Apresentei-me na Repartição de Pessoal do QG de Bissau. Disse-me o capitão que lá estava, não sei o nome, nem quis saber:
- Você vai ser colocado na CCAÇ3 que está em Barro, ao pé do Senegal. É uma companhia do recrutamento da Província.
Abri a boca de espanto.
- Mas, meu capitão, eu vim do hospital da Estrela. Não estou em condições de ir para uma companhia operacional.
- É pá, o chefe da Repartição decidiu assim. Há um alferes de lá que teve de ir para o hospital e tem de ser substituído urgentemente. Tem de ser.
- Mas eu estou à rasca dos ouvidos. Como é que vai ser?
- Paciência, nosso alferes. Amanhã, logo de manhã, sai uma DO para levar os frescos e o correio e você vai nela. O capitão de lá já sabe.
Estava feito. Que fazer? Nada, não pude fazer nada. Apenas ficar furioso e desforrar-me nuns whiskys no bar de oficiais.
Na manhã seguinte lá parti nesta do-27, que acabei por ver outras vezes, quando ela aparecia lá em Barro.
Vi, pela primeira vez, a paisagem aérea da Guiné. Quando o piloto me disse que sobrevoávamos o rio Cacheu perto de Barro tirei umas fotografias.
Nunca tinha visto nada assim. O rio pequenino a serpentear com as bolanhas largas por companhia, a imagem longínqua das matas cerradas, eram uma sensação de maravilha e admiração pela natureza, incutiu-me um sentimento de sossego e paz, e também de domínio. Diferente das emoções que já sentira lá em baixo, ao virar apreensivo as curvas do rio Geba, ao atravessar receoso o rio Gambiel, ao calcorrear as matas à volta de Sinchã Jobel e do Oio. Ao ver e sentir a morte.
- Estamos a chegar.
O piloto avisou-me. Estava ali a pista.
Deu mais umas voltas para apontar a aterragem. Este é o quartel, disse-me ele.
Esta fotografia deu-me alguns problemas mais tarde. Quando o rolo veio da Foto Iris já revelado, o capitão Olavo quis confiscá-la, porque era perigosa se caísse nas mãos do IN. Deu-me para rir. Perguntei-lhe se ele achava que eu, que tinha sido ferido e quase morrido por acção do IN, estava feito com ele. Não sei se o convenci ou se lhe prevaleceu o bom senso. Garanti-lhe que era uma recordação minha que ia ficar guardada dentro da mala debaixo da minha cama.






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