo, carabina Mosin-Nagant, pistola-metralhadora PPSH, espingarda Mauser 7.9, pistola-metralhadora Thompson 11.4 e minas A/C TM 46.
Outubro - O PAIGC e a FLING de Henry Labery e Lopes da Silva, efectuam contactos para a sua aproximação
Novembro - Estabelecimento de contactos entre as autoridades portuguesas, tanto de Lisboa como de Bissau, com a FLNG (Front de Libération National Guinéen), oposição a Sekou Turé
28 de Novembro - Um Unimog com 10 elementos de um GrCmds, accionou uma mina A/C na estrada de Madina do Boé para Contabane. Do rebentamento e do incêndio que se seguiu morreram todos os elementos que seguiam na viatura. No mesmo dia, não muito longe dali, em Guileje, um numeroso grupo da guerrilha ataca violentamente o aquartelamento e a povoação, causando mortos e feridos entre a população e militares e destruindo as instalações.
Dezembro - Início da constituição das milícias na Guiné. O PAIGC utiliza o seguinte armamento: metralhadora ligeira Degtyarev (russa), espingarda automática Kalashnikov 7.62 (russa), espingarda automática Simonov (russa), morteiro 60 e pistola Ceska. O Serviço de Informação Pública das Forças Armadas refere que desde o início da guerra, de 1961 até Dezembro de 1964,  o Exército Português sofreu 433 baixas mortais em Angola, 113 na Guiné e 3 em Moçambique.

1965

Avanço das acções do PAIGC no terreno





      A população de Cutia, organizada em auto-defesa e reforçada com alguns militares metropolitanos repeliu um ataque da guerrilha, que chegou a introduzir elementos dentro da povoação. Na precipitação da fuga deixaram para trás 5 mortos dentro do arame farpado, 1 LGF e munições. Chegam informações de que as tabancas de Soncocemba e Cambajú estão a ser flageladas. Algumas acções levadas a efeito pelas tropas portuguesas: a norte de Piche, um golpe de mão a um acampamento da guerrilha causa várias baixas e apreende munições, entre as quais várias granadas de LGF. Na exploração de uma notícia é lançado um golpe de mão sobre uma base da guerrilha na região do Enxalé (oeste de Bambadinca), que resulta na apreensão de 3 PM, 13 espingardas, 15 GM, munições e documentos. Em Canquelifá, a guerrilha perde dois homens e respectivo armamento e em Cufar as tropas portuguesas referem ter sofrido a primeira baixa provocada por fogo de morteiro. Nesta mesma zona, um GrCmds apreende 4 espingardas semi-automáticas m/52,1 (as primeiras deste tipo capturadas), 1 Mauser,  munições e equipamento. Panfletos em Cabo Verde apelam à revolta da população contra a presença dos portugueses. Fradique Castro, Presidente do "Movimento de Libertação para as Ilhas de Cabo Verde" (partido que diz existir há dois anos, mas só agora dá sinais públicos da existência), em conferência de imprensa em Dakar, declarou a intenção de fazer a guerra contra os portugueses em Cabo Verde com o objectivo de alcançar a independência. Senghor recebeu uma delegação da FLING, chefiada por Jonas Mário Fernandes, o qual após a audiência reclamou ter garantias do Presidente Senegalês na continuação da ajuda ao seu partido. Uma delegação da OUA, chefiada por um ministro tanzaniano, conferenciou em Dakar com dirigentes da FLING. Estes apresentaram um relatório dos "combates do partido travados em todas as frentes (militares e diplomáticas) para a conquista da Independência da Guiné-Bissau". Amílcar Cabral anuncia, em Aregel, para breve a extensão da luta armada a Cabo Verde, que considera fazer parte do território da Guiné, e o Conselho de Ministros da OUA reunido em Nairobi decidiu reconhecer o PAIGC como o único movimento de libertação da Guiné e que a FLING estava definitivamente riscada da lista dos movimentos nacionalistas a ajudar.
Janeiro - O Serviço de Informação Pública das F. Armadas Portuguesas  refere que, enquanto em Dezembro do ano anterior a actividade da guerrilha se manteve reduzida em todo o território, neste mês de Janeiro se tinha verificado a intensificação das suas acções, nomeadamente na zona à volta de Bissorã e no NE, especialmente ao longo do itinerário Buruntuma, Piche e Canquelifá. As povoações de Guidage e Cutia (aqui por grupo estimado em cerca de 150 elementos fardados de caqui) são atacadas com morteiros e LGF.  No sul é Cufar que fica debaixo do fogo de LGF e morteiro. O SIPFA informa que nos meses de Dezembro do ano passado e Janeiro deste ano as tropas portuguesas sofreram 15 mortos em combate.
7 de Janeiro - Primeira emissão de uma emissora de rádio do PAIGC . A  FLING, distribuiu em Dakar um comunicado,  largamente difundido pela "Tass", "Reuters" e outras agências, em que diz ter sido destruído o aeródromo de Barro, depois de três noites de violentos combates, tendo abatido ainda nestas acções 27 militares portugueses.
23 de Março - O "Le Monde"  relata uma conferência de imprensa dada por Amílcar Cabral, em que este dirigente se refere aos sucessos do PAIGC, como foi exemplo, diz, a batalha do Como, onde, segundo as suas palavras, a guerrilha causou mais de 600 mortos ao Exército Português. Para contrabalançar esta afirmação, o EME (Português) declara que em dois anos  de incidentes na Província da Guiné, morreram em combate 136 militares.
Abril - Entrevista de Amílcar Cabral ao Le Monde, confirmando que pretende preservar as oportunidades de uma futura colaboração com o Estado Português não colonialista, não escondendo as dificuldades da luta na Guiné. A sul de Cuntima, um contacto entre a tropa e a guerrilha termina com 11 mortos destes, segundo escreveu no relatório da missão o Cmdt da unidade portuguesa. Na mesma zona, uma pequena coluna de guerrilheiros caiu numa emboscada, deixando no terreno 4 mortos e duas espingardas de origem soviética. A norte do Olossato, o Boletim nº 5 do EME relata que as tropas levaram a efeito um golpe de mão sobre um acampamento do PAIGC, capturando 6 minas A/P, 1 mina A/C, 1 ML Borsig, 3 PM Thompson, 1 PM, 2 Mausers, 5 P, 15 carregadores de PM, 15 GM, munições em quantidade e documentação. Em Buba,  um grupo do PAIGC causou 3 mortos e 11 feridos entre as tropas portuguesas (flageladas com 22 morteiradas) e deixou no campo da batalha 5 mortos. Há relatos de raptos, roubos, violações na área a oeste de Barro, admitindo-se em Bissau que tenham sido realizadas por pessoal da FLING.  Canjambari, um GrCmds no decurso de uma emboscada capturou 3 espingardas, um cunhete de munições 7,62 e várias GM. Outro GrCmds, na zona de Tite assaltou um acampamento e apreendeu 5 Mausers, 3 Mosin Nagant, 1 PM e 8 GM. Flagelação com rockets e morteiros por um grupo estimado em 100 elementos do PAIGC (relatório do Cmdt) a Bissorã, sem consequências.  Na mesma zona, as tropas retaliam, atacando a base de Biambe. Com base no relatório, lê-se: "foram detectados, a cerca de 200 metros da base, cerca de 100 elementos INs fardados e instalados em abrigos.  Como os bandoleiros dispusessem de armamento em quantidade (morteiros 82 e 60, LGF, metralhadoras e espingardas) travou-se rijo e demorado combate ao fim do qual o IN, que opôs forte resistência, foi desalojado das suas posições e posto em fuga. As NT lançaram-se na perseguição e fizeram 1 prisioneiro (...) entre o material capturado, destacam-se 3 espingardas, 3 pistolas, 2 canos de ML, um cunhete metálico com fitas carregadas para ML, 1 cunhete de GM e mais 24 GM, carregadores de vários tipos...e uma bandeira do PAIGC". O acampamento destruído era constituído por 30 barracas, refeitório, escola e enfermaria com o respectivo material e mobiliário. No decorrer da acção as tropas atacantes sofreram 3 feridos. Relativamente perto de Bissorã, uma base do PAIG foi atacada de surpresa pelas tropas que recolheram uma apreciável quantidade de material: 2 ML Bren, 7 PM Thompson, 1 Esp Aut, 1 Mauser, 3 Pistolas Seska, minas A/C e A/P, etc..Continuava acesa a luta por Canjambari, uma pequena povoação na margem direita do rio com o mesmo nome. Cerca de 100 guerrilheiros, bem armados, fardados e guarnecidos com capacetes foram emboscados por tropa do BCav 490. Embora surpreendidos reagiram fortemente, tendo o confronto durado cerca de meia-hora. Quando a tropa se preparava para recolher o material abandonado, outro grupo de guerrilheiros, instalado na margem esquerda,  varreu a zona com morteiradas e rajadas de armas automáticas, obrigando a tropa a desistir e a abandonar o local com 3 feridos graves.  Estas unidades militares ocuparam posteriormente a povoação, ocupação esta que durante muito tempo passou a ser diariamente assinalada, mais que uma vez por dia, com flagelações de morteiro e LGF. Numa dessas flagelações, o edifício do comando e uma viatura foram pelos ares, atingidos em cheio por granadas de morteiro.
Enxalé, a W de Bambadinca, 6 guerrilheiros aprisionados; Bigene e Barro, confrontos quase diários, com a retirada dos atacantes para o Senegal; mais 20 guerrilheiros aprisionados na zona do Enxalé, devido a informações obtidas junto dos capturados anteriormente; área de Cacine, junto à fronteira leste, montagem de emboscadas sucessivas causam baixas nos grupos da guerrilha que tentavam penetrar no território; estrada Barro-Bigene, uma mina conjugada com uma emboscada causa 4 mortos e 14 feridos numa coluna militar. Nos meses de Fevereiro e Março, as tropas portuguesas somavam mais 20 mortos em combate.
14 de Abril - Um domingo cheio de sol em Farim. Granadas de morteiro 82 lançadas da outra margem do rio Cacheu, explodem junto às instalações militares do BCav 490, causando 1 ferido.
Maio - Ataque do PAIGC ao aquartelamento de Beli, durante cerca de três horas, com utilização de morteiros, lança-granadas-foguete e metralhadoras. Acção das forças portuguesas na região de Morés, Guiné, com captura de diverso material de guerra, incluindo metralhadoras Borsig, Bren e M52, minas A/C TM-46, granadas-foguete, granadas de mão, etc. Captura pelas tropas portuguesas em Morés (Oio) de metralhadoras Borsig, Bren e M 52, minas A/C e granadas foguete.
7 de Maio - No decorrer de um golpe de mão a um acampamento do PAIGC situado na zona de Cameconde (Sul), chefiado pelo lendário Pansau Na Isna, um GrCmds constituído por 20 elementos sofreu um morto e nove feridos. Os restantes carregaram com o morto e os feridos até Cameconde trazendo ainda o material que capturaram: 8 armas, cunhetes de munições, granadas, petardos, equipamentos, minas, fardas, e documentos com elementos importantes da Ordem de Batalha do PAIGC.
Junho - Ataque do PAIGC a Canjambari, desenvolvido em duas fases, com utilização de grande poder de fogo de morteiros, lança-granadas-foguete e armas automáticas. Acção das forças portuguesas na região de Tite, Guiné, com destruição de um acampamento e captura de diverso material de guerra, incluindo espingardas Mauser e Mosin-Nagant., pistola-metralhadora M-25, metralhadora Goryunov, etc.
Agosto - Visita de uma missão militar da OUA às regiões controladas pelo PAIGC
15 de Setembro - Arnaldo Schulz, de visita a Lisboa, afirma que «a Guiné jamais deixará de ser portuguesa»
Outubro - Região de Fulacunda, sector de Tite: uma emboscada montada por um grupo da guerrilha desarticula uma companhia do Exército Português. Seis homens ficam isolados, enquanto o grosso da companhia retira desordenadamente rumo ao aquartelamento, onde vão chegando em pequenos grupos. Os seis foram esgotando as munições, batiam-se pela sobrevivência, esperançados numa ajuda que nunca chegou. No segundo dia, um foi abatido. A guerrilha, em vantagem, não desarmava. Ao terceiro dia caiu o segundo. No último dia em que tudo se consumou, um dos sobreviventes deu um tiro na cabeça, enquanto outro tentou passar o rio para nunca mais ser visto. O alferes foi o último a ser abatido e o último dos seis entregou a arma. Transportado para Conakry, em frente de Amílcar Cabral, o Soldado Lauro negou-se a ler a declaração que lhe foi apresentada para ler na Rádio Libertação, repudiando a guerra e convidando a tropa a desertar.
1 de Novembro - Cerca das 20 horas, foi lançado um engenho explosivo para o meio dos africanos que se encontravam num batuque em Farim (Sector então a cargo do BArt 733 do Exército Português). A explosão terá provocado 63 mortos e muitos feridos, na sua maioria mulheres e crianças. Na sequência, a PIDE deteve meia centena de pessoas. Confissões obtidas levaram à detenção de um tal Issufo Mané, que declarou pretender atingir alguns militares. Para o fazer teria recebido 14 contos de Júlio Lopes Pereira, o qual, por seu lado, actuara por indicação do chefe da Alfândega de Farim, Nelson Lima Miranda. E este teria vindo a declarar que a bomba fora lançada a mando da direcção do PAIGC.
Dezembro - Inaugurado em Dezembro o Hospital de Boké com a designação de Dispensário Sanitário do Partido, passando no início do ano seguinte a ser designado por Hospital Militar de Boké, destinando-se ao tratamento dos feridos de guerra, especialmente dos combatentes da Inter-Região Sul. Dispõe de uma enfermaria dividida em duas secções (homens e mulheres), uma sala de operações, um gabinete para consultas e tratamentos, uma secção de radiologia e uma farmácia. O hospital está apetrechado com moderno material cirúrgico e de Raio X.
1 de Dezembro - Um GrCmds acercou-se da base de Sano (Barro/Bigene), tendo permanecido no local cerca de uma hora. Com a base/aldeamento à vista, bem dentro do território do Senegal, foi decidido não atacar.
31 de Dezembro - Obuses de Cufar flagelam Cabolol, Cobumba e Caboxanque. Um P2V5 larga bombas sobre a mata do Cantanhez. As antiaéreas do PAIGC rasgam o céu com balas tracejantes. 

1966

Janeiro – Começou a ser publicado o "Blufo", órgão dos pioneiros do PAIGC, assumindo-se como “a voz da Juventude que se lançou corajosamente na luta de libertação nacional do nosso povo, na Guiné e em Cabo Verde”. Chega a Conakry o primeiro contingente cubano, formado por instrutores, artilheiros e médicos para participarem na luta contra o Exército Português
3 de Janeiro - Lançada uma ofensiva sobre o Cantanhez. Dois destacamentos de Fuzileiros, uma companhia de Páras e quatro companhias do Exército combatem a guerrilha na região de Darsalame e Cafal onde se encontra uma importante base do PAIGC na zona Sul.
Fevereiro - Armamento utilizado pelo PAIGC: espingarda Lee Enfield Mark III 7.7, espingarda Mauser 7.9 m/1948, espingarda automática Browning m/1918, espingarda Mas m/1936 (França), mina A/P PMA-1, pistola-metralhadora Beretta (Itália), pistola-metralhadora Thompson (EUA), LG P-27 (Checa), mina A/C Mark 7 (Reino Unido)
6 de Março – Operação Hermínia. Tropas comandos efectuam na zona de Jabadá a 1ª heliportagem de assalto a uma base da guerrilha. Saldou-se por um elevado número de baixas entre a guerrilha, a população que albergava e as tropas assaltantes.
21 de Março - Celebração de um protocolo entre o Senegal e o PAIGC que estabelecia as modalidades de cooperação entre as respectivas autoridades
28 de Março - Entre Faquina Fula e Faquina Mandinga, zona de Cuntima. 30 elementos de um GrCmds helitransportados para a fronteira para uma acção de nomadização que se previa durar quarenta e oito horas, depararam com um grupo da guerrilha a limpar as armas dentro do acampamento. Do ataque resultou a captura de 2 ML Degtyarev, 2 Simonovs, 1 PM Thompson, 1 PM Shpagim, 1 PM Beretta, 1 esp. Mauser e granadas de mão e de RPG.
28 de Abril - Os pára-quedistas montaram uma emboscada no “corredor de Guiledje” (Operação Grifo). Às dez da manhã houve o contacto com uma coluna de guerrilheiros. Diz o relatório da operação (citado no livro “Guerra Colonial”, de Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes) que a reacção do inimigo foi incrivelmente rápida e com grande potencial de fogo em tiro rasante. Um dos três guerrilheiros sobreviventes da «zona de morte» abriu fogo, atingindo o capitão Tinoco de Faria. Alguns segundos depois,  foram  abatidos três guerrilheiros que tentavam fugir, mas os restantes tinham-se instalado junto à mata ocupada peias  forças  portuguesas, desencadeando violento ataque com metralhadoras pesadas. Numa pausa, o pelotão tentou transportar o ferido para local onde fosse possível a sua evacuação, pois inspirava sérios cuidados. O inimigo  mudou de táctica, seguindo as tropas e flagelando-as à distância. Ao chegar à margem do rio Tenhege, o pelotão sofreu novo ataque de elementos emboscados no interior da mata. Entretanto, o estado de saúde do capitão agravou-se de forma irrecuperável, tendo morrido cerca do meio-dia.
29 de Abril - Cabral reuniu-se com os seis primeiros cubanos que chegaram à Guiné-Bissau, três deles médicos, Labarrere, Rómulo e Domingo, e 3 artilheiros, Aldo, Verdecia e Salabarria, conhecido por Horacio «o homenzarrão».. Participam em 1 de Maio no primeiro combate. .
28 de Junho - Um GrCmds capturou 4 pessoas nas imediações da base de Uália, na zona do Oio. Do assalto resultou a destruição de 10 casas de mato ocupadas pela guerrilha e de 25 casas que serviam de abrigo à população sob o controle do PAIGC. No decorrer da acção foi encontrada a enfermaria da zona e capturada a enfermeira responsável pela base, que, por documentos encontrados, se veio a saber ser a mulher de Pedro Ramos, na altura responsável pela instalação de meios rádio do PAIGC.
10 de Julho – Em Jumbembem, sector de Farim, o Capitão Rui António Nunes Romero, do Exército Português, suicida-se.
Outubro
Quando o comando português tem notícia dos primeiros cubanos na Guiné
20 de Outubro - Criação do Batalhão de Caçadores Pára-Quedistas nº 12 (BCP 12) na Guiné
Dezembro - Confirmação pelas autoridades portuguesas, da primeira utilização de meios rádio pelo PAIGC. Capturado ao PAIGC um emissor-receptor de fabrico soviético.
28 de Dezembro - Capturado ao PAIGC um emissor-receptor P104M (soviético)

1967

Avanço das acções do PAIGC no terreno





Fevereiro - Operação Tauro, zona norte, fuzileiros ao desembarcarem em lancha na margem sul do rio Cacheu são recebidos à bazucada e obrigados a recuar. Para trás ficaram quatro homens atolados no lodo. Recuperados à 2ª tentativa de desembarque, juntaram-se aos camaradas no assalto à base de Matar onde apreenderam armamento.
10 de Fevereiro - Utilização, pela primeira vez, por parte do PAIGC, de cocktails Molotov em operações
22 de Fevereiro - Fiat G-91 da FAP, pilotado pelo major Santos Moreira, destruído por explosão prematura de uma bomba de 110 lbs.
Março - Na ilha de Caiar, arquipélago do Komo, capturados 20 guerrilheiros.
 Abril - Ataque do PAIGC ao quartel de Encheia com grande potencial de fogo, causando cinco mortos e oito feridos às tropas portuguesas. Artigo do jornal Horoya, publicado na Guiné-Conacri sobre «Uma consciência politica sólida na base de uma economia florescente na zona libertada» onde se referiam as actividades económicas nas zonas do PAIGC.
6 de Abril – No rio Amada, afluente do rio Cacheu, dá-se o primeiro rebentamento de uma mina aquática numa LDM, sem consequências de maior.
Julho - Contactos da PIDE com elementos da oposição a Sekou Turé.
2 de Julho - Morte em combate do primeiro cubano, Félix Barriento Laporte, durante o ataque a um aquartelamento.
3 de Julho - No decorrer de um jogo de andebol entre o ASA e a UDIB, rebentaram violentos incidentes entre páras e fuzos (cerca de 400 assistentes), os primeiros apoiantes do ASA e a UDIB apoiada pelos fuzos. Estes não satisfeitos com o desenrolar dos combates a murro recorreram às G-3 e às granadas de mão. Dois páras morreram.
17 de Julho - Primeira emissão da Rádio Libertação, emissora do PAIGC em Conacri, com programas em português e crioulo.
28 de Julho – Nota  Circular do EME: “A fim de neutralizar esta manobra do inimigo [ «Tem vindo a verificar-se que os diversos partidos emancipalistas desenvolvem as mais variadas manobras no sentido de passarem a ser considerados como "beligerantes", oficializando assim a luta que se trava no Ultramar. Um dos processos mais frequentemente usados tem sido o de solicitar para    os terroristas capturados pelas nossas tropas as regalias que a Convenção de    Genebra concede aos "prisioneiros de guerra". Por outro lado, e com o mesmo objectivo, esses partidos começaram a usar para com os militares portugueses em seu poder a designação de "prisioneiros de guerra",  ao mesmo tempo que os seus órgãos de propaganda afirmam que lhes serão concedidas as garantias da mesma Convenção, como contrapartida.], S. Ex." o ministro da Defesa    Nacional, por despacho de 28 Junho de 67, determinou que passassem apenas a ser usadas as designações que se seguem quer para elementos terroristas, quer para militares nacionais:
 a. Terroristas caídos em poder das nossas tropas:
    1) Acção — captura
    2) Situação — sob prisão
     3) Designação — preso
 b. Militares  portugueses  em  poder de  elementos terroristas:
     1) Acção — retenção
     2) Situação — situação de retido
     3) Designação  individual — retido pelo inimigo».
    Assinava o general Sá Viana Rebelo, vice-chefe do Estado-Maior do Exército. Curiosamente, esta circular era complementada com normas relativas ao   «Procedimento a tomar no caso de ser retido», onde se afirmava no ponto d):   «Quando interrogado, o militar português apenas deve fornecer os dados a que é obrigado pela Convenção de Genebra: nome completo, posto, número e data do nascimento». O primeiro militar português feito prisioneiro foi o primeiro-sargento piloto António Lourenço de Sousa Lobato, cujo avião caiu na Guiné-Bissau e que foi considerado na situação de «retido» desde 22 de Maio de 1963. Até finais de 1970 estavam “retidos” pelo IN PAIGC:
Oficiais......................................... 1 (alferes)
Sargentos. ................................. 2  (um sargento-piloto da Força Aérea, o Lobato,  e um furriel miliciano, o João Neto Vaz, da CART1690)
Cabos.......................................... 4 (dois eram o José da Silva Morais e o José Manuel Moreira Duarte, da CART1690)
Soldados ................................... 15 (8 eram da CART1690)
Total..............................................22
Estes militares estiveram presos nos quartéis de Alfa Yaya e de Kindia, devendo-se-lhes acrescentar um outro que foi  colocado  em  Argel (foi o Francisco Gomes da Silva, da CART1690).  Um  soldado prisioneiro  morreu  em  Conakry, tendo a sua morte sido comunicada directamente à família por Carlos Correia, membro do Bureau Político do PAIGC, juntamente com uma fotografia do funeral (era o Luís dos Santos Marques, da CART1690).
21 de Agosto – Morte do capitão Manuel Carlos da Conceição Guimarâes e do soldado António Domingos Ramos na estrada de Geba para Banjara por acção de uma mina anti-carro. Ficou ferido o alferes A  Marques Lopes.
Setembro - Emissão da Rádio Libertação do PAIGC com uma exortação ao soldado português, incitando-o à resistência e à revolta. Inicio dos contactos da PIDE com sectores da oposição ao regime da Guiné-Conacri
16 de Setembro - Em 16 de Setembro de 1967, na operação Jacaré, perto de Cheuel, na zona de Geba, 8 feridos (entre eles  os  alferes Alfredo Reis e Domingos Maçarico) no rebentamento de uma mina anti-carro.
Outubro - Na embaixada de Cuba na Guiné-Conakry, o bureau político do PAIGC, liderado por Amílcar e Aristides Pereira, decidiu, em memória de Guevara (morto na Bolívia), atacar todos os quartéis durante 15 dias, uma operação a que deu o nome de "O Che não morreu".
16 de Outubro – Na operação Imparável, num ataque à base do PAIGC em Sinchã Jobel, morreu o soldado Agostinho Câmara.
Novembro - Nino Vieira, comandante do PAIGC na zona de Catió, acumula com o comando militar da zona leste (Madina do Boé).
Dezembro - Grande operação das forças portuguesas a norte de Bigene, com apreensão de variado material de guerra. Utilização pela primeira vez, de granadas de fumo, pelo PAIGC, na zona de Poindom, entre Xime e Bambadinca. Reunião do Bureau Politico do PAIGC, em que se decide reorganizar as FARP, donde é  excluída a milícia popular, contando apenas com os grupos de guerrilha e o exército popular.
2 de Dezembro - Inauguração do de Dezembro campo militar de Zinguichor, no Senegal, utilizado pelo PAIGC,
19 de Dezembro – Ataque à base do PAIGC em Sinchã Jobel, operação Invisível, tendo morrido o alferes Fernando da Costa Fernandes e os soldados Vito da Silva Gonçalves e Armindo Correia Paulino e o 1.º cabo Sousa. Foi aprisionado pelo PAIGC, durante esta operação, o soldado Manuel Fragata Francisco.
22 de Dezembro - Um Destacamento de Fuzileiros partiu de Catió em helis rumo à base de Cansalá, Cantanhez, onde se julgava estar Nino Vieira. Perante fraca resistência, os fuzileiros capturaram cerca de duas toneladas de armamento (operação Eridanus).

