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19 de janeiro de 2011

40-Reunião do Conselho Superior de Luta do PAIGC

Inocêncio Cani, na Academia da Marinha da ex-URSS
A reunião do Conselho Superior da Luta do PAIGC estava no auge. Na sua ordem de dia figurava uma única questão, mas bastante desagradável a abordar. Trarava-se de apreciar o não cumprimento de ordens e a indisciplina de alguns membros do Partido, três dos quais pertenciam ao Conselho Superior da Luta (CSL). Amílcar Cabral fazia uma intervenção em que dizia : “ Quero informá-los de factos lamentáveis que aconteceram no nosso trabalho. Alguns camaradas, enviados para cumprir  o seu serviço na marinha, ignoram na realidade as resoluções do Partido e não cumpriram a missão que lhes fora confiada. Um deles, Inácio Soares da Gama era membro do CSL, o outro, Inocêncio Cani, está aqui presente. (...).” Ao terminar, Amílcar Cabral sentou-se e debruçou-se sobre os papéis que tinha na sua frente, depois levantando a cabeça notou o olhar de José Pereira.
- “ O camarada Pereira quer dizer alguma coisa? Fala Zé!”
José Pereira levantou-se, arranjou o cinto e veio para o meio da sala. José Pereira gagueja sempre um bocadinho, mas neste momento, por estar excitado gaguejava mais que habitualmente.
- “O camarada Secretário-Geral (...) disse a verdade sobre as relações entre as pessoas, sobre a necessidade de criticar e auxiliar todos aqueles que cometem erros. Mas não estou de acordo de proceder desta maneira quando se trata de pessoas como Inácio Soares da Gama e Inocêncio Cani. Não é a primeira vez que ambos são criticados numa reunião da direcção do Partido. Lembrem-se que em 1968 a direcção retirou o  Inácio da região de Quitáfine por ele não querer ouvir os conselhos do Comissário Político. O Comissário era na altura o camarada Pascoal Alves aqui presnte. O que aconteceu então ao Inácio Soares da Gama? Enviaram-no para o estrangeiro tirar um curso de marinha. Achámos que era necessário e conveniente enviá-lo por dois anos. Tornou-se especialista. E qual foi o benefício que o Partido recebeu com isso, se como disse o camarada Secretário-Geral, praticamente ele desertou da nossa armada? E Inocêncio Cani? Recebeu um posto importante depois de terminar o curso. Comandou os nossos barcos de guerra, devia ensinar e educar os nossos marinheiros, mas não justificou a nossa confiança. Tivemos de lhe retirar o cargo o ano passado. Bem, talvez ele nessa altura se tivesse enganado. Mas agora, passado ano e meio, foi necessário mais uma vez debruçar-nos sobre a conduta de Inocêncio Cani. Que comandante é este, que se comporta grosseiramente com os seus subalternos? Como pode ele ser membro do Comité Executivo da Luta? Também não podemos esquecer o motivo pelo qual Cani foi afastado em 1968, do seu lugar de comandante duma das regiões do norte do país. O Presidente dos Comités partidários das tabancas dessa região queixou-se então da sua conduta grosseira. Inocêncio é uma nódoa no nosso Partido, no nosso Exército e a meu ver ele continua na mesma linha. Se não tomarmos medidas severas isto pode acabar muito mal. Eu sou pela expulsão do camarada Inocêncio Cani do CSL.” Zé terminou e sentou-se na cadeira agarrando-se aos joelhos. Sentado ao lado, Constantino dos Santos Teixeira bateu-lhe no ombro, dizendo : “Bravo Zé, é assim mesmo.”
Ignatiev, Oleg , Três Tiros da Pide, Prelo Editora, Lisboa, 1975.

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