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11 de agosto de 2011

233-Coluna de operações contra os papéis em 1915

Trata-se de uma das operações realizadas durante "As batalhas de Bissau". Começou a 5 de Junho, com a tomada de Intim. A 10 ocupou Antula e a 12 chegou a Jaal, onde Teixeira Pinto, que comandava a coluna, foi ferido e regressou a Bissau. Passou o comando ao tenente Sousa Guerra. Este é o relatório que ele fez a Teixeira Pinto, quando este reassumiu o comando. 
Tem uma segunda parte em que faz o elogio de alguns dos homens intervenientes na operação, o que julgo não ter interesse para aqui.
Ao ler isto lembro-me de alguns dos nossos relatórios...

«Exmo Senhor Comandante da Coluna de Operações contra os Papéis

Em 12 de Junho, pelas 15 horas, entregava-me V. Exa. o comando da coluna, por ter de retirar-se para Bissau, onde, por opinião médica, devia tratar-se dos ferimentos recebidos, em Jaal, nesse mesmo dia.
De como decorreram as operações desde essa data até 1 de Julho e da forma como o pessoal da coluna desempenhou os serviços, que lhe foram cometidos, dirão as singelas e mal ataviadas linhas que seguem.

1
DAS OPERAÇÕES REALIZADAS
Até ao dia 14, nada ocorreu digno de menção. Neste dia, levantámos o acampamento para Safim de Cima, que fica a um quarto de hora de Safim de Baixo e onde já tínhamos resolvido estabelecer uma tabanca de guerra.
Depois de acampados, mandei fazer a exploração dos terrenos circun­jacentes, onde se travaram algumas escaramuças, sendo o gentio repelido. Tivemos 9 homens feridos e 2 mortos. Os dias 15 e 16 decorreram tranqui­lamente, tendo ficado resolvido que às 7 horas de 17 sairia uma força de 200 irregulares para bater Entoche.
Em 17, a força, a que me acabei de referir, logo depois de ter per­corrido uns mil metros na direcção S.O., é atacada fortemente pelo gentio que desenvolve até ao acampamento, atacando este por O. e N.O.
Abdu Injai, com 400 irregulares, vai juntar-se à força, que tinha saído do acampamento, e consegue levar de vencida até Jaal uma parte do gentio atacante; a outra é repelida pelas forças de defesa do acampa­mento (regulares e irregulares de Alfha Seilu).
O combate terminou às 14 horas, tendo nós 10 homens feridos e 5 mortos e 1 cavalo ferido. Da parte do gentio, a avaliar pela quantidade de mortos abandonados, contra o seu costume, no campo, devia haver um considerável número de baixas.
Até 20 nada ocorreu digno de registo. Neste dia, marchàmos para Contumo, tendo deixado, na tabanca de guerra de Safim, o segundo sar­gento Faria com 6 soldados da 2.ª companhia indígena de infantaria da Guiné e 100 irregulares e tendo comunicado ao Comando Militar de Nhacra a existência desta tabanca. Partimos de Safim às 8 1/2 horas da manhã, indo a coluna organizada de forma a atender a um provável ataque do flanco esquerdo ou da retaguarda em Jaal.
A marcha fez-se sem novidade, passando a coluna em Jaal ás 11 e meia horas e chegando às 12 a Bessaca, onde parámos o tempo indispensável para se reforçar a guarda-avançada, atendendo a que daqui em diante era certo o encontro com o gentio.
A marcha continuou sem um tiro até ás 13 e meia horas, quando começou o ataque da guarda avançada à povoação de Contumo, que ás 14 estava em nosso poder, retirando o gentio para uma linha natural de defesa, que há entre Contumo e Bor, linha constituída por uma série de palmeiras tendo do lado desta povoação um riacho, isto é, um verdadeiro fosso aquático. Daí começou fazendo fogo sobre a guarda avançada, que operava uma demonstração sobre essa linha.
Eu e o Abdul, com todas as outras forças contornámos o riacho na sua origem, que era próxima, e caímos resolutamente sobre o gentio, batendo-o sobre Bór para onde retirou e onde continuou a sua defesa.
Reunida a guarda-avançada, todas as forças atacaram Bór, sendo o gentio repelido com inúmeras perdas, retirando para o mato próximo donde continuou fazendo fogo, que em breve tinha de cessar pela perse­guição que lhe foi feita.
Ás 15 e meia horas podíamo-nos considerar possuidores de Bór. Tivemos 4 homens feridos.
Foi grande o número de armas e munições encontradas.
Ás 16 horas, o gentio tornou a vir atacar-nos, sendo repelido com êxito.
No dia 21, saíram forças que exploraram os terrenos circunjacentes. No dia 22, o gentio atacou o acampamento pelas 13 e meia horas, sendo repelido depois de meia hora de tiroteio.
Nos dias 23, 24 e 25, nada de anormal.
Fez-se uma tabanca de guerra em Bór, onde ficou o chefe Sori Jólo com a sua gente.
As 6 horas do dia 26, iniciamos a marcha para Bejamita.
