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16 de dezembro de 2011

328-Terra Ardente

Encontrei este livro num alfarrabista:
Não sei quem foi o Dr. José Afonso Guimarães, a quem ele fez a dedicatória neste exemplar, mas ainda me lembro de Norberto Lopes como director do "Diário de Lisboa". Adolfo Norberto Lopes nasceu em Vimioso em Setembro de 1900 e morreu em Linda-a-Velha em Agosto de 1989. Iniciou a sua actividade jornalística no jornal "O Século" em 1919, passando, poucos anos depois, para a redacção do "Diário de Lisboa", tendo sido seu director desde 1956 a 1967, cargo que abandonou para fundar o diário "A Capital", que dirigiu até 1970. Foi um dos fundadores do Sindicato dos Jornalistas. Foi agraciado com a Ordem da Liberdade em 1981. Tem mais de uma dezena de livros publicados e elaborou reportagens de muitas viagens que fez por várias partes do mundo. Uma delas está expressa neste livro, que contém também várias fotografias. Eis algumas:
E um dos textos:

Um régulo prolífero

No dia seguinte, regressámos a Bissau por Bula e Mansôa. No caminho, parámos na povoa­ção de Có, onde está em construção um posto sanitário. O régulo Joaquim Sanca acompanhou­-nos numa visita demorada à tabanca onde vive, ele e as suas 40 mulheres, que já lhe deram 120 filhos - uma riqueza excepcional, pois todos tra­balham para o chefe. Quando lhe perguntámos - entre indígenas da Guiné esta pergunta pode fazer-se sem ferir a honra de ninguém - se eram todos filhos dele, estacou junto de uma palhota onde brincavam crianças e respondeu-nos com um largo sorriso de bonomia:
- Pelo menos nascidos no meu cercado. 
Com que filosofia amável e cómoda encara a vida este velho patriarca brame, que tem perto de 70 anos e ainda há pouco fez o seu último casamento com uma rapariga de 20. Será o último, Joaquim?
Perto da aldeia, do outro lado da estrada, entre as árvores de alto porte que lhe fazem um resguardo natural, fica o cemitério, aonde o régulo não nos acompanha - porque um régulo só pode entrar no cemitério para não voltar e ele não está resolvido a prescindir, por enquanto, de certos momentos agradáveis que a vida lhe proporciona, principalmente nesta altura, em que está em plena lua de mel com a sua última mulher.
Os pelicanos que fizeram o ninho nos ramos altos dos poilões e do pau-bicho encarregaram-se de caiar de branco os potes de barro que assina­lam as sepulturas. A um canto, fica o local das oferendas, onde os sacerdotes vêm fazer os seus sacrifícios e invocar os espíritos dos antepassados. Não falta o pote com vinho de palma e há pulseiras, cabaças, colares de contas e outras bugigan­gas com que as famílias querem honrar a memória dos seus mortos.
Saímos. Na estrada vemos passar por entre nuvens de poeira dois camiões que vão para Bula. É domingo. São jogadores de futebol que se deslocam à sede do posto. Bula joga contra Canchungo para disputa do Campeonato da Guiné.
Os rapazes que logo vão chutar às redes, no meio da algazarra infernal do gentio, que se apaixona por todos os jogos de competição, são filhos dos Papéis, dos Brames e dos Manjacos que Teixeira Pinto submeteu há trinta anos ao domínio português.
Esta simples observação, que à primeira vista parece de pouca importância, depõe por forma eloquente a favor dos nossos métodos de colonização e da nossa acção civilizadora em Africa. 


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