1968

Avanço das acções do PAIGC no terreno



          Janeiro - O ano começou no sul com o abandono do destacamento de Mejo, pertencente a Guilege, depois de destruído e armadilhado pelas tropas portuguesas.
13 de Janeiro - A norte, a “Lira”, uma lancha de fiscalização grande, em missão de escolta à “Alfange” (uma lancha de desembarque grande que tinha acabado de transportar tropas de S. Vicente para Binta), foi atingida das margens, tendo a tripulação sofrido 1 morto e 8 feridos, alguns gravemente.
2 de Fevereiro - Visita de Américo Tomás a Cabo Verde e Guiné
3 de Fevereiro - Um comunicado do PAIGC assinala a captura de militares portugueses: (…) "Na área de Quínara (Frente Sul), no dia 3 de Fevereiro, no decurso de um ataque a uma unidade colonialista que se instalara na tabanca de Bissássema, as nossas forças, comandadas pelos camaradas Fokna Na Santchu e Mamadu Mané, fizeram prisioneiros três militares dos quais um alferes (dava nota dos nomes, um deles era o alferes António Júlio Rosa), todos de uma companhia estacionada em Tite". Referia ainda : "Nesta acção foram ainda postos fora de combate 16 soldados colonialistas (nota do editor: este nº não consta de qualquer relatório militar). O restante da tropa inimiga fugiu para o campo fortificado de Tite, abandonando no terreno uma importante quantidade de material, entre os quais se contam 6 rádios de campanha de fabricação britânica. De acordo com as normas do Partido, estes novos prisioneiros portugueses receberão o tratamento humano que lhes é garantido pelas convenções internacionais (...)”.
19 de Fevereiro - Ataque do PAIGC ao aeroporto de Bissau, comandado por André Gomes
Março - Luis Cabral secretário-geral da União Nacional dos Trabalhadores da Guiné, membro do Bureau Politico do PAIGC
15 de Março - Entrega à Cruz Vermelha Senegalesa, pelo PAIGC, de três militares portugueses feitos prisioneiros (um deles foi o Manuel Fragata Francisco), com declarações de Amílcar Cabral sobre a disposição do PAIGC de parar o combate com a condição do reconhecimento do direito à independência da Guiné
27 de Março - Apreensão de um avião da Guiné-Conacri, que aterrou em Bissau, vindo a ser proposta a sua troca por cinco prisioneiros portugueses em posse do PAIGC
Abril - Ataque a uma coluna portuguesa por um grupo do PAIGC no itinerário Gadamael/Gandembel, por repetidas vezes, com metralhadoras pesadas, lança-granadas-foguete, morteiros, armas automáticas e rebentamento de fornilhos
10 de Abril – Cerca da meia-noite, ataque do PAIGC ao quartel de Cantacunda, causando um morto e fazendo 11 prisioneiros. Os outros, nove,  foram obrigados a abandonar o destacamento. O ataque foi conduzido pelo comandante Braima Bangura (fuzilado em 12 de Julho de 1986, juntamente com Paulo Correia e outros, por ordem de Nino Vieira, sob acusação de tentativa de golpe de Estado em 17 de Outubro de 1985) e teve a conivência do régulo Braima Candé e da população.
Maio - Flagelação de Gandembel, no sul da Guiné, pelo PAIGC, por várias vezes consecutivas, com canhões S/R, metralhadoras pesadas, lança-granadas-foguete e morteiros
2 de Maio - Nomeação de António de Spínola para os cargos de governador-geral e comandante-chefe da Guiné
20 de Maio - Posse do brigadeiro António de Spínola dos cargos de governador-geral e  comandante-chefe da Guiné
8 de Junho - Directiva do Comando-Chefe da Guiné para a transferência da unidade estacionada em Madina do Boé
18 de Junho - Aprisionamento de um sargento e sete soldados portugueses pelo PAIGC.
19 de Junho - Directiva do Comando-Chefe da Guiné sobre a defesa da Ilha de Bissau
15 de Julho - Directiva do Comando-Chefe da Guiné sobre a remodelação do dispositivo
24 de Julho – O destacamento de Banjara, no Oio, foi atacado por um bigrupo reforçado, tendo morrido o soldado Jaime Maria Nunes Estêvão.
28 de Julho - Fiat G. 91 da FAP, pilotado pelo ten cor Costa Gomes, atingido por fogo de antiaérea de.50 polegadas, (12,7) disparado da fronteira da Guiné-Conakry.
Agosto - Primeira utilização, pelo PAIGC, do morteiro de 120 mm, em Gandembel
12 de Agosto – Ataque do PAIGC a Sare Ganá, tendo entrado na povoação, que se encontrava em autodefesa. Foi expulso com a chegada da tropa de Geba.
19 de Agosto - Mampatá, Aldeia Formosa, pelas 20 horas, segunda flagelação do dia: mais de uma centena de granadas de canhão sem recuo em pouco mais de 10 minutos.
23 de Agosto - Em Mampatá, uma coluna para Gandembel levanta 57 minas antipessoal e quatro fornilhos. No mesmo trajecto a mesma coluna sofre cinco feridos em emboscada.
27 de Agosto - Pára-quedistas entram num trilho na zona de Gandembel e esbarram com um acampamento da guerrilha. Apanhados de surpresa, sofrem cerca de duas dezenas de mortos e causam dois feridos aos páras. Flagelações de Aldeia Formosa, Gandembel, Guileje e Buba. São suspensas de Mampatá as colunas para Buba e Gandembel: a picada, as margens e algumas zonas da mata encontram-se semeadas de minas de todo o tipo. Incapacidade em reabastecer Gandembel e Ponte Balana, depois de na primeira tentativa as tropas estacionadas em Gandembel terem sofrido seis mortos e um desaparecido e na segunda ter rebentado uma anti-pessoal causando ferimentos graves a um militar.
Setembro - Flagelação de Gandembel por forças do PAIGC com grande poder de fogo e centenas de rebentamentos, com destaque para a utilização de canhões sem recuo e morteiros de 120 e 82. Ataque do PAIGC ao quartel de Sare Banda, no Sector Leste da Guiné, durante 90 minutos, com grande poder de fogo, causando dois mortos e três feridos graves
8 de Setembro – Cerca de 100 elementos do PAIGC atacam o destacamento de Sare Banda, na zona de Geba, durante uma hora e meia, causando a morte do alferes Carlos Alberto Trindade Peixoto e do furriel Raul Canadas Ferreira e três feridos graves.
30 de Setembro - Directiva do Comando-Chefe da Guiné para o reordenamento de populações e sua organização em autodefesa
Outubro - Spínola em documento oficial sobre o problema militar da Guiné, declara: «Não hesitamos em considerar como uma triste realidade a situação que hoje se vive na Guiné, situação que abrange o aspecto económico-social e o aspecto militar». Decisão do Senegal de dificultar a permanência de elementos do PAIGC no seu território
28 de Dezembro - Directiva do Comando-Chefe da Guiné sobre operações psicológicas e estabelecimento do slogan «Uma Guiné Melhor».
Spínola, após a sua chegada à Guiné, em Maio de 1968, procurou definir uma estratégia, a que ele julgou adequada: «O plano geral da luta não se projecta, como hoje já ninguém ignora, no campo exclusivo da missão das forças armadas, mas é indispensável que estas retomem a iniciativa das operações de modo a impor a sua vontade ao inimigo. (...) não é viável pensar em acabar, a curto prazo, com a guerra na Guiné, mas sim e apenas garantir o            controlo efectivo de áreas fundamentais». E em 1969 cria os comandos  de  agrupamento operacional (CAOP), correspondendo aos sectores, e os comandos operacionais (COP), correspondendo às zonas de acção dos batalhões, promovendo, assim,  a alteração do dispositivo das forças. Estes comandos situavam-se em áreas críticas, tinham uma estrutura mais leve e flexível que os batalhões, sobretudo na área logística, e controlavam as unidades em quadrícula e as unidades de intervenção.
   Criou também zonas de  intervenção do comando-chefe nas áreas de forte implantação do PAIGC, para operações de curta duração e grande violência das forças especiais, apoiadas pela aviação e pela artilharia, e sob o seu comando directo. O objectivo era conseguir a destruição das forças inimigas, evidentemente, mas também queria demonstrar às populações a nossa superioridade militar e ganhá-las a nosso favor. As operações especiais fora das fronteiras perspectivou-as para o Batalhão de Comandos. Assim, e com a criação de várias companhias de caçadores africanos, queria pôr em prática a sua ideia da africanização da guerra – os pró-Portugal contra os independentistas. Ao mesmo tempo economizava forças, perante a impossibilidade de receber reforços da metrópole.
Procurou isolar o teatro de operações, cortando a norte os corredores de reabastecimento dos guerrilheiros com as guarnições de Bigene, Barro e Guidage (corredores de Sambuiá, Lamel e Sitató) e controlando a sul os eixos de Guiledje e Madina, tentou subtrair as populações ao controlo do PAIGC incentivando os reordenamentos, procurou criar à guerrilha instabilidade nas zonas libertadas atacando-a com aviação e forças especiais.

1969

Avanço das acções do PAIGC no terreno



Janeiro - Operação conjunta das forças portuguesas na zona de Bigene, a norte, com assinaláveis resultados. Em Guileje (sul) o PAIGC lança para  dentro do perímetro do aquartelamento mais de duas centenas de granadas, causando dois mortos. As autoridades militares em Bissau tomam conhecimento que a Guiné-Conakry havia recebido da URSS três vedetas-torpedeiras da classe "Komar" e o PAIGC quatro vedetas-torpedeiras da classe "P6". As primeiras, navios de 75 toneladas, estavam armadas com duas peças AA (antiaérea) de 25 mm e dois mísseis superfície-superfície; as segundas, navios de 66 toneladas, vinham armadas com duas peças AA de 25 rnm e dois tubos lança-torpedos. Umas e outras podiam atingir uma velocidade superior a 40 nós.
23 de Janeiro - Em Aldeia Formosa foi lançada uma granada de mão para a messe dos sargentos, causando a morte de dois soldados e ferindo dez furriéis, alguns com gravidade. Nunca se soube quem foi o autor.
Fevereiro - Acção das forças portuguesas na região a este de Bigene, com captura de grande material constituído por canhão S/R, morteiro 82, metralhadoras pesadas e ligeiras, lança-granadas foguete, espingardas automáticas e de repetição, minas e munições. Flagelação de Guilege por parte do PAIGC, com utilização de canhões S/R e morteiros, colocando cerca de 200 rebentamentos no interior do quartel e causando 2 mortos. Plano de Paz de Léopold Senghor para a Guiné, propondo a independência no quadro de uma comunidade luso-africana
8 de Fevereiro - Evacuação de Madina do Boé pelas forças portuguesas aí estacionadas, durante a qual se registou um grave acidente na travessia do rio Corubal, com a morte de 47 militares
9 de Fevereiro - Após a retirada da guarnição portuguesa, o PAIGC ocupa Madina do Boé, no Leste da Guiné. Ataque do PAIGC ao quartel de Cambaju, com utilização de variado armamento, durante cerca de duas horas, causando vários mortos e feridos e entrando no perímetro defensivo
26 de Fevreiro - Ataque do PAIGC a duas lanchas no rio Buba, sendo a acção dirigida por Mário de Sousa Delgado e Mamadu Indjai
2 de Março - Uma mina aquática é descoberta a tempo no Rio Cobade, sul, e destruída a tiro.
5 de Março - Dissolução da FLING, após uma reunião em Zinguinchor, Senegal, presidida por Pinto Bull (natural, depois da retirada de apoio da OUA em 1965; vê-se que não faz sentido que a Fling tivesse alguma influência aquando do reconhecimento da independência da Guiné-Bissau em 1974...).Curioso ter-se dado a dissolução numa altura em que se dava a intensificação dos contactos, iniciados ainda em 1964, entre as autoridades de Bissau e a FLNG da Guiné-Conakry. Spínola tinha a intenção de autorizar a FLNG a estabelecer bases de guerrilha no território da Guiné-Bissau, junto à fronteira, com o objectivo de criar instabilidade no interior da Guiné-Conakry e levar à destituição de Sekou Touré e à consequente instauração de um regime que proibisse as actividades militares do PAIGC dentro da Guiné-Conakry.
7 de Março - Início da Operação Vulcano, no Sul da Guiné. Forças pára-quedistas tentaram assaltar posições de artilharia do PAIGC, antiaéreas ZPU-4 (quádruplas, de calibre 14,5mm e cadência de 600 tiros por minuto e por cano). Os 7 aviões Fiat G-91 iniciaram o ataque com bombardeamentos e destruíram uma ZPU com uma bomba de 200 quilos. Parecia tudo a correr bem e seguem os helicópteros AL-III que despejam uma vaga das duas companhias de pára-quedistas destacadas para a acção. Mas foram batidos pelo fogo e descobriram que ainda havia 3 ZPU, tendo elas atingido um Fiat e uma DO-27, que tiveram de regressar à base. Retidos pelo fogo do PAIGC, os paras nada puderam evitar nem podiam progredir. A utilização de helicópteros era inviável naquelas circunstâncias, tornando difícil a recuperação dos pára-quedistas. O dia avançava e o próprio comandante escreveria mais tarde: “Torna-se urgente tomar uma decisão perante a eminência do desastre” (citado no livro “Guerra Colonial” de Aniceto Afonso e Matos Gomes). E as opções eram: assalto às posições mais fortes dos guerrilheiros, com grandes custos em baixas; manter os homens ali, ficando a pernoitar, e estando sujeitos a ataques nocturnos com morteiros e artilharia; ou retirar. Foi esta última opção que foi tomada a meio da tarde. As forças portuguesas abandonaram o Quitafine sem sucesso. O PAIGC demonstrou, pela primeira vez, capacidade para se manter no terreno, numa defesa a todo o custo. E também tirou a lição de que necessitava de armas antiaéreas mais flexíveis, de fácil transporte e dissimulação. Vieram depois, em 1973, os SA-7 (Grail Strella).
Abril - Acção das forças portuguesas na região de Bula, Sector Oeste, Guiné, com vários contactos com forças do PAIGC
8 de Abril - Inicio de uma visita de Marcelo Caetano à Guiné, Angola e Moçambique
10 de Abril – Um grupo de comandos, saídos de Buba em patrulhamento, depararam-se com um grupo da guerrilha, internaram-se na mata, deixam que o bigrupo da guerrilha se aproximasse e atacam, provocando 11 mortos, apreendendo 21 armas e trazendo dois feridos ligeiros. Pedida a evacuação, regressam a Buba e caem num campo de minas, tendo rebentado uma bailarina que corta em dois um furriel, enquanto outra arranca um pé a um soldado.
15 de Abril - Implantação de uma mina aquática no rio Cobade, no Sector Sul, Guiné, por parte do PAIGC, accionada pelo batelão Guadiana
5 de Maio - Na zona de Nhala, uma coluna detecta três minas A/P. Abrigaram-se enquanto um militar se preparou para as levantar. Um dos militares, curioso, decidiu avançar um pouco. Calcou uma terceira que estava junto a um tronco de palmeira. A guerrilha emboscada no local, a assistir ao levantamento da mina, aproveitou a ocasião, abrindo fogo. Evacuado o militar, a coluna proseguiu o seu destino ao encontro de mais duas minas e uma com arame de tropeçar. Antes de atingido o destino ainda leram escritos da guerrilha, recomendando-lhe o regresso a Lisboa e que deixassem o povo da Guiné gerir o seu destino. No local da armadilha, a guerrilha desenhou um cemitério com terra e campas de mortos encimadas por um dístico: Branco vai para a tua terra. A companhia militar ainda ficou no local, entretida a levantar cerca de quatro dezenas de minas antipessoais.
27 de Maio - No rio Cobade, junto à cambança do Brandão, o  batelão "Guadiana", carregado com bidões de gasolina, explodiu e incendiou-se ao colidir com uma mina aquática. Da explosão resultaram 5 mortos e 8 feridos entre os passageiros, além do posterior afundamento por incapacidade de recuperação. A partir deste incidente, passou a incluir-se uma patrulha avançada de botes para detecção visual de eventuais dispositivos flutuantes
Junho - Deslocamento das populações da área de Piche, Guiné, para zonas mais seguras, incluindo a saída para o Senegal, em virtude dos últimos ataques PAIGC
Julho - Ataque do PAIGC a Quirafo, no Leste da Guiné, durante três horas, com grande poder de fogo, de que resultou a destruição completa do aquartelamento. Início da preparação da Operação Mar Verde, destinada a derrubar o regime de Sekou Touré da Guiné-Conacri
Agosto - Accionamento de uma mina anti-carro por uma coluna portuguesa nas proximidades de Fulacunda, Sector Sul, Guiné, de que resultaram 5 mortos e 10 feridos
2 de Agosto - Libertação de 92 ex-militares do PAIGC pelas autoridades portuguesas da Guiné, entre os quais Rafael Barbosa
9 de Agosto - Ataque do PAIGC ao quartel de Jabadá
12 de Agosto - o O PAIGC sofreu um forte revés no Senegal. Durante um reconhecimento aéreo da FAP, foi detectada uma viatura de carga (FF556CN) pertencente ao PAIGC, na região de Faquina Mandinga, junto à fronteira norte. Na sequência da informação, tropas helitransportadas recolheram cerca de vinte e quatro toneladas de material de guerra. No sul, nas proximidades de Fulacunda, cinco mortos e dez feridos das tropas portuguesas no rebentamento de uma mina A/C.
18 de Agosto - Apresentação feita por Amílcar Cabral em Argel, de cinco desertores portugueses
21 de Agosto - Na zona de Mansambo, uma mina anti-carro rebentou quando era transportada na cabeça de um carregador nativo.
Outubro - Instalação na Guiné de um ramo militar da oposição ao regime de Conacri com o apoio das autoridades portuguesas. Estabelecimento de contactos de Senghor com o Governo português para exploração da possibilidade de conversações com os movimentos de libertação para a solução pacifica do problema colonial
10 de Outubro - Ataque do PAIGC ao quartel de Buba
17 de Outubro - Uma força militar do BCav 2868 acompanhada por uma equipa da televisão francesa e de jornalistas do "Paris-Match" caiu numa emboscada da qual resultou a morte filmada de dois soldados e de vários feridos. A op. com o nome de "Ostra Amarga" ficou mais conhecida por op "Paris-Match". Cenas contidas no documentário “Duas Guerras”, de Diana Andringa e Flora Gomes.
Novembro - Utilização pelo PAIGC, dos foguetões de 122 mm, contra Bolama
16 de Novembro - Início da Operação Jove, no Sul da Guiné, «corredor de Guilege», por forças pára -quedistas, em resposta a informações sobre a passagem de uma coluna militar do PAIGC onde seguiria Nino Vieira.
18 de Novembro - Captura do capitão cubano Pedro Peralta por forças pára-quedistas durante a Operação Jove, a quem foram apreendidos documentos que descrevem os ataques do PAIGC aos quartéis de Buba, Bedanda e Jabadá
19 de Novembro - Inicio de um seminário de quadros do PAIGC em Conacri, em que Amílcar Cabral aborda os seguintes aspectos: duração da guerra e renovação dos quadros, aspectos económicos da guerra, doutrina portuguesa de unificação cultural e papel da luta armada

1970

Avanço das acções do PAIGC no terreno

















Janeiro - Estabelecimento dos primeiros contactos de militares portugueses do estado-maior de Spínola com chefes militares do PAIGC, numa tentativa de aliciamento para estes fazerem parte da futura força africana da Guiné, que se integrava na sua maneira política. Estabelecimento de uma base de apoio para a Operação Mar Verde na ilha de Soga, Bijagós, na Guiné, onde foram reunidos e treinados militares portugueses e elementos da oposição da Guiné-Conacri. Grande ofensiva militar do PAIGC contra as posições portuguesas de Guilege, Guidage, São Domingos e Gadamael.
28 de Janeiro - Os Estados Unidos decidem fornecer a Portugal equipamento militar «não letal»
Fevereiro - Conversações secretas em Dacar entre delegações de Portugal e do Senegal, com vista a um cessar-fogo na Guiné
Março - Reorganização das forças do PAIGC, com formação do corpo de exército de Nhacra - Enxalé, numa nova divisão territorial correspondente a novo patamar do seu processo evolutivo previsto por Amílcar Cabral. Confirmação da existência de uma unidade de artilharia do PAIGC equipada com foguetões GRAB-1, 122 mm
Abril - Referência num discurso em Mansoa, feito por Spínola diante do ministro do Ultramar, Silva Cunha, ao facto de a Guiné estar a viver um grande momento, por se aproximar o fim da guerra. O Hospital de Koundara aumenta a capacidade, até então de 60 camas, e equipa-se com sala de radiologia e energia eléctrica. Passa a apoiar a Inter-Região Norte, evitando as evacuações para Boké. É para Koundara que são levados os feridos e doentes de toda a Inter-Região Norte. Neste hospital trabalham médicos cubanos, um cabo-verdiano e norte-vietnamita.
20 de Abril - Morte dos majores Passos Ramos, Pereira da Silva e Magalhães Osório e do alferes Joaquim Mosca, na Zona de Teixeira Pinto, na Guiné, durante uma acção de contacto com elementos do PAIGC
Maio - Visita de Léopold Senghor aos países escandinavos, declarando em Estocolmo que «tinha proposto um plano de paz aceite por Amílcar Cabral, residindo a dificuldade da sua aplicação na obtenção do acordo dos portugueses»
23 de Maio - Ataque do PAIGC ao navio Alvor no rio Cacheu, com lança-granadas-foguete
25 de Julho - Queda de um helicóptero na Guiné, de que resultou a morte dos deputados José Pinto Leite, Leonardo Coimbra, Vicente de Abreu e Pinto Bull
Agosto - Os presidentes da Zâmbia e do Senegal declaram a sua disposição de contribuírem para a resolução do problema colonial português. Confirmação da existência de conselheiros cubanos junto do PAIGC pelos comandos militares portugueses
11 de Agosto - Ataque do PAIGC à lancha Sagitário, 13º efectuado a unidades navais ao longo do ano, facto que leva o comandante da Defesa Marítima a salientar a «liberdade de movimentos que o inimigo goza na margem sul do Cacheu» e a notar a melhoria da eficiência do ataque
19 de Agosto - Assalto ao navio Pérola do Oceano, em Cabo Verde, por um grupo de militantes políticos que pretendiam dirigir-se a Dacar
Setembro - Artigo de Aquino de Bragança na revista Afrique-Asie intitulado «Dacar face a Lisboa» analisando as relações entre Portugal e o Senegal na sequência dos acontecimentos de fronteira e do plano de Senghor para a solução pacifica da questão colonial
12 de Outubro - Dois grupos da guerrilha (cerca de 50 elementos cada), um vindo de Sansabato (armas pesadas) e o outro de Queré, utilizando Mort, RPGs e Arm Aut, emboscou uma coluna que se dirigia a Infandre, na região de Mansoa. A emboscada, de rara violência (combateu-se corpo a corpo) causou às tropas 10 mortos, 9 feridos graves, 8 feridos ligeiros e capturou um soldado. Os géneros foram saqueados e foram ainda raptados vários elementos da população. Foi provavelmente o mesmo grupo da guerrilha que às 19H00 desse mesmo dia flagelou Mansoa com 22 tiros de canhão sem recuo e de morteiros.
12 de Novembro - Pedido de Spínola para uma operação na Guiné-Conacri
17 de Novembro - Aprovação da Operação Mar Verde por Marcelo Caetano
19 de Novembro - Seminário de quadros do PAIGC em Conacri presidido por Amílcar Cabral, onde este declara: «è mais fácil, ou menos difícil, para nós ganhar a guerra de libertação nacional do que garantir ao nosso povo uma vida de trabalho, dignidade e justiça»
22 de Novembro - Início da Operação Mar Verde, envolvendo um efectivo de 350 homens com 25 objectivos na área da cidade e porto de Conacri, cujo único resultado foi a libertação de militares portugueses prisioneiros. Lembro-me de algumas figuras desta operação - Guilherme Almor de Alpoim Calvão, Alberto Rebordão de Brito, Marcelino da Mata e Zacarias Saiegh – pela participação noutras situações. O Marcelino da Mata (que, segundo consta, se dedicou durante a operação a roubar os relógios dos turistas que se encontravam numa praia da Guiné-Conakry) assinou, juntamente com Rebordão de Brito, um telegrama contra o Congresso dos Combatentes promovido pelo regime de 1 a 3 de Junho de 1973. Depois do 25 de Abril, Rebordão de Brito e Alpoim Calvão, juntamente com Manuel Carlos Bulhosa, deram o seu apoio à formação, em Espanha, do MDLP. Eles mesmos, mais José Carlos Vilardebó Sommer Champalimaud, Miguel Vilardebó Champalimaud, o primeiro-tenente Nuno Manuel Osório Castro Barbieri, o tenente-coronel António da Silva Osório Soares Carneiro, vários elementos da GNR e outros, estiveram implicados na tentativa de golpe contra-revolucionário de 11 e Março de 1975 (in Jornal Movimento 25 de Abril, Boletim Informativo das Forças Armadas, Edição Especial N.º 16 de 23 de Abril de 1976). O então capitão da 1.ª Companhia de Comandos Africanos Zacarias Saiegh, disse-me quem sabe, comandou uma tentativa de golpe na Guiné-Bissau a mando de Spinola, após o 25 de Abril. Interrogo-me se isso não terá tido alguma influência no fuzilamento dos comandos africanos.
29 de Novembro - Comunicado do Comando-Chefe da Guiné a anunciar terem-se apresentado na fronteira os militares portugueses «retidos» na Guiné-Conacri, por se terem conseguido evadir. Na realidade, eram os militares postos em liberdade pela Operação Mar Verde
Dezembro - Primeiras notícias da possível aquisição, por parte do PAIGC, de mísseis terra-ar . Conferência do PAIGC, de alto nível, em Zinguichor, em cujo comunicado se refere que durante a luta se evitaria «molestar as populações, incluindo as que vivem sob controlo das forças portuguesas»

