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11 de novembro de 2011

298-Guerra entre mandingas e fulas na região de Gabú

       (Ver também "A invasão fula da Circunscrição de Bafatá")    
A
tomar como verdadeiros os elementos fornecidos por alguns indígenas mais considerados no seu meio, principalmente Mamadú Baldé, mais conhecido por Mamadú Tabassai, com cerca de noventa anos de idade, toda a região do Gabú era habitada, antes da dominação mandinga, por uma tribo a que os fulas designam por Manuje - que são os actuais balantas de Mansoa e os Conhage que ocupam a região que lhes deu o nome. As suas habitações eram circulares e construídas de pedra, particularidade que hoje se não verifica em tribo alguma da Guiné, e cobertas a palha.
Enquanto esta tribo vivia em paz e sossego, os habitantes de «Mandem», região do Sudão, viviam numa intranquilidade constante por circunstâncias políticas, económicas e morais, chegando a pedir auxílio aos portugueses, então estabelecidos no baixo Senegal, protecção que não foi possível prestar em virtude das condições especiais em que se encontravam. Esses habitantes de «Mandem» eram os mandingas, que, depois do desmembramento do seu império, abandonaram aquela região e estabeleceram-se na Gâmbia, baixo e alto Casamança e na actual Guiné Portuguesa. Os que se encaminharam para a Guiné, estabeleceram-se na região do Firdu, onde fundaram a sua primeira povoação que denomi­naram Paiungo, hoje pertencente a colónia francesa, tendo como chefe Tiramam.
Uma vez instalados, procuraram formar o seu império, para o que tiveram de travar lutas com os povos primitivos - os balantas. Estes tiveram de abandonar a região e fugiram, uns para Mansoa e outros para Conhague.
Começaram por atacar a região de Maná, onde ficou como admi­nistrador um batulai chamado Macan Sane e depois passaram para Tumaná, Cessará, Badora, Canadú, Mansoná, Sancorlá, Farim, Camacó, voltando novamente para Paiungo, que ficou sendo a capital do Império até ao reinado de Mansairá Sane, que a transferiu para Cansalá.
Em todas as regiões conquistadas deixaram um batulai, isto é, um auxiliar do régulo, de cujos nomes derivou a designação dada à região que administravam. Assim: em Maná ficou Macam Sane, como acima foi dito; em Tumaná, Tumam Mané; em Cussará, Có Sara; em Badora, Doró Bá Sanha; em Canadú, Canarn Bá Mané; em Mansoná, Mansom Manjam; em Sam Corlá, Sancolá Soncó; em Farim, Colibá Manjam; em Camacó, Camam Manjam.
E assim formaram o seu império, que não tomou grande vulto porque se fixaram muito afastados uns dos outros e portanto sem con­dições para manterem uma unidade política rígida.
E deste modo a Guiné Portuguesa recebeu a massa invasora man­dinga, onde veio em busca de refúgio e tranquilidade que não encontrara na sua terra natal - Mandem.
**
Pouco tempo depois a sorte que os mandingas tiveram foi a que os fulas encontraram na sua pátria - Massina.
Os fulas, levados pela ambição de governar e pela imposição da religião de Mahomet, entraram em lutas entre si.
Os povos vizinhos - os Bambarãs - vendo as desinteligências entre eles invadiram a região e subjugaram-nos. Então, lentamente, procuraram a sua fuga para o Casamansa e Gabú, onde já havia alguns elementos da sua tribo, para onde tinham vindo à procura de pastagens para o seu gado. E assim os fulas se foram fixando na região do Gabú, mas com o prévio consentimento dos mandingas. Estes permitiam a sua entrada
na região porque eram portadores de grandes quantidades de gado, prin­cipalmente vacum, e viam neles excelente fonte de riqueza.
Tanto assim era que os fulas, para construírem as suas habitações, junto da reinança, necessitavam de uma licença especial e tinham de pagar um certo tributo, por vezes pesado. Mas apesar disso, tudo suportavam porque não atingia as proporções dos que lhes eram lançados na região por eles abandonada e além disso a pequenez do seu número não lhes permitia a ideia da reacção. À medida que as migrações fulas se iam avolumando, os dominadores iam-nos sobrecarregando com impostos cada vez mais pesados.
No momento em que os fulas viviam mais subjugados, apareceu um fula de Toró, chamado Saico Umarú, vindo de Meca, com o fim de conhecer a região e as possibilidades de propagar a religião de Mahomet. Foi hóspede de Alfá Moló, um pobre pastor, mas bom caçador. No dia em que chegou a sua casa, o Alfá encontrava-se ausente, mas sua mulher recebeu-o condignamente pois vira nele uma pessoa de bem. Logo que regressou a mulher apresentou-lhe o hóspede. O Alfá mandou matar um carneiro para ele e sua comitiva. Poucos dias depois o Saico Umarú pede ao Alfá para o acompanhar, o que fez, indo até Geba. Então o Saico, reconhecido, disse-Ihe que ainda um dia seria régulo de toda a região por eles percorrida. Despediram-se e o Alfá voltou para sua casa, conti­nuando a mesma vida de pastor. Mas um dia os mandingas apanharam­-lhe um carneiro e ele dirigiu-se ao régulo a reclamar; este respondeu-lhe que uma vez apanhado jamais lhe seria restituído,
