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21 de junho de 2011

203-As batalhas de Bissau

Em 5 de Dezembro de 1707, um despacho do rei D. João V manda demolir a fortaleza então existente em Bissau, por falta de condições e de guarnição para poder resistir à “rebelião dos indígenas”.
Em princípios de Janeiro de 1753 sai de Lisboa a nau N.ª S.ª da Estrela, acompanhada de um aviso e mais dois navios, em missão de soberania para a praça de Cacheu. No entanto, teve de parar em Bissau a 9 de Fevereiro, a fim de socorrer o capitão-mor Nicolau Pino de Araújo que aí se encontrava cercado. Este, muito mais tarde (não havia telefones, telégrafos e, muito menos, internet…), em 25 de Dezembro de 1754, pede ao Governador Geral de Cabo Verde que lhe envie um engenheiro para a reconstrução da fortaleza, e trabalhadores para tal. Dizia também que precisava de gente para a guarnição, dado que “eram insuficientes os naturais de Cabo Verde ali residentes”. Como se vai ver, a resposta também veio tarde.
A 6 de Dezembro de 1765 chegam a Bissau a fragata N.ª S.ª da Penha de França, a corveta N.ª S.ª da Esperança e mais cinco navios. Da corveta N.ª S.ª da Esperança desembarcaram, além de materiais de construção, para trabalhar nela 450 soldados retirados da Ilha de S. Tiago de Cabo Verde e 270 “vadios e criminosos” também com eles embarcados. Terra de degredados, estes tiveram intervenção em alguns episódios da história da colonização da Guiné, um já a seguir. Em 1 de Janeiro de 1766 começaram os trabalhos da construção da que foi a terceira fortaleza de Bissau, sendo autor do projecto o tenente-coronel Manuel Germano da Mata, capitão-mor da Praia, e tendo envolvido, ao todo, 1.400 trabalhadores e 2.500 soldados. Até à sua conclusão, em 1775, calcula-se que morreram mais de 1.000. À fortaleza foi dado o nome de S. José de Bissau, em homenagem ao rei D. José (que não foi nada santo…).
Em 13 de Abril de 1811 a guarnição de Bissau, composta de criminosos do Limoeiro e vadios de Cabo Verde, amotina-se por falta de pagamento. O capitão-mor da praça de Bissau, na altura Manuel Pinto Gouveia, parece não ter tido atitude agradável ao Governador de Cabo Verde, o qual mandou que o capitão Figueiredo Cardoso o prendesse e a toda a sua família para avaliar da sua intervenção na insubordinação da guarnição (mas não por ser associado em comércio ilegal com a sua amante Clara Gomes…).
Não se sabe dos resultados dessa averiguação. Mas foi preso pela guarnição, os mesmos criminosos, no mês de Dezembro desse ano, conseguindo enviar uma carta ao capitão-geral da Serra Leoa, Charles Maxwell, que intercedesse junto do Governador de Cabo Verde para o libertar.
Os papéis entraram pela praça de Bissau, em 4 de Novembro de 1844, cometendo “vários desacatos” e matando quatro pessoas, entre elas um marinheiro europeu. Foi uma força a Intim, entrou na paliçada da tabanca e prendeu o régulo. Depois de várias escaramuças, o “gentio” foi derrotado e obrigado a assinar a paz em Intim, Bandim e Antula.
No entanto, Bissau foi atacada pelos grumetes (Os grumetes eram descendentes de antigos escravos libertos e de populações africanas convertidas ao cristianismo no século XVII e XVIII, em Geba e Bissau. Eram um grupo com grande influencia local, tendo inclusivamente formas de auto-governo reconhecidas pela administração, elegendo o seu juiz do povo, que agia como “governador dos grumetes” em cada feitoria portuguesa na Guiné. Alguns grumetes, eram apoiantes da presença portuguesa, especialmente em Cacheu. Em Bissau, a tensão entre grumetes e a administração colonial era permanente)e pelos papéis em 17 de Novembro de 1846. Valeu um navio francês, do comandante Baudin, e a corveta americana Preble, que socorreram os sitiados e puseram em debandada os atacantes.
Também um navio francês, o brigue de guerra Palinuro, comandada pelo capitão Bosse, desembarcou uma força em Bissau para socorrer o Governador de uma revolta dos soldados da guarnição em 5 de Junho de 1853. Essa força francesa esteve em Bissau até 9 de Julho. Em 21 de Dezembro o Governador de Cabo Verde enviou um contingente para substituir os amotinados.

