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15 de dezembro de 2010

22-Regresso a Sinchã Jobel

A 6 de Abril de 2006, eu e o meu amigo Xico Allen mais dois camaradas, o Armindo e o Costa, e mais dois jovens, a filha do Xico Allen, a Inês, e o filho do Albano Costa, o Hugo, largámos do Porto em direcção à Guiné-Bissau. Fomos por terra de jipe numa viagem interessante, não sem alguns percalços, mas bem superados pela experiência e desembaraço do habitué dessas andanças, o Xico Allen. Ao fim de sete dias chegámos a Bissau, tendo-se juntado a nós, depois, mais três camaradas chegados de avião. Na semana seguinte, com o jipe com que fôramos e mais um alugado, visitámos alguns dos locais por onde tínhamos passado aquando das nossas comissões de serviço na Guiné. No fim dessa semana, eu e o Xico Allen ficámos e os outros regressaram todos a Portugal de avião.
Tive, então. e com a ajuda do meu amigo, oportunidade de programar com calma aquilo que era o meu grande objectivo nesta viagem: ENTRAR FINALMENTE EM SINCHÃ JOBEL. Da minha experiência passada sabia que seria impossível o acesso de jipe pelo sul, por Sucuta, visto o rio e as bolanhas, pelo que vi ser melhor ir pelo norte por Sare Banda.
Até aí foi por uma picada cheia de buracos, um deles seria mesmo o da mina que me feriu a mim e matou o capitão, pois ela estava na mesma como há trinta e tal anos, e foi perto de Sare Banda que a tal mina rebentou. Chegámos e verifiquei que era uma tabanca mais pequena do que aquela que eu conhecera antes. Tivéramos lá um destacamento e havia poucos restos disso.

Restos nossos em Sare Banda.

Perguntámos a um grupo qual o caminho para Sinchã Jobel, mas disseram-nos que não havia picada, só um carreiro. Um rapaz que lá estava disse-nos que era difícil ir lá com o jipe mas que, se quiséssemos tentar, nos podia indicar o caminho. Fomos com ele. Chamava-se Maliq e era taxista em Bissau, tinha vindo ali visitar a família. Perante o meu espanto por ver agora a tabanca tão pequena, explicou-nos que depois da guerra cada etnia tinha saído para tabancas próprias. Ali, agora, tinham-se mantido os fulas. E eu, é claro, que sabia que o reordenamento forçado durante a guerra tinha esvaziado tudo à volta e concentrado as populações da zona em Sare Banda.
Foi muito difícil o caminho até Darsaleme e Sare Dembel, mas mais difícil ainda quando saímos daí em direcção a Sinchã Jobel. Porque era uma mata serrada com um carreiro muito estreito. Mas, em marcha lentíssima, solavancos e inclinações, a arte do Xico Allen levou-nos ao destino.
Manga de ronco um jipe ali! O grupo que estava debaixo da árvore chegou-se logo ao pé de nós e partiram-se mantenhas (trocaram-se cumprimentos). Disse ao que vinha, que tinha sido militar português e tinha estado ali durante a guerra. Um homem grande (velho) apontou para outros dois:
- O Darami e o Mulé lutaram aqui.
Simpáticos, falaram connosco e ofereceram-se para nos acompanhar a dar uma volta na zona.
...A clareira onde apanhei a emboscada e fiquei sozinho ( Operação Jigajoga)





Estão aqui sinais visíveis nas árvores dos bombardeamentos da aviação portuguesa. O Darami e o Mulé confirmaram-me que muitas ou rebentavam nas árvores ou caíam no chão sem deflagrar



Nesta zona tinha o PAIGC montadas as "baracas", na expressão deles, isto é, as casas de mato que não eram visíveis do ar porque estavam cobertas por grandes árvores. Às vezes, disse o Darami, mudavam de local, mais para trás ou mais para o lado, conforme as circunstâncias e as informações que tinham de ataques da tropa portuguesa.

Além de terem sentinelas junto do rio e das bolanhas tinham sempre um em cima desta árvore.
Estavam sempre preparados para "receber" a tropa .



O Darami diz-me que, como não tinham tempo, não faziam covas para os enterrar. Os corpos dos mortos eram atirados para dentro deste poço.
"Os nossos também?", perguntei-lhe.
"Sim, todos."
Pensei com tristeza que lá estarão o alferes Fernandes (Op. Invisível) e o soldado Câmara (Op. Imparável).


Disseram-me que tinham caído várias sem rebentar, que tinham conseguido destruir todas menos esta. Deixaram-na ficar ao longo destes anos todos.

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