CONSULTAS

Para consultas, além da "Caixa de pesquisa" em cima à esquerda podem procurar em "Etiquetas", em baixo do lado direito, ou ver em PÁGINAS, mais abaixo ainda do lado direito, o "Mapa do Blogue"

Este blogue pode ser visto também em

26 de setembro de 2011

264-Ataque a Cumbamori

Do livro "De Campo em Campo, Conversas com o Comandante Bobo Keita", de Norberto Tavares de Carvalho: 
(Não é, obviamente, a operação Ametista Real. Terá sido uma das operações do COP3. Agradeço que quem a consiga identificar me dê essa indicação para aqui a referenciar) Grato ao Francisco Teixeira, que "ouviu" este meu apelo e fez um comentário que eu coloco aqui, porque me parece importante para mais esclarecimento:  "O ataque a Cumbamori a que se refere, aconteceu em 11 de Dezembro de 1967. Tivemos, de facto, 4 mortos que tivemos de abandonar no terreno porque sofremos onze feridos, dois em estado grave que tiveram de ser transportados em macas ao longo de cerca de 20 kms, distância até Guidage donde partíramos. O assalto foi feito pelos Roncos de Farim e pelo meu pelotão. O In teve bastantes mortos - a surpresa do ataque foi total - e quando tentou cercar-nos com um grupo de cerca de 12 elementos, na retirada, sofreram uma emboscada de dois pelotões da CCaç.1546 a que eu também pertencia, sofrendo pelo menos 3 mortos que ficaram no terreno.. Francisco Teixeira-Alf. Miliciano 031233/64. Nome da operação: Chibata"
Há um comentário )de quem? Gostava de saber...) que também acho pôr aqui: umAnónimoMar 14, 2012 07:00 PM
"O ataque ao campo fortificado de Cumbamori foi, de facto a 11 de Dezembro de 1967. Iniciou-se às por volta das 5 horas da madrugada mas a surpresa do mesmo não existiu. Dias antes, aquele local foi sobrevoado várias vezes por um avião de reconhecimento da FAP. As forças do PAIGC estavam avisadas e preparadas para uma eminente intervenção do Exército Português. Foram Os Roncos de Farim,comandados pelo Alf. Mil. Morais Sarmento, que procederam ao assalto, depois de conduzidos ao local por uma mulher prisioneira. Apoiados por um poletão de uma Unidade que não recordo, instalado a cerca de 3 km a norte de Cumbamori (que teve contacto com as forças inimigas) e da Companhia que estava instalada em Binta que fez cordão de detenção a sul, já no território da ex-colónia. Nenhuma desta forças tomou contacto com os Roncos que iniciaram a retirada por volta das 10,30h. Sem qualquer apoio de outras forças, nomeadamente da FAP, completamente abandonados à sua sorte, Os Roncos tiveram de abandonar 4 mortos no teatro de operações e de transportar 15 feridos e 2 prisioneiros ao longo de vários quilómetros,em território senegalês, até Guidage. Notícias posteriores confirmaram um número elevado de baixas causadas ao inimigo. Operação mal planeada por gente sedenta de medalhas e outras honrarias, foi mais uma página sangrenta da Guerra Colonial na Guiné e uma dor profunda e eterna para os familiares daqueles que nela pereceram."

«Capítulo 1. A batalha de Cumbanghor (ou Cumbamori)

