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30 de março de 2011

93-Horas de sorte e carregadores emboscados.

Tínhamos saído de Gendo após tragarmos as rações de combate. Era o primeiro dia da operação Inquietar I. As duas companhias de intervenção seguiam à frente pelo meio da mata, o meu grupo de combate ia no fim de tudo, com a recomendação do capitão Maia sobre as cautelas a ter na rectaguarda. Calor escaldante, mata difícil de transpor, a enorme bicha de pirilau às tantas parou. Nós também, estávamos a atravessar uma pequena clareira.
- "Pessoal, aproveitem para descansar um pouco", e, juntamente com o Lamine Turé, meu guarda-costas, dei o exemplo. Sentámo-nos os dois encostados a uma árvore. Desapertar da farda, alívio, duas goladas do cantil com água choca, era o que havia mas dava.
Não sei quantos minutos passaram, se dois, se três, se mais ainda, não estava nada preocupado em contar o tempo. Em relax mas alerta, ouvi os sons já familiares: o baque duma saída do outro lado da clareira e um silvo que se aproximava.
- "Chão!", gritei, deslizando com o Lamine para cima das ervas. E vi, com estes olhos que a guerra não comeu, a granada a ricochetear nas ervas e a parar, calma e serena, poucos metros à minha frente. Ao mesmo tempo rebentava grande tiroteio mais longe, na zona da cabeça da coluna.
- "Fogo para o outro lado!", disse aos meus, que já estavam no chão.
- "Tivemos sorte, meu alferes", segredava-me o Lamine entre rajadas, "o gajo viu-nos sentados e deitou-se no chão com o RPG para nos apanhar em cheio, e falhou".
Foram dez minutos de combates. Lá mais à frente havia de tudo: RPGs, morteiros metralhadoras pesadas. Mas aqui os gajos só tinham armas ligeiras e o RPG. Passados esses dez minutos verifiquei que eles não respondiam e mandei parar o fogo. Pareceu-me que já não estavam lá.
- "Marcelo, Bicho, Ribeiro (este ainda estava entre nós)", disse aos furriéis, "vamos entrar na mata, vamos apanhar de lado os gajos que estão a atacar a coluna lá à frente".
Fui à cabeça com o Lamine Turé. O tiroteio lá à frente continuava. Passados quinhentos metros diz-me o Lamine:
- " Alferes, estão ali turras", e apontou-me uma árvore perto da qual estavam três indivíduos ajoelhados.
Fiz sinal ao grupo para parar. Apontei a G3 à perna de um e disparei. Corri para eles seguido por todos. Quando chegámos ao pé deles vi que o ferido na perna gemia e os outros gritavam "ka turra, ka turra!". Verifiquei espantado que não tinham arma nenhuma.
- "Lamine, quem são estes gajos, afinal?"
Conversou com eles e disse-me depois:
- "São carregadores do capitão Raiano, fugiram para aqui quando começou a emboscada."
- "Tiveram sorte que não lhes mandei uma rajada".
Bonito, estava feito. Ia ouvir o capitão Raiano.
Mas ele não se chateou.
- "Foram burros. Quem os mandou meter-se na mata?"
Fiquei satisfeito. Era o que eu pensava também
O homem foi evacuado de heli no dia seguinte. Os outros dois passaram a olhar-me com desconfiança cada vez que nos cruzávamos.

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