Vou-te escrever uma carta, é mais longa e não dá para aerograma. Já não ponho à cabeça "querida", ou "amor", nem outra coisa qualquer, porque já não sei como te chamar. O teu silêncio fez que me fartasse de ti, porque me fazes sentir as frustrações que já senti, porque me faz sentir o mesmo cansaço que já tive. O quão longe estou de ti, no espaço, no tempo, na vida.
Nas últimas semanas a minha tem sido uma vida com tudo o que há de pior: fome de amor, melancolia, azedume, solidão, vontade de morrer. Tive tantas vezes vontade de te pedir auxílio, mas vi que tu não estás em condições de ame ajudar. Cheguei à conclusão que de ti não posso esperar apoio. Prefiro não o pedir. Se o peço e tu não mo dás - e não dás, com certeza - é pior. É lançar-me com confiança e desembocar no desespero.
Vivi situações em que seria confortante ter alguém com quem desabafasse, alguém que me ouvisse. Não é que me resolvesse os problemas que só eu posso resolver, mas que fosse um apoio mos momentos difíceis com a sua ternura, a esperança do amor. Nunca esperei isso de ti, o que é mau. É porque penso que és incapaz disso. Posso amar-te mas tu não me amas.
Não me serves. Até nem será por culpa tua, talvez. Eu é que fui um louco em me virar para aí. Tens demasiados factores envolventes que te distraem, ou, se calhar, nem te chegas a distrair porque nunca estiveste nessa de me amar. Comigo não. A guerra, as horas e dias no mato, até as mulheres daqui, tudo me leva a desejar-te.
Mas não dá.
Eu amo~te. Mas é preciso que tu me ames. Tens de provar que me amas. Eu não sei nada de ti. Começo a suspeitar que iludi a mim mesmo. Tens que me provar alguma coisa. É que me sinto humilhado com o teu silêncio. Estúpido, com tantas hipóteses de morrer já tenho pensado no suicídio para acabar com a humilhação. Sinto-me como cão a mexer o rabinho e olhando para o dono e nem uma festinha levar. É triste morrer sem amor.
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