Esses dirigentes combinaram encontrar-se connosco em Cumbaghnor para discutirem uma melhor organização das operações. Foi no dia em que a minha primeira filha N'Bália, a quem pus o nome da minha falecida mãe, completou sete dias depois do seu nascimento. Naquela tarde muita gente estava ali presente para a formação dos camaradas. Com o reforço das novas armas, planeava-se a reestruturação da forma dos ataques aos barcos portugueses com as armas que acabavam de chegar. A ideia era, depois de redefinidos os critérios normativos e as estratégias das acções, concentrar uma equipa no rio Farim e dar luta cerrada aos barcos portugueses. Nessa altura eu é que comandava a Frente Norte e a Unidade designada para essa operação era comandada pelo Irénio Nascimento Lopes.
Não sei como é que os Tugas souberam daquela concentração - tinham de certeza informadores bem situados. Só que, por acaso, não sabiam o número de homens que se tinha reunido no local. Estavam ali concentrados mais de duzentos combatentes. Outros até dormiam nas barracas perto da fronteira. Os Tugas foram guiados por alguém que conhecia muito bem a zona. Porque em vez de nos atacarem vindos da Guiné Portuguesa, deram a volta e foram concentrar-se na fronteira do Senegal. Daí marcharam para Dentro. Os camaradas não os viram chegar pois nunca desconfiavam que os Tugas poderiam atacar do extremo norte para Dentro.
Avançaram e, muito engenhosamente, conseguiram desarmar e apanhar alguns dos nossos. Envolveram-nos literalmente numa cortina de camuflados. Houve então um momento de confusão onde se ouviram gritos de «Tugas! Tugas!». Capturaram-nos logo, mais de dez homens. Um deles conseguiu libertar-se e fugiu-lhes das mãos. Aí os Tugas começaram a disparar. «Mas o que é que se passa?» - ouviam-se vozes dos camaradas. Já era de madrugada, por volta das seis da manhã. Depois de passado o efeito dos primeiros minutos e de termos dominado o pânico, começámos então a organizar-nos para replicar contra o ataque. Para complicar ainda mais a situação já caótica, de longe começou a sobrevoar uma avioneta e pensámos logo que a PIDE/DGS também fazia parte do assalto porque era o estilo deles. A manobra era típica e estávamos habituados a associar o ruído longínquo das avionetas às acções da PIDE/DGS. Mas acabámos por nos convencer de que os disparos vinham da pradaria e não dos ares. Os Tugas estavam no chão! Os tiros prosseguiram, havia camaradas capturados que depois conseguiram escapar-se, outros não. Avançámos então ao encontro dos portugueses.
Houve fogo concentrado e depois de intenso tiroteio dum lado e doutro, os Tugas resolveram bater em retirada deixando no chão cerca de quatro cadáveres em cima de um dos depósitos onde guardávamos as armas. Os camaradas que conseguiram escapar julga­ram que indo para a fronteira do Senegal estariam ao abrigo, só que tiveram de novo o azar de se cruzarem com os Tugas que batiam em retirada. Foram apanhados entre dois fogos. Perseguimos os Tugas que nos lançavam bazookadas enquanto se retiravam. O Julião Lopes apanhou um estilhaço perto do olho, o Queba Mané correu para a fronteira onde apanhou um tiro e morreu. Foi a única baixa mortal que tivemos nesse dia, o resto eram feridos, mas em número relativamente importante.
Enterrámos o Queba aí mesmo. Na mesma tarde, os Tugas bombardearam intensivamente a zona com canhões de longo alcance. Obuses que pareciam chover do céu. Preocupava-me com o evoluir da situação pensando na M'Bália, que, no colo da sua mãe, estava longe de imaginar em que mundo se encontrava. As duas não se mexeram da base até a calma ter voltado.
Aquela batalha foi terrível, foi mesmo um grande momento da nossa luta de libertação. Tivemos sorte naqueles dias porque estavam ali mais de duzentos homens. Nós estávamos habituados a movimentar­-nos em pequenos grupos, por isso éramos guerrilha. Combater num comando com mais de duzentos homens necessitava de uma outra estratégia. Mas, enfim, conseguimos puxar os Tugas para fora da frente em que nos encontrávamos. Os comandantes presentes no local fizeram valer as suas técnicas de organização nos combates e cada um pegou num grupo de homens e avançou contra o inimigo.
Resolvemos, então, intensificar a formação dos camaradas.
Trabalhámos todo o resto do dia e formámos novos grupos que logo de madrugada foram instalar-se no rio Farim.


