Ainda novo, partiu para a guerrilha nos anos 70 abandonando os estudos. Retomou-os após o 25 de Abril. Teve responsabilidades no sector da educação na região de Bolama e foi professor de História. Trabalhou como quadro no Ministério da Cultura da Guiné-Bissau, foi deputado na Assembleia Nacional Popular e membro do Comité Central do PAIGC. Foi Ministro da Defesa de Nino Vieira.
Além do seu empenhamento político, Helder Proença foi também uma figura da literatura da Guiné-Bissau. Poemas mais conhecidos: este “Quando te propus”, “Nas noites de n’Djimpol”, “Ode a Abomey”, Badjuda n’a”, “Canto a Sundiata”. Com 26 anos publicou, em 1982, o livro de poemas “Não Posso Adiar a Palavra”[1]. Já tinha sido, em 1977, co-organizador e prefaciador da primeira antologia poética do seu país: “Mantenhas Para Quem Luta”[2].
“Quando te propus
um amanhecer diferente
a terra ainda fervia em lavas
e os homens ainda eram bestas ferozes
Quando te propus
a conquista do futuro
vazias eram as mãos
negras como breu o silêncio da resposta
Quando te propus
o acumular de forças
o sangue nómada e igual
coagulava em todos os cárceres
em toda a terra
e em todos os homens
Quando te propus
um amanhecer diferente, amor
a eternidade voraz das nossas dores
era igual a «Deus Pai todo poderoso criador dos céus e da terra»
Quando te propus
olhos secos, pés na terra, e convicção firme
surdos eram os céus e a terra
receptivos as balas e punhais
as amaldiçoavam cada existência nossa
Quando te propus
abraçar a história, amor
tantas foram as esperanças comidas
insondável a fé forjada
no extenso breu de canto e morte
Foi assim que te propus
no circuito de lágrimas e fogo, Povo meu
o hastear eterno do nosso sangue
para um amanhecer diferente!”
um amanhecer diferente
a terra ainda fervia em lavas
e os homens ainda eram bestas ferozes
Quando te propus
a conquista do futuro
vazias eram as mãos
negras como breu o silêncio da resposta
Quando te propus
o acumular de forças
o sangue nómada e igual
coagulava em todos os cárceres
em toda a terra
e em todos os homens
Quando te propus
um amanhecer diferente, amor
a eternidade voraz das nossas dores
era igual a «Deus Pai todo poderoso criador dos céus e da terra»
Quando te propus
olhos secos, pés na terra, e convicção firme
surdos eram os céus e a terra
receptivos as balas e punhais
as amaldiçoavam cada existência nossa
Quando te propus
abraçar a história, amor
tantas foram as esperanças comidas
insondável a fé forjada
no extenso breu de canto e morte
Foi assim que te propus
no circuito de lágrimas e fogo, Povo meu
o hastear eterno do nosso sangue
para um amanhecer diferente!”
«2009-06-05
Bissau, 05 Jun (Lusa) -- O antigo ministro da Defesa da Guiné-Bissau Hélder Proença foi hoje morto a tiro na estrada entre Bula, norte do país, e Bissau, disse à agência Lusa fonte hospitalar.
Segundo a mesma fonte, o corpo de Hélder Proença entrou na morgue do hospital Nacional Simão Mendes ao início da manhã de hoje.
Além de Hélder de Proença, foram também abatidos o motorista e um segurança, acrescentou a fonte.»»»
«Na Guiné Bissau fontes dos serviços secretos indicaram que as forças de segurança mataram um candidato presidencial que afirmam estava envolvido numa tentativa de golpe de Estado.
Uma declaração divulgada pelo serviço de Informação refere que a polícia matou o candidato Baciro Dabó e o antigo ministro da Defesa, Helder Proença.
(…)
Segundo estas fontes, Proença estaria a planear um golpe de estado com Dabó e outras individualidades, e o antigo ministro foi morto quando resistiu à detenção.» http://www.voanews.com/portuguese/news/a-38-2009-06-05-voa1-92246574.html
...E mataram o poeta político no mesmo dia em que mataram o político militar Dabó (ver aqui). Da forma cruel e arbitrária, não já estranha porque tem sido comum na Guiné-Bissau.
Ele, que já apontara a N'djai que Carlos Gomes e Zamora tinham sido os mandantes dos assassinatos de Nino e Tagma, acreditou no suposto golpe em preparação.
Na noite de quinta-feira, 4 de Junho de 2009, quando atravessou a fronteira vindo de Ziguinchor, com o seu motorista Lamine, senegalês, viu facilitada a sua entrada, apesar da fronteira estar fechada (foram os serviços secretos que facilitaram...), e foi recebido por um grupo de militares, que se disseram "descontentes", e que se propuseram levá-lo a António N'djai, de quem eram apoiantes. Conduziram-no primeiro a sua casa e depois à base aérea de Bissalanca. Foi com o seu motorista e um amigo que o quis acompanhar. Para sua surpresa foi Zamora Induta que lá encontrou. Eram 23h30. Apercebeu-se da cilada, mas já era tarde.
Foi humilhado e espancado por Zamora, que depois ordenou que o matassem. E foi assassinado uma hora mais tarde em Braia, ponta de Augusto Dama, entre João Landim e Bula. Mataram também o seu condutor Lamine e o amigo que o acompanhara.