1971

Avanço das acções do PAIGC no terreno



















Os combatentes do PAIGC, em  1971 tinham que enfrentar 44.505 soldados portugueses, para além de meios navais e aéreos, destacamos estes últimos: 
·                     T-6  11 aviões
·                     DO-27  14 aviões
·                     C-47 (Dakota) 2 aviões
·                     G-91 (Fiat)  10 aviões
·                     AL-III  18 helicópteros
·                     Nord-Atlas  2 aviões
As forças do PAIGC em 1971 era a seguinte:
Efectivos por unidade:
- bigrupo: 38/44 unidades
- bigrupo reforçado: 70 unidades
- grupo de artilharia: 50 unidades
- grupo de canhões/morteiros: 23 unidades
- grupo de foguetões/antíaéreos: 16 unidades
Efectivos por regiões:
Inter-Região Norte:
- Frente S. Domingos/Sambuiá: 630 unidades
- Frente CanchungoBiambe: 760 unidades
- Frente Morés/Nhacra: 680 unidades
- Frente Bafatá/Gabu Norte: 730 unidades
Inter-Região Sul:
- Frente Bafatá/Gabu Sul: 200 unidades
- Frente Bafatá/Xitole: 160 unidades
- Frente Buba/ Quitafíne: 1230 unidades
- Frente do Quinara: 560 unidades
- Frente de Cattó: 370 unidades.
Além destes efectivos, que totalizavam 5500 elementos para o Exército Popular, há que acrescentar cerca de 2000 milícias, 900 a 1000 em cada inter-região, ou seja, o PAIGC não teria mais do que 7500 homens em armas. Minas:

Janeiro - Primeiras notícias do fornecimento ao PAIGC, pela União Soviética de um míssil terra-ar do tipo Redeye. Pirada, Aldeia Formosa (Quebo) e Catió bombardeadas com foguetões 122mm. Bissau e Bafatá debaixo do fogo dos foguetões do PAIGC. Forças do PAIGC misturadas com a população de Casamansa, no Senegal, atacadas pela FAP. A capacidade do hospital de Boké aumentou para 100 camas e foi-lhe acrescentado um pequeno centro de reabilitação para diminuídos físicos e uma maternidade. Do corpo médico fazem parte médicos cabo-verdianos, jugoslavos, soviéticos e cubanos. Este ano fica marcado por um incidente que veio a ter sérias repercussões na vida do PAIC. No decorrer da reunião anual do Conselho Superior de Luta (CSL), Inocêncio Kani (futuro assassino de Cabral) foi expulso da direcção.
Fevereiro - Participação do PAIGC na conferência ministerial para África do Conselho Económico e Social da ONU
31 de Março - O Comando-Chefe da Guiné, em documento oficial, declara: «A situação continua caminhando para novo e rápido agravamento face à crescente pressão militar do inimigo, passível de suplantar a nossa capacidade de defesa das populações»
9 de Junho – Bissau flagelada pelo PAIGC.
Outubro - Actividade operacional do PAIGC na zona de Duas Fontes, no Leste da Guiné, com emboscadas e minas, causando 5 mortos e 4 feridos às forças portuguesas. Operação Com Raça das forças portuguesas na Zona de Caboiana / Churo, Oeste da Guiné, CAOP 1, com resultados significativos. Operação Novidade das forças portuguesas, na zona de Tite, no Sul da Guiné, com captura do chefe das populações balantas do Quinara, de nome Manquiante. Operação Diamante Pardo executada por duas companhias de comandos africanos na zona de Nhaga, Oeste da Guiné, com estabelecimento de vários contactos com forças do PAIGC. Emboscadas e minas no leste causam 5 mortos e 4 feridos entre as tropas portuguesas.
Outubro. Amílcar Cabral, recebido em Londres pelo líder do Partido Trabalhista britânico, reafirma a vontade de solucionar o conflito sem condições prévias.
Novembro - Acção de duas companhias de comandos africanos, na zona de Campará, no sul da Guiné
Dezembro - Amílcar Cabral, em visita a Moscovo, obteve dos soviéticos a promessa do fornecimento de mísseis terra-ar Sam-7, para o 1º trimestre do ano seguinte. No regresso a Conakry, escolheu a equipa que os ia manusear, que seguiu de imediato para Moscovo a fim de receber a indispensável formação. Em Dezembro estavam registadas 46 tabancas organizadas em auto-defesa, 341 com armamento distribuído e 26 em que os seus elementos colaboravam com as tropas portuguesas, perfazendo um total de 11.163 armas distribuídas à população (Com.Che. das FA da Guiné, Relatório de Comando, Secreto, 1971). Ainda segundo este relatório, a administração portuguesa controlava 487.448 indivíduos e o PAIGC 107.200, distribuídos pelo Senegal (60.000), Gâmbia e República da Guiné-Conakry (20.000) e 27.200 dentro do território. Calculava-se que, relativamente ao total  da população da Guiné, cerca de 13% estava refugiada nos países limítrofes.
12 de Dezembro - Às 09h00, uma companhia do Exército desembarca da LDG Bombarda em Cadique (Cantanhez), na península dos rios Cumbijã e Cacine. Apoiados pela aviação, na presença do General Spínola, dão início à operação "Grande Empresa" que tinha por objectivo ocupar algumas posições na mata até então praticamente nas mãos da guerrilha.
20 de Dezembro - Operação Safira Solitária realizada por duas companhias de comandos africanos na zona de Morés, Oeste da Guiné, com vários contactos com forças do PAIGC. Disse o Comunicado Especial do Comando-Chefe: ...Montada a operação, denominada "Safira Solitária", foi esta levada a efeito por unidades da força africana e teve início ao alvorecer do dia 20 prolongando-se até à tarde do dia 26 tendo as nossas forças sido guiadas na floresta por elementos das populações da área pertencentes à nossa rede de informações que conhecia a localização precisa das posições inimigas.  Apesar de colhido de surpresa o inimigo estimado em 6 bigrupos, 2 grupos armados de armas pesadas instalados em posições fortificadas e cerca de 333 elementos armados da milícia popular, opôs durante os três primeiros dias tenaz resistência acabando todavia por ser desarticulado e aniquilado, tendo sofrido 215 mortos confirmados, entre os quais três cubanos, e alguns mercenários estrangeiros africanos, 28 capturados, além de apreciável número de feridos.  Segundo declarações dos capturados, encontravam-se na área pelo menos mais 4 elementos cubanos.  Verificou-se que o inimigo estava implantando no Morés um sistema de fortificação de campanha do qual se destacavam espaldões para armas pesadas e abrigos subterrâneos para pessoal.  Os grupos de guerrilha, pela resistência que ofereceram revelaram uma sensível melhoria de enquadramento e uma técnica mais avançada de guerra de posição.  No decurso da operação foi capturado o seguinte material: 1 canhão sem recúo B-10, 2 morteiros de 82 mm, 2 morteiros de 60mm, 3 metralhadoras pesadas Goryonov, 7 lança-granadas RPG-7, 14 espingardas automáticas Kalashnikov, 38 espingardas semi-automáticas Simonov, 8 espingardas Mosin Nagant, 14 pistolas metralhadoras PPSH, além de avultado número de armas de repetição, de cunhetes de munições, fitas e carregadores, destruídos no local por desnecessários. As nossas forças sofreram 8 mortos, 12 feridos graves e 41 feridos ligeiros." Amadu Bailó Djaló alferes da 1ª Companhia de Comandos Africanos, conta que o seu grupo não participou no inicio da operação, e quando se juntou aos restantes comandos, estes estavam concentrados na zona dos cajueiros do Morés, que era perto da barraca central. Quando lá chegou começava a anoitecer, e apercebeu-se que já estavam ali desde o meio-dia, pelo que alertou para o perigo que isso representava, mas responderam-lhe, que se atacassem era bom, era maneira como lhe apanhava-mos todas as armas, pois estavam ali 200 comandos. Quando a noite caiu, o PAIGC  atacou, um violento e certeiro bombardeamento de morteiros, provocou de imediato muitos feridos, e uma fuga precipitada para outra posição, lançando a confusão.  "Tivemos que fugir rapidamente para outra posição, pois as granadas caíram mesmo em cima de nós. mas depois regressei novamente ao local onde tinha estado, dado ter deixado lá a minha arma."  Quando procurava a arma, uma voz chamou-o, era um soldado ferido, disse-lhe que estava ferido nos pés, como estava muito escuro, apalpou-lhe os pés para ver como estavam, eram uma massa de sangue, foi chamar o enfermeiro.  O enfermeiro chamou-o à parte e disse-lhe que não havia nada a fazer, ele iria morrer durante a noite, pois iria esvaziar-se em sangue até de manhã, altura em que poderia ser evacuado. “Amadu voltou para me juntar ao meu grupo, mas no caminho chamaram-no novamente, era outro soldado ferido”.  Estava ferido numa perna, parecia que tinha um tendão cortado, mas não teve tempo para o ajudar, a resposta dos comandos africanos ao poder de fogo do PAIGC revelava-se insuficiente para deter, e este avançava rapidamente no terreno, ao assalto às posições dos comandos, pelo que lhe disse voltaria para o vir buscar (quando lá voltou tinha sido morto pelo PAIGC com um tiro na cabeça).  Amadu juntou-se ao seu grupo, e recuaram novamente, inicialmente queriam recuar para a zona das bananeiras, que era um local escuro e que dava alguma protecção, mas a Amadu pareceu-me demasiado óbvio, e disse para recuarem para o meio do capim, local com pouca protecção.  "O PAIGC bombardeou com morteiros a zona das bananeiras, suspeitando que nós estávamos lá, e passou perto de nós da zona do capim, gritavam: "Cú, Cú", "Comando",  "Aparece se és homem", mas ficamos calados." - comenta Amadu. Os confrontos pararam, pois conseguiram não ser detectados, e ao amanhecer deslocaram-se para uma zona, onde pudessem evacuar os feridos, mas ai receberam ordem para regressar, e o assalto à barraca central nunca se efectuou. Quebá Sedi combateu desde 1963 até 1974, foi chefe de um bigrupo no Morés, e lembra-se bem da operação ocorrida em Dezembro de 1971, em que a tropa veio passar o natal com os combatentes pela liberdade da pátria. Segundo as suas palavras, o que se passou foi o seguinte: Primeiro veio uma avioneta que andou a sobrevoar a mata, depois durante 13 dias, bombardeiros, helicópteros, e os canhões do Olossato, Bissorã, Cutia e Mansabá, bombardearam de dia e de noite o Morés. No fim dos bombardeamentos, devem ter pensado que estava tudo morto, e helicópteros trouxeram as tropas, que largaram em várias zonas, à volta do Morés.  Os combatentes fizeram-lhes duas emboscadas, mas depois perderam-lhes o rasto, muita gente pensou que se tivessem ido embora, pois não de ouvia nada. As tropas tinham-se reunido no Morés, na zona dos cajueiros, muito perto da barraca grande do Morés, era véspera de Natal, e era sua intenção atacar a barraca grande do Morés, no dia seguinte, pelo que passaram aqui a noite.  Um homem grande detectou o brilho de um cigarro, de um soldado que estava de pé a fumar, com a arma ao lado, e foi avisar os combatentes da barraca grande. O comandante da barraca grande era Abu Ladja, mas existiam ali outros comandantes como Lamam Sisse, Dique Daringue, e outros. Gerou-se alguma discussão se era mesmo tropa que estava ali, pois não queriam ir bombardear a população, uns diziam "É tuga", outros "É cá tuga". Dique Daringue foi encarregado de investigar, e os combatentes levaram 2 morteiros 60 e 2 morteiros 82. Dique Daringue para ter a certeza de que era tropa mandou disparar uma rajada, em resposta ouviu-se falar português, eram "tugas", e abriu-se fogo. As tropas tiveram muitos mortos e feridos, foram apanhadas muitas armas e um rádio. As tropas também conseguiram apanhar algumas armas, pois dias antes tinham encontrado em Bongontom uma arrecadação com armas velhas, e outra com armas novas no Morés. (Publicado em 21/05/2006, e revisto em 1/08/2007 por Carlos Fortunato)

1972

Minas:


24 de Janeiro - Golpe de mão de guerrilheiros do PAIGC, comandados por Queba Sambu, a Catió, no Sul da Guiné, durante o qual foram feitos prisioneiros dois militares portugueses
27 de Janeiro - Convite ao Conselho de Segurança da ONU para enviar uma delegação às «áreas libertadas da Guiné-Bissau», feito pelo PAIGC
1 de Fevereiro - Amílcar Cabral discursa no Conselho de Segurança da ONU, reunido em Adis Abeba, facto que ocorre pela primeira vez
4 de Fevereiro - Resolução do Conselho de Segurança da ONU que autoriza o envio de uma missão de visita às regiões libertadas da Guiné-Bissau
Março - Alerta de Amílcar Cabral contra um plano para liquidar o partido e o seu secretário-geral. Encontros secretos entre delegações de Portugal e do Senegal para a criação de uma comissão mista para controlo das fronteiras
9 de Março - Ataque do PAIGC ao aeroporto de Bissalanca, próximo de Bissau
27 de Março - Concessão pelo Governo norueguês, de um subsidio ao PAIGC
2 de Abril - Início de uma visita efectuada por uma missão especial das Nações Unidas às zonas da Guiné-Bissau controladas pelo PAIGC


17 de Abril - Carta de Spínola a Marcelo Caetano em que considera que «não ganharemos esta guerra pela força das armas». Será que Spínola não tinha conhecimento das nossas capacidades e meios para ganhar a guerra?!  Na região do Quirafo (Contabane), uma coluna do Exército Português  (da CCaç 3490, Saltinho) foi emboscada por uma força do PAIGC, comandada por Paulo Malú, armada de canhão sem recuo, RPG 7 e as habituais armas automáticas. Desbaratada e posta em fuga a coluna sofreu 12 mortos, 6 feridos e um desaparecido, o soldado António Baptista. A guerrilha encontrou-o, fingindo-se de morto. Levado para a fronteira nesse mesmo dia, à noite, um camião vindo de Boké transportou-os para Conakry onde chegaram (o prisioneiro e ele, Malu) de manhã cedo. Foi libertado em 14 de Setembro de 1974, perante a estupefacção dos que o julgavam morto. De facto, o funeral, com honras militares, do soldado Baptista tinha sido feito, encontrando-se ainda há pouco tempo um corpo (presume-se ser o do soldado António Oliveira Azevedo) no lugar do dele, no cemitério de  Moreira da Maia.
25 de Abril - Visita dos adidos militares dos Estados Unidos, Inglaterra, Venezuela e África do Sul à Guiné
18 de Maio - Encontro de Spínola, acompanhado do director da Pide em Bissau (era Fragoso Allas, grande amigo de Spínola, e a quem este prometeu, após o 25 de Abril, que libertaria os pides, menos os altos dirigentes) e do major Hugo Rocha, com Leopold Senghor, próximo da fronteira com a Guiné (em Cap Skiring), no sentido de explorar as possibilidades de mediação entre as partes em conflito
19 de Maio - Recondução de Spínola nos cargos de governador-geral e comandante-chefe da Guiné
26 de Maio - Encontro de Marcelo Caetano com Spínola, a quem este transmite os resultados do seu encontro com Senghor. Sobre este encontro escreveu Marcelo Caetano: «Passado tempo, Senghor começava a fazer saber ao general Spínola que gostaria de falar com ele. Ciente do facto, o Governo autorizou o general a encontrar-se com o presidente do Senegal, o que teve lugar numa povoação senegalesa [Cap Skiring] próxima da fronteira portuguesa em meados de 1972. O general Spínola veio depois, num salto, a Lisboa dar conta do que se passara.
Na entrevista surgira a hipótese de um encontro Spínola - Amílcar Cabral para se negociar um cessar-fogo preliminar do acordo pelo qual se esperava que o PAIGC passaria a colaborar com os portugueses no Governo do território.
Observei ao general que por muito grande que fosse o seu prestígio na Guiné – e eu sabia que era enorme – ao sentar-se à mesa das negociações com Amílcar Cabral ele não teria na frente um banal chefe guerrilheiro, e sim o homem que representava todo o movimento antiportuguês, apoiado pelas Nações Unidas, pela Organização da Unidade Africana, pela imprensa do mundo inteiro. Assim, ia-se reconhecer oficialmente o Partido que ele chefiava como sendo uma força beligerante e reconhecia-se mais, que essa força possuía importante domínio territorial, uma vez que aceitávamos negociar com ela um armistício (ou cessar-fogo) como preliminar de um acordo. [...]
A dificuldade do problema da Guiné estava nisto: em fazer parte de um problema global mais amplo, que tinha de ser considerado e conduzido como um todo, mantendo a coerência dos princípios jurídicos e da política que se adoptasse.
E foi aqui que, no decurso da conversa, fiz a afirmação chocante para a sensibilidade do general, dizendo mais ou menos isto:
– Para a defesa global do Ultramar é preferível sair da Guiné por uma derrota militar com honra do que por um acordo negociado com os terroristas, abrindo o caminho a outras negociações.
– Pois V. Ex.a preferia uma derrota militar na Guiné? – exclamou escandalizado o general.
– Os exércitos fizeram-se para lutar e devem lutar para vencer, mas não é forçoso que vençam. Se o exército português for derrotado na Guiné depois de ter combatido dentro das suas possibilidades, essa derrota deixar-nos-ia intactas as possibilidades jurídico-políticas de continuar a defender o resto do Ultramar. E o dever do Governo é defender todo o Ultramar. É isso que eu quero dizer.» in Depoimento, Rio de Janeiro, Record, 1974, p. 189.
Estava visto que o poder político já aceitava que houvesse uma derrota na Guiné. E é a partir dessa data que Senghor, sabendo da recusa de Marcelo Caetano em autorizar o prosseguimento da via que ele e Spínola haviam tentado, disponibiliza abertamente os seus territórios ao PAIGC e dá-lhe total apoio.
28 de Julho - Agravamento pelo Supremo Tribunal Militar, para dez anos de prisão da pena do capitão cubano Pedro Peralta
Agosto - Criação pelo Estado-Maior-General de uma rede de informações para actuar em diversos países africanos, chefiada por Alpoim Calvão
Setembro - No plenário da ONU, Amílcar Cabral anunciou para muito breve a declaração unilateral da Independência da Guiné.
21 de Setembro - Estado de sítio na cidade da Praia, Cabo Verde, após confrontos entre populares e forças militares
24 de Ouubro - Carta de Spínola a Marcelo Caetano, solicitando autorização para se encontrar com Amílcar Cabral, que foi negada
18 de Dezembro - Um comandante do PAIGC refere, numa reunião com populações do interior, a utilização de uma nova arma contra as forças portuguesas na região do Cantanhez, anunciando a entrada em acção do míssil terra-ar
12 de Dezembro - Às 09h00, uma companhia do Exército desembarca da LDG “Bombarda” em Cadique (Cantanhez), na península dos rios Cumbijã e Cacine. Apoiados pela aviação, na presença do General Spínola, dão início à operação "Grande Empresa" que tinha por objectivo ocupar algumas posições na mata até então praticamente nas mãos da guerrilha.
31 de Dezembro - Em documento oficial o comando militar português na Guiné prevê a utilização, pelo PAIGC, de canhões antiaéreos, lançadores múltiplos de foguetões, viaturas anfíbias, PT-76 e BTR-40 e carros de combate T-34, aumentando o seu potencial bélico
Até 1972 as forças portuguesas alternaram êxitos com fracassos. Os maiores êxitos foram a construção de estradas alcatroadas nos limites de zonas libertadas pelo PAIGC, a estrada Bula-Có-Pelundo-Teixeira Pinto-Cacheu, junto à Coboiana, a estrada Mansoa-Mansabá-KS/Farim, que toca no sul do Mores, e a estrada do Leste, que liga a cidade de Bafatá ao rio Geba/Corubal e às fronteiras com o Senegal e a Guiné-Conacri. No Sul, mantêm-se abertas as vias que ligam Buba a Aldeia Formosa.   As guarnições da fronteira norte resistem, mas Madina do Boé e o destacamento de Béli tinham sido abandonadas, deixando vazio um vasto espaço entre o rio Corubal e a fronteira. Também a posição de Gandembel deixa de fazer parte do dispositivo territorial. Nesse ano de 1972, o PAIGC realizou 765 acções de sua iniciativa, contra 708 em 1971.
  
1973

Segundo o Serviço de Informação Pública das Forças Armadas, as tropas portuguesas registaram 210 mortos na Guiné durante o de 1973. No final deste ano contavam-se 550 Kms de estradas alcatroadas no território.
 8 de Janeiro - Amílcar Cabral anuncia que o Estado da Guiné-Bissau será proclamado em 1973
27 de Janeiro - Mensagem de exortação dos dirigentes do PAIGC aos combatentes na sequência da morte de Amílcar Cabral, assinada por Aristides Pereira, Luis Cabral, Chico Mendes, Victor Saúde Maria, Silvino da Luz e Paulo Correia
1 de Fevereiro - Simpósio dedicado à memória de Amílcar Cabral em Conacri, com a presença de 680 delegados de vários países e organizações de todo o mundo
20 de Fevereiro - Durante um patrulhamento na mata do Cantanhez, um grupo da Companhia estacionada em Cadique deitou a mão a 24 granadas de canhão s/recuo e a 1 de RPG 2.
Março - A tropa do Saltinho recolheu um militar que conseguiu escapulir-se da guerrilha que o mantinha prisioneiro. Era um soldado de uma Companhia de Cancolim que tinha sido capturado pelo PAIGC quando se dirigia sozinho em direcção ao seu pelotão que tinha saído para um patrulhamento nocturno. Recusara-se a sair e,  cerca de uma hora depois decidiu ir ao encontro dos seus camaradas. Teve um mau encontro, deu de caras com tropas do PAIGC que se preparavam para atacar o destacamento e foi capturado. No dia seguinte, a tropa encontrou munições de G-3 que presumivelmente lhe pertenceriam e deu-o como desaparecido.
6 de Março - Carta de António de Spínola a Marcelo Caetano sobre a evolução da situação na Guiné e a necessidade de medidas de natureza politica
20 de Março - O TCor Almeida Brito e o Maj Pessoa, aos comandos de uma parelha de Fiats G-91 da FAP avistaram um míssil em Campada
22 de Março - O Furr Moreira num T-6 vê passar-lhe ao lado um projéctil que admitiu ser um míssil.
25 de Março - Primeira utilização dos mísseis terra-ar Strella pelo PAIGC, responsáveis pela queda de um Fiat G-91 pilotado pelo tenente Pessoa
6 de Abril - Um Do-27 pilotado pelo Furr Baltazar é atingido e despenha-se, morrendo o piloto. Outro Do-27 pilotado pelo Furr Carvalho Ferreira, em viagem de Farim para Bigene, desapareceu com quatro passageiros a bordo. O Maj Mantovani morre aos comandos de um T-6. O outro piloto que "ia em asa", o Alf Henriques, viu um rastro de fumo vindo do solo.
25 de Abril - Coube a vez ao Ten Pessoa, que se conseguiu ejectar, sendo recuperado no dia seguinte por um GrCmds
28 de Abril - O Ten Cor Almeida Brito aos comandos do Fiat G-91 morreu ao despenhar-se com a aeronave abatida por um SAM-7 "Grail".
Maio - O PAIGC desencadeou 220 acções militares neste mês.
8 de Maio - Início do ataque do PAIGC ao quartel de Guidage, no Norte da Guiné. Todos os acessos a essa povoação foram sujeitos a uma das mais violentas acções de toda a Guerra da Guiné. Em termos de efectivos, a guarnição portuguesa teria cerca de 200 homens, na maioria do recrutamento da província, com as suas famílias, existindo em redor do quartel uma pequena aldeia com cada vez menos habitantes. Do lado do PAIGC estimavam-se em cerca de 650 a 700 os efectivos que empenhou nesta operação, comandados por Francisco Mendes (Chico Te) e pelo comissário político Manuel dos Santos, que era o responsável pelos mísseis em todo o território. Minas, emboscadas, abates de Fiats G-91, Dorniers, helis, houve de tudo naquele interminável mês  (a acção durou desde 8 de Maio a 8 de Junho). Na zona de Guidage estiveram envolvidos cerca de mil homens das Forças Armadas Portuguesas, segundo os Cors Matos Gomes e Aniceto Afonso. Em 20 dias de cerco, Guidage sofreu 43 ataques com foguetões de 122 mm, artilharia e morteiros. 39 mortos, 122 feridos, 3 desaparecidos, seis viaturas destruídas, três aviões abatidos (um T6 e dois DO 27) foi o saldo negativo para as forças portuguesas.
15 de Maio - Reunião de comandos militares em Bissau, durante a qual Spínola declara «Encontramo-nos indiscutivelmente na entrada de um novo patamar da guerra, o que necessariamente impõe o reequacionamento do trinómio missão-inimigo-meios»
17 de Maio - Início da Operação Ametista Real, em que o Batalhão de Comandos da Guiné assalta a base de Cumbamori, do PAIGC, situada em território do Senegal. Nesta acção, segundo Almeida Bruno, o Cmdt da op "Ametista Real", as tropas portuguesas reclamaram a destruição de mais quatro centenas de armas automáticas,  mais de 100 morteiros, 14 canhões s/r e quase centena e meia de lança-granadas, para além de milhares de munições, minas anti-carro e anti-pessoal, granadas de mão, granadas de morteiro e de RPG, rampas de foguetes, etc. No decorrer da operação o BCmds sofreu catorze mortos, vinte e três feridos graves. O PAIGC dispunha, concentradas, as seguintes forças na região de Cumbamori: Corpo de Exército (CE) 199/B/70, com quatro bigrupos de infantaria e uma bateria de artilharia; Corpo de Exército (CE) 199/C/70, com cinco bigrupos de infantaria e uma bateria de artilharia; Grupo de Foguetes da Frente Norte, com quatro rampas; Três bigrupos de infantaria, um grupo de reconhecimento e uma bateria de artilharia do CE 199/A/70, deslocadas de Sare Lali (Zona Leste). Foram ainda referenciados em Cumbamori um pelotão de morteiros de 120 mm, um grupo especial de sapadores e diversos elementos recém-chegados do estrangeiro.
18 de Maio - Início da Operação Amílcar Cabral realizada por forças do PAIGC contra o quartel de Guilege, no sul da Guiné. Este ataque foi conjugado com o a Guidage, pretendendo o PAIGC isolar as guarnições de fronteira. Cinco dias depois, o comandante português, o Maj Artª Coutinho e Lima, contrariando as ordens de Spínola, decidiu abandonar a praça forte na zona sul do território. Elementos da população ofereceram alguma resistência mas, face à decisão inabalável de Coutinho e Lima, decidiram-se por seguir com a tropa. No local as tropas portuguesas deixaram para trás três peças de artilharia e documentos sobre a disposição das forças em todo o território da Guiné. Peças e documentos que muito jeito deram às forças de guerrilha, segundo vieram a dizer mais tarde dirigentes do PAIGC. O major Coutinho e Lima, para justificar o seu acto, diz ter tido a preocupação de poupar as 600 vidas que lhe estavam confiadas. Outros militares, embora se recusem a condenar publicamente um camarada, atribuem-lhe o único abandono em treze anos de guerra de um aquartelamento português e alguns interrogam-se do que teria acontecido a Guidage, se em vez do Coronel Correia de Campos tivesse sido Coutinho e Lima o comandante. As consequências do abandono de Guileje tiveram enorme repercussão. Pela primeira vez, pelo menos de uma forma tão pública e que o PAIGC aproveitou em todos os palcos internacionais, o Exército Português mostrava fracturas tão assinaláveis. Na sequência, tentando aproveitar o "efeito dominó", as tropas do PAIGC deslocaram todo o esforço para o aquartelamento vizinho, Gadamael, que passou a ser atacado do território da Guiné-Conakry várias vezes ao dia, com enorme violência (morteiros 82 e 120, foguetões de 122mm, conhecidos pelos jactos do Povo e bocas de Artª de 130 mm, com alcance até trinta quilómetros). A guarnição, tal como a de Guidage, embora com custos elevados (38 mortos e 55 feridos entre 13 e 27 de Maio), manteve-se estoicamente.  No seu livro "Gadamael",  o Sargento pára-quedista Carmo Vicente escreveu: "tombaram para sempre, quase cinquenta irmãos nossos, que não queriam combater e que abominavam a guerra. Quase cinquenta homens que se o pudessem ter feito, teriam gritado antes de morrer: entreguem a Guiné aos Guineenses".
22 de Maio - Retirada da guarnição portuguesa do quartel de Guilege, no sul da Guiné, para Gadamael-Porto
25 de Maio – Visita de Costa Gomes, chefe do Estado-Maior-General, à Guiné
31 de Maio - Agravamento da situação em Gadamael-Porto, em consequência da pressão militar do PAIGC e da retirada da guarnição de Guilege. Durante o mês de Maio, o PAIGC realizou 220 acções militares de sua iniciativa, atingindo o valor mais elevado desde o início da guerra.
18 de Julho - Inicio do II Congresso do PAIGC no interior da Guiné, em que Aristides Pereira é eleito novo secretário-geral do partido e feita a convocação da primeira sessão da Assembleia Nacional Popular que deverá proclamar a independência nacional
31 de Julho - Aristides Pereira anuncia que cinco indivíduos, julgados pelo assassínio de Amílcar Cabral, foram fuzilados
6 de Agosto - Regresso de António de Spínola a Portugal, vindo a ser substituído nos cargos que desempenhava na Guiné
18 de Agosto - Reunião de duas dezenas de capitães na sala de jogos do Clube Militar, em Bissau. Analisa-se a legislação considerada afrontosa (Decreto-Lei 353/73), ética e materialmente, para a maioria dos capitães do QP. Discute-se a atitude a tomar e escolhe-se uma comissão para elaborar um projecto de carta a enviar às mais altas entidades das Forças Armadas e do Exército e ainda ao Ministro da Educação
21 e Agosto - Reunião de oficiais em Bissau, em que é aprovado o texto de uma exposição a enviar às altas entidades militares e politicas sobre as novas disposições acerca das carreiras militares
25 de Agosto - Leitura e discussão final do documento que recolheu 51 assinaturas. Foi constituída uma Comissão do Movimento dos Capitães, integrada pelo major Almeida Coimbra e capitães Matos Gomes, Duran Clemente e António Caetano. Substituição de António de Spínola por Bettencourt Rodrigues nos cargos de governador-geral e comandante-chefe da Guiné
Setembro - Posse de Bettencourt Rodrigues do cargo de governador-geral e comandante-chefe da Guiné
1 de Setembro - Mais um Fiat G.91 (Cap. Carlos Wanzeller) da FAP foi atingido por fogo antiaéreo de.50 polegadas (12,7)
5 de Setembro - Envio de uma exposição colectiva às altas entidades, assinada por 51 oficiais em serviço na Guiné
13 de Setembro - Otelo Saraiva de Carvalho, em fim de comissão, reúne pela última vez numa sala do Grupo de Artilharia de Campanha de Bissau, recebendo a incumbência de, em Lisboa, se integrar no Movimento, sendo porta-voz das preocupações dos seus camaradas
24 de Setembro - Proclamação unilateral da independência da Guiné-Bissau feita pelo PAIGC, em Madina do Boé, no interior do território
4 de Outubro - Coube a vez de ser atingido por mais um Strella o Fiat G.91 pilotado pelo Cap. Roxo da Cruz.
18 de Outubro - Reunião do Movimento dos Capitães em Bissau e Luanda, decidindo-se, em ambos os lados, prosseguir a mobilização dos oficiais, apesar da suspensão dos decretos

