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4 de janeiro de 2011

33-Os cinemas

Todos nós tivemos os paliativos ou as formas de escolha possível para animar a mente em cada fase da nossa vida, para diluir tristezas, adormecer ideias ou maus pensamentos, esquecer amores ou amarfanhar desejos. Também tivemos ou escolhemos meios para criar alegrias e sonhos, espevitar amores e desejos, intervalar obrigações ou deveres com o esquecimento deles.
Era bom poder fazer isso. Quando não se podia era pior.
No meu tempo da “pirata assada”, as minhas preocupações ou tormentos de criança desapareciam nas salas do Cinema Europa e do Cinema Paris. Que bom que era o “Facho e a Flecha”, o “Pirata Negro”, ou outros do género ou de cóbóis, bater palmas e gritar “vem aí o rapaz!”. Ou aquele dos indianos no “Prestígio Real”, e mesmo um em que tive de usar uns óculos de cartão para ver melhor. As reguadas e castigos da escola, as reprimendas e ralhos em casa, não andava ali nada disso.
Às vezes, com a Maria João, a Maria Emília ou a Zélia, só por tê-las a meu lado, já afagava aí os amores infantis criados no Jardim da Parada ou no Jardim da Estrela.
Depois fui para o seminário e tudo mudou. Nunca mais vi desses filmes que adorava. Ainda nos puseram a ver "Os Dez Mandamentos", mas não era a mesma coisa, não podia gritar, porque o Moisés não se parecia nada com o "rapaz", além de que não tinha a meu lado os meus amigos e amigas dos jardins. Um dia deram o "Sansão e Dalila", mas acabaram-no a meio. Foi quando a Dalila se atirou para cima do Sansão, acenderam as luzes e disseram que não havia mais. Fiquei chateado porque até estava a gostar. 


E agora? O que eram estes cinemas para mim evacuado?
Eram para não ter nada. 
Os que estavam ao meu lado não falavam, e eu também não lhes ligava.
Vi montes de filmes de guerra, de cowboys e policiais, mas os meus ouvidos tapados diziam-me que os tiros eram muito longe.
Além disso, não ouvia G3, kalshnikovs, ppsh, nem rpg2 ou rpg7, nem morteiros nem minas. Não tinham nada a ver comigo.
O inimigo, os índios e os bandidos não eram pretos. Eu não tinha nada a ver com eles.
Por mais que fizessem não provocavam que me atirasse para o chão.
E saí sempre dos cinemas com vontade de encontrar, então, alguma coisa nos bares... ou em casa da Júlia.

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