Como tínhamos de passar em Bissalanca, onde, segundo informações de diversas procedências, grumetes e papeis se tinham organizado defen­sivamente, o efectivo dos diferentes escalões da coluna teve por base aque­las informações, estabelecendo-se o efectivo o máximo para a guarda, avançada.
Às 8 e meia horas, começava o tiroteio na testa da coluna. Tinha a guarda-avançada atingido Bissalanca, que estava defendida pelo gentio.
Iniciou-se o combate, desenvolvendo a guarda avançada e ficando de reserva as restantes forças.
Depois de vivo tiroteio, o gentio retirou para o mato, que fica ao N. da povoação, onde se defendeu valentemente, sendo por fim repelido, dei­xando muitos mortos abandonados no campo e sendo-lhe feitos 129 pri­sioneiros. Da nossa parte, baixa nenhuma. O combate terminou às 12 horas.
Às 12 e meia horas, continuámos a marcha para Bejamita, tendo sido reforçada a guarda da rectaguarda por ser provável um ataque do gentio por esse lado.
Após uns minutos de marcha, foi a guarda avançada atacada por muitos papeis e grumetes contra os quais abriu fogo, pondo-os em deban­dada e atingindo, nesta perseguição, uma tabanca, cujo nome soubemos, depois, ser Pelonde. Aqui chegámos ás 13 horas e tivemos de acampar por todos se encontrarem fatigados, das correrias feitas ao gentio.
Em 27, ainda tivemos de permanecer em Pelonde pelo motivo que acima referi.
Às 6 horas de 28, quando se organizava a coluna para seguir para Bejarnita, cai de surpresa sobre nós o gentio.
Desenvolvendo, imediatamente, as forças para o combate, tomámos a ofensiva com extraordinário vigor, o que fez com que ele retirasse, sendo perseguido com tenacidade pelas nossas forças.
O combate estava terminado às 7 horas, tendo nós 2 homens feridos e um cavalo morto.
Soubemos posteriormente, que ele foi dos mais terríveis para o gentio, pelo grande numero de baixas que teve, especialmente gente de Biombo e Bejamita.
Tive ocasião de observar o grande número de camas, feitas com folhas de palmeira, que estavam colocadas do lado do caminho para Beja­mita e a uns 5OO metros, se tanto, de Pelonde, do que deduzo que o gentio, tendo passado a noite ali, se preparava para cair sobre nós de madrugada.
Valeu-nos, certamente, o termos começado os preparativos de mar­cha às 4 horas.
Chegámos a Bejarnita ás 10 e meia horas, tendo havido apenas durante a marcha uns tiros isolados em Bissauzinho.
Pelas 13 e meia horas do dia 29, o voluntário Carlos Cabral Avelino entrega-me duas comunicações do comandante da Lancha-Canhoneira Flecha. Uma escrita às 4 horas e outra às 10 do mesmo dia.
Na primeira, dizia o referido comandante que o gentio sitiava a tabanca de guerra de Bor, desde a madrugada de 28; que os sitiados esta­vam com falta de cartuchos (tinham apenas 20 a 30 cartuchos por homem); que o gentio (grumetes e papeis) estivera à fala com os sitiados a quem tinha dito que de manhã (na de 29) havia de estar na posse daquela provação.
A segunda comunicação, em que o comandante da «Flecha» se mostra arreliadíssimo por só conseguir àquela hora ter contacto com as forças de terra, accrescentava: «que não sabia se chegariamos a tempo de salvar a gente de Bór, pois estava informado de que estavam quasi sem cartuchos».
Em face destas comunicações, resolvi marchar imediatamente em socorro de Bór, mandando, acto contínuo, levantar o acampamento.
A marcha iniciava-se ás 14 horas, isto é, três quartos de hora depois da ordem de levantar o acampamento.
Chegámos a Pelonde ás 17 horas sem ter havido um único tiro. Às 20 e meia horas, a guarda-avançada atacava os sitiantes de Bór, sendo logo reforçada pelos regulares e irregulares de Alpha Seilu, tra­vando-se encarniçado combate, que terminou às 22 horas, Tivemos 6 homens feridos e 1 mortosendo o gentio posto em debandada..
A marcha deste dia, já pela escuridão, já pela irregularidade do caminho e emaranhado de arbustos e árvores, que seguindo-o se cruzam por cima dele, detendo-nos de minuto a minuto para nos desenvencilharmos, constituiu um verdadeiro suplicio!
Valha-nos ao menos termos conseguido o que tanto desejávamos: a salvação dos irregulares de Bor, que, apenas tiveram um homem morto e dois feridos, durante o cerco feito pelo gentio.
Nos dias 30 de Junho e 1 de Julho saíram forças em exploração, tra­vando-se pequenas escaramuças com o gentio, que sempre foi vencido.
No dia 2 de Julho, assumia V. Ex.ª o comando da Coluna, consti­tuindo este facto para todos nós motivo de extraordinário jubilo, que V. Ex.ª viu exteriorizado na espontânea e calorosa manifestação que lhe foi feita quando da sua chegada ao acampamento de Bor.» 


Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, Volume IV, Nº 14, Abril de 1949

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