1974

Janeiro - Em meados do mês, o BCmds Africanos efectuou a op "Neve Gelada", na zona de Canquelifá, com o objectivo de aliviar a pressão do PAIGC sobre aquela povoação fronteiriça (sem reabastecimentos há cerca de um mês). Com duas CCmds, saídas há cerca de duas horas em direcção aos objectivos do PAIGC (bases de fogos de Artª e foguetões) localizados no interior da Guiné-Conakry a dois ou três kms da fronteira, recomeçaram os bombardeamentos ao quartel. Referenciada a base de fogo, uma CCmds atacou do interior da Guiné-Conakry para a fronteira, apanhando assim o IN pela retaguarda, o que obrigou este a debandar, abandonando 5 morteiros e centenas de granadas. centenas de granadas.
21 de Janeiro - Primeira acção do PAIGC na cidade de Bissau, com lançamento de engenhos explosivos contra autocarros da Força Aérea, seguidos, uma semana depois, de dois outros engenhos do mesmo tipo num café da mesma cidade, frequentado por militares portugueses
31 de Janeiro - Mais um Fiat G.91 (Ten. Castro Gil) da FAP abatido por um Strella.
14 de Fevereiro - Carta do Movimento dos Capitães da Guiné sobre a situação geral e a necessidade de ser passar à acção contra o regime.
22 de Fevereiro - Rebentamento de uma carga explosiva no Quartel-General do Exército de Bissau, tendo ficado ferido o segundo-comandante, acção reivindicada pelas Brigadas Revolucionárias
Março – Neste mês, algumas unidades dispersas pelo território receberam uma mensagem assinada pelo Ten Cor Banazol,  em nome do “Movimento de Resistência das Forças Armadas”, apelando à rebelião e programando uma operação de retracção do dispositivo militar para o mês de Maio próximo. Comparativamente aos dados de 1971 (já referidos) era esta a situação dos meios aéreos:
                        
                         
                          Disponíveis        Disponíveis
                            (1971)             (Março 1974)
 T-6..........................11      ...................6
 DO-27................... 14     ..................12
 C-47 (Dakcot......   2      .................   3
 G-91 [Fiat)........... 10      ................    8
AL-III(helicópt)  ...18     ...................15
 Nord-Atlas.......      2      ...................  2

Os T6 foram reduzidos por não puderem ser substituídos os abatidos ou acidentados, além de não se mostrarem adequados para este tipo de guerra, nomeadamente após o aparecimento dos Strella, Os Fiat também não puderam ser substituídos, nem os AL-III, e também por dificuldades de manutenção.
                                 Efectivos - Pilotos
                                1971    Março 1974
Colocados .................49   ............48
Prontos para voo......44   ............35
31 de Março - Violento ataque do PAIGC à guarnição militar portuguesa de Bedanda, com utilização de viaturas blindadas
13 de Abril - Informação do movimento de oficiais da Guiné à comissão de Lisboa de que está preparada para assumir a iniciativa do movimento, caso seja necessário.
20 de Abril - Morre em combate na estrada Teixeira Pinto-Cacheu, em 20 de Abril, Saco Vaz, Comandante do PAICG.
25 de Abril - As unidades militares dispersas pelo território recebem uma mensagem "relâmpago" emitida do Comando-Chefe em Bissau, às 22h45, com a informação de que agências noticiosas estavam a noticiar o derrube do governo de Lisboa. A mesma mensagem incitava os comandos das unidades a estarem prevenidas para um eventual aproveitamento do PAIGC,  para manterem a vigilância e garantirem pronta capacidade de reacção, terminando com um alerta respeitarem apenas ordens depois de devidamente autenticadas. Destituição do Governador da Guiné, Brigadeiro Bettencourt Rodrigues, substituído interinamente pelo Ten Cor Mateus da Silva.
7 de Maio - A Junta de Salvação Nacional nomeia seu delegado com funções de encarregado do governo o Ten Cor Carlos Fabião.
14 de Maio - Aristides Pereira, secretário-geral do PAIGC, apela à união dos guineenses e cabo-verdianos para a luta pela independência total.
15 de Maio - Na zona do Xitole, quando faziam segurança a uma coluna que transportava materiais de construção, tropas portuguesas foram emboscadas, tendo sofrido dois mortos e alguns feridos.
16 de Maio - A República da Guiné-Bissau é admitida na Organização Mundial de Saúde.
17 de Maio - Mário Soares, MNE, iniciou negociações para o cessar-fogo, em Dacar.
24 de Maio - Em Londres, Mário Soares reúne com uma delegação do PAIGC, ficando acordada a paragem dos combates.
5 de Junho – À noite, o quartel do Xitole foi alvo de tentativas de infiltração, tendo sido abatido um elemento atacante.
15 de Junho - Tropas portuguesas em patrulhamento na Ponte dos Fulas (ainda na zona do Xitole) depararam com uma carta, um maço de tabaco Nô Pintcha e um isqueiro, dependurados numa árvore em local bem visível. A carta convidava o comandante português para uma reunião nesse mesmo dia e local com elementos do PAIGC.
27 de Julho - Spínola reconhece o direito do povo da Guiné à independência.
26 de Agosto - Em Argel, Portugal e o PAIGC chegam a acordo com vista ao reconhecimento da República da Guiné-Bissau, a acontecer no dia 10 de Setembro de 1974.
Novembro - Embarcou no Uíge o BCaç 4612, a última unidade militar portuguesa ainda presente no território, ficando durante algum tempo na Guiné apenas um pequeno destacamento da Marinha de Guerra Portuguesa.

SITUAÇÃO NA METRÓPOLE (alguns dados)

1962

12 de Janeiro – Franco Nogueira propõe a Salazar a realização de conversas exploratórias secretas com o regime senegalês, uma vez que a Guiné se configurava como um território para o qual era difícil delinear uma solução aceitável.
Julho - Agostinho Neto (MPLA)  e Vasco Cabral, dirigente do PAIGC, evadem-se clandestinamente de Portugal a partir da Doca do Bom Sucesso, em Pedrouços, com o apoio dos dirigentes do PCP Jaime Serra e Dias Lourenço.

1963

18 de Janeiro - Debate pelo Governo português de um projecto de Lei Orgânica do Ultramar
10 de Junho – É comemorado em Lisboa pela primeira vez.
10 de Agosto - Crítica do marechal Craveiro Lopes a alguns aspectos da política ultramarina
12 de Agosto - Discurso de Salazar sobre o problema do ultramar, que teve grandes repercussões internacionais e levou os nacionalistas a reafirmarem a continuação da luta
23 de Agosto - Cerimónia de apoio dos generais e oficiais superiores a Salazar e à política ultramarina
27 de Agosto - Manifestação nacional no Terreiro do Paço, em Lisboa, de apoio à política ultramarina do Governo, que serviu de base à legitimidade da política de defesa ultramarina do Governo português
17 de Outubro - Decisão do Governo português de considerar os crimes previstos na legislação militar, como cometidos em tempo de guerra

1964

Janeiro - Realização da II Conferência das Forças Antifascistas Portuguesas, promovida pela FPLN
11 de Janeiro - Aprovação pela Assembleia Nacional, de uma moção de apoio à «política de defesa intransigente do solo pátrio», com referência ao Ultramar
Março - Comunicado do PAIGC distribuído em Argel, afirmando o acordo entre a oposição portuguesa, representada por Humberto Delgado e os movimentos de libertação africanos, para estreitamento de relações e concordância numa acção comum
5 de Março - Concessão de facilidades da Alemanha para recuperação de militares mutilados nas guerras coloniais
8 de Março - Reunião de dirigentes do PAIGC e da FPLN em Argel
21 de Março - Comunicado da PIDE a acusar Humberto Delgado de auxílio aos «grupos terroristas»
17 de Março - Garantias de apoio do cônsul de Portugal na Rodésia a Ian Smith no caso de declaração unilateral de independência da minoria branca
25 de Setembro - A França anuncia a entrega a Portugal de oito navios de guerra, como contrapartida pela cedência da base das Flores
31 de Dezembro - No final do ano de 1964, os efectivos portugueses nos três teatros de operações ultrapassaram os 84.000 homens. Declaração de Franco Nogueira sobre o abandono da ONU por parte de Portugal

1965

Janeiro - Portugal põe em causa a legalidade da constituição do Conselho de Segurança da ONU, pelo que declara não se considerar obrigado por qualquer decisão sua
2 de Janeiro - Abertura da base aérea alemã em Beja
13 de Fevereiro - Assassínio de Humberto Delgado pela PIDE, próximo de Badajoz
18 de Fevreiro - Salazar, referindo-se à política ultramarina portuguesa, designa Paris e Argel como as capitais da subversão contra Portugal, referindo que os portugueses combatem sem espectáculos e sem alianças, «orgulhosamente sós»
21 de Maio - Assalto à sede da Sociedade de Escritores, na sequência da atribuição do Grande Prémio de Novelística a Luandino Vieira
3 de Setembro - Encerramento pela PIDE, da Casa dos Estudantes do Império, em Lisboa

1966

Abril - Legislação do Governo português para trava a emigração clandestina. Terá limitado, mas, como posso ver pelo quadro em baixo, não travou a emigração quer legal quer clandestina. Pelo contrário, aumentou.

29 de Maio - Criação do Vicariato Castrense Português, com um corpo de capelões e um bispo
Agosto - Aumento dos impostos decretado pelo Governo português entre 7 e 27 por cento para fazer face às despesas militares
14 de Outubro - Difusão das normas a observar pela Direcção dos Serviços de Censura em especial sobre as noticias que visem a «politica adoptada quanto ao Ultramar Português»
15 de Outubro - Abstenção de Portugal na ONU na criação do Dia Internacional para a Eliminação da Descriminação Racial
Novembro - Personalidades da oposição pedem a Américo Tomás a demissão de Salazar

1967

23 de Fevereiro - Inauguração do Comando Ibero -Atlântico (Iberlant) da NATO em Oeiras
Abril - Encerramento pela PIDE da Cooperativa católica Pragma. O Hospital Militar de Hamburgo recebe 88 mutilados de guerra portugueses
17 de Maio - Assalto por um comando da LUAR à delegação do Banco de Portugal na Figueira da Foz
Setembro - Inicio dos contactos da PIDE com sectores da oposição ao regime da Guiné-Conacri
Outubro - Publicação do Manifesto pela Oposição Democrática exigindo para o Ultramar uma solução politica

1968

2 de Fevereiro - Visita de Américo Tomás a Cabo Verde e Guiné
9 de Julho - Entrada em funcionamento do Centro de Alcoitão para mutilados de guerra
11 de Julho - Entrada em vigor da nova Lei do Serviço Militar
19 de Agosto - Bettencourt Rodrigues substitui Luz Cunha no Ministério do Exército e Manuel Pereira Crespo rende Quintanilha Mendonça Dias na pasta da Marinha
7 de Setembro - Revelação pública de um acidente de Salazar, com irrecuperáveis lesões cerebrais
26 de Setembro - Anúncio por Américo Tomás da substituição de Salazar por Marcelo Caetano
27 de Setembro - Governo de Marcelo Caetano com Sá Viana Rebelo na Defesa Nacional, Bettencourt Rodrigues no Exército, Franco Nogueira nos Negócios Estrangeiros e Silva Cunha no Ultramar
27 de Novembro - Discurso de Marcelo Caetano na Assembleia da República, onde declara que «a liberdade e independência dos países da Europa ocidental joga-se não só na própria Europa, como em África»

1969

Março - Autorização de despesas, a contrair pelo Governo português, até ao montante de dois milhões de contos, para reequipamento do Exército e da Força Aérea
8 de Abril - Inicio de uma visita de Marcelo Caetano à Guiné, Angola e Moçambique
24 de Setembro - Refúgio de Marcelo Caetano no Posto de Comando da Força Aérea em Monsanto, por causa de rumores sobre um golpe de Estado
8 de Novembro - O ministro da Defesa Nacional informa a Cruz Vermelha sobre a existência de 23 militares «retidos» na República da Guiné-Conacri, cinco na República Democrática do Congo, quatro na Tanzânia e um na Zâmbia
15 de Dezembro - A Assembleia Nacional exorta, por unanimidade, Marcelo Caetano a prosseguir a «política nacional de manutenção e defesa da unidade e integridade de todos os territórios portugueses»

1970

15 de Janeiro - Remodelação ministerial, com Sá Viana Rebelo a assumir a pasta do Exército e Rui Patrício a dos Negócios Estrangeiros
28 de Janeiro - Os Estados Unidos decidem fornecer a Portugal equipamento militar «não letal»
Fevereiro - Vaga de prisões de estudantes africanos das universidades portuguesas
20 de Fevereiro - Prisão do pároco de Belém (Lisboa), padre Felicidade Alves, por denunciar a situação da guerra colonial
Abril - Organização de um curso de «guerra subversiva» pela Legião Portuguesa, com exercícios na Serra de Sintra. Protesto de Portugal na ONU por a Assembleia Mundial da Juventude, realizada sob a égide da ONU, ter convidado directamente representantes de Angola, Moçambique e Guiné sem o conhecimento do Governo português
Maio - Informação de Portugal ao secretário-geral da ONU de que não participaria na Assembleia Mundial da Juventude, a realizar em Julho. Reorganização territorial do Exército em Portugal e nas colónias
29 de Maio - Visita a Lisboa do secretário de Estado norte-americano, William Rodgers
19 de Junho - Prisão em Lisboa de vários cristãos por assumirem posições contra a guerra colonial
15 de Agosto - Deserção de seis alunos da Academia Militar, durante uma visita à Suécia, e a quem este país concedeu asilo político.

29 de Agosto - Rebentamento de um engenho explosivo na Embaixada de Portugal em Washington, sendo desmontado outro engenho no gabinete dos adidos militares
27 de Setembro - Conversa em família de Marcelo Caetano, em que acusa as Nações Unidas de instigarem a «subversão no Ultramar»
26 de Outubro - Acção da ARA, braço armado do PCP, contra o navio Cunene, fundeado no porto de Lisboa e pronto a partir para África com material de guerra. Acção do António João Eusébio e do António Pedro Ferreira. “O Comando Central da ACÇÃO REVOLUCIONÁRIA ARMADA declara que ao atacarmos a máquina de guerra que alimenta a guerra colonial não estamos contra os soldados, os sargentos e oficiais honrados, forçados a fazer uma guerra que odeiam. Estamos, sim, contra a continuação desta criminosa guerra de opressão colonial que se transformou num flagelo para os povos de Angola, Guiné e Moçambique e num cancro que corrói a nação, que queima vidas e bens do povo português para servir os interesses dum punhado de monopolistas sem pátria. Estamos solidários com a justa luta libertadora dos povos coloniais.”
29 de Outubro - Acção de sabotagem no navio Vera Cruz em Lisboa. Criação da associação Sedes, como esboço de um partido politico de tendência moderada
20 de Novembro - Destruição parcial da Escola Técnica da PIDE-DGS, pela ARA. Na acção o Carlos Coutinho (ex-combatente em Moçambique). Neste dia, destruição igualmente pela ARA de importantes quantidades de equipamento e material de guerra armazenados no cais privativo da C.N.N., prontos para embarque no navio NIASSA. A ARA colocou uma bomba no "Centro Cultural" da embaixada dos Estados Unidos em Lisboa.
2 de Dezembro - Entrega pelo Governo à Assembleia Nacional de uma proposta de revisão constitucional, prevendo um estatuto de autonomia interna para as províncias ultramarinas
4 de Dezembro - Deserção de três oficiais do Exército, que se refugiam na Bélgica
17 de Dezembro - Julgamento do padre Mário de Oliveira, pároco de Maceira da Lixa, por oposição à guerra

1971

8 de Março - Atentado da ARA contra aeronaves militares (vários helicópteros) na Base Aérea de Tancos. Acção do Ângelo Manuel Rodrigues de Sousa (pseudónimos Tavares e Miguel), já falecido.
Maio - Portugal retira-se da UNESCO em virtude de esta organização apoiar os movimentos de libertação
28 de Maio - Promoção de um jantar legionário no Porto contra a reforma constitucional de Marcelo Caetano
3 de Junho - Atentado da ARA contra a central radiotelegráfica e telefónica (RARET) de Lisboa, no dia de abertura de uma cimeira da NATO.
19 de Junho - Promulgação da nova Lei Orgânica da Ultramar, passando Angola e Moçambique a ser designados por Estados
16 de Agosto -Profunda alteração da Constituição de 1933
27 de Outubro - Acção da ARA contra as instalações de Oeiras do Comiberlant, na véspera da sua inauguração
19 de Novembro - A Assembleia Nacional decreta o «estado de subversão», por se verificarem «actos subversivos graves em algumas parcelas do território nacional»
25 de Novembro –  Criação pela DGS, do Grupo de Trabalho Madeira, com a finalidade de efectuar a «integração» da UNITA e de Jonas Savimbi
28 de Novembro - Comunicado do PCP a criticar a acção das BR e dando o seu apoio às acções da ARA

1972

12 de Janeiro – “Na madrugada do dia 12 de Janeiro de 1972, um comando da A.R.A colocou duas potentes cargas, uma explosiva e outra incendiária, num dos armazéns do cais de Alcântara em Lisboa.
Em consequência da forte explosão e do incêndio que se lhe seguiu foi destruída grande quantidade de material pronto a embarcar para a guerra colonial, entre o qual se encontrava importante material de guerra recém-chegado de França e destinado a unidades de caçadores pára-quedistas. Porque o comando da A.R.A actuou entre as 6 e as 8 horas da manhã, quando no Porto de Lisboa não há trabalhadores em actividade, não houve mortos nem feridos. O comando da A.R.A que realizou a acção não teve baixas.”
4 de Fevereiro - Primeira reunião do Grupo de Trabalho Madeira, da DGS.
17 de Abril - Divulgação de um manifesto da oposição «O Fracasso do Reformismo», denunciando a crise do regime
29 de Abril - Directiva do ministro da Defesa sobre a alta prioridade das Forças portuguesas à missão de informação, propaganda e contra propaganda
18 de Junho - Acusação de Marcelo Caetano à oposição, por esta ter aberto a «quarta frente de combate»
19 de Junho - Publicação da Lei Orgânica do Ultramar Português
5 de Julho - Decisão do Governo de libertar mais de 1.500 prisioneiros internados em campos situados nas colónias
11 de Julho - Destruição pelas Brigadas Revolucionarias, em Cabo Ruivo, de 15 camiões destinados ao Exército português
28 de Julho - Agravamento pelo Supremo Tribunal Militar, para dez anos de prisão da pena do capitão cubano Pedro Peralta
Agosto - Criação pelo Estado-Maior-General de uma rede de informações para actuar em diversos países africanos, chefiada por Alpoim Calvão
9 de Agosto - Acção da ARA de destruição de duas dezenas de torres eléctricas nas áreas de Lisboa, Porto e Coimbra, da rede eléctrica nacional, Participaram na acção António João Eusébio e António Pedro Ferreira (ex-combatentes em Angola).
30 de Setembro - Publicação da Lei Orgânica da DGS
2 de Outubro - Discurso de Rui Patrício na ONU, boicotado pela maioria dos delegados
30 de Novembro - Inicio da vigília na Capela do Rato, em Lisboa, durante a qual um grupo de católicos aprova um documento contra a guerra colonial

