

Foi a operação que se fez a seguir àquela em que entraram dois grupos de comandos, e que ficou em águas de bacalhau. Esta foi feita com cassanhos, só, e deu o que vão ler.
O Agrupamento não teve em conta o que eu dissera ao T.Cor. Hélio Felgas sobre as condições de difícil acesso à base, cercada por um rio e por duas bolanhas (Operação "Jigajoga"), e as consequências podem ver-se neste "capítulo" e nos seguintes.
A operação foi comandada do PCV (Posto de Controlo Volante) pelo Comandante do Agrupamento. Quem faz o relatório da operação é o comandante da companhia, o Cap.Mil.Art. Carlos Manuel Ferreira. O Agostinho Francisco da Câmara (e não Camará), morto na operação, era açoriano e do meu grupo de combate quando eu lá estava, o corpo dele não foi recuperado; o Armindo Correia Paulino, aqui referido, também era do meu grupo de combate, o Bigodes, como lhe chamávamos, acabou por ser morto durante a retirada desta operação na bolanha, e o seu corpo também não foi recuperado. O Lamine Turé foi nessa companhia o meu guarda-costas, ferido comigo pela mina. Igualmente nessa bolanha foi gravemente ferido o alferes Leite Rodrigues com uma roquetada, sendo actualmente capitão reformado da GNR e frequentador assíduo da Tabanca de Matosinhos (é um aparte...).
Sobre o aparecimento de um helicóptero, o relator da operação diz que sim, mas há quem me tenha dito que não viu nada. Também aquando da Op. Jigajoga houve quem dissesse que viu cubanos, mas aqui eu garanto que não vi lá nenhum entre os guerrilheiros. E tive tempo para isso... Penso que há situações que dão para algumas fantasias.
Op Imparável. 15 de 16 de Outubro de 1967:
Situação particular:
O IN tem-se revelado no regulado de Mansomine não só durante as operações, como em ataques a tabancas e aquartelamentos. Possui um acampamento na região de Sinchã Jobel que lhe serve de base às suas acções.
Missão:
Golpe de mão ao acampamento de Sinchã Jobel seguido de uma batida na região.
Força executante:
CMDT: PCV
MEIOS:
Dest A - C CAV 1748.
Dest B -CCAÇ.1685 a 2 Gr Comb ref. c/ 1 PEL MIL/C MIL 3.
Dest C -CART 1690 a 2 Gr Comb ref. c/ 1 PEL MIL/C MIL 3.
Desenrolar da acção:
Em 1504H30, o Dest C saiu auto-transportado de Geba, em direcção a SARE MADINA, progredindo apeadamente em direcção a SUCUTA que atingiu às 08H45 instalou-se no orla junto à bolanha, tendo mantido essas posições até 1610H30OUT67. Durante a noite de 15 para 16 fomos flagelados com 4 tiros de morteiro e rajadas de armas ligeiras automáticas. Cerca das 03H00 foi avistado um Helicóptero IN que sobrevoou o acampamento IN. , tendo o Dest. B e C feito fogo às minhas ordens sobre o IN instalado na margem oposta. Este Dest. não conseguiu atravessar a bolanha, o mesmo sucedendo ao Dest. B, embora quando este último tentou a travessia já tivesse apoio aéreo (ATAP) o PCV ordenou então ao Dest. C a travessia da bolanha às 11H30. Cerca das 03H00 foi avistado um Helicóptero IN que sobrevoou o acampamento IN. Quando o Dest A iniciou a travessia da bolanha em 1609H00OUT67 o mesmo foi atacado por tiros de morteiro e rajadas de armas ligeiras automáticas, tendo o Dest B e C feito fogo de morteiro às minhas ordens, sobre o IN instalado na margem oposta. Este Dest não conseguiu atravessar a bolanha, o mesmo sucedendo ao Dest B embora, quando este último tentou a travessia, já tivesse apoio aéreo (ATAP) o PCV ordenou então ao Dest. C para nomear uma secção e tentar a travessia da bolanha às 11H30. Esta secção foi constituída por: Cap.Mil. Carlos Manuel Ferreira, Alf.Mil. António Costa Neto, Fur.Mil. Abílio José Pombeiro e Soldados Armindo Paulino, António Lopes, Lamine Turé, Mama Baldé e Saliu Baldé.