Na Ilha de Bissau, os papéis de Antula, auxiliados pelos balantas de Cuntanga e Nhacra, desencadearam, a 27 de Junho de 1890, uma guerra contra os papéis de Intim, estes com o apoio dos grumetes das proximidades de Bissau. Foi uma guerra com “cenas de sangue de indescritível ferocidade”, como dizem que presenciaram os habitantes da praça do alto das muralhas, e que durou até fins de Outubro. O Governador, Augusto Rogério Gonçalves dos Santos, tentou negociar paz entre eles, mas só os de Antula compareceram em 14 de Fevereiro de 1891a uma reunião proposta.
Foi por isso declarada em estado de guerra a Ilha de Bissau a partir de 23 de Fevereiro, tendo sido “suspensas as garantias” (quais?...) e proibida a venda de armas e pólvora. A 4 de Março foi organizada uma coluna de operações, constituída por forças destacadas em Bissau, outras vindas de Cabo Verde e por auxiliares, comandada pelo tenente-coronel Pedro Moreira da Fonseca, e dirigida contra os régulos de Intim, Bandim, Safim, Bor e Entroncamento. Foram também incluídas as lanchas-canhoneiras Flecha e Zagaia para actuarem nas águas da ilha.
A 9 de Março, o tenente-coronel Pedro da Fonseca, com 120 soldados e 5 oficiais, deixa Bissau para ir fazer um reconhecimento. A maioria deles não conhecia o terreno nem nunca tinha visto um rebelde papel. Caíram numa emboscada, foram desbaratados e fugiram abandonando os oficiais. Morreram os capitães Alberto de Azevedo e Carmo Azevedo, o tenente Lucena e o alferes Moreira. Alguns soldados cabo-verdianos que, ao fugirem, se refugiaram na praia e se enterraram no lodo foram salvos pelas tripulações  da canhoneira Rio Ave e o da chalupa Honório Barreto.
Como reacção, o Governador mandou vir tropa de Geba. Chegaram a Bissau no dia 19, vindas em diversas embarcações rebocadas pelo rio Geba pela corveta Mindelo, a canhoneira Guadiana e as lanchas-canhoneiras Flecha e Zagaia. Vieram 5 oficiais, 150 cabos e soldados e muitos auxiliares mandingas
Foram integrados na coluna das operações de Bissau. E o capitão Pedro Fonseca foi repreendido pelo Governador, exonerado e substituído pelo capitão Joaquim António do Carmo Azevedo. Este, no mesmo dia 19, também teve azar. Foi batido pelos “gentios” de Intim, que mataram 4 oficiais, entre eles o próprio Carmo Azevedo, e muitos soldados.
Nessas operações de Bissau morreram em combate os capitães Joaquim António do Carmo Azevedo e Heitor Alberto Azevedo, o tenente António Jorge Lucena, o alferes José Honorato Moreira, os sargentos Alfredo Júlio de Matos e João Paulo Henrique e 41 soldados.
A 22 de Junho, os rebeldes de Bissau, suspeitando que tinham sido pedidos reforços à Metrópole, além de verem que não podiam vender as oleaginosas, decidiram iniciar negociações para o acto de submissão.
O rei concedeu-lhes perdão em 6 de Fevereiro de 1892, impondo-lhes onze condições. Entre elas, que para além das mura­lhas da praça, numa zona de largura de 250 me­tros, não seria permitida construção alguma sem licença do Governo. Outra condição impunha aos régulos procurar investigar em que pontos haviam sido enterrados os oficiais e mais praças mortos nos combates de Março e Abril de 1811.
Não durou dois anos. Em 7 de Dezembro de 1893, cerca de 3.000 papéis e balantas de Nhacra e Cuntanga atacaram de surpresa a praça de Bissau pelo lado da Balança e Pigiguiti. Foram repelidos com fogo de artilharia, colocada no baluarte da Onça, e com granadas das peças de 7cm Krupp. Tiveram acções intensa as canhoneiras Rio Ave e Rio Lima. Mas os papéis atacaram novamente em 9 de Janeiro de 1894, sendo repelidos com grandes baixas após duas horas de fogo. Na mesma altura, foi bombardeada pela artilharia de terra e mar a tabanca de Bandim.
Mas a revolta continuou em Intim. O Governador Vasconcelos e Sá, mauzinho, mandou cortar o “Poilão de Guerra”, próximo de Bissau, junto dos quais os papéis costumavam fazer as suas cerimónias. Foi como destruir uma igreja. Mandou, em 3 de Maio, formar nova coluna de operações constituída por uma secção de metralhadoras, pelas companhias de guerra da Marinha, da Guiné e de Angola, três secções de artilharia, secções de saúde e de administração militar. Tomou de assalto Bandim no dia 16 de Maio e acampou no alto de Intim.
Os papéis vieram a Bissau, pelo portão da Puana, com uma bandeira portuguesa encimada por uma bandeira branca, pedir a suspensão das hostilidades e lhes fossem dados três dias para reunir os grandes d Intim e Bandim para tratar do perdão e da paz.
Em 22 de Junho, os papéis de Intim, Bandim, Antula e Safim prestaram submissão ao rei de Portugal perante o Governador da Guiné, sob 17 condições, que aceitaram (quais não consegui saber).