FARP, exercício de treino militar
Foto: Arquivo Amílcar Cabral/Fundação Mário Soares

As coisas eram assim mesmo: ataque inimigo, contra-ataque da nossa parte e vice-versa. A Iuta não foi fáciI...
Como dissera, a frente estendia-se de Varela a Djumbembem. Estávamos aí olho por olho dente por dente com as guarnições do exército colonial que disputavam connosco a primazia daquela frente. Compreendemos que aquele que tomasse a iniciativa em primeiro lugar recolhia vantagens sobre o outro. Foi assim que, pouco depois da batalha de Cumbaghnor/Cumbamori, preparámos uma operação de represália contra eles. O quartel de Ingoré era o nosso objectivo.
Antes de partir para essa operação, apareceu-me o camarada Joaquim Furtado, Nini, que se dirigia para Ziguinchor. Em Samine informaram-no de que eu me encontrava nas matas à espera da hora de atacar o quartel de Ingoré. Foi ter comigo no comando da operação e embora vendo que estava ocupado insistiu em falar comigo. Disse-lhe para me esperar na base pois ia realizar uma operação e que logo que regressasse poderíamos então conversar. O Joaquim Furtado não quis ficar, disse que ia connosco. Eu disse-lhe que ficasse, que aquilo não iria demorar muito. Queria ir comigo e insistiu tanto que tive que o aceitar no grupo. À hora marcada começámos então o assalto ao quartel de Ingoré. À ordem de atirar, abrimos fogo intenso. Depois do efeito surpresa, os Tugas reagiram também com fogo cerrado.
Mantivemos o ataque durante um bom momento e depois resol­vemos bater em retirada, pois o objectivo da operação, que era simplesmente de flagelar a posição inimiga, fora atingido. O quartel estava a arder. O ataque tinha também a finalidade de nos anteciparmos à organização de um vasto assalto que o inimigo pretendia fazer, segundo informações que tínhamos, a partir desse quartel, contra as nossas bases.
No movimento do recuo organizado, o Joaquim Furtado apanhou um estilhaço de morteiro na coluna. Levámo-lo logo ao ponto de concentração, onde estava um médico que lhe deu os primeiros socorros.
Já de madrugada metemo-lo numa ambulância para Ziguinchor, onde foi internado, tendo sido mais tarde evacuado para Dakar.
O Hospital de Ziguinchor recebia todos os doentes e feridos da Frente Norte e do Chão Manjaco. Os que precisavam de tratamentos mais especializados eram evacuados para Dakar. Os que deviam seguir para a Europa, dado o estado grave dos ferimentos, eram enviados para os países que nos apoaivam, ou seja, os países do Leste Europeu. Foi o meu caso, mais tarde, quando fui ferido em combate ...
E foi nesse ataque ao quartel de Ingoré que o Joaquim Furtado, Nini, cuja participação nem estava prevista, ficou para sempre paralisado. Depois de ter recebido o tratamento, conseguia deslocar-se mas com extrema dificuldade. Não posso dizer que foi teimosia da sua parte, mas se me tivesse escutado ...
Eu disse-lhe antes do ataque: "Olha, nós já fizemos o reconhecimento e conhecemos todos os detalhes do percurso, da ordem em que vamos atacar e do momento da retirada. Tu não és da zona e não conheces este terreno, fica aqui e aguarda o meu regresso." Mas ele insistiu ... Quando apanhou o estilhaço do morteiro, caí logo em cima dele e gritei-lhe para não se levantar. Fiquei aí com ele porque o tiroteio dos Tugas intensificara-se enquanto nos retirávamos. Só quando as balas diminuíram de intensidade é que o consegui carregar e avançar com ele às costas para uma zona segura. É preciso saber que, no momento da retirada de um ataque, costumo ordenar a retirada primeiro das forças do flanco esquerdo, depois as do lado direito e finalmente as do meio. O Joaquim Furtado, que se encontrava no flanco central, quando se levantou para se retirar, recebeu o projéctil na coluna e isso imobilizou-o imediatamente. Ficou paralisado.
A luta na fronteira era difícil. Porque, às vezes, os portugue­ses atravessavam todo o Norte e iam fechar a estrada que ligava Sa­mine a Kolda. Uma vez chegaram mesmo a atacar uma tabanca senega­lesa e daí levaram porcos, vacas, carneiros. Levaram tudo para os seus quartéis em Bigene. Nós fomos interceptá-los já perto de Bigene. Andavam confiados, seguros de que já não havia perigo ne­nhum. Surpreendêmo-Ios e conseguimos recuperar todo o gado rou­bado às populações da zona fronteiriça de léram, Cumbaghnor/Cum­bamori, etc.