1973

1 de Janeiro - Aproveitando a circunstância de se comemorar o Dia Mundial da Paz, um grupo de cristãos que tinha iniciado uma acção de cariz Anti-Colonial, de forte impacte, ocupando a Capela do Rato, em Lisboa, inicia uma greve de fome, organizando ao mesmo tempo, uma assembleia aberta a cristãos e não cristãos, para discussão do problema da guerra colonial, assunto totalmente proibido pelo Regime
2 e Janeiro - Uma força da Polícia de Choque, comandada pelo capitão Maltês Soares, irrompe, pelas 19:00, na Capela do Rato e prende 70 pessoas
11 de Janeiro - Demissão da função pública de todos os funcionários que participaram na vigília da Capela do Rato
13 de Janeiro - Marcelo Caetano numa «Conversa em Família» declara que «só temos um caminho, defender o Ultramar»
4 de Abril - Realiza-se em Aveiro o III Congresso da Oposição Democrática. A sua realização foi cercada de intensas medidas repressivas, entre elas o ataque da Polícia de Choque aos congressistas quando se deslocavam em manifestação silenciosa ao cemitério local, em romagem ao túmulo de Mário Sacramento (eu e o José Luís Judas levámos umas pancadas – eu fiquei ferido num braço – e tivemos que nos refugiar numa casa).
6 de Abril - Atentados das BR, no Porto, contra instalações militares
29 de Abril - Rebentamento de petardos em várias localidades do país com panfletos contra a guerra colonial
25 de Maio - Visita de Costa Gomes, chefe do Estado-Maior-General, à Guiné
1 de Junho - Desenrola-se no Porto o chamado I Congresso dos Combatentes do Ultramar, através do qual o Governo pretende demonstrar, interna e externamente, a «adesão entusiástica» dos militares à política ultramarina. A sua forma de organização antidemocrática desencadeia um amplo repúdio no seio das Forças Armadas, em Portugal Continental, Ramalho Eanes, Hugo dos Santos, Vasco Lourenço e outros encabeçam um vasto movimento de protesto. Com o mesmo objectivo, são recolhidas quatrocentas assinaturas de oficiais do Quadro. Enviado um telegrama ao congresso assinado por Marcelino da Mata e Rebordão de Brito
13 de Julho - É publicado, no Diário do Governo, o Decreto-Lei n.º 353/73 (e posteriormente o 409/73, com pequenas alterações), o qual criava um conjunto de condições que facilitava o ingresso dos oficiais milicianos no Quadro Permanente, medida que vem incrementar a contestação já latente nos oficiais desse Quadro, tornando-se o verdadeiro rastilho para a criação do futuro Movimento dos Capitães
16 de Julho - Inicio da visita oficial de Marcelo Caetano a Inglaterra, onde é recebido com manifestações de protesto
6 de Agosto - Regresso de António de Spínola a Portugal, vindo a ser substituído nos cargos que desempenhava na Guiné
20 de Agosto - Publicação do Decreto-Lei 409/73, que corrige alguns aspectos do DL 353/73, referente às carreiras dos oficiais do exército
Setembro - Deserção de 5 marinheiros durante a realização de um exercício NATO no Atlântico Norte. Encontro em Paris de delegações dos Partido Socialista e Partido Comunista, chefiadas por Mário Soares e Álvaro Cunhal
9 de Setembro - Tendo por local de encontro o Templo de Diana, em Évora, 136 oficiais dirigem-se ao monte do Sobral, em Alcáçovas, a uma herdade de um familiar do capitão Diniz de Almeida, onde nasce formalmente o «Movimento dos Capitães». Exige-se a revogação do Decreto 353/73, um abaixo-assinado será entregue na Presidência da República e na Presidência do Conselho de Ministros, pelos capitães Lobato Faria e Clementino País. 94 Capitães e subalternos, em comissão em Angola, assinam colectivamente um protesto e enviam-no a Marcelo Caetano. Em Moçambique elabora-se um documento idêntico que recolhe 106 assinaturas, entre oficiais superiores, capitães e subalternos
14 de Setembro - Reunião de Kaúlza de Arriaga com outros generais das Forças Armadas para preparação de uma acção concertada contra o Governo
21 de Setembro - Reunião do movimento dos Capitães em Luanda, onde se decide a apresentação de um pedido individual de demissão de oficial do Exército
6 de Outubro - Reunião alargada do Movimento dos Capitães, em Lisboa, realizada simultaneamente em quatro locais, onde se coloca a hipótese do emprego da força para derrubar o regime Inicio da assinatura de um pedido de demissão de oficial do Exército por parte dos oficiais abrangidos pelos decretos de 13/7 e 20/8, que ficaram na posse de uma comissão coordenadora provisória
18 de Outubro - Reunião do Movimento dos Capitães em Bissau e Luanda, decidindo-se, em ambos os lados, prosseguir a mobilização dos oficiais, apesar da suspensão dos decretos
28 de Outubro - Eleições para a Assembleia Nacional com a desistência da Oposição Democrática (CDE) que classifica o acto de fraude eleitoral
7 de Novembro - Remodelação ministerial que afasta o Ministro da Defesa, general Sá Viana Rebelo e o secretário de Estado do Exército, Alberty Correia. Em sua substituição são nomeados para as pastas da Defesa Nacional e do Exército, respectivamente, o Prof. Joaquim da Silva Cunha, até então Ministro do Ultramar, e o general na reserva Alberto Andrade e Silva, sendo o coronel de artilharia Carlos Viana de Lemos designado subsecretário de Estado do Exército e Telo Polleri para a Aeronáutica
24 de Novembro - As Comissões Coordenadora e Consultiva provisórias do Movimento dos Capitães reúnem num casarão nas traseiras da Colónia Balnear Infantil de O Século, em S. Pedro do Estoril. É necessário fazer um ponto de situação e eleger uma Comissão Coordenadora definitiva que seja verdadeiramente representativa do Movimento. A «guerra do decreto» devia ser ultrapassada pela acção e passar-se a uma nova fase de luta. Os delegados são solicitados a auscultar as suas unidades sobre o caminho a prosseguir pelo Movimento dos Capitães. Luis Banazol fala da necessidade de fazer uma revolução e se colocam três hipóteses de futura actuação; conquista do poder, exigência de eleições livres ou reivindicações exclusivamente militares
Dezembro – Manifestação contra a guerra colonial (não me lembro do dia exactamente) que saiu do Marquês de Pombal e só chegou até perto do Parque Mayer. Éramos uma dezenas. A polícia de choque veio da Praça da Alegria e bateu. O José Luís Judas (ex-pára-quedista e, então, contabilista da Novopca) e o Jorge Aguiar (jovem engenheiro das Construções Hospitalares) enfiaram-se no Parque Mayer a jogar matraquilhos. Nada. Eu, o Muradali Mamadussen (era estudante, foi adjunto do Samora Machel depois  e com ele morreu no desastre (?) de avião) e o António Monteiro (actual Relações Públicas da TAP) socorremo-nos do Ribadouro. O Muradali assentou-se, logo à entrada, numa mesa onde estavam turistas e agarrou num copo. Passaram. Eu e o António Monteiro fomos para o balcão onde a polícia de choque nos foi apanhar pelos cabelos (era moda na época). O que é que foi?!!Que merda é esta?!! O que é isto?!! Arrastaram-nos até à porta mas lá nos largaram...
1 de Dezembro - Reunião, em Óbidos, do Movimento dos Capitães, em que é eleita uma comissão coordenadora alargada e votados os nomes dos generais a contactar pelo movimento. Após se ter tomado conhecimento de que as bases do Movimento não pretendiam, por ora, ir além das reivindicações militares, importantes decisões são tomadas. Vota-se o nome do general Costa Gomes como chefe prestigiado que o Movimento deveria chamar a si. Delibera-se alargar o Movimento aos outros ramos das Forças Armadas (Marinha e Força Aérea). Elege-se uma Comissão Coordenadora e Executiva (CCE), com 3 oficiais por cada arma e serviço do Exército.
5 de Dezembro - 1ª Reunião da nova CCE, numa casa de praia na Costa da Caparica. Prepara-se uma proposta com base em reivindicações militares, a apresentar a elementos dos outros dois ramos. Esse documento era de tal forma ambicioso que seria uma forma de pressão quase extrema para o Executivo. Para a CCE foi escolhida uma direcção: majores Vítor Alves, Otelo Saraiva de Carvalho e capitão Vasco Lourenço
17 de Dezembro - Vislumbram-se insistentes sinais de que estaria em preparação um golpe de Estado de extrema-direita, com a implicação dos generais Kaúlza de Arriaga, Silvino Silvério Marques, Joaquim Luz Cunha e Henrique Troni, visando a conquista do poder
20 de Dezembro - Ordem de embarque imediato para a Guiné de alguns oficiais do batalhão de Ataíde Banazol
22 de Dezembro - São revogados os Decretos-Lei 353/73 e 409/73 que haviam estado na origem do Movimento dos Capitães. Teme-se que a mobilização da luta alastre à maioria dos militares.

1974

23 de Janeiro - Apresentação à hierarquia de uma exposição do Movimento dos Capitães de Moçambique sobre a situação resultante dos acontecimentos da Beira, assinada por 180 oficiais. É redigida a 1ª circular do Movimento (circular n.º 1/74), por decisão da sua direcção. A mesma é amplamente distribuída, relatando os acontecimentos ocorridos em Moçambique e apelando a que cada militar «...dentro das mais estritas regras da disciplina...» se empenhe na exigência de um desagravo à instituição. Otelo Saraiva de Carvalho e Vasco Lourenço avistam-se com Spínola, dando-lhe conhecimento da posição do Movimento. A referida circular viria a ser citada na BBC, no Le Monde e na emissora Rádio Portugal Livre de Argel
26 de Janeiro - Reunião do movimento dos Capitães no Estoril, onde é constatada a necessidade de elaborar um documento que defina os seus objectivos políticos
27 de Janeiro - Abaixo-assinado elaborado pela comissão regional do Movimento dos Capitães na Beira (Moçambique) sobre os últimos acontecimentos
29 de Janeiro - Envio pela comissão do Movimento dos Capitães em Nampula, de um relato circunstanciado dos acontecimentos da Beira, para Lisboa e para as comissões regionais
5 de Fevereiro - O Movimento dos Capitães politiza-se de forma galopante. É necessário adoptar um programa, para isso realiza-se um encontro alargado da CCE no qual é eleita uma Comissão de Redacção do Programa do Movimento, dela fazem parte o tenente-coronel Costa Brás, majores Melo Antunes e José Maria Azevedo e capitão Sousa e Castro. Chegada a Lisboa de Jorge Jardim para conversações com o Governo sobre uma proposta de resolução do problema de Moçambique, supostamente apoiada pelos dirigentes de alguns países africanos
12 de Fevereiro - Publicação do documento do bispo de Nampula, D. Manuel Vieira Pinto, «Imperativo de Consciência»
13 de Fevereiro - Restabelecimento de contactos entre a UNITA e a administração de Angola
14 de Fevereiro - Carta do Movimento dos Capitães da Guiné sobre a situação geral e a necessidade de ser passar à acção contra o regime
22 de Fevereiro - Sai do prelo o livro “Portugal e o Futuro”, da autoria de António de Spínola, que se esgota rapidamente, conhecendo um enorme sucesso. O general defende uma solução política e não militar para o Ultramar. Fica demonstrado publicamente o conflito existente no seio do regime em torno de uma solução para o problema colonial
5 de Março - Mini plenário do Movimento dos Oficiais das Forças Armadas, em Cascais, o último antes do 25 de Abril. Presentes 194 oficiais, das unidades de Infantaria, Artilharia, Cavalaria, Engenharia, Administração Militar, Transmissões, Serviço de Material, Pára-quedistas e Força Aérea (FA), representando 602 militares. O documento, de índole política, «O Movimento, As Forças Armadas e a Nação» recolhe 111 assinaturas
6 de Março - Marcelo Caetano faz defesa inflamada da política do Governo para o Ultramar, em discurso proferido perante a Assembleia Nacional e transmitido pela RTP. No seu seguimento é aprovada pelos deputados uma moção de apoio à «política ultramarina do Governo». Elaboração de um plano por Kaúlza de Arriaga e Luz Cunha para por fim à «subversão comunista do Exército»
9 de Março - Os capitães Vasco Lourenço, Antero Ribeiro da Silva (Presidente da Delegação do Norte da Associação 25 de Abril) e Pinto Soares são detidos, tendo os dois primeiros, decorridos alguns dias, sido transferidos compulsivamente para os Açores e a Madeira, respectivamente, enquanto o terceiro foi internado num estabelecimento hospitalar
11 de Março - Aprovação da politica colonial do Governo, pela Assembleia Nacional
14 de Março - As chefias das Forças Armadas e de Segurança e os oficiais generais dos três ramos vão a S. Bento afirmar ao Presidente do Conselho de Ministros e ao Governo a sua fidelidade e apoio à política ultramarina, em nome das respectivas instituições
15 de Março - Demissão de Costa Gomes e António de Spínola dos cargos de chefe e vice-chefe do Estado Maior General das Forças Armadas. Os jornais anunciam com grandes parangonas a exoneração dos generais Francisco da Costa Gomes e António de Spínola dos cargos de Chefe do Estado-maior General das Forças Armadas e vice-CEMGFA, respectivamente
16 de Março - Às 04:00 da madrugada, uma coluna do Regimento de Infantaria 5 das Caldas da Rainha passa os portões do aquartelamento, comandada pelo capitão Armando Marques Ramos. Pretende executar um golpe militar, marchando sobre Lisboa e depondo o Governo, a apenas a três quilómetros da capital terá a noção de que se encontra isolada. Um precipitado e deficiente planeamento da acção leva ao seu fracasso, sendo presos quase duas centenas de militares, oficiais, sargentos e praças, entre os quais o tenente-coronel João de Almeida Bruno, majores Manuel Monge e António Casanova Ferreira e capitães Marques Ramos e Virgílio Varela. Um avanço à margem do Movimento por parte dos spinolistas, constituiu, embora, um importante balão de ensaio para o 25 de Abril.
18 de Março- Otelo e Vítor Alves redigem a Circular 2/74, procedendo a uma análise dos acontecimentos e apelando à firmeza e perseverança nos objectivos do Movimento. Encontram-se com Melo Antunes, no Café Londres, e pedem-lhe que elabore um programa político do Movimento dos Oficiais das Forças Armadas (MOFA), com base no Manifesto aprovado no plenário do dia 5. O diário República, dirigido por Raul Rêgo, desde sempre ligado à oposição ao Estado Novo, publica, de forma criptográfica, na página desportiva, a notícia intitulada «Quem travará os leões» na qual se conclui que «perdeu-se uma batalha, mas não se perdeu a guerra»
19 de Março - General Joaquim da Luz Cunha, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas
21 de Março - Após um contacto estabelecido no alto do Parque Eduardo VII por iniciativa do capitão Luís Macedo, colocado no Regimento de Engenharia 1 (RE 1), em que solicita a Otelo, em nome de muitos camaradas, que assuma a condução militar do Movimento, este aceita a missão e designa-o seu adjunto operacional
22 de Março - Reunião em casa de Vítor Alves de um pequeno núcleo de oficiais do Exército, da Força Aérea e da Armada. Melo Antunes lê a primeira versão do programa político do Movimento, sendo por todos aprovada. Melo Antunes comunica que, por ironia do destino, em resultado de um pedido seu, deferido apenas naquela altura, irá partir nessa noite para Ponta Delgada, devido a ter sido colocado no Comando Territorial dos Açores (CTIA). Fica combinado o célebre telegrama em código que o irá informar do grande momento: «Tia Aurora segue dia... Um abraço António». O comandante Almada Contreiras acompanha Melo Antunes ao aeroporto, sendo apresentado por este a Álvaro Guerra, jornalista do República
24 de Março - A CCE reúne e é aprovado por unanimidade que os dois elementos da direcção ainda activos assumam a responsabilidade da preparação militar e da preparação política do movimento. Otelo aceita, perante os presentes, gizar um plano operacional e elaborar a «ordem de operações» respectiva. Garante que o golpe será desencadeado entre 20 e 29 de Abril e, desta vez, para conduzir à vitória
28 de Março - Marcelo Caetano faz, na RTP, a sua derradeira «Conversa em Família», em que reafirma a politica ultramarina do seu Governo e condena os implicados no movimento de 16 de Março.
4 de Abril - Carta da direcção do movimento de oficiais para as colónias, informando as respectivas comissões de que não deveriam tomara iniciativa de qualquer acção
13 de Abril - Informação do movimento de oficiais da Guiné à comissão de Lisboa de que está preparada para assumir a iniciativa do movimento, caso seja necessário
15 de Abril - Otelo Saraiva de Carvalho conclui o Plano Geral das Operações, que intitula simbolicamente «Viragem Histórica». Divide o país em duas grandes áreas de operações: Zona Norte e Resto do País, sendo este segmentado em quatro áreas. As unidades do Norte deveriam convergir para o Porto, onde ocupariam pontos estratégicos, nomeadamente o Quartel-General, instalações de forças de segurança, estações de rádio e televisão, aeroporto e pontes. As unidades situadas a Sul do Douro adoptariam idêntica manobra relativamente à capital, sendo atribuídas a algumas das colunas mais importantes missões de natureza táctica. (EPC e EPA). Nesse mesmo dia entrega-o ao tenente-coronel Garcia dos Santos para que este elabore o Anexo de Transmissões. Encontro no restaurante Califa, em Benfica (perto da minha casa...), de Otelo, do capitão Frederico Morais e dos tenentes milicianos Luís Pessoa e Miguel Amado com vista a planear a tomada da Emissora Nacional. Escolha do Rádio Clube Português (R.C.P.) para posto emissor do MFA, em virtude de possuir uma rede que cobre o país e o Ultramar, emitir noticiários de hora a hora em simultâneo e de dispor, nas instalações da Rua Sampaio e Pina, nº 26, de um estúdio compacto, de gerador de emergência com entrada automática em funcionamento e radiotelefone para o centro emissor em Porto Alto
16 de Abril - Otelo Saraiva de Carvalho reúne, no RE 1, com o major Eurico Corvacho a quem explica a ideia geral de manobra, particularizando as movimentações a levar a cabo na Zona Norte. A pedido deste, agrega-lhe as forças do Centro de Instrução de Operações Especiais (CIOE) de Lamego, cometendo-lhes a missão de reforçar as tropas do Porto.
17 de Abril - Otelo Saraiva de Carvalho distribui as missões aos delegados do Agrupamento Norte (November), no apartamento de Dinis de Almeida, estando presentes todos os agentes de ligação para esse sector, facto que se repete nas restantes reuniões
18 de Abril - Otelo Saraiva de Carvalho distribui as missões aos delegados do Sector Centro (Charlie), em sua casa, contando-se entre estes o capitão Correia Bernardo, em representação da Escola Prática de Cavalaria (Santarém)
19 de Abril - Otelo Saraiva de Carvalho distribui as missões aos delegados do Sector Sul (Sierra), em casa do major Fernandes da Mota
20 de Abril - Finalmente, na mais importante das reuniões, Otelo Saraiva de Carvalho distribui as missões aos delegados das unidades da Região Militar de Lisboa (Lima), na residência, então vaga, do pai do tenente Américo Henriques, em Cascais. Conclusão do essencial dos textos políticos (em cuja redacção, coordenada por Vítor Alves, participaram Franco Charais, Costa Brás, Vasco Gonçalves, Nuno Lopes Pires e Pinto Soares, pelo Exército; Vítor Crespo e Lauret, com a participação menos activa de Teles e Contreiras, pela Marinha e a ocasional presença do major Morais e Silva e do capitão Seabra). A partir desta data, Otelo, que também assegura a ligação com Spínola, passa a efectuar os contactos, por razões de segurança, através do major de cavalaria na reserva Carlos Alexandre de Morais. São da lavra do general algumas das modificações introduzidas, nomeadamente a designação de Movimento das Forças Armadas (MFA), em substituição da versão anterior de Movimento dos Oficiais das Forças Armadas (MOFA) e de Junta de Salvação Nacional (JSN) em alternativa à proposta de Directório Militar
21 de Abril - Encontro na marginal em Oeiras, de Otelo e do major Moura Calheiros com os coronéis Rafael Durão (representante do general Spínola) e Fausto Marques, com vista a obter a adesão do Regimento de Caçadores Pára-quedistas, comandado pelo último oficial, iniciativa que se revela inconclusiva
22 de Abril - A partir do início deste dia, todos os delegados do Movimento nas unidades entram em estado de alerta, preparados para receber o contacto do agente de ligação, portador das instruções finais. A Escola Prática de Transmissões (EPTM), localizada em Sapadores, recebe autorização do Estado-Maior do Exército (EME), por proposta do tenente-coronel Garcia dos Santos, para o estabelecimento de uma linha directa com o RE 1, da Pontinha, numa extensão de 4 quilómetros. Inicia-se, sem demora, a sua instalação, efectuada por uma equipa comandada pelo furriel Cedoura, que ficará concluída em menos de 24 horas. Tal iniciativa viria a permitir ao Posto de Comando do MFA o acesso permanente às escutas das redes de transmissões militares e das forças de segurança, missão de apoio técnico cometida à primeira unidade militar, em que se destacaram os capitães Fialho da Rosa, Veríssimo da Cruz e Madeira.
23 de Abril - Otelo Saraiva de Carvalho e Costa Martins, protegidos pelo major FA Costa Neves, avistam-se, no Apolo 70, com João Paulo Diniz. Este esclarece que apenas colabora no programa matutino Carrossel do R.C.P., razão pela qual não poderá emitir a senha pretendida. Obtêm, contudo, a garantia de transmissão do seguinte sinal, entretanto combinado, “Faltam cinco minutos para a meia-noite. Vai cantar Paulo de Carvalho «E depois do adeus»”, através dos Emissores Associados de Lisboa (E.A.L), que apenas dispõem de um raio de alcance de cerca de 100 a 150 quilómetros de Lisboa. A limitada potência do emissor torna, assim, necessária a emissão de um segundo sinal, através de uma estação que alcance todo o País. Deslocam-se, seguidamente, para junto da Penitenciária de Lisboa, onde aguardam que o ex-locutor do Programa das Forças Armadas em Bissau obtenha informação no Rádio Clube Português sobre a constituição da equipa que entrará de serviço na madrugada de 25. Este apura que o serviço de noticiário estará a cargo de Joaquim Furtado mas, conhecendo-o mal, não arrisca estabelecer contacto.
25 de Abril -   Às 00:40 na EPC, em Santarém, os oficiais do MFA procuram obter a adesão ao Movimento do tenente-coronel Henrique Sanches. Não o conseguindo, procedem à sua detenção. E foi o que veio a seguir...

REFLEXOS E REACÇÕES A NÍVEL INTERNACIONAL              (alguns dados)

1962

Dezembro - Amílcar Cabral apresentou-se como peticionário perante a Comissão de Curadorias da ONU, onde, além de pedir a independência da Guiné, declarou que os seus partidários deveriam ser considerados soldados da ONU pois desempenhariam funções semelhantes às dos “capacetes azuis” que se encontravam no Congo. No final do ano,  o PAIGC tinha assegurado o apoio de praticamente toda a África. Mas foi da URSS que veio o maior auxílio em material, formação e apoio diplomático.
Independências em África: Argélia, Burundi e Ruanda.

1963

4 de Fevereiro - Início da 3ª Conferência de Solidariedade Afro-Asiática no Tanganica, presidida por Julius Nyerere, em que foi pedido o boicote económico e diplomático contra Portugal
10 de Março - Declaração de Amílcar Cabral em Paris sobre a disponibilidade de o PAIGC suspender a luta, se Portugal quisesse solucionar pacificamente o problema colonial
13 de Março - Contestação do Governo português à competência da Comissão de Descolonização da ONU para decidir sobre os territórios ultramarinos de Portugal
9 de Abril - Comunicado oficial do Governo do Senegal sobre o bombardeamento efectuado por quatro aviões portugueses a uma aldeia fronteiriça, sendo o assunto comunicado ao Conselho de Segurança da ONU
11 de Abril - Publicação da Encíclica Pacem in Terris do Papa João XXIII com referência explícita à independência de todos os povos
25 de Maio - Fundação da Organização de Unidade Africana (OUA) pelos chefes de 30 Estados independentes de África reunidos em Adis Abeba
Junho - Corte de relações diplomáticas da República Árabe Unida com Portugal devido à política colonial portuguesa
7 de Junho - Declaração do secretário de Estado para os Assuntos Africanos dos Estados Unidos, segundo a qual os interesses estratégicos dos EUA exigem a continuação da cooperação com Portugal
Julho - Corte de relações diplomáticas do Senegal com Portugal, com proibição de circulação de pessoas e mercadorias na fronteira com a Guiné
1 de Julho - Início da Conferência Internacional de Instrução Pública, em Genebra, em que é aprovada uma moção que pede a exclusão de Portugal por causa da sua política colonial
10 de Julho - Início dos trabalhos de uma comissão de boa vontade nomeada pelo Comité de Libertação Africano no sentido de tentar unir os esforços dos movimentos de libertação angolanos
27 de Julho - Exclusão de Portugal da Comissão Económica para África (CEA), organismo da ONU
31 de Julho - Oposição dos Estados Unidos, França e Grã-Bretanha, no Conselho de Segurança da ONU, à aplicação de sanções contra Portugal. Resolução do Conselho de Segurança da ONU que rejeita o conceito português de «províncias ultramarinas», decidindo que a situação perturbava seriamente a paz e a segurança em África, apelando a Portugal para reconhecer o direito de autodeterminação e independência
12 de Agosto - Discurso de Salazar sobre o problema do ultramar, que teve grandes repercussões internacionais e levou os nacionalistas a reafirmarem a continuação da luta
23 de Agosto - Interdição do espaço aéreo do Senegal a aviões procedentes ou destinados a Portugal e à África do Sul
29 de Agosto - Início das conversações de George Ball, representante americano, com Franco Nogueira e Salazar, em Lisboa, em que se evidenciam as divergências relativamente aos conceitos de autodeterminação e do factor tempo no problema africano
30 de Agosto - Encontro de George Ball, subsecretário de Estado americano, com Salazar, sendo debatida a atitude americana face à política colonial e a presença dos EUA nos Açores
Setembro - Condenação pelo VIII Congresso Internacional Socialista, dos países que persistem em oprimir os povos coloniais, como Portugal
16 de Setembro - Comunicado oficial do Governo do Senegal sobre o bombardeamento efectuado por quatro aviões portugueses a uma aldeia fronteiriça, sendo o assunto comunicado ao Conselho de Segurança da ONU
Outubro - Realização da XVIII Assembleia Geral da ONU, em que os países afro-asiáticos atacam a política colonial portuguesa.
16 de Outubro -  Início de conversações entre Portugal e alguns países africanos, sob a égide da ONU, que incidiram, sem acordo, no sentido e no alcance do conceito de autodeterminação
8 de Novembro - Debate na Comissão de Curadorias da ONU, sendo pedido ao Conselho de Segurança que se ocupe com urgência da situação nos territórios portugueses
Dezembro - Intervenção de Henrique Galvão na ONU sobre a «questão ultramarina portuguesa »
3 de Dezembro - Resolução da Assembleia Geral da ONU, a solicitar ao Conselho de Segurança a adopção das medidas necessárias à execução das suas resoluções relativas aos territórios sob administração portuguesa
6 de Dezembro - Declaração pública dos Estados africanos participantes nas conversações com Portugal, em que se lamenta o facto de não ter modificado minimamente os princípios fundamentais da sua política, tornando impossível qualquer conversação séria
11 de Dezembro - Resolução do Conselho de Segurança da ONU, a confirmar o conceito de autodeterminação da Declaração Anti-colonialista e a deplorar a inobservância da resolução de 31 de Julho de 1963.