o Alfá pensou em vingar-se, e levado pelas palavras do profeta Saico, chamou todos os fulas e expôs-lhes a questão, dizendo que estavam a ser muito martirizados e que portanto ou se revoltavam contra o man­dinga ou teriam de abandonar a região. O seu primeiro plano foi matar o régulo - Mofá Genum - O que fez, um dia em que o foi cumpri­mentar. Depois de o ter morto disse o que tinha feito, portanto que se preparassem, ou para fugir ou para se baterem com o mandinga. Os fulas optaram por irem ao seu encontro, do que foram bem sucedidos. Foi este o primeiro alarme da revolta dos fulas. Como se não sentissem ainda com forças para se verem livres do jugo mandinga, pediram auxílio aos futa-fulas, a quem prometeram submissão e fidelidade ao seu credo reli­gioso, pois estes já estavam islamizados enquanto que aqueles ainda viviam no seio do feiticismo. Os fulas de Futa vieram em seu auxílio e bateram os mandingas em Dorna, ficando Alfá Moló senhor daquela região, mas sendo orientado pelos fulas do Futa. Foi este o primeiro recontro entre fulas e mandingas. O Alfá Moló, senhor já de uma força considerável, continuou a bater os mandingas, chegando a Pirada onde se travou uma grande luta, obrigando-os a retirar para Sissaucunda, de onde foram também repelidos. Então os mandingas reuniram-se em Cam Salá à espera do que viria a suceder, armando-se e mandando pedir armas a Geba, de onde trouxeram seis peças de artilharia.
Anos depois do primeiro recontro, os fulas, animados pelo bom sucesso, pediram novamente auxílio aos futa-fulas - Almame Umarú - para tentar repelir definitivamente os mandingas e ficarem senhores de toda a região.
O Almame reuniu a sua gente, entrou em Pachisse, e foi acampar junto a Cam Salá. Mandou três emissários entender-se com o régulo mandinga Janque Uale, dizendo para se converterem ao islamismo e prestarem vassalagem ao Almame régulo do Timbó, caso contrário seria tudo arrasado. Janque Uale recebeu-os mal, recusando-se a tudo quanto os emissários lhe pediam e mandou reunir toda a sua gente para lhes fazer frente se o tentassem atacar. Depois de tudo preparado, mandou um sobrinho, Turá Sane, ao acampamento dos fulas, sob o disfarce de impor condições, mas com o fim de conhecer as forças de que ele dis­punha. Quando regressou, apanhou uma pouca de areia que entregou ao tio, na presença de todos os grandes, dizendo: “Conta os grãos de areia, e pelo seu número saberás quantos são os soldados fulas.”
Janque Uale, não acreditando, preparou tudo para receber o ataque.Os fulas invadiram a paliçada, e os mandingas responderam com tanta impetuosidade que os fizeram recuar. Novamente os fulas caem sobre o cercado, sob o comando do Alrname, com todo o poder e força. Janque Uale, quando se viu perdido, reuniu toda a sua gente, deixou entrar os fulas no cercado, e quando viu que a gente inimiga que ali se encontrava era em grande número, entoando cânticos guerreiros, lançou o fogo a toda a pólyora que possuía. Assim morreram heroicamente, para não caírem nas mãos do régulo futa fula e não ficarem subjugados aos fulas de quem tinham sido suseranos. Esta guerra ficou sendo conhecida por «Turu-Bam», o que quer dizer – “a sementeira acabou.”
Foi nesta luta que apareceu, pela primeira vez, a artilharia por parte dos mandingas.
Mas a guerra não terminou de todo.
       Um dos irmãos do Janque Uale, Mancoró Sane, depois da derrota sofrida pelos mandingas em Cam Salá, pensou em reconstituir o império; reuniu toda a gente que conseguiu retirar-se de Cam Salá e estabeleceu-se novamente em Pirada, onde deu início à construção de uma paliçada, como ainda hoje se pode verificar, pois existem vestígios. Ainda a cons­trução não estava concluída, já o filho do Alfá Moló, Mussá, juntamente com alguns futa-fulas, estava às portas pronto a fazer guerra. Dessa luta saíram vencedores os fulas, desaparecendo assim, para sempre, a ideia da reconstituição do império mandinga, pois os que escaparam ao morti­cínio de Pirada e Cam Salá dispersaram-se, uns para a colónia francesa e outros para o Oio (Farim), ficando desta maneira os fulas senhores de toda a região anteriormente ocupada pelos mandingas. Nesta luta os mandingas utilizaram também artilharia. Uma dessas peças foi encontrada no local da fortificação, tendo sido levada por Sua Excelência o Gover­nador, Comandante Sarmento Rodrigues, para o Museu Etnográfico, em Bissau, havendo memória de uma outra que desapareceu, dizendo os indí­genas que se quebrou.
Francisco Grandão Chefe de Posto


1 comentário:

  1. Bravo,amigo Marques Lopes.adorei este bocadinho de historia.

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