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21 de março de 2012

423-I Festival Internacional de Jazz de Cascais, 20 de Novembro de 1973

In "Avante" nº 436, Dezembro de 1971:
«(...)
Finalmente o pai do free-jazz subiu ao palco, acompanhado por Dewey Redman (saxofone tenor), Charlie Haden (contrabaixo) e Ed Blackwell (bateria), e foi, na opinião de Leonel Santos, «caótico, demolidor, free!», embora os seus sons «ruidosos» tivessem provocado nova debandada entre o público. Tito Lívio caracterizaria no jornal República a música de Coleman, considerando-a um «jazz sem regras, severo, anti-superficial, o destruir das linhas harmónicas, a arritmia».
Mas além da música, este concerto faria história quando a dado momento Charlie Haden se curva para o microfone usado para amplificar o seu contrabaixo e dedica o tema «Song for Che» aos movimentos de libertação dos negros em Angola e Moçambique. «Quando o Charlie Haden leu a mensagem, as pessoas nas bancadas levantaram-se como uma mola e ergueram os punhos em saudação comunista», recorda João Braga. 
Entretanto, à frente de uma dessas bancadas, pendiam já dois panos com as inscrições «Guiné Livre» e «Abaixo Guerra Colonial», que uma fotografia inédita de Augusto Mayer permite agora revisitar pela primeira vez. No exterior do Pavilhão do Dramático estavam posicionadas duas camionetas com polícia-de-choque e pouco tempo depois o Comandante da PSP de Cascais ameaçava João Braga, ordenando o fim do espectáculo. «Ele disse-me: “Acabem já com isto ou faço entrar esta malta!”, ao que eu respondi: “Faça favor, o palco é todo seu, mas cuidadinho que as cadeiras não estão fixas ao chão…».
O espectáculo prosseguiu.
A imprensa «oficial» ignorou por completo o incidente (a censura não perdoava…), à excepção do Diário de Lisboa onde, nas entrelinhas de um artigo de José Jorge Letria (que entrevistara Haden já nas vésperas da sua actuação e o questionara sobre a possibilidade de o jazz poder ser uma forma de actuação política…), se podia perceber que algo mais do que jazz se passara no Dramático: «Quem é que não sentiu um nó na garganta com a violência (negra) do quarteto de Ornette Coleman? Quem é que não estremeceu ao ver o punho cerrado de Dewey Redman (…) bem erguido no ar, no final da sua actuação? E éramos todos os acusados»… Este evento não deixou porém de ser noticiado nos órgãos clandestinos, como a Rádio Portugal Livre (emitida em Onda Média a partir da Argélia) e o jornal Portugal Democrático, que informava que «no Festival de Jazz de Cascais um dos músicos americanos dedicou um número aos Movimentos de Libertação de Angola e Moçambique. Apesar de falar em inglês, as suas palavras foram traduzidas pelas pessoas que entenderam e a sala quase veio abaixo com os aplausos. No final do espectáculo, ao regressar ao seu camarim, era ali aguardado por agentes da PIDE que o intimaram a deixar imediatamente o País. Foi forçado a seguir de Cascais para o aeroporto e embarcar no mesmo dia».

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