Assassinato selectivo ou limpeza política?
O comunicado do Ministério do Interior sobre os acontecimentos denunciava uma alegada tentativa de golpe de estado, justificando as mortes registadas com alegadas resistências no momento da prisão dos implicados. Ora, nenhum militar foi preso, nem mencionado como parte da conspiração, o que causa sérias dúvidas quanto à versão governamental dos acontecimentos. As fontes conhecedoras da vida e história política nacional garantem que "Bassiro Dabó e Hélder Proença jamais se juntariam em qualquer projecto", nem político, nem económico, por divergências antigas e bem alicerçadas. Aliás, em 2006, Bassiro Dabó, então Secretário de Estado no Ministério do Interior, havia acusado Hélder Proença e Tagmé Na Waie de estarem a preparar uma conspiração para derrubar o presidente Nino.
Conclui-se então que esta operação dos militares visava tão apenas assassinar algumas personalidades que inquietavam, tanto mais que pouparam a vida a Faustino Imbali (também preso pelos militares nesse 5 de Junho, sociólogo de 52 anos, foi primeiro-ministro de Kumba Yalá de Março a Dezembro de 2001), gesto por muitos comentado como expressão do pacto de Nhinte (Nhinte é uma tabanca na Guiné onde os Balantas se terão reunido e decidido que "Os Balantas não morrem").
O assassinato de Hélder Proença tinha sido concebido, inicialmente como uma operação de gangster: "começa com um rapto, seguido de homicídio, com balas alvejando certeiramente o coração dos três homens no flanco esquerdo, o que desacredita a tese de resistência e troca de tiros". Depois, os corpos das vítimas são abandonados na estrada, sendo isso prova de amadorismo, crueldade e de falta de respeito à dignidade humana, mas, sobretudo, expressão de que ninguém teria de prestar contas pelo ocorrido. Alguns minutos depois, "o corpo é recuperado pelos malfeitores que o foram deitar num contentor de lixo, no Hospital Central de Bissau".
Como se pode conceber uma actuação destas por parte de uma instituição do Estado, de uma organização responsável? Como é que o Governo pode endossar a responsabilidade não só do assassinato mas também do vexame a que foram submetidos os restos mortais destes cidadãos? Como disseram alguns círculos diplomáticos, as forças armadas guineenses tornaram num perigoso bando de malfeitores: gangsters.
Os militares e o Governo enfrentaram dificuldades para justificar estes acontecimentos. Falaram de uma gravação, mas não se apressaram a difundi-la através dos órgãos de comunicação. Quiseram o apoio dos serviços do Ministério do Interior, alegando que foram estes que solicitaram a intervenção dos militares, mas o DG da segurança recusou esta tese e recusou-se a assinar o comunicado preparado pelos militares, razão por que foi detido.
Mesmo admitindo a tese de Golpe de Estado, muitas dúvidas ficam por esclarecer: qual era o grau de preparação? O perigo era assim eminente? Que forças estavam envolvidas (militares, bem entendido)? E porque é que nenhum militar foi preso? Porque é que as pessoas foram abatidas se já estavam detidas? Todas estas questões conduzem à conclusão de que não houve tentativa de golpe e nem foi essa a razão dos assassinatos. Houve, sim, um ajuste de contas e uma operação de limpeza política.
O assassinato dos dois ex-ministros e eminentes personalidades políticas suscitou tristeza e muita indignação, senão mesmo revolta na sociedade guineense.
Mortes injustificadas, dizem alguns, e limpeza política, dizem outros. Uma multidão inesperada acorreu à pequena morgue da capital para prestar homenagem às vítimas daquilo a que eles agora chamam de “esquadrão da morte”. Quer Hélder Proença quer Bassiro Dabó eram personalidades de proa e muito populares, não só como políticos mas também como destacadas figuras do mundo cultural, poeta e músico, respectivamente.
Quando muitos guineenses julgavam que as matanças haviam terminado com o desaparecimento de Nino Vieira, os factos infelizmente confirmaram que a violência política faz parte da idiossincrasia guineense, lembrando o assassinato de Amílcar Cabral, Honório Sanchez Vaz, Cesário Carvalho de Alvarenga, Paulo Dias, Momo Turé, José Francisco, Osvaldo Vieira, Paulo Correia, Viriato Pam, Ansumane Mané, Veríssimo Seabra e tantos outros actores importantes da vida política guineense.
Há porém uma constante: o papel dos homens em farda, que se transformaram em verdadeiros assassinos em série. Impotentes perante esta situação, cresceu a legião de guineenses que reclamaram a ida de uma força internacional, para evitar o completo afundamento do Estado guineense.
Mas estão agora lá os angolanos para reformar o exército guineense. Chegará?
Mas estão agora lá os angolanos para reformar o exército guineense. Chegará?
António
ResponderEliminarA foto não é do H.Proença.O retratado é o Prof.
Julião Sousa,doutorado em História pela U.C.
Abraço
P.Santiago
Obrigadíssimo, Paulo. Está feita a correcção. E as minhas desculpas ao Prof. Julião Sousa, que está entre os vivos, ainda bem.
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