1964

Fevereiro - Reportagem da revista Africa Report sobre a história e evolução do PAIGC, focando a sua organização, objectivos, relações e formas de actuar
Maio - Declaração de Mennen Williams, secretário-assistente dos Estados Unidos para os Assuntos Africanos em Dacar, sobre o apoio do seu país à politica de autodeterminação da Guiné Portuguesa
25 de Maio - Sessão comemorativa do Dia da Libertação Africana em Adis Abeba, primeiro aniversário da OUA, tendo os chefes de Estado de vários países africanos afirmado a continuação da ajuda aos movimentos de libertação
Junho - Condenação da administração colonial portuguesa durante o 48º Encontro da OIT em Genebra. Comentário da BBC sobre a politica portuguesa: «Os portugueses não podem pregar aos quatro ventos que estão a difundir os ideais do cristianismo e a cultura ocidental, se continuam a recusar aos africanos a independência, direito humano fundamental»
3 de Junho - U’Thant, secretário-geral da ONU, não aceita o convite de Portugal para visitar Angola e Moçambique, «uma vez que, nas presentes circunstâncias, tal visita não servirá objectivo útil»
4 de Junho - U’Thant declina o convite do Governo português para visitar Angola e Moçambique
Julho - Conferência de alto nível de 34 chefes de Estado africanos no Cairo, em cuja ordem do dia se salienta a apreciação do relatório do Comité de Libertação de África e o exame da situação nas colónias portuguesas. Os movimentos de libertação adaptam a sua propaganda à realidade e visam atingir os militares portugueses, convencendo-os de que a guerra em África lhes é imposta, devendo os seus esforços voltarem-se contra o Governo português. Declarações do assistente do secretário de Estado americano para os assuntos Africanos sobre o desejo de ver Portugal reconhecer publicamente o princípio da autodeterminação, devendo-se encorajar ambas as partes às cedências
6 de Julho - Aprovação de uma lei pela Câmara dos Lordes britânica concedendo a independência à Niassalândia, que passa a chamar-se Malawi e cujo primeiro presidente é Hastings Banda
17 de Julho - Garantias de apoio do cônsul de Portugal na Rodésia a Ian Smith no caso de declaração unilateral de independência da minoria branca
1 de Agosto - O Congo-Leopoldville toma a designação de República Democrática do Congo (RDC)
25 de Setembro - A França anuncia a entrega a Portugal de oito navios de guerra, como contrapartida pela cedência da base das Flores
5 de Outubro - Inicio da II Conferência Plenária dos Países Não Alinhados no Cairo, com a presença de Holden Roberto, em cujo comunicado se apela ao apoio material, financeiro e militar aos combatentes da liberdade dos territórios sob domínio português
2 de Dezembro - Visita do Papa Paulo VI à Índia, que o governo português considera «uma afronta gratuita, inútil e injusta contra Portugal». O Conselho de Segurança da ONU decide ouvir em audiências os movimentos de libertação de Angola, Guiné e Moçambique
9 de Dezembro - Independência da Zâmbia (ex-Rodésia do Norte). Independência da Tanzânia (ex-Tanganica)
21 de Dezembro - A Assembleia Geral da ONU reconhece a legitimidade da luta que os povos sob dominação portuguesa travam para alcançar a sua liberdade e independência
31 de Dezembro - Declaração de Franco Nogueira sobre o abandono da ONU por parte de Portugal

1965

Janeiro - Portugal põe em causa a legalidade da constituição do Conselho de Segurança da ONU, pelo que declara não se considerar obrigado por qualquer decisão sua Sétima Sessão do Comité Executivo do Secretariado Permanente de Solidariedade Afro-Asiática, sendo um dos principais objectivos discutir as medidas a tomar para solucionar os problemas de Angola, Moçambique e Guiné. Declaração da Comissão Central do Conselho Mundial das Igrejas sobre a necessidade de ser apressada a concessão da autodeterminação aos territórios coloniais ainda existentes em África
1 de Janeiro - Corte de relações da Indonésia com Portugal
2 de Janeiro - Abertura da base aérea alemã em Beja
Fevereiro - Posição do ministro dos Negócios Estrangeiros da Alemanha Ocidental de que só venderia 60 aviões militares de origem canadiana a Portugal na condição de eles serem exclusivamente utilizados na área NATO
Março - Aumento das pressões dos líderes negros americanos no sentido de um endurecimento da política americana em relação às posições portuguesas em África. Visita do rei Hassan ao Cairo, sendo condenada, no comunicado final, a guerra de extermínio em Angola, Moçambique e Guiné, e a recusa de Portugal em conceder aos povos dos territórios africanos a autodeterminação. Proibição de todas as trocas comerciais com Portugal por parte do Governo tanzaniano. Seminário Económico Afro-Asiático em Argel, com a presença de delegados de 40 países, constando da plataforma de acção aprovada, o fornecimento aos movimentos nacionalistas de ajuda em armas, equipamentos, finanças e formação militar de quadros. Reunião da Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas (CONCP) em Rabat, com a presença de representantes da Frelimo, MPLA, PAIGC e Comité de São Tomé e Príncipe
Abril - Entrevista de Amílcar Cabral ao Le Monde, confirmando que pretende preservar as oportunidades de uma futura colaboração com o Estado Português não colonialista, não escondendo as dificuldades da luta na Guiné. Afirmação do apoio da politica argelina aos movimentos nacionalistas de Angola, Moçambique e Guiné e aos patriotas que lutam contra o fascismo de Salazar
21 de Maio - Condenação unânime de Portugal, pelo Conselho de Segurança da ONU, devido a incursões armadas no Senegal.
Junho - Aprovação pela 49ª Conferência Anual da OIT, de uma resolução final que condena a politica de trabalho forçado praticado pelo Governo português nos territórios sob sua administração. Declaração da delegada dos Estados Unidos na Comissão de Descolonização da ONU. reunida em Dar-es-Salam, sobre a autodeterminação dos territórios portugueses em África. Reunião da Comissão de Descolonização da ONU em Dar-es-Salam que, na resolução final, pede a todos os Estados para darem apoio moral e material a Angola, Moçambique e Guiné, e aos países da NATO para se absterem de fornecer armas e munições a Portugal
10 de Junho - Resolução da Comissão de Descolonização da ONU, em que pele primeira vez se deixa de falar em «territórios sob administração portuguesa» para se referirem «territórios sob dominação portuguesa»
10 de Julho - Inicio da reunião do Congresso Mundial da Paz, em Helsínquia, que aprova uma proposta para a realização de solidariedade com os combatentes da liberdade das colónias portuguesas
20 de Julho - Inicio da publicação de um jornal em português em Acra (Gana), ao serviço da luta de libertação das colónias portuguesas
Agosto - Visita de uma missão militar da OUA às regiões controladas pelo PAIGC
Outubro - Reconhecimento pela OUA, do PAIGC como legitimo representante do povo da Guiné-Bissau
3 de Outubro - Início da reunião CONCP em Dar-es-Salam, com a afirmação da necessidade de coordenação político-militar entre os movimentos nacionalistas, estiveram presentes Mondlane, Uria Simango e Marcelino dos Santos (Frelimo), Amílcar Cabral, Vasco Cabral e José Eduardo Araújo (PAIGC), Agostinho Neto e Mário de Andrade (MPLA) e Tuleiro de Medeiros e António S. Nogueira (CLSTP)
4 de Outubro - Discurso do Papa Paulo VI na Assembleia Geral das Nações Unidas com elogio da ONU e da sua dimensão universal
21 de Outubro - Inicio da reunião de alto nível da OUA, em Acra, que pediu aos movimentos de libertação dos territórios sob administração portuguesa a intensificação da luta
3 de Novembro - Moção do Conselho de Segurança da ONU, pedindo a todos os Estados para não prestarem assistência a Portugal «que lhe permita continuar a repressão» contra a população dos territórios africanos, em especial armas e equipamento militar
11 de Novembro - Proclamação da independência da Rodésia por Ian Smith, com apoio da minoria branca
23 de Novembro - Resolução do Conselho de Segurança da ONU sobre o imediato reconhecimento do direito dos povos dos territórios sob administração portuguesa à autodeterminação e independência, referindo que a politica portuguesa «perturba seriamente» a paz e a segurança internacionais
12 de Dezembro - Aprovação de uma resolução da Assembleia Geral da ONU em que, pela primeira vez é reconhecida a «legitimidade da luta» que os povos sob dominação colonial travam para exercer o seu direito à autodeterminação.

1966

Janeiro - Inicio do bloqueio do porto da Beira pela Armada britânica, para impedir o fornecimento de petróleo à Rodésia
3 de Janeiro - Início de uma reunião da Conferência de Solidariedade Tricontinental em Havana, com cerca de 500 delegados que adoptam uma linha dura contra o colonialismo, sendo criada a Organização de Solidariedade dos Povos da Ásia, África e América Latina
21 de Janeiro - Reunião dos ministros africanos do Trabalho no Gana que pedem a expulsão de Portugal da OIT
25 de Janeiro - Resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas que recomenda a aplicação de um embargo ou bloqueio a Portugal, proibindo o trânsito de aviões e navios e o comércio com Portugal
Março - Visita a Moscovo de uma representação da CONCP chefiada por Victor Maria, acompanhado de Luis de Andrade, Amílcar Cabral e Marcelino dos Santos
21 de Março - Celebração de um protocolo entre o Senegal e o PAIGC que estabelecia as modalidades de cooperação entre as respectivas autoridades
31 de Março - Inicio de uma reunião de chefes de Estado e de Governo da África Central e Ocidental em Nairobi, em cujo comunicado final se inclui uma referência aos esforços a favor da libertação dos territórios portugueses
5 de Maio - Inicio de um congresso da Internacional Socialista, em Estocolmo, com a presença da Frelimo como «convidado fraternal» e em que se reafirma a condenação do colonialismo e se manifesta particular preocupação pela situação em Angola, Moçambique e Guiné
18 de Maio - Apresentação de uma proposta da URSS na Comissão de Descolonização da ONU para conhecimento das medidas tomadas sobre a suspensão da assistência técnica a Portugal por causa da sua politica colonial, com a presença de Mário de Andrade e Amílcar Cabral. XIX Assembleia da OMS, em Genebra em que é aprovada uma resolução que afasta Portugal da sua Comissão regional para a África e suspende a assistência técnica ao Governo de Lisboa
29 de Maio - Sanções do Conselho de Segurança contra a Rodésia
18 de Junho - A Comissão de Descolonização da ONU ouve, em Argel, depoimentos de desertores portugueses acerca das guerras coloniais
27 de Junho - Reunião da CONCP em Brazzaville, com a presença de Agostinho Neto, Amílcar Cabral e Marcelino dos Santos, decidindo-se uma mais estreita colaboração com a FPLN da Argélia e maior coordenação entre os movimentos de libertação das colónias portuguesas
Setembro - Conferência geral da UNESCO em Paris, com a presença de 109 delegados, que decidem a exclusão de Portugal dos trabalhos da organização. Eleição de Amílcar Cabral como presidente da CONCP. Atribuição do 2º prémio do Festival de Veneza para filmes documentários à produção Levanta-te Negro de Piero Nelly, sobre as actividades do PAIGC na Guiné Portuguesa
15 de Outubro - Abstenção de Portugal na ONU na criação do Dia Internacional para a Eliminação da Descriminação Racial
13 de Novembro - Condenação pelo Conselho de Segurança da ONU da aliança entre os governos da África do Sul, Portugal e Rodésia, conhecida por aliança celerada
17 de Novembro - Aprovação de uma resolução da Assembleia Geral da ONU condenando a guerra colonial conduzida por Portugal, que constituía «um crime contra a humanidade e uma ameaça grave à paz e à segurança internacionais»
Dezembro - Resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas que classifica a política Portuguesa como um crime contra a humanidade

1967

Janeiro - Entrevista de Mário de Andrade ao jornal Afrique Nouvelle em Dacar, com referências à actividade da CONCP e à situação das várias frentes e das relações dos movimentos com os países africanos
26 de Janeiro - Apresentação da peça teatral de Peter Weiss em Estocolmo, Canção da Mascara Simbólica, ataque frontal e com grandes repercussões, à politica colonial portuguesa
23 de Fevereiro - Inauguração do Comando Ibero -Atlântico (Iberlant) da NATO em Oeiras
Março - Crescimento da posição critica dos países escandinavos à política colonial portuguesa, reflectida nos órgãos de comunicação social. Condenação dos países que cooperam com a África do Sul, Rodésia e Portugal, pela Comissão dos Direitos do Homem da ONU
31 de Março - Editorial do Jornal do Brasil , reflectindo a posição oficiosa do governo brasileiro, e pedindo a Portugal que acene para as colónias africanas com uma esperança de independência, para abrir as portas a uma futura comunidade com raízes lusitanas
Abril - O Hospital Militar de Hamburgo recebe 88 mutilados de guerra portugueses. Artigo do jornal Horoya, publicado na Guiné-Conacri sobre «Uma consciência politica sólida na base de uma economia florescente na zona libertada» onde se referiam as actividades económicas nas zonas do PAIGC
23 de Abril - Realização de uma conferência de solidariedade com os povos das colónias portuguesas por delegações de jovens de 64 países, em Conacri
Maio - A Comissão de Descolonização da ONU, depois de visitar vários países da África e do Médio-Oriente, decidiu reunir-se em Lusaka para tratar especificamente dos problemas dos territórios sob administração portuguesa
Julho - Na 51ª Conferência do Trabalho da OIT a Comissão de Verificação de Poderes decidiu incluir Portugal na lista especial dos países que não respeitam as convenções da organização. Protesto da FPLN pela presença da delegação oficial portuguesa na 51ª Conferência Internacional do Trabalho da OIT
Agosto - Publicação em Argel de um volume contendo o conjunto das deliberações tomadas pela CONCP na sua reunião de Dar-es-Salam, em Outubro de 1965
Setembro - Declaração do ministro dos Negócios Estrangeiros da Grã-Bretanha na ONU, afirmando que o Governo de Londres apoia persistentemente o principio da autodeterminação em relação aos territórios portugueses. Inicio dos contactos da PIDE com sectores da oposição ao regime da Guiné-Conacri
Outubro - Concessão de 100 bolsas de estudo aos movimentos de libertação de Angola pelo alto Comissariado da ONU para os Refugiados
Dezembro - Aprovação de uma resolução da Assembleia Geral da ONU, condenando a exploração de territórios coloniais por interesses financeiros e económicos que impedem os processos de descolonização

1968

Janeiro - 12ª Sessão da Comissão de Coordenação para a Libertação de África da OUA em Conacri
13 de Agosto - Informação da ONU sobre refugiados, havendo 300.000 de Angola no Congo-Kinshasa, 61.000 da Guiné no Senegal e 122.000 de Moçambique na Zâmbia e Tanzânia
Novembro - Condenação pela ONU, da politica colonial portuguesa
27 de Novembro - Discurso de Marcelo Caetano na Assembleia da República, onde declara que «a liberdade e independência dos países da Europa ocidental joga-se não só na própria Europa, como em África»
29 de Novembro - Aprovação de uma resolução da Assembleia Geral da ONU de tom moderado contra a politica colonial portuguesa
Dezembro - Anúncio pelo Governo sueco, da concessão de ajuda aos movimentos nacionalistas das colónias portuguesas
8 de Dezembro - Inicio em Paris de conversações com vista ao cessar-fogo no Vietname

1969

18 de Janeiro - Inicio da Conferência de Cartum, que leva à constituição do Comité de Mobilização e Apoio aos Povos das Colónias Portuguesas
Fevereiro - Plano de Paz de Léopold Senghor para a Guiné, propondo a independência no quadro de uma comunidade luso-africana
Junho - Recomendação da Assembleia Geral da União da Europa Ocidental no sentido de ser prosseguida uma política comum tendente ao encaminhamento de Portugal para um governo democrático. Resolução da Comissão de Descolonização da ONU, depois de uma visita a vários países africanos, de denuncia da guerra colonial em que Portugal está empenhado, classificada como um grave crime contra a humanidade e uma ameaça à paz e à segurança
Julho - Realização do I Festival Cultural Pan-Africano em Argel, em cujo manifesto se salienta que os Estados africanos têm todos a obrigação de responder a uma colonização total com uma luta total pela libertação
5 de Julho - Apelo dos líderes dos movimentos de libertação de Angola (MPLA), Guiné (PAIGC e Moçambique (Frelimo) à Conferência Episcopal Africana, reunida e Campala, para a visita de Paulo VI
28 de Julho - Aprovação pelo Conselho de Segurança da ONU, de uma queixa da Zâmbia, por ataques aéreos portugueses a povoações fronteiriças, em que os aliados portugueses se abstiveram, mas manifestaram discordância com a política colonial portuguesa
18 de Agosto - Apresentação feita por Amílcar Cabral em Argel, de cinco desertores portugueses
16 de Setembro - Apresentação do relatório do secretário-geral da ONU, em que U’Thant lamenta a decepção sofrida por muitos que alimentaram a esperança de que o Governo português alterasse a política colonial e reconhecesse o direito à autodeterminação e independência dos seus territórios ultramarinos
Outubro - Estabelecimento de contactos de Senghor com o Governo português para exploração da possibilidade de conversações com os movimentos de libertação para a solução pacifica do problema colonial
1 de Outubro - Anúncio por Olof Palme, novo primeiro-ministro da Suécia, da criação de um programa de auxilio económico à Frelimo e ao PAIGC, com desaprovação firme da politica portuguesa
8 de Novembro - O ministro da Defesa Nacional informa a Cruz Vermelha sobre a existência de 23 militares «retidos» na República da Guiné-Conacri, cinco na República Democrática do Congo, quatro na Tanzânia e um na Zâmbia
20 de Novembro - Acolhimento do Manifesto de Lusaka pela Assembleia Geral da ONU
21 de Novembro - Aprovação pela Assembleia Geral da ONU, de uma resolução de condenação da política colonial de Portugal, de um tom moderado, mencionando expressamente o Manifesto de Lusaka
9 de Dezembro - Condenação de Portugal no Conselho de Segurança da ONU por violação do território do Senegal
22 de Dezembro - Condenação de Portugal no Conselho de Segurança da ONU por violações do território da Guiné-Conacri

1970

22 de Janeiro - Reunião preparatória da Conferência Internacional de Apoio aos Povos das Colónias Portuguesas realizada em Roma pela OSPAA (Organização de Solidariedade dos Povos Afro-Asiáticos), que decide realizar a Conferência em Roma, em 27 a 29 de Junho
28 de Janeiro - Os Estados Unidos decidem fornecer a Portugal equipamento militar «não letal»
Fevereiro - Conversações secretas em Dacar entre delegações de Portugal e do Senegal, com vista a um cessar-fogo na Guiné
Abril - Protesto de Portugal na ONU por a Assembleia Mundial da Juventude, realizada sob a égide da ONU, ter convidado directamente representantes de Angola, Moçambique e Guiné sem o conhecimento do Governo português
Maio - Novo pedido de U’Thant aos países para acatarem as resoluções da ONU, o que não acontece com Portugal, frisando que «os Estados membros devem tomar cautela para não caírem na armadilha de se tornarem inimigos da ONU». Informação de Portugal ao secretário-geral da ONU de que não participaria na Assembleia Mundial da Juventude, a realizar em Julho. Visita de Léopold Senghor aos países escandinavos, declarando em Estocolmo que «tinha proposto um plano de paz aceite por Amílcar Cabral, residindo a dificuldade da sua aplicação na obtenção do acordo dos portugueses»
29 de  Maio - Visita a Lisboa do secretário de Estado norte-americano, William Rodgers
27 de Junho - Inicio da Conferência Internacional de Solidariedade com os Povos das Colónias Portuguesas, realizada em Roma
1 de Julho - Recepção pelo Papa Paulo VI dos dirigentes dos movimentos de libertação das colónias portuguesas, Agostinho Neto, Amílcar Cabral e Marcelino dos Santos
7 de Julho - Nota da Secretaria de Estado do Vaticano ao Governo Português sobre a recepção do Papa aos dirigentes nacionalistas
9 de Julho - Inicio da Assembleia Mundial da Juventude, no âmbito das comemorações do 25º aniversário da ONU, com a presença de 110 países, em cuja mensagem final se denuncia a «guerra colonial empreendida por Portugal contra os povos de Angola, Guiné e Moçambique»
Agosto - Os presidentes da Zâmbia e do Senegal declaram a sua disposição de contribuírem para a resolução do problema colonial português
12 de Agosto - Inicio das reuniões da Comissão de Descolonização da ONU, cujas moções contém ataques mais sistemáticos contra os governos brancos da África Austral e seus aliados, reflectindo a preocupação por uma anunciada mudança da política externa britânica
29 de Agosto - Rebentamento de um engenho explosivo na Embaixada de Portugal em Washington, sendo desmontado outro engenho no gabinete dos adidos militares
Setembro - Artigo de Aquino de Bragança na revista Afrique-Asie intitulado «Dacar face a Lisboa» analisando as relações entre Portugal e o Senegal na sequência dos acontecimentos de fronteira e do plano de Senghor para a solução pacifica da questão colonial
8 de Setembro - Inicio da III Conferência plenária dos Países Não Alinhados em Lusaka que pede um apoio mais eficaz e uma maior ajuda financeira aos movimentos de libertação africanos e convida todos os governos a absterem-se de financiar a barragem de Cahora Bassa
15 de Setembro - Apresentação do relatório anual de U’Thant à Assembleia Geral da ONU referindo, em relação a Portugal que «após nove anos de luta armada deve ter-se tornado evidente ao Governo português qual a política que poderá abrir a porta a negociações pacificas»
14 de Outubro - Aprovação pela Assembleia Geral da ONU dum programa de acção destinado a acelerar a obtenção da independência dos povos coloniais, sendo proclamado como documento comemorativo do 10º aniversário da Declaração de Descolonização e do 25º da ONU
Novembro - Aprovação pela Comissão Política Especial da Assembleia Geral da ONU, constituída por 127 países, de uma resolução recomendando o aumento do auxilio aos movimentos de libertação, em cuja votação apenas Portugal foi contra
23 de Novembro - Aprovação pelo Conselho de Segurança da ONU, do envio de uma missão especial à República da Guiné para investigar as acusações de que as forças portuguesas haviam invadido Conacri
8 de Dezembro - Aprovação pelo conselho de Segurança de uma resolução baseada no relatório da missão especial à República da Guiné, enviada para investigar a invasão de Conacri, que considera o colonialismo português uma séria ameaça à paz e segurança de África. Esta resolução condena também a construção da barragem de Cahora Bassa
12 de Dezembro - Declaração do chefe da delegação americana na ONU, Charles Yost, revelando que os Estados Unidos não tinham qualquer razão para duvidar das conclusões da comissão especial da ONU que investigou os acontecimentos de Conacri e o envolvimento de Portugal
14 de Dezembro - Resolução da Assembleia Geral da ONU censurando a politica colonial portuguesa e pedindo a Portugal que não utilizasse meios de guerra química e biológica contra as populações

1971

Fevereiro - Participação do PAIGC na conferência ministerial para África do Conselho Económico e Social da ONU. Conferência sobre «Os Estudantes e o Movimento de Libertação Africano» em Helsínquia, com representantes de mais de 60 países e do PAIGC, MPLA, Frelimo e SWAPO
Abril - Carta de Lord Gifford, membro da Câmara dos Lordes e presidente da Comissão para a libertação de Angola, Moçambique e Guiné, dirigida ao ministro dos Negócios Estrangeiros no sentido de este receber os representantes da Frelimo antes da sua visita a Portugal
22 de Abril - Inicio da Conferência Mundial da juventude para libertação dos povos das colónias portuguesas, reunida em Brazzaville
Maio - Portugal retira-se da UNESCO em virtude de esta organização apoiar os movimentos de libertação
Setembro - Visita de uma delegação da OUA a vários países da NATO, com o objectivo de conseguir que estes deixem de apoiar a politica colonial portuguesa. Visita de Olof Palme à Tanzânia, onde declara que o colonialismo português constitui um obstáculo ao abrandamento da tensão mundial
Outubro - Declarações de Amílcar Cabral numa visita a Inglaterra a convite do secretário-geral do Partido Trabalhista, afirmando o seu desejo de solucionar a guerra por meio de negociações com Portugal, sem condições prévias
19 de Outubro - Cimeira da Comunidade da África Central e Oriental que aprovou a «Declaração de Mogadíscio», condenado as potências ocidentais pelo apoio dado a Portugal

1972

27 de Janeiro - Convite ao Conselho de Segurança da ONU para enviar uma delegação às «áreas libertadas da Guiné-Bissau», feito pelo PAIGC
1 de Fevereiro - Amílcar Cabral discursa no Conselho de Segurança da ONU, reunido em Adis Abeba, facto que ocorre pela primeira vez
2 de Fevereiro - Aprovação pelo Conselho de Segurança da ONU, reunido extraordinariamente em Adis Abeba, de uma resolução de apoio aos movimentos nacionalistas de Angola, Guiné e Moçambique
4 de Fevereiro - Resolução do Conselho de Segurança da ONU que autoriza o envio de uma missão de visita às regiões libertadas da Guiné-Bissau
27 de Março - Concessão pelo Governo norueguês, de um subsidio ao PAIGC
2 de Abril - Início de uma visita efectuada por uma missão especial das Nações Unidas às zonas da Guiné-Bissau controladas pelo PAIGC
25 de Abril - Visita dos adidos militares dos Estados Unidos, Inglaterra, Venezuela e África do Sul à Guiné
18 de Maio - Encontro de Spínola com Leopold Senghor, próximo da fronteira com a Guiné, no sentido de explorar as possibilidades de mediação entre as partes em conflito
22 de Setembro - Atribuição pela Assembleia Geral da ONU, do titulo de observadores a representantes dos movimentos nacionalistas de Angola, Guiné e Moçambique
2 de Outubro - Discurso de Rui Patrício na ONU, boicotado pela maioria dos delegados
16 de Outubro - Reconhecimento pela Assembleia Geral da ONU, do PAIGC como legitimo representante do povo da Guiné-Bissau e condenação de Portugal como ocupante ilegítimo
19 de Outubro - Intervenção de Amílcar Cabral na ONU, anunciando a próxima proclamação unilateral da independência da Guiné-Bissau
20 de Outubro - Resolução do Conselho de Segurança da ONU condenando Portugal pelo ataque a uma aldeia no Senegal
Novembro - Fim do mandato do embaixador americano em Lisboa, que se retira sem ser substituído, situação só solucionada em Janeiro de 1974
2 de Novembro - Reconhecimento pela Assembleia Geral da ONU, da legitimidade das lutas armadas contra Portugal, em África
11 de Novembro - Aprovação por unanimidade, pelo Conselho de segurança da ONU de uma resolução pedindo a Portugal que inicie conversações com «interlocutores válidos» para uma solução das guerras
13 de Novembro - Reconhecimento pelo Comité de Descolonização da ONU, dos movimentos nacionalistas como legítimos representantes dos povos de Angola, Guiné e Moçambique
22 de Novembro - Resolução do Conselho de Segurança da ONU, aprovada por unanimidade, sobre a política colonial portuguesa, focando: reconhecimento da legitimidade das lutas travadas pelos movimentos de libertação e apelo ao Governo português para iniciar negociações

1973

27 de Janeiro - Assinatura em Paris, do cessar-fogo entre os Estados Unidos e o Vietname
1 de Fevereiro - Simpósio dedicado à memória de Amílcar Cabral em Conacri, com a presença de 680 delegados de vários países e organizações de todo o mundo
Abril - Realização em Oslo da Conferência Internacional da ONU e da OUA em apoio das vitimas do colonialismo e do apartheid na África Austral
3 de Junho - Anúncio pelo governo holandês, de um programa de apoio aos movimentos nacionalistas das colónias portuguesas, nas áreas da educação e da saúde
Agosto - Condenação de Portugal na Comissão de Descolonização da ONU, pela sua política colonial
Outubro - O Senado americano proíbe a Administração de conceder a Portugal qualquer ajuda que possa contribuir para a manutenção do regime colonial
15 de Outubro - Pedido feito por 56 países da ONU de agendamento de um debate sobre a «ocupação ilegal pelas forças militares portuguesas de certas zonas da Guiné-Bissau»
Novembro - Saudação pela Assembleia Geral da ONU da independência recente da Guiné-Bissau e condenação da ocupação por Portugal de algumas áreas do território
2 de Novembro - Resolução histórica da Assembleia Geral da ONU, única no direito de descolonização, reconhecendo a independência da Republica da Guiné-Bissau, a presença ilegal de militares portugueses naquele território e aprovação, com o voto de 93 Estados membros, de uma recomendação ao Conselho de Segurança para admissão da Guiné-Bissau
11 de Novembro - Admissão da Guiné-Bissau na FAO
16 de Novembro - Resolução da Assembleia Geral da ONU convidando, pela primeira vez, a Republica da Guiné-Bissau a participar na III Conferência das Nações Unidas sobre o Direito do Mar
19 de Novembro - Visita de uma delegação da Guiné-Bissau a Moscovo. Admissão da Guiné-Bissau como 42º Estado membro da OUA
29 de Novembro - Resolução da Cimeira Árabe sobre o embargo total do petróleo destinado a Portugal
17 de Dezembro - Resolução da Assembleia Geral da ONU aprovando os poderes da delegação de Portugal «tal como ele existe no interior das suas fronteiras na Europa», excluindo desses poderes os «territórios sob domínio português de Angola e Moçambique» e a Guiné-Bissau, que é um Estado independente

CONCLUSÕES

É preferível ter consciência de que a derrota já estava decidida desde a última semana de Maio de 1972 do que trocar argumentos sobre se a guerra estava perdida ou se poderia ser ganha.. A Guiné era já um apêndice cujo único interesse era a continuação da guerra em Angola, sobretudo.
Angola, mesmo já com a guerra nas três frentes, era ainda a perspectiva de riqueza, com os seus recursos, S. Tomé era o Cacau, Moçambique com os pagamentos do acesso ao mar e alguns recursos naturais, e Cabo Verde as pescas (?...). Mas a Guiné pouco dava (só à Casa Gouveia/CUF ou ao comércio libanês...):



De qualquer modo, os ganhos nesses territórios estavam muito em baixo relativamente aos custos das guerras que neles se travavam. Valiam os 50% do orçamento nacional nelas gasto, à custa da miséria num país. Mas até quando se aguentaria tal situação?


