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20 de dezembro de 2010

25-Ataque ao destacamento de Cantacunda



Antes de ser ferido, estive algum tempo neste destacamento. Conheci-o bem. Caracterizava-se pelas péssimas condições das instalações do pessoal e pelos deficientíssimos meios e condições de defesa. Sublinho que ficava a cerca de 50 kms. da sede da companhia. Sem luz eléctrica (como todos os destacamentos da CART 1690), nem um miserável gerador… estava, como se vê pelo relatório, pegado à floresta. O armamento era ultrapassadas metralhadoras pesadas Dreyses e Bredas, morteiro 81 e 60. Os abrigos eram uns buracos de difícil acesso e sem condições interiores. E com pouco efectivo, um pelotão normalmente. No dia deste ataque estavam lá apenas duas secções. Situava-se relativamente perto da base de Samba Culo do PAIGC (a tal que foi destruída em 1967, mas que, é claro, foi logo reconstruída de seguida…). O soldado Aguiar (João Alves Aguiar) era do meu grupo de combate, foi o único que tentou resistir com a G3 à boca do abrigo e morreu, por isso. 11 foram capturados, entre eles o furriel que comandava o destacamento, o Vaz. Foram libertados, depois, aquando da tentativa de invasão na Guiné-Conakri. Apesar das péssimas condiçõe e dos fracos efectivos, é evidente ( e sei que foi assim, porque me contaram) que houve desleixo e facilitismo em excesso. Se não tivesse havido, não tenho dúvidas que as coisas não teriam sido tão fáceis para os atacantes.











ATAQUE A CANTACUNDA
10/11ABR68
DESENROLAR DA ACÇÃO
  No dia 10 do corrente cerca das 00H00, o destacamento de CANTACUNDA foi  atacado por numeroso grupo IN.
  Devido à hora a que o ataque foi realizado a guarnição do destacamento encontrava-se quase toda a dormir na caserna; Devido à configuração do terreno ( do lado NORTE do destacamento existe uma floresta que dista, no máximo de 5 metros do arame farpado; do lado POENTE essa floresta prolonga-se  e verifica-se que havia 2 aberturas no arame farpado; Uma que durante a  noite era fechada com um cavalo de frisa outra que devido às obras e construção da pista de aterragem se encontrava aberta; Do lado SUL existia a tabanca cujas moranças confinavam com o arame farpado; do lado NASCENTE  existe uma bolanha), devido também à falta de iluminação exterior o IN  pôde aproximar-se do arame farpado sem ser detectado pelas sentinelas e abrir fogo com bazookas e lança rocketes sobre a caserna, tendo em seguida atacado pelos lados NORTE, POENTE e SUL: pelo lado NORTE o IN atirou com  troncos do árvores para cima do arame farpado tendo em seguida ultrapassado o mesmo; Do lado POENTE afastou o cavalo de frisa e penetrou por essa  abertura, e pelo lado da pista; Pelo lado SUL infiltrou-se pelas tabancas  que queimou e em seguida penetrou no aquartelamento.
  Devido à simultaneidade com que os movimentos foram efectuados (Os mesmos  foram comandados do exterior por apitos) verificou-se que as NT não poderam  atingir os abrigos e foram surpreendidos no meio da parada. Note-se, contudo, que alguns elementos das NT ainda conseguiram atingir os abrigos (por exemplo os 1°s. Cabos ESTEVES E GOUTINHO e os Soldados AREIA e AGUIAR  tendo este último sido morto no local e os restantes conseguido escapar).
  Devido ao numeroso grupo IN não foi possível contudo organizar uma defesa  eficaz pelo que as NT foram obrigadas a abandonar o destacamento; No entan to só 9 elementos é que conseguiram escapar, tendo 11 desaparecido ( provavelmente feitos prisioneiros) e 1 morto.
POSSÍVEIS CAUSAS DO INSUCESSO DAS NT:
 -O poder de fogo do IN
 -O grande numero de elementos que constituíam  o grupo IN
 -A violência com que o ataque foi desencadeado
 -A pontaria certeira do grupo IN, que acertou os primeiros disparos na caserna das NT.
 -O Comando eficaz do grupo IN.
 -A falta de iluminação existente no destacamento
 -Possível insuficiência de abrigos
 -As proximidades da mata do arame farpado
 -As proximidades da tabanca do arame farpado
 -O reduzido efectivo das NT
 -Possível abrandamento das condições de segurança
 -Longa distância deste destacamento à Sede da Companhia (cerca de 50 kms)
COMENTÁRIOS
  Posteriormente veio a saber-se, por declarações de alguns milícias e elementos da população civil detidos para averiguações, que o ataque teve a conivência do próprio Comandante da milícia e de elementos da população. Todos os elementos que precisavam, tais como distâncias para colocar as armas pesadas, local da entrada no destacamento e vias de acesso ao mesmo,  foram fornecidos por esses indivíduos que traíram as NT.
Os que foram capturados em Cantacunda foram libertados aquando da operação Mar Verde. Menos os soldado Luís dos Santos Marques, que morreu no cativeiro. Há quem diga que foi por doença. Sobre o Armindo Correia Paulino há um erro que começou logo na companhia, que o deu como "retido pelo IN": ele "não compareceu" porque não foi feito prisioneiro, morreu na operação Imparável e o corpo não foi recuperado. Os outros dois, o João da Costa Sousa e o Francisco Gomes da Silva, consta que foram para Argel. Nunca mais se soube deles.
De referir que, a CART2743, a segunda a substituir a CART1690 em Geba, tinha um pelotão em Cantacunda que foi atacado em na noite de 26.10.71. De dados que eu tenho, os guerrilheiros chegaram a ultrapassar a primeira linha de arame farpado (estavam melhor que na altura da CArt1690...), mas as NT aguentaram-se. Unidades de Geba e de Bafatá (elementos do Bart2920 e ERFox 2640) foram em seu auxílio logo nessa madrugada, tendo sido emboscados no caminho entre Camamudo e Cantacunda, morrendo nessa emboscada seis elementos da CArt 2743: o 1º Cabo Atirador António João Ferreira dos Santos, os Soldados Atiradores Avelino da Costa Gomes, Diamantino da Encarnação Cunha, Jorge da Encarnação Lourenço e Luciano Augusto Paula. O Soldado Condutor José Henriques Teixeira Silva foi ferido e acabou por morrer no HM241 a 31.10.71. Foi também morto nesta emboscada o Alferes de 2ª Linha Malique José Semedo Baldé, da CMil3. 

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