Mas o régulo de Intim, Tabanca Soares, foi mais longe: a 13 de Maio de 1899, deslocou-se a Bolama, juntamente com as suas mulheres e os seus grandes, prestou homenagem ao Governo Português, e foi baptizado com nome de Carlos. No dia 19 foi rezada missa campal em Intim, içada a bandeira portuguesa no mastro e feito juramento de fidelidade aio rei de Portugal.
Anos de serenidade, a seguir, na Ilha de Bissau. Em 14 de Agosto de 1909 realiza-se mais um acto de vassalagem dos régulos da região dos papéis. Mais uns anos a seguir. De tal modo que, em Janeiro de 1913, o então governador Carlos Pereira mandou demolir a muralha de 3 metros de altura (substituta da antiga paliçada construída em 1844) que ligava o baluarte da Balança ao fortim de Pigiguiti, não sem protestos da população, receosa dos ataques dos papéis, ainda não totalmente submissos.
E, de facto, nova rebelião fez com que o capitão Teixeira Pinto tivesse que organizar uma coluna de operações para o combate aos papéis entre Maio e Agosto de 1915. Em 2 de Junho arrasou Bandim e tomou Intim. Em 8 de Junho toma Antula após renhidos combates. Num dos combates, a 5 de Junho, morre o 2º sargento António Ribeiro Moens. O próprio Teixeira Pinto é ferido pelos papéis em Joal em 13 de Junho. Retoma o comando da coluna a 1 de Julho. No dia 3 seguinte é morto em combate com os papéis o professor Manuel Moreira, que se oferecera como voluntário. A 10 de Julho, Teixeira Pinto bate os papéis em Biombo e prende o respectivo régulo.
Campanha rápida. A 25 de Julho de 1915 a Ilha de Bissau foi considerada definitivamente pacificada. Os portugueses tiveram 47 mortos.
Em 27 de Setembro de 1931 houve uma desordem sangrenta em Bissau, entre papéis e mancanhas, com morte de muitos deles. Foi declarado estado de sítio em Bissau e o comando passou para Bor a 30 de Setembro. Foram expulsos depois, a 29 de Outubro, noventa implicados nessas desordens, condenados a degredo em S. Tomé por 15 a 20 anos.

Fonte: Boletim Cultural da guiné Portuguesa, Outubro de 1047

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