Quanto ao potencial humano a utilizar nelas, as perspectivas eram da sua diminuição ou da reutilização dos mesmos, ou de cada vez mais jovens... e cada vez mais mortos e mais feridos. Um horizonte sem futuro, com limites, obviamente. Já está lá mais atrás a situação das fugidas para o estrangeiro, legal ou ilegalmente. E vejo agora o reflexo disso, e não só, nas fugas ao serviço militar:


Mas os efectivos militares aumentavam progressivamente:

...E como dar resposta às cada vez mais necessidades de enquadramento dos efectivos? É verdade que “...em 1966 (...) o Exército teve de recorrer à formação de Capitães de origem miliciana”, como diz Manuel Godinho Rebocho na página 473 da sua tese de doutoramento, “A Formação das Elites Militares em Portugal de 1900 a 1975”. Mas estou com o coronel António Carlos Morais da Silva ao não concordar com as razões apontadas na tese: é que, diz o doutorando, “os Capitães de carreira pretenderam seguir outras funções que não as de combate”. O próprio capitão Morais da Silva foi exemplo disso ao, depois de uma comissão em Angola, em Nucussa e Ninda, ter substituído em Gadamael Porto, em 1971/1972, o comandante da CCAÇ2796, morto em combate. Eu próprio tive em Geba, em 1967,  um capitão do QP, também morto em combate e tive dois capitães do QP quando estive em Barro em 1968/69. E houve o Vasco Lourenço, o Salgueiro Maia, o Matos Gomes... 
As razões foram outras. O panorama na Academia Militar era este:



Procurando colmatar a falta de oficiais do QP, nomeadamente capitães, recorreu-se, em 1966, a tenentes milicianos em disponibilidade que, após um curso de promoção na EPI iam como capitães. Quando estive em Mafra, precisamente em 1966, a 3.ª do COM tinha cinco instrutores – o Cerveira, o Roque, o Mateus e o Diamantino André, que eram do QP, e o Chung, este é que tinha vindo de miliciano, mas foi no ano seguinte comandar uma companhia de comandos em Angola, onde fez duas comissões.. O Diamantino André foi comandante da CCaç 2406, que, em finais de 1968, esteve em Mansabá primeiro, tendo um  pelotão em Banjara até Janeiro de 1969, e foi depois para o Saltinho. Os outros não sei.

A partir de 1970 começaram a faltar alferes e tenentes para a formação de oficiais e sargentos milicianos, pelo que se recorreu aos milicianos para dar instrução nas escolas práticas, no CISM e no CIOE. Agravou-se também a falta de capitães do QP pelo que o Exército teve de “fabricar” os chamados “capitães de aviário”, com cursos de formação de cinco meses na EPI, findos os quais estavam “aptos” a comandar companhias! Havia guerra que resistisse?... Era esta a situação na Guiné:



Uma outra questão que me importa ver: se nós dominávamos no terreno. Como já disse, foi limitada a minha experiência. Mas vou dizer o que me parece pelo que vi, especialmente na zona de Geba. 
Antes de ser um subsector, passaram por Geba: 3.ª CCAÇ em 1961, CCAÇ412 em 1964, CCAÇ509 e CCAÇ557 em 1965. Lendo o que pude das histórias destas unidades, a que teve alguma actividade na zona foi a CCAÇ412. De 23Mai64 a finais de Ago64, a subunidade esteve colocada em Camamudo, com um destacamento em Cantacunda, a fim de efectuar acções de nomadização e batida naquelas áreas. Numa batida teve um morto em Mansaina, perto de Banjara. Procedeu à organização dos sistemas de autodefesa e segurança das populações, após o que recolheu a Bafatá, mantendo, no entanto, pequenos efectivos nas referidas localidades de Camamudo e Cantacunda.
Quando foi subsector do BCAV757, em Outubro de 1965, ficou à responsabilidade da CCAÇ1426, que ficou com destacamentos Camamudo e Cantacunda. Ficou em quadrícula, tendo bastante actividade a nível de pelotão, com operações de batidas e montagem de emboscadas, e outras em conjunto com outras unidades. Participou na operação “Aurora”, creio que em princípios de 1966 (não vem a data na “história”), ocupa Banjara, referenciada como ponto de passagem dum dos ramais derivados do corredor de Sitató, destruindo na zona as tabancas de Tumania, Bantajã e Sambulacunda, segundo o relatório da operação. Fica desde essa altura com um destacamento em BanjaraTenho a “História da Companhia” e vou analisar algumas, na perspectiva da ocupação do terreno.
. Na op. “IUSSUF”, realizada em 14JUL66, 1 GrComb da CCAÇ1426 com uma secção da CMil3 e guias foi até Canhagina e atravessou o Rio Jago e entrou na zona de Sinchã Jobel. Antes tinham descoberto uma armadilha A/P e avistado um elemento IN armado e fardado. À entrada de Sinchã Jobel, “antiga tabanca, há muito destruída e abandonada, um forte tiroteio de PM e granadas de mão foi sobre nós desencadeada por um grupo IN, de efectivo e potencial de fogo apreciáveis, que se encontrava entrincheirado algures dentro da citada tabanca e ao abrigo de pequenos muros de pedra e adobe, últimos e únicos vestígios das antigas construções. Passados alguns momentos de fogo contínuo IN, cuja duração rondou 10 a 15 minutos, a nossa força começou a manobrar na direcção do suposto local do IN frontal e lateralmente, não tendo conseguido enxergar qualquer elemento IN, portanto aprisioná-lo ou abatê-lo, mas somente pô-lo em debandada para dentro do mato. Feita uma pequena batida à área da emboscada e suas imediações, nada de especial se apurou, apenas uma pequena chave presa a um farrapo foi encontrada. Recomeçando o andamento sobre o itinerário devido, na direcção de DANDO, esta antiga tabanca foi atravessada sem qualquer novidade, tendo-se tomado o caminho para GANHAGINA, donde a força regressou a GEBA.”
«l - SITUAÇÃO PARTICULAR - a. Inimigo: A região do OIO a sul de BANJARA é considerada como zona sob o controle do IN. As várias acções levadas a efeito pelas NT assim levam a concluir. É natural que os seus efectivos não sejam numerosos em potencial de fogo e agressividade, pois há o conhecimento de que o grupo actuante não é muito numeroso nem tem um grande potencial de fogo pois tem-se manifestando em várias acções a SARE MEDINA, SINCHÃ MADIA, SARE BANDA onde causou apenas estragos em moranças e os ataques e ameaças que foram feitos às populações de CARBONOL, SINCHÃ MADIA e CAMASSIRÁ, foram bastantes ligeiros. As acções contra as NT têm sido sempre ligeiras, fugindo sempre ao contacto e os engenhos explosivos colocados na área tem sido sempre detectados. A FAP localizou um acampamento de cerca de 30 casas na região de BEBEL-CURAUELE- MADINA BANJARA que REVIS efectuados em 17 E 20Jul confirmara. As inúmeras lavras localizadas nesta região denotam bem a presença do IN ou de populações sob o seu controle.» Foram as razões para a realização da op. “Júpiter”, em 23/24JUL66, com 2 Gr.Comb da CCaç1426, 1 GrComb da Ccaç1496, 4 secções da CMil3, o EREC1578, 1 Pel/CCS/Bcav757 e vários guias nativos.
Destaco o seguinte do relatório desta operação: « A força A atravessou a bolanha e a Sudoeste de CURAUELE localizou o primeiro acampamento. O IN tentou resistir ao nosso avanço com tiros de PM e granadas de mão mas a acção das forças foi tão rápida que o acampamento foi cercado. Após revista nas casas do mato para um possível aparecimento de armas, munições ou documentos importantes,  as  32  casas  foram  incendiadas.  A  força  lançou-se  à procura  de  mais acampamentos IN, tendo aparecido a Sul de CURAUELE 21 casas de mato e a Sudoeste da mesma foi encontrado novo acampamento com 20 casas, este situado dentro de árvores frondosas. Aqui o IN fez fogo sobre as NT mas a sua resistência foi vencida. Foram também apanhadas cinco mulheres e algumas crianças aqui coagidas pelo IN faziam parte da população. Já no regresso a Sul e na direcção do pontão da bolanha foi visto novo acampamento de oito casas que foi prontamente destruído. Após a travessia da bolanha e a cerca de 400 metros desta um grupo IN fez fogo intenso de PM, GrMão, Esp. E uma MP durante cerca de 10 minutos, mas foi posto em debandada em consequência da pronta acção das NT. Na parte final do trajecto o IN nunca mais apareceu e chegou-se a BANJARA cerca DAS 16h00.» Nesta operação foi capturada uma “guia passada a favor de Sungar Fati e assinada por Lúcio Soares, como responsável do partido na região de Bafatá”,
Em 08AGO66, op. “Jonas”, voltou um grupo à zona de Ganhagina e Ponte do Rio Gambiel, porque, segundo a “Situação particular”, « Embora o IN não se tenha revelado na região do JOLADÚ, junto ao RGAMBIEL, pode no entanto ser esta uma via de infiltração para os elementos IN; que pretendam infiltrar-se para o interior do Sector. A zona está totalmente despovoada mas poderão existir locais de refugio ou passagem, que convém detectar e destruir.» Mas não foi encontrado nada.
A op. “Jasmim”, porque « Durante a operação "LADO A LADO" o IN revelou-se na região de DANGA e SADO [norte de Banjara, perto de Samba Culo] embora muito fracamente; Todas as tabancas existentes na altura foram completamente destruídas, desconhecendo-se qual a situação no momento actual, se a mesma se mantém inalterável ou não», deu isto em  26/27OUT66: « Quando a vizinhança próxima da zona  de actuação foi atingida, procedeu-se à formação do dispositivo de combate em perspectiva de iminência de acção do IN ou sua detecção. A progressão no interior do objectivo sob a forma de batida, tomou-se difícil em virtude das culturas existentes especialmente, a do milho a qual cobria quase toda a área. Em dado instante, dentro de um campo de milho ouviu-se barulho de vozes que foi escutado pêlos primeiros elementos das NT, pelo que se tentou um envolvimento tendente a capturar os elementos referenciados tendo-se conseguido o aprisionamento de duas crianças, de sexos opostos; Outros elementos da população, em maior número mulheres e crianças, fugiram à nossa aproximação, não mais tendo sido vistos ou  pressentida a sua presença. Recomeçada a exploração a toda a zona, dispensando-se mais atenção e cuidado aos locais mais fechados de arvoredo e vegetação, mesmo na orla da bolanha junto do RCAMBAJU, foi avistado um pequeno grupo de casas de mato situadas debaixo de um tufo de árvores de alto porte e densa copa que não permitia com certeza a observação aérea. Ao avanço desta parte das NT sobre estes meios de vida do IN, este,  inesperadamente por se encontrar bem oculto das nossas vistas reagiu com tiros de espingarda e PM, tendo fugido ao contacto directo perante a pronta reacção das NT sobre a posição IN. Chegados ao local pretendido verificou-se serem três palhotas tipo casas de mato que serviam de abrigo, e lavoura, etc. Após a revista do interior e cobertura das casas estas foram completamente incendiadas e destruídas, tendo sido apreendido todo o material de guerra descoberto e destruídos todos os objectos que não apresentavam para nós grande interesse. Durante a restante batida efectuada à zona de DANGA e SADO, nada mais de especial foi encontrado ou avistado. Verificou-se a impossibilidade da passagem ao longo do caminho que atravessa a bolanha do RCAMBAJU na sua ponta Sul, fez-se o regresso a BANJARA através do trajecto da ida, durante o qual foram recolhidas as fracções emboscadas. A entrada em BANJARA deu-se cerca das 16H30
Na op. “Jejum”, em 10/11DEZ66, por razões idênticas - « Embora o único conhecimento que temos do IN, seja dado pela sua fraca reacção durante a operação "LADO A LADO", há que admitir a possibilidade de se revelar com apreciável força uma vez que a região de CASA NOVA parece ser um dos pontos de apoio do corredor do SITATÓ. Admite-se no entanto que CASA NOVA seja um núcleo de população for a do nosso controle tal como sucedeu em DANGA e SADO.» - 2 GrComb da Ccaç1426, 1 GrComb da Ccaç1588, EREC1578, 3 SecCMil3 e 1 SecPelVol FURACUNDA foram novamente à região a norte de Banjara, perto de Samba Culo. «... em dado momento e muito perto da orla desta, foram avistadas duas palhotas, com sinais evidentes de abandono, abrigadas sob um tufão de árvores, tendo sido completamente destruídas. Apoiando-se neste pequeno indício de vida, se bem que nada recente, a força lançou-se novamente à procura de mais outros sinais que viessem a revelar a presença do IN ou de população. Assim a cerca de l km para a esquerda em relação ao objectivo, na direcção do ponto de cota 33, e em determinado instante, um grupo IN de razoável força, emboscado dentro do mato densíssimo, atacou grande parte das NT, utilizando em grande intensidade PM e Gr: Mão Of, julgando-se com quase inteira veracidade tenham empregado L. Gr. Fog., ou outra arma semelhante, pois forte estrondo foi sentido muito perto de alguns elementos nossos. Decorridos os primeiros momentos de surpresa pelo ataque IN, prontamente se procedeu 'a manobra que a ocasião e natureza da acção mais aconselhava e que se traduziu do seguinte modo: enquanto uma fracção da força se empenhava do grupo rebelde, uma outra muito dificilmente protegida pela anterior rompeu o mato em direcção ao suposto mas sempre duvidoso local de abrigo do IN. Alguns instantes volvidos certa restolhada foi escutada pêlos primeiros elementos, significativa da fuga precipitada do IN, o qual deixou, abandonados no terreno, quatro carregadores de PM e bem mais algumas marcas de ferimentos deixados pelo nosso fogo, pois alguns rastos de sangue apareceram no terreno e em arbustos. Vencida esta resistência, era certo que algum acampamento se localizava perto da nossa posição, existência que de facto veio a comprovar-se cerca de 300 metros mais a frente e bem dentro do mato. Foi ocupado sem mais resistência, sendo constituído por 24 palhotas tipo casa d e mato. Feita a limpeza do interior e batida nas imediações, algum material foi encontrado conforme consta da alínea c. do parágrafo 6.. Após completa destruição do acampamento, iniciou-se o movimento de regresso a BANJARA, através do trajecto de ida, durante o qual foram recolhidas as forças emboscadas. A entrada em BANJARA deu-se cerca das 16HOO
Na op. “Jiu-Jitsu”, a mesma força foi, a 21/22DEZ66, ao sul de Banjara, a Curauele, Bantajã, Belel e Sambulacunda. Nada encontrou, deixando apenas vários panfletos de rendição.
Mas foi diferente a op. “Joia 1”, feita a 16/17JAN67 na mesma zona - «Na região de BANJARA, em todas as acções ali executadas, o IN revelou-se de maneira activa, com pouca potência de fogo, à excepção da última operação ali realizada (JIU-JITSU) em que não houve contacto. Todas as moranças existentes na região BELEL/CURAUELE foram destruídas durante a   operação "JÚPITER". Em REVIS efectuados na região verificou-se haver algumas casas e trilhos na região BOMBADINCA 3 G4 e BOMBADINCA 3 G5 onde se pode considerar a existência de populações fora do nosso controle. É de supor que o IN se encontra instalado fazendo vida com a população, exercendo sobre ela a sua acção e possivelmente realizando incursões através do mato de MANSOMINE.» - «... Alcançado BELEL, sem anormalidade as NT atravessaram a bolanha que ainda apresentava razoável caudal de água, de modo descontinuo e dirigiram-se a MEDINA BANJARA. Neste pequeno troço de caminho nos sítios mais fechados e susceptíveis de montagem de emboscadas por parte do IN foram lançados dois grupos, a nível de secção reforçada cada, que assegurariam a passagem das NT durante o regresso e tentariam surpeender quaisquer elementos rebeldes avistados. Em MADINA BANJARA, tabanca totalmente destruída e abandonada, após alguns esforços feitos em reconhecimento às vizinhanças, no sentido de ser descoberto o caminho que corre para Sul paralelamente ao RGAMBIEL, o mesmo foi tomado para quando estavam percorridos cerca de 3 km, nas proximidades do ponto de cota 14, ser enxergado pêlos primeiros elementos da força, um grupo de palhotas que se situavam fora do caminho, bem no interior do mato e sob grande tufo de árvores de densa e larga copa. Quando as NT se preparavam para entrar no acampamento, um grupo IN colocado na periferia abriu fogo com PM, Esp. algumas Gr. Mão, no intuito de impedir o nosso avanço, não o tendo conseguido e pondo-se em fuga mercê da nosso manobra tendente a superar essa mesma resistência oferecida pelo IN. Desta acção resultou terem sido abatidos 2 elementos comprovadamente IN. Um terceiro elemento foi ferido mas logrou escapar-se, deixando no terreno alguns respingos de sangue. Feita uma batida e exploradas as imediações nada mais de especial foi encontrado nem outro caminho foi visto. Após completa destruição e incendiado o acampamento IN e de alguns materiais que não mostravam interesse algum, iniciou-se o regresso através do mesmo itinerário, sendo recolhidos os grupos que permaneceram emboscados. A cerca de 100 metros do lado Norte da bolanha de BELEL - CURAUELE um grupo IN cujo quantitativo não foi possível estimar-se, atacou com certa força e inesperadamente com tiros de PM e Esp. posições muito perto do caminho, sensivelmente a parte central da coluna do que resultou ter sido morto um soldado nativo e ferido de ligeira gravidade um soldado europeu. Movimentada a manobra dentro do mato em direcção ao suposto, mas incerto local de concentração do IN, escapuliu-se para não mais aparecer. Alguns rastos de sangue foram detectados, pelo que se julga terem sido feitos feridos do lado adverso. Transportado o morto, primeiramente às costas e depois em padiola improvisada com ramos e cordas, a entrada em BANJARA, sem mais incidentes, registou-se cerca das 16HOO
Nos dias 17/18/19FEV67, op. “Incógnica (?)”, um grupo montou emboscadas e fez batidas  na mesma zona, não encontrando nada. Mas dizia a ordem de operações que « - Na região a Sul de BANJARA, em todas as acções ali executadas, o IN revelou-se de maneira activa, com pouca potência de fogo à excepção da operação "JIU-JITSU", em que não houve contactos. - Em 08JAN67 durante a operação "JÓIA", foram aprisionados sete elementos de uma povoação de BAMBADINCA 3B2, que  revelaram existirem acampamentos IN a S e W, mas bastante afastados do local onde as NT se encontravam. - Em 17JAN67 durante a operação "JÓIA l", foi destruído um acampamento em BAMBADINCA 3G4-6S tendo sido destruídas 17 casas de mato depois de vencida a resistência IN. O IN sofreu dois mortos e um ferido confirmados. Foi capturada uma  espingarda MAUSER, alguns canhangulos, várias munições, l Gr. Mão Def. e alguns documentos . No regresso um grupo IN não estimado emboscou as NT com razoável potência de fogo do lado Norte da bolanha de BELEL tendo-se furtado ao contacto perante a reacção das NT que sofreram um morto (soldado nativo) e um ferido ligeiro (soldado europeu). - Em 04FEV67, durante a operação "JAVALI" no regresso de MANSONÁ l grupo IN estimado em 12 elementos armados de PM, Esp. Aut. E GM emboscou as NT em SINCHÃ BOEBE, sem consequências. O IN retirou perante a reacção das NT. - Sabe-se que o IN tem vários acampamentos na região do CUOR. - Não foram referenciados quaisquer acampamentos IN no SW do nosso sector sendo contudo de admitir que eles existam, até como pontos de apoio de grupos IN que se desloquem entre CUOR e CORLÁ». Em 9/10MAR67 foram novamente à mesma zona a sul de Banjara mas nada encontraram.
A Ccaç1427 teve 1 morto em combate, um furriel, e 2 soldados mortos por acidente. Foram mortos em ataques 3 milícias e 1 foi morto em Madina Banjara. Sofreu ataques em Sare Madina, Sare Banda, Sinchã Sutu e Sincho. 
O Lúcio Soares já comandava naquela zona, como se viu, na altura da Ccaç1426, embora me tivesse dito, em Abril de 2006, quando nos encontrámos em Bissau, que tinham montado as “baracas” em Sinchã Jobel em Abril de 1966.
Em 17 de Abril de 1967 chegou a Geba a CART1690, em substituição da Ccaç1426. Claro que não me vou debruçar sobre esta companhia, de que fiz parte, pois tudo já está contado no blogue. Vou só lembrar-me que ficou com os destacamentos de Banjara, Cantacunda e Camamudo e foi-lhe acrescentado mais um: o de Sare Banda (que antes só estava em autodefesa). Lembro que teve dois mortos (o capitão e um soldado), primeiro, e mais 6 (milícias), depois, no itinerário para Banjara, 1 morto e 11 “retidos” durante um ataque a Cantacunda, 1 soldado morto no ataque a Banjara, 2 mortos no ataque a Sare Banda (um alferes e um furriel). Em seis ataques á, então já descoberta, base do PAIGC em Sinchã Jobel (a sul de Banjara, perto de Ganhagina e Ponte do Rio Gambiel) teve 5 mortos (um alferes e quatro sildados) e um soldado “retido”. Participou em duas operações a norte de Banjara (região de DANGA, SADO, CASA NOVA), tendo destruído a base, também então descoberta, de Samba Culo. Teve vários feridos, alguns com gravidade (entre eles dois alferes). Participou ou realizou, no total, 51 operações (14 com PCV), 1561 patrulhamentos, 36 emboscadas e 442 outras acções.