Esta Secção atravessou a bolanha sob fogo IN e com apoio aéreo dos T-6 chegando ao outro lado da bolanha às 12H45. As 15H00 os Dest A e C tinham atravessado a bolanha e preparavam-se para progredir em direcção ao acampamento IN. Antes de iniciarem a progressão teve de se rebentar uma armadilha A/P, constituída por uma granada do LGF. Os dois Dest A e C atingiram a clareira de Sinchã Jobel pelas l6H40, onde se estabeleceu que o Dest C reforçado por um Gr Comb do Dest A, comandado pelo Alf.Mil. Leite Rodrigues, iria fazer o ataque ao acampamento IN pelas 17H00, caiu-se numa emboscada montada pelo IN. Tentou-se anular a emboscada, que seria conseguido senão fosse a hora tardia, a incapacidade de duas armas pesadas (LGF e MORT 60) e algumas G-3 encravadas do Dest C.
Outra razão talvez decisiva e que fez com que as NT não calassem a emboscada foi o facto de o Dest A não ter envolvido o IN devido ao fogo cerrado do morteiro 60 e 82 do IN. Além destas armas, o IN possuía armas automáticas individuais, 3 MP [metralhadoras pesadas] e alguns lança rocketes ou LGF (Não sei precisar). Uma das MP foi calada pelo nosso LGF. Vários contras para nós surgiram durante a emboscada: O nosso bazuqueiro (passe o termo) Soldado Agostinho Camará que estava a fazer um fogo certeiro, foi atingido mortalmente (note-se que este LGF era o único que estava a fazer fogo). Foi o Soldado enfermeiro Alípio Parreira que se encontrava próximo e que estava a fazer fogo com a ML MG-42 (para a qual o referido soldado se oferecera como voluntário) pegar no LGF e continuar a fazer fogo com ele. Nesta altura tive que pegar na MG-42 e fazer fogo com ela. Logo a seguir tive que me dirigir à rectaguarda a fim de falar com o PCV que me chamava. Quando regressei à frente verifiquei que o já referido soldado enfermeiro recomeçara a fazer fogo com a ML MG-42 e que passado mais alguns momentos ficou impossibilitado de fazer fogo devido a uma avaria, ao mesmo tempo que o soldado enfermeiro e o municiador eram feridos por estilhaços. Mesmo assim este soldado enfermeiro veio para a rectaguarda, onde agarrou no morteiro 60 e continuou a fazer fogo com o mesmo. Foi-me impossível continuar o ataque ao acampamento IN, em virtude de se terem esgotado as munições que levava, as armas pesadas não funcionarem, a noite já ter caído por completo e desconhecermos o terreno.
Deve notar-se, contudo, que nesta altura já o IN dava sinais de fraqueza e, segundo alguns soldados nativos que se encontram juntamente comigo na frente, estarem a gritar que tinham que fugir.
Para retirar, pedi auxilio ao Dest A que foi à frente, permitindo que o Dest C retirasse para fora da zona de morte, donde protegeu a retirada do Dest A.
Já fora da zona de morte, verifiquei que não se tinham trazido os mortos, pelo que enviei novamente à zona de morte alguns soldados para os trazerem. Tal não foi possível, visto estarem armas automáticas do IN apontadas para o local onde se encontravam os corpos. Ainda foram abatidos a tiro de G-3 dois elementos IN, um destes pretendia agarrar o Soldado Armindo Correia Paulino, quando este estava a arrastar um dos nossos mortos para a rectaguarda e que se salvou devido ao aviso oportuno do soldado Saliu Baldé e que permitiu ao primeiro soldado citado abater esse elemento IN, ao mesmo tempo que o soldado citado abatia um segundo elemento IN, que se encontrava armado e estava a proteger o outro elemento IN abatido.
Seguidamente efectuou-se a retirada (e friso mais uma vez que esta teve de ser feita devido ao Dest C ter esgotado as munições e as armas avariadas), tendo o IN vindo em nossa perseguição até à bolanha onde os últimos elementos a atravessá-la (o Dest C) foram alvejados por rajadas de armas automáticas. Após a travessia da bolanha verifiquei que o Dest B já não se encontrava em Sucuta. Os Dest A e C atingiram SARE MADINA pelas 02H00 de 17, onde aguardaram viaturas do Dest C que os transportaram para GEBA, tendo uma viatura do Dest C seguido para Bafatá com os feridos mais graves.
Resultados obtidos:
-Baixas sofridas pelo IN: - Mortos confirmados 8 e baixas prováveis numerosas.
-Foi destruída uma armadilha A/P e destruída ou danificada uma MP.
Comentários:
O plano de acção inicial não foi cumprido. Se tivesse sido, o acampamento IN teria sido destruído porque o Dest A conseguiu chegar a 50 metros do acampamento IN sem ser detectado.
Nota:
Em 27 de Agosto de 1967 foi recebida uma noticia C2 em que referia que o IN tinha sofrido 54 mortos e muitos feridos ainda não controlados.
As NT tiveram tarefa bastante penosa no regresso devido a terem que transportar 12 feridos graves e 22 ligeiros por as evacuações não poderem ser feitas de Helicóptero durante a noite.
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