NB - Da CART1690 houve 15 elementos que foram evacuados para o HMP de Lisboa por motivo de doença. Dois exemplos de uma das razões disso: o destacamento de Banjara esteve, em certa altura, com dois meses sem abastecimentos, devendo os seus ocupantes desenrascarem-se comendo macacos e cobras; quanto à água, porque só havia fora do arame farpado, estabeleceu-se tacitamente uma escala: num dia iam os do PAIGC da zona e noutro dia iam os nossos buscá­-Ia [ver "Um dia em Banjara"]; em Barro, quando as barcaças demoravam muito tempo a trazer-nos os abastecimentos pelo Cacheu, tínhamos de ir "caçar" as vacas que o PAIGC tentava levar do Senegal para o Oio - era uma forma de poder comer de jeito.

A. Marques Lopes, ex-Alf.Mil.At./nf., CART 1690/CCAÇ 3, actualmente Cor. DFA reformado. www.tabancapequenadematosinhos.blogspot.com 29.03.2009.

Tínhamos uma unidade que controlava Guidage e Binta. A base de Sambuiá controlava Bigene e Ingoré, e a base de S. Domingos controlava S. Domingos, Apidjo e Suzana. Não dávamos muita importância a Varela porque ali não havia tropa portuguesa.»

2 comentários:

  1. O ataque a Cumbamori a que se refere, aconteceu em 11 de Dezembro de 1967. Tivemos, de facto, 4 mortos que tivemos de abandonar no terreno porque sofremos onze feridos, dois em estado grave que tiveram de ser transportados em macas ao longo de cerca de 20 kms, distância até Guidage donde partíramos. O assalto foi feito pelos Roncos de Farim e pelo meu pelotão. O In teve bastantes mortos - a surpresa do ataque foi total - e quando tentou cercar-nos com um grupo de cerca de 12 elementos, na retirada, sofreram uma emboscada de dois pelotões da CCaç.1546 a que eu também pertencia, sofrendo telo menos 3 mortos que ficaram no terreno.. Francisco Teixeira-Alf. Miliciano 031233/64. Nome da operação: Chibata

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. O ataque ao campo fortificado de Cumbamori foi, de facto a 11 de Dezembro de 1967. Iniciou-se às por volta das 5 horas da madrugada mas a surpresa do mesmo não existiu. Dias antes, aquele local foi sobrevoado várias vezes por um avião de reconhecimento da FAP. As forças do PAIGC estavam avisadas e preparadas para uma eminente intervenção do Exército Português. Foram Os Roncos de Farim,comandados pelo Alf. Mil. Morais Sarmento, que procederam ao assalto, depois de conduzidos ao local por uma mulher prisioneira. Apoiados por um poletão de uma Unidade que não recordo, instalado a cerca de 3 km a norte de Cumbamori (que teve contacto com as forças inimigas) e da Companhia que estava instalada em Binta que fez cordão de detenção a sul, já no território da ex-colónia. Nenhuma desta forças tomou contacto com os Roncos que iniciaram a retirada por volta das 10,30h. Sem qualquer apoio de outras forças, nomeadamente da FAP, completamente abandonados à sua sorte, Os Roncos tiveram de abandonar 4 mortos no teatro de operações e de transportar 15 feridos e 2 prisioneiros ao longo de vários quilómetros,em território senegalês, até Guidage. Notícias posteriores confirmaram um número elevado de baixas causadas ao inimigo. Operação mal planeada por gente sedenta de medalhas e outras honrarias, foi mais uma página sangrenta da Guerra Colonial na Guiné e uma dor profunda e eterna para os familiares daqueles que nela pereceram.

      Eliminar