Estiveram depois em Geba:
- a CCaç2437, desde NOV68, que ficou sem o destacamento de Banjara; para aqui foi um pelotão da CCaç2406, a tal do Diamantino André e que estava em Mansabá; mas o destacamento foi abandonado em Janeiro de 1969; teve 1 morto em Dembo (zona de Samba Culo).
- a Cart2743, desde AGO70; esta companhia teve um ataque em Cantacunda, de que resultaram 7 mortos (um cabo e seis soldados); teve 1 milícia morto em ataque a Sare Banda.
- CCaç3548, desde MAI72 até ABR74; teve 1 cabo e 2 soldados mortos por acidente; o capitão e o 1.º sargento morreram por doença.
Várias companhias forneceram reforços, em certas alturas e em tempo limitado, às companhias do subsector de Geba. As CCaç1685, 1689,1791 e a Cart2339, como companhias de intervenção para operações na zona. A CCaç2590 (a do Luís Graça) teve efectivos como reforço em Sare Ganá e Sare Banda.
Não tenho pormenores sobre a actividade destas três últimas companhias com o subsector de Geba, porque não tenho as suas “histórias” (mas hei-de tê-las, um dia). Mas creio poder tirar algumas conclusões, relativamente à zona de Geba (em Barro, zona de fronteira era diferente...)., com base naquilo que tenho.
O BART645, que esteve em Mansabá, diz, em seu relato, que em JUL64 abriu o itinerário Mansabá-Bafatá (passando por Banjara, Sinchã Sutu, Sare Ganá e Sare Banda, portanto). Creio que as unidades que antes estiveram em Geba tiveram liberdade de movimentos. Mesmo a CCaç1426 terá tido no início, pelo que vejo dos seus relatórios, e o Fernando Chapouto confirmou-mo pessoalmente, Foram a Mansabá, Mansoa e até mais longe... O que já não sucedeu com a Cart1690.
É evidente que o PAIGC já estava bem implantado na zona em 1965 e 1966, movimentava-se pelas matas, tinha casas de mato para se acantonar, tinha populações que os alimentavam, tinha armamento para atacar a meia dúzia de tabancas que tínhamos em autodefesa. E procurava estabelecer pontos sólidos de apoio às suas acções nas zonas a sul de Banjara, para estabelecer seguras ligações à margem sul do rio Geba, e nas zonas a norte de Banjara, para ligações à margem norte do rio Camjambari. O Luís Cabral disse-me pessoalmente que Banjara era um ponto de passagem. E os nossos cabeças também sabiam que era uma ramificação do corredor de Sitató. O papel da CCaç1246 foi, naturalmente, destruir os seus pontos.de apoio, queimando casas de mato ou os chamados acampamentos, coisas que a guerrilha muda facilmente de um local para outro, mesmo dentro da mesma zona. É fácil na mata do Oio. Quando são apanhados de surpresa podem morrer alguns, quando não são podem furtar-se e reaparecer mais tarde no mesmo sítio. É a luta do gato e do rato, que pode durar eternamente ....ou até à morte de um ou de outro. Foi também a destruição dos seus meios e pontos de subsistência, queimando tabancas e destruindo culturas  Mas aquela são zonas extensas, com possibilidades de cultivar aqui ou ali, ou quando não há aqui ir buscar ali, mesmo com esforço.
Na altura da Cart1690 a situação modificou-se, Não havia nenhuma tabanca activa a sul de Banjara, apenas as em autodefesa - Sare Ganá, Sinchã Sutu e Sare Banda (mais tarde foi destacamento), mais perto de Geba e do itinerário para Banjara, e Sare Madina, mais afastada e perto de Ganhagina (mas já com o cabo Mamadu, que era do PAIGC, soube-se depois, a comandar a milícia). Também nenhuma tabanca em pé a norte de Banjara. Camamudo esteve e estava sempre serena. Mais acima, no caminho para Cantacunda havia uma tabanca, Farancunda, que nos recebia sempre bem, mas que suspeitávamos que ajudava o PAIGC (lá mais acima, num relato de uma operação da CCaç246, fala-se de um PelVol de FARANCUNDA que nela participou... mas nunca ouvimos falar dele...); mais ao lado e abaixo havia (e sempre houve!) o CAPÉ, onde o cabo-verdiano Carlos nos recebia de braços abertos, servia-nos aguardente de cana, mostrava-nos as filhas, mas toda a gente dizia que jogava com pau de dois bicos...).
O Lúcio Soares (foi do governo do Luís Cabral e esteve refugiado em Cabo Verde depois do golpe do Nino Vieira em 1980) montou mesmo uma base em Sinchã Jobel, a sul de Banjara. A norte formou-se a base de Samba Culo, comandada por Braima Bangura (o tal que já referi acima que foi fuzilado por Nino Vieira em 1986). O PAIGC, além de continuar a atacar as tabancas em autodefesa, começou a atacar também os destacamentos, a colocar minas nos itinerários, demonstrando um grande avanço no seu poder bélico na zona, em armamento e acção. A Cart1690 teve a sua mobilidade mais reduzida, as idas a Banjara e Cantacunda tornara-se mais complicadas, com emboscadas e minas. Nunca houve “viagens” de Bafatá para Mansabá. E, como já disse acima, Banjara foi abandonada em Janeiro de 1969. Por isso Luís Cabral diz na “Crónica da Libertação”: «O quartel de Banjara, entre Mansabá e Bafatá, tinha sido retirado devido aos ataques contínuos dos nossos combatentes. Os trilhos que, do mato, cortavam esta pista inteiramente controlada por nós, passaram por isso a dar mais segurança à passagem das pessoas que se dirigiam ao Sará», E o Sará era uma região entre Mansabá e Mansoa controlada pelo PAIGC.
Como disse,  não sei da actividade das companhias que estiveram em Geba de 1969 a 1974. Mas cabe referir duas operações realizadas por duas companhias na margem norte do rio Camjambari (acima da zona norte de Banjara, portanto). São elementos do site do Carlos Silva (http://carlosilva-guine.i9tc.com/site/).
CCaç2547 – 09/10/JUN71 –
«... Na altura do ponto de cota 53 as NT deixaram o carreiro e inflectiram para Oeste a corta-mato para atingir a bolanha onde haviam sido referenciadas  instalações. O grupo IN deve-se ter apercebido desta mudança de direcção e deslocou-se para Sul. Neste deslocamento foi detectado a cerca de 100 metros da rectaguarda. À manobra pelo fogo e movimento das NT reagiu com armas automáticas e lança foguetes tendo debandado para Norte. Os elementos avisados usavam farda verde e um ou outro com roupa civil. O efectivo deste grupo foi estimado em 20/25 elementos. Continuando a progressão o mesmo grupo voltou a flagelar o flanco direito da coluna tendo sido repelido pelo GComb da CArt n" 3331 [C3 do meu primo Luís] de reforço à companhia. Continuou-se a progressão para Oeste dificultada pela ausência de referências e por os guias terem hesitações e não quererem ir na frente da coluna ou por não estarem familiarizados com a zona. Até atingir a bolanha foram as NT alvo de 5 emboscadas. Nas duas últimas emboscadas verificou-se a existência de 2 grupos fazendo fogo de frente e de flanco e manobrando as suas forças de modo a: um fixar as NT e outro procurar envolver. Solicitada a presença do heli-canhâo o IN deixou de ser referenciado. Continuando a progressão verificaram-se várias manchas de sangue o que leva a concluir por bastantes baixas no grupo IN. Encontrado um velho mandiga, coxo e agarrado a um pau, interrogado, declarou que o chefe do IN da área era Quemo Darame e que o acampamento do material se encontrava em Tambicó [se tinham mudado de Samba Culo para Tambicó, é a táctica normal da guerrilha... quando fui a Samba Culo Tambicó estava desabitado], a Sul do rio Canjambari. Declarou haver sentinelas nesse acampamento e também em Samba Culo. Este não tem material e serve de protecção a Tambicó. Informou ainda que o único acampamento existente naquela zona era aquele para onde nos dirigimos. Encontrada a tabanca por alturas da região de Farim 6 e C 5.65, perto da bolanha foram destruídas numerosas moranças e um acampamento de guerrilheiros mais afastado, com 15 cubatas. Este acampamento já havia sido atingido com 3 bombas de avião e apenas se encontraram alguns artigos sem interesse militar. Nas moranças da população foram destruídos numerosos celeiros contendo cerca de 3 toneladas de arroz, vários recipientes com óleo de palma e outros mantimentos. Foram ainda destruídos outros artigos como panos, utensílios, livros de  instrução primária, cadernos, lousas e um papel tendo escrito os nomes de Malan Mandja, Mamadi Mandja e Bucaro Danfa, do antecedente já  referenciados.»
Quer dizer que, em meados de 1971,  ainda se andava no jogo do toca e foge a norte de Banjara. E também verifico que já não era companhia de Geba que lá andava. De Sinchã Jobel só sei que, após aquelas seis operações, foi considerada ZLIFA (Zona Livre de Intervenção da Força Aérea) para despejo de bombas (ainda encontrei lá uma em Abril de 2006). As coisas continuavam, mais destruição menos destruição de tabancas, mais apreensão menos apreensão de armamento. E eles continuavam a ter apoios para a sua sobrevivência, em alimentação, população e armamento. E nós não.

Acho que não íamos ganhar aquela guerra.





29 comentários:

  1. Parabéns pelo artigo que está bastante bem elaborado e documentado.
    Mas é preciso ter cuidado em afirmar que a Guerr na Guiné estava perdida, melhoer que perdomo-la.
    Esta é a minha opinião, pois não tinhamos meios humanos e fundamentalmente militares para suportar por mais tempo. Seria uma questão de tempo e com o restrenmgimento no terreno e o Movimento doa Capitães. O desinteresse ainda foi maior com o 25 de Abril.
    Estou a comentar pois já tive uma grande discussão com um elemento das tropas especiais para-quedistas que agarrado ao lema dessas tropas, não admite que perdeu a guerra.
    Nunca mais nos relacionamos pois a sua mentalidade, na minha opinião, não evoluiu embora ´já tenham passado mais de 40 anos.
    O que importa não é isso mas o seu maravilhoso artigo.
    Ex Fur Mil Guiné 1968 1970 PICHE Leste da Guiné
    João Pereira da Costa

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  2. Todo o planeamento e comando de operações da zona norte, esteve a cargo do então Ten. Cor de Cavalaria Carlos de Azeredo!
    É curioso notar a omissão total do seu nome na parte deste relatório, no que se refere aos acontecimentos do 25 de Abril 1974.

    Francisco de Azeredo
    (Filho do Gen. Carlos de Azeredo)

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  3. A GUERRA EM TODAS AS FRENTES TINHA QUE SER PERDIDA:
    PORTUGAL ESTAVA MINADO ATACADO POR DENTRO E POR FORA PELOS SEUS INIMIGOS ESTRANGEIROS (URSS, CUBA, ETC) MAS TAMBÉM PELOS SEUS INIMIGOS PORTUGUESES (COMUNISTAS E SOCIALISTAS) TRAIDORES E COBARDES, ALOJADOS NO SEU CEIO PORTUGAL METROPOLITANO, ARGÉLIA, PARIS, ETC.

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    1. O medo de se mostrar diz tudo. Era bom que não ficasse no anonimato, independentemente das suas opiniões.Este tipo de comportamento diz tudo sobre a pessoa em causa.
      António Carvalho Ex Cap. Mil. na Guiné

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  4. Não são as letras maiúsculas que engrandecem as opiniões, nem quem as tem. E o anonimato, não será um sinal de cobardia?... uma capa de quem não tem argumentos mas apenas chavões ressequidos?...

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  5. Quem sabe da emboscada que Manuel Alegre fez aos oficiais na guine , traio o seu próprio pais e mesmo assim a PIDE deixou que ele fugi-se

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  6. Andei por toda a Guiné e nunca vi lá o Manuel Alegre ou ouvi falar dele. Estive com o Luís Cabral, responsável do PAIGC na Frente Norte, com os comandantes Lúcio Soares e Gazela, responsáveis do Oio,e este último também no Sul, e nenhum, me disse que o tinha visto por lá...

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  7. Interessante colectânea argumentativa.
    Apenas um pormenor, que deveria merecer correcção:
    onde se lê «“Guerra Colonial”, de Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes (Editorial Notícias, 1972)», deveria ler-se «[...] 1ª edição, Setembro de 1997».

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  8. Agradeço imenso a chamada de atenção. É evidente que não poderiam ter escrito aquilo em 1972. Erro da pressa. Referia-me ao que foi publicado em fascículos no "Diário de Notícias" durante várias semanas de 1997 e 1998. Já está corrigido. Obrigado.

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  9. Não querendo por em causa que asssitia aos Moviventos de Libertação,nunca ouvi falar nessa história do Manuel Alegre,que gostaria de ver mais desenvolvida, não estive na Guiné, mas o clapso que se adivinhava, em parte devia-se a parte das FA,e á maneira muito ingénua quase infantil,de ser portuguesa creio única tipo guerra Raul Solnado,de querer conviver com o inimigo,depois a grande parte de atentados,em nome da ARA,julgo que seriam praticados pelos próprios elementos das FA,embora que ao serviço de outras causas,seria bom os próprios, virem a público,sem preconceitos,contribuir para esclarecer uma época da nossa história.

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  10. É evidente, digo agora, que essa balela do Manuel Alegre na Guiné é uma mentira grosseira. Quanto ao colapso, não foi das nossas FA, porque elas sempre se comportaram com denodo nas missões que lhes eram atribuídas, embora com muito sofrimento e sangue. O que sucedeu é que aquilo já era demais para as nossas forças e para as nossas convicções. Quanto à acção da ARA, ela não teve nada a ver com as FA. O meu amigo Raimundo Narciso explica tudo sobre ela, inclusive aponta quem foram os seus operacionais, em http://raimundo.no.sapo.pt/

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  11. Ainda não li o livro, nem se no mesmo exlica com que conivências contaram ás vezes mais compremetedoras que as dos próprios operacionais.Será normal essa organização praticar atentados á época na Guiné!!.

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  12. ...É preciso saber ler. Os "pré-conceitos" agarram o que interessa aos preconceitos e não vêem mais nada. O texto está dividido em quatro partes:
    - A situação na Guiné - para quem lé,claro, é fácil ver que não vem lá referida nenhuma acção da ARA;
    - A situação na Metrópole - com alguns dados sobre a discordância da guerra de vários sectores da sociedade portuguesa; aqui, sim, entraram as várias acções da ARA, estão descritas, não me vou repetir; mas posso dizer que o único operacional que era militar, na altura, especialista da Força Aérea, miliciano, foi o meu amigo Ângelo de Sousa, infelizmente já falecido, que destruiu vários helicópteros em Tancos;
    - e as Conclusões.
    Podia não dar resposta a estas observações anónimas, e até eliminá-las. Mas não faço, porque acho bem que os leitores se apercebam das cegueiras ainda existentes no julgamento deste nosso passado trágico. Mas, sinceramente, gostava que estes anónimos "aparecessem" para uma discussão aberta e honesta deste assunto.

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  13. É claro,que a guerra estava perdida logo que os respectivos povos se insurgiram contra o domínio português e a escravidão a que estavam sugeitos,basta ver que dantes havia no Código Penal a pena de desterro que consistia em deportar para as privincias de criminosos,...quem pensar o contrário pode continuar a assim pensar, os soldados que para lá foram a grande maioria, não sabia ao que ia, estavam quase ao mesmo nível ou pior no aspecto político e não só, que os locais das antigas colónias,que martelados pela propaganda,de que os, Russos, Chineses, Cubanos e Argilinos, nos queriam roubar aquilo, e que os respectivos povos só queriam a paz e ser tão portugueses,como nós os Metropolitanos,tinhamos a obrigação de defedê-los,..eu fiquei surpreso,quando meu primeiro irmão dos 5 que para lá foram e vieram, depois de cumprir a comissão,em 1968 que sofreu várias ataques e só não foi apanhado á mão porque não calhou,no regresso e disse que quem nos combatia eram os próprios naturais,e que os brancos das colónias o tinham mandado para a terra dele que aquilo era deles, só a partir daí comecei a despertar e a ter uma ténue ideia da realidade,de que guerra se tratava.
    (O sem preconceitos, Lima )

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  14. Obrigado A.marques Lopes por ter trazido a memória de todos o nome do navio "arouca" desviado para o PAIGC no rio cumbijã em março de 1963 numa acçao em que esteve envolvido o meu falecido (1971) irmao Cte Antonio Vieira, que durante a luta frequentara a academia de Frunze/URSS como oficial de armada.Morreu em 1971 em circunstancias pouco claras quando faltavam pouco mais de tres anos para desfecho da guerra na nossa Guiné. Bem haja pela sua contribuiçao histórica.

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    1. Caro amigo
      Agradeço imenso que, no caso de ter mais elementos sobre a actividade do seu irmão, Cmdt António Vieira, me dissesse. Bem como das circunstâncias em que ele morreu, embora, como diz, sejam pouco claras. Para mim, e para a generalidade dos leitores deste blogue, é importante saber a história vivida pelo "outro lado". No fundo foi uma história comum. Abraço.
      A. Marques Lopes

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    2. parabéns Marques Lopes pela tua pesquisa. É fundamental que alguém , depois destes anos contribua para a compreensão do que se passou com toda a injusta guerra colonial. Gouveia de Carvalho ou Ex Cap. Mil António Carvalho

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  15. jose alberto miranda leal pinto11 de junho de 2012 às 16:18

    Agradeço a oportunidade que me é dada, pois está um artigo bastante bem feito e com bastante fundamentado, é com alegria que recordo tudo o que lá está escrito. "PARABENS"

    Eu não falo pelo que dizem, é tudo muito lindo, quando se está de fora, quem lá esteve sabe que é verdade (GUERRA PERDIDA E CAUSADORA DE MUITOS MALES NA JUVENTUDE), só pelo anonimato se percebe, esse comentário, eu lembro-me que em 1973, eram aviões abatidos, eram abandonos de quartéis, segundo ouvia comentar na altura, metiam-se corpos em bidões soldados, pois já não avião urnas para todos, e acho piada que eram os comunas e os socialistas, e nós é que la defendia-mos o QUÊ, a já me esquecia a dignidade, qual a dignidade,com que somos tratados, quem reconhece tudo o que lá se sofreu, eu sempre preferi ser COVARDE vivo do que HERÓI morto ou, esta é a verdadeira situação, que lá vivi. Quanto ao Manuel Alegue, que na altura lembro-me que estava na "VÓS DA LIBERDADE" rádio que já cá ouvia, e era ele uma das vozes, não me parece ser verdade o que diz. Muito embora hoje o considere como a muitos outros, quem mais veneficios está a tirar com a liberdade, mas isso já são outras contas e não quero ir por ai!!!!!!

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    1. Iso é uma mentira, e, na qualidade de 2º ten Fuzileiro, posso afirmar que a Guerra nunca esteve perdida na Guiné.
      Agora, que haviam muitos covardes, isso é uma verdade, e o 25 de Abril veio a calhar para esses covardes, tanto que, eu próprio, lhe chamo a "Revolução dos Covardes".
      Lembro-me de ter desembarcado o capitão Otelo, para executar um golpe de mão, e ele não saíu do mesmo sítio, tendo sido recebido em Bissau, pelo Gen. Spínola à pananada de bengalim...!!!
      Cunha Leão
      2º ten. Fuzileiro

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    2. Mentira é o que diz: Como já disse não é verdade que o M.Alegre lá estivesse! 72/74 eu estava lá e além de muitas outras coisas, passei fome. É muito lindo estar em BISSAU, e comer do bom e melhor, pois tinha amigos nos fuzileiros e sei como era. nunca me considerei "COBARDE", mas se não tivesse sido obrigado a ir, não ia, pois já na altura tinha a noção do quanto era injusta aquela "GUERRA", outros já não dirão o mesmo. Mas enquanto lá estive servi o "PAIS" com dignidade, embora com muito sofrimento, não lhe reconheço autoridade para classificar de "COBARDES", quem deu parte da sua juventude, numa guerra para benefícios de alguns, incluindo colegas que infelizmente por lá tombaram, outros com deficiências para toda a vida. E com o reconhecimento do "DESGOVERNO" de tudo o que lá se sofreu, e não é reconhecido, por quem de direito.
      José Pinto

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  16. Gostava só de dizer que em 1973, a mortandade era tal, que se dizia que não haviam urnas na Guiné, e os corpos eram metidos em "BIDÕES" soldados, abatiam-se aviões, helicópteros, éramos flagelados com foguetões. Em 73 tivemos a artilharia todo o dia a bombardear, os aviões, foi realizada uma operação de seguida, o fugachal era tal, que foram, uma quantidade de mortos, e ao cair da noite ainda fomos flagelados, com 21 foguetões, tudo isto numa guerra que segundo diz, estava ganha, muitas vezes pergunto!! "PORQUÊ" e para quem, certamente para alimentar muito boa gente, a mim não, muitos que se intitulam de herois certamente colhem benefícios desse heroísmo. A mim só as amizades me deixam saudades.

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  17. Não lhe reconheço autoridade para falar em "COBARDIA", morreram muitos colegas meus, e merecem respeito, em relação a mim, não lhe vou lembrar o que certamente não entende, só um pequeno pormenor. (EU CHOREI COM FOME NA GUINÉ), certamente não foi o seu caso?????

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  18. Fui condecorado mais que uma vez, consta da minha caderneta militar, se isso é cobardia, eu já venho.

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  19. ZECA
    EU, fui 2º tenente Fuzileiro, e não estava só em bissau, como referiu injustamente.
    Participei em inumeros combates, tanto em terra como em lanchas, e, a lancha LDM 302 ardeu e explodiu em combate, ... consulte o e-mail, ... comandada por mim que seguia, por simples acaso, na LDM 305.
    Não me portei como cobarde, nem admito tal insinuação.
    Fiz muitos desembarques, golpes de mão, prisioneiros, e matei inimigos que me apareciam a menos de 5m de distancia.
    Parece que você não sabe nada sobre tropas especiais, ... provavelmente refugiou-se num qualquer aquartelamento, e de lá não saia de là durante duvidosos ataques de despejo de munições.
    Francisco da Cunha Leão
    Ex 2º ten Fuzileiro

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  20. ZECA
    A acrescentar o meu comentário, devo referir-lhe que, na altuar, morria mais gente nas estaradas em Portugal Continental, do que nas 3 frentes de combare em África.
    então, porque não se proibiram os autmóveis no País...???
    Quanto às condecorações, possuo a "Cruz de Guerra", o que representa a minha actividade.
    Ex 2º Ten Fuzileiro
    Francisco da Cunha Leão

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  21. Não fui eu que chamei de "COVARDES", certamente sabe quem utilizou essa frase!!!!, longe de mim fazer tal afirmação, pois todos noz temos de tudo um pouco. Não tinha nem tenho como sabe conhecimentos sobre tropa especial, mas sei que vocês tinha condições, que a tropa "MACACA" como éramos classificados, não tinha. Também sei que a tropa macaca, normalmente abri caminho, depois aparecia a tropa especial, também sei que se fossem para o mato, 15 dias estavam 2 a 3 meses em BISSAU, no mato não tinha-mos "Self Service, reconheço que nós é que estávamos mal. Acredito que tenha passado por más situações, como em cima descreve, todos mais ou menos passaram, uns mais outros menos, felizmente passaram, muitos ainda sofrem, por tudo isto peço muitas vezes que se tenha respeito por que lá sofreu.
    Quanto ao morrer mais gente nas estradas na altura que na guerra, desculpe é diferente, guerra vamos defender na altura, não sabia-mos o quê, para quê!!!!. Já fez um comentário, que viu o que defendia-mos, os colonos nos mandavam para a Metrópole, por tudo isto é quem lá esteve sabe, que os colonos não gostavam dos militares, mais tarde, veio a verificar-se, ao serviço de quem estávamos.
    Já aqui disse que só fui obrigado, se não, não ia, servi o melhor que sabia, nunca desonrei a farda que vesti, tenho "ORGULHO" de ser Português, quem nos têm governado nunca reconheceu os "EX COMBATENTES" hoje reconhece-se, que ganha bom dinheiro, e vamos continuar a dizer que era justa, e que África não é dos Africanos. Saudações a todos que por lá sofreram.
    Abraços.

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    1. Zeca
      Ficaria muito satisfeito se aceitasse um ABRAÇO meu.
      Ambos somos ex-combatentes, e considero que terá feito mais sacrificios do que eu, pois que, a vida no mato, não era para brincadeiras, e, ao contrário, eu, em Bissau era tratado como um principe, e só pssava maus bocados quando saia de Bissau, e nem sempre.
      Aproveito para o informar que existiu muita inter-ajuda entre mim e a malta do exército, que muito apreciei.
      Numa altura, estava perto, e ouvi um pedido de ajuda urgente, ... e quando cheguei ao local, éramos 12 homens, vi os rapazes do exército à coronhada com o PAIGC, perante a situação não exitei em abrir fogo, o inmigo, que também estava sem munições, pos-se em fuga, e tratamos dos feridos que nem acreditavam no que se passou.
      Noutra altura, foi o contrário, seguia com duas lanchas para Bibum, num afluente do rio Cacheu, e fui eu que, perante a violencia de fogo inimigo, pedi à artilharia de bissum que bombardeasse a zona, pois eu não estava a conseguir dar resposta.
      Coisas destas passaram-se, e devemos curtir amizade, pois só quem lá esteve, é que compreende certos sacrifícios.
      Também uma vez, numa operação conjunta, um elemento do exército levou um tiro no estomago, e era necessário estar constantemente a meter-lhe sangue, recolhido de todos nós, mesmo durante as emboscadas em que caímos, 8 ao todo, e o helicóptero não podia reclher o homem devido às emboscadas constantes, tendo-se combinado que seguriamos para Bigene, onde o helicóptero podia esperar em segurança.Este homem, já pedia que o deixassem, e, contrariamente a tudo, ele safou-se no hospital de Bissau. Quando ele me apareceu, no aquartelamento de fuzileiros, eu nem queria acreditar.
      Abra o site LDM 302, insisto, e aquilo não foi escrito por mim.
      Tanta coisa que se passou ... olhe ... um grande abraço.
      O meu email é: "cunhaleao@sapo.pt", para qualquer contacto que queira fazer quando vier a Faro.
      Um abraço sincero
      Francisco da Cunha Leão

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  22. Já estive num convívio, em Tavira mesmo na ilha, que é muito linda, pois noz realizamos este ano o XXVI, que foi realizado na Trofa, pode quem sabe, um dia realizar-se, para esses lados, quem sabe.
    Quanto a tudo o resto, a maior felicidade que podemos ter é ter saude, tudo o resto é passado, passado, que apesar de tudo, recordo pelas grandes amizades que por lá se fizeram, deve concordar comigo!!!.
    Todos noz, sem culpa nenhuma, fomos e sofremos cada um sabe o que sofreu, sem o devido reconhecimento, isso é que me choca, mas não culpo o Pais, pelas atitudes de quem nos têm governado!!!.
    Deve concordar comigo, já que falou em hospital, que metia dó a quem lá ia, homens de 2O e poucos anos muitas vezes no estado em que estavam. Eu ainda em Lisboa fui ao anexo da estrela, visitar um amigo,e já na altura me indignei, e para "QUÊ" "PORQUÊ", e veja a ingratidão de quem sempre nos governou????. eu digo se procura "GOVERNAR".
    Aceite um grande abraço deste Camarada de luta.
    Zeca Pinto.

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  23. Muito interessante este documentário. Faltou apenas e só, comentar o descalabro de MILHÕES de vidas destruidas, depois da abrilada. Faltou apenas e só, referir que quem comandava as companhias de tropa de quadrícula, eram os Alferes MILICIANOS, enquanto os CAPITONZECOS, SE PAVONEAVAM PELAS CIDADES A CONSPIRAR E NO ENGATE. Faltou apenas comentar, o que estes conspiradores de meia tigela ( alguns infelizmente ainda vivos) qual o apoio que deram, aos "seus" soldados, sem os quais não tinham ferro ao peito ? O que estes (agora)coroneiszecos de meia tijela, têm feito pelos COMBATENTES?
    Finalizando, apenas vos digo: ESCROQUES, LIMPEM AS MÃOS Á PAREDE. Vejam como a NAÇÃO está e sendo vós, os maiores culpados, deviam ter VERGONHA.
    José Lucena Pinto
    Mar. FZE 476/68
    DFE 9 - Moçambique 69/71
    EMA- DGS -PIM/SIM - Nampula 73/74
    Associado Nº 26 da Associação de Fuzileiros

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