Algumas intervenções e conclusões muito significativas sobre quais eram as preocupações sobre a educação e a exploração da mão-de-obra na Guiné em 1946. Foram produzidas na sessão da manhã do dia 25 de Maio desse ano, durante a Conferência sobre o V Centenário do Descobrimento da Guiné.
Da intervenção do Padre Dias Dinis:
«Sob este aspecto [o ensino], a nossa Guiné, encravada em territórios estrangeiros e isolada de outras colónias portuguesas, tem necessidade de dedicar especial cuidado ao assunto - criando um ensino adaptado às suas necessidades e características de colónia agrícola; publicando e usando compêndios próprios, como se faz na vizinha Guiné Francesa; procurando que não seja o ensino meio para o indígena abandonar a sua terra e vadiar pelas cidades e vilas, a deseducar-se e a deseducar os mais; curando que, por esse motivo, não perca a agricultura os braços de que precisa; montando escolas rudimentares de ler, escrever e contar, no mato, para penetração da nossa língua e da civilização portuguesa, sem maiores formalidades e pretensões de exames e diplomas, por não interessarem à Pátria papéis, mas portugueses; limitando, enfim, às cidades e vilas as escolas primárias propriamente ditas, reservadas a filhos de civilizados principalmente, criando-se ainda nas povoações comerciais de maior vulto, escolas idênticas e para os mesmos efeitos se as circunstâncias o aconselharem. Disse ter visto e ouvido combater as escolas para os indígenas. Elas são porém veículos indispensáveis da nossa língua e civilização. O que falta é regulamentá-las e adaptá-las às necessidades da colónia.
Disse ainda que não devemos exagerar o ensino, como fizeram os vizinhos franceses, que hoje estão em face de diplomados e inconformados para os quais não têm colocação nem solução depois de os desabituarem da agricultura. Devemos evitar a inclinação para os cargos públicos, pois é sabido que, tanto como os europeus, os indígenas africanos têm grande tendência para burocracia. Convirá sobretudo combater a convicção de que o simples exame de instrução primária é porta aberta para todos os referidos cargos, como sucedia na nossa Guiné ainda há anos, podendo citar-se, por exemplo, o caso de um indígena que apenas com o 2º grau, atingiu as elevadas funções de director interino dos Serviços de Fazenda da Colónia.»
Em resumo era:
- ensinem-se a falar o português para que os entendamos e eles nos entendam para aquilo a que estão destinados - o trabalho agrícola; nada de irem mais além.
Seguidamente, também com preocupações no mesmo sentido, mas de outra índole, o Dr. Carlos Barral Moniz Tavares apresentou uma comunicação intitulada «Breves considerações sobre a protecção dos indígenas da colónia da Guiné», com estas conclusões:
«As colónias não podem prescindir da mão-de-obra indígena.
Para que dela se possa usufruir o maior proveito é necessário que as populações indígenas possuam boa capacidade para o trabalho e, portanto, se lhe proporcionem boas condições de higiene individual e geral.
E indispensável, também, que encontre nos colonizadores um tratamento que lhes capte a confiança, bons exemplos morais e sociais, que se traduzirão incutindo-lhes respeito e obediência.»
Isto é:
- tratem-nos bem e ganhem-lhes a confiança para que eles tenham respeitinho pelo branco e sejam obedientes no trabalho.
E houve uma conclusão geral na mesma linha:
«A Guiné é uma colónia essencialmente de natureza agrícola, e, como tal, necessita de uma população nativa numerosa, pois é nela que se recrutará a indispensável mão-de-obra.
Para que haja uma população indígena suficiente tem de se procurar atingir dois fins primordiais: diminuir a mortalidade e alimentar a natalidade.»
Queria-se dizer:
- tratem-lhes da saúde e ponham-nos a fazer filhos, senão não há quem trabalhe.
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