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8 de abril de 2011

101-O cerco de Guidage

O cerco de Guidaje 

No início de Maio de 1973, a guarnição militar de Guidaje era constituída por uma companhia de caçadores do recrutamento local, a Companhia de Caçadores 19 e pelo Pelotão de Artilharia 24, equipado com obuses de 10,5 cm. 

Guidaje estava sob o comando operacional do COP3, que tinha sede em Bigene. Com o agravamento da situação, o comandante, tenente-coronel Correia de Campos, deslocou-se para Guidaje em 10 de Maio, com o seu posto de comando avançado, onde se manteve até 12 de Junho. 

O PAIGC dispunha, concentradas, as seguintes forças na região de Cumbamori: 

- Corpo de Exército (CE) 199/B/70, com quatro bigrupos de infantaria e uma bateria de artilharia; 

- Corpo de Exército (CE) 199/C/70, com cinco bigrupos de infantaria e uma bateria de artilharia; 

- Grupo de Foguetes da Frente Norte, com quatro rampas; 

- Três bigrupos de infantaria, um grupo de reconhecimento e uma bateria de artilharia do CE 199/A/70, deslocadas de Sare Lali (Zona Leste). 

Gravura inserta no livro "Guiné - 1968 e 1973 - Soldados uma vez, soldados para sempre", de Nuno Mira Vaz
 Foram ainda referenciados em Cumbamori um pelotão de morteiros de 120 mm, um grupo especial de sapadores e diversos elementos recém-chegados do estrangeiro. 
Do lado do PAIGC estimavam-se em cerca de seiscentos e cinquenta a setecentos os efectivos que empenhou nesta operação, comandados por Francisco Mendes (Chico Te) e pelo comissário político Manuel dos Santos, que era o responsável pelos mísseis em todo o território. 
O primeiro objectivo do PAIGC foi isolar Guidaje, cuja localização era excelente, situada em cima da fronteira, o que diminuía a frente de um possível contra-ataque ou de um reforço. Dada a inibição das forças portuguesas em manobrar pelo território do Senegal, elas só poderiam vir de sul, ou seja de Binta e de Cufeu. Nesta zona, sensivelmente a meio caminho entre as duas localidades, o PAIGC havia instalado forças significativas e lançado vasto campo de minas. O ataque a Guidaje por norte garantia contínuo fluxo de reabastecimento de munições e efectivos, dado que podiam efectuar-se por viatura a partir de Zinguichor, Cumbamori, Yeran ou Kolda, o que permitia manter o cerco durante largo período de tempo. 
Para cercar Guidaje, o PAIGC começou por cortar o itinerário de Binta e instalar sistemas antiaéreos com mísseis Strella. 
O isolamento aéreo de Guidaje iniciou-se com o abate de um avião T-6 e de dois DO-27 e o terrestre acentuou-se em 8 de Maio, quando uma coluna que partira de Farim, escoltada por forças do Batalhão de Caçadores 4512, accionou uma mina anti-carro e foi emboscada, sofrendo doze feridos. Em 9 de Maio, a mesma força foi de novo emboscada, mantendo-se o contacto durante quatro horas. 
A coluna portuguesa sofreu mais quatro mortos, oito feridos graves, dez feridos ligeiros e quatro viaturas destruídas, deslocando-se então para Binta, em vez de subir para Guidaje. 
Em 10 de Maio, no deslocamento de Binta para Guidaje, o conjunto de unidades envolvidas, sob o comando do comandante do batalhão de Farim, sofreu mais um morto e dois feridos e encontrou a picada cortada por abatises. Entretanto, as forças da CCaç 19, saídas de Guidaje para proteger o itinerário na sua zona de acção, tiveram cinco contactos, sofrendo oito mortos e nove feridos. 
No relatório desta acção, o seu comandante descreve assim a violência do contacto de fogo: « (...) em relação às NT, o IN estava de frente, dos dois lados da picada, e foi impossível fazer uma reacção conveniente pelo fogo. A primeira sessão pelo fogo causou-nos imediatamente três mortos ( ... ) o IN voltou à carga com maior ímpeto, mas as NT já estavam preparadas para o receber e aqui teve as primeiras baixas. Estando um cabo gravemente ferido com um estilhaço no pescoço, o soldado auxiliar de enfermeiro correu para junto dele a fim de o socorrer. Estando ajoelhado a seu lado foi atingido por uma rajada que lhe provocou a morte. 

Gravura inserta no livro "Guiné - 1968 e 1973 - Soldados uma vez, soldados para sempre", de Nuno Mira Vaz

Gravura inserta no livro "Guiné - 1968 e 1973 - Soldados uma vez, soldados para sempre", de Nuno Mira Vaz
Começavam a escassear as munições e foi dada ordem para fazer fogo de precisão, tanto quanto possível. Quando o fogo parou por escassos segundos um dos furriéis tentou chegar junto dos mortos para recuperar os corpos. Quando se levantava para realizar esta acção, pela terceira vez o IN atacou as nossas posições. Notando a impossibilidade de recuperar os corpos dos mortos e porque a falta de munições era quase total, o comandante viu-se coagido a ordenar a retirada... ». 
Em 12 de Maio, chegou a Guidaje uma coluna de reabastecimentos constituída pelos destacamentos de fuzileiros especiais 3 e 4. Em 15, no regresso a Farim, accionaram duas minas e sofreram dois feridos graves e numa emboscada entre Guidaje e Binta, cinco feridos. 
Uma coluna que entretanto saiu de Binta alcançou Guidaje no mesmo dia. Contudo, em 19, no regresso, accionou várias minas e sofreu emboscada violenta. Teve um morto e sete feridos, esgotou as munições e regressou a Guidaje. 
Em 23 de Maio, saiu uma coluna de Binta para Guidaje protegida por uma companhia de pára-quedistas. A coluna regressou ao ponto de partida, porque a picada estava minada em profundidade, e a companhia de pára-quedistas, apesar de ter sofrido violenta emboscada feita por um grupo de cerca de setenta elementos, que lhe causou quatro mortos, chegou a Guidaje. 
Em 29 de Maio, foi organizada uma grande operação para reabastecer Guidaje. Constituíram-se quatro agrupamentos com efectivos de companhia em Binta e dois agrupamentos em Guidaje, estes para apoiar a progressão na parte final do itinerário. A coluna alcançou Guidaje nesse dia, tendo sofrido dois mortos e vários feridos. 
Em 30 de Maio, em virtude da informação de agravamento da situação no Sul (Guileje), estas forças regressam às suas bases para serem de novo empregues. 
Em 12 de Junho, considerou-se terminada a operação de cerco a Guidaje. Uma coluna partiu desta guarnição para Binta, trazendo o tenente-coronel Correia de Campos, que comandara o COP3 durante este difícil período.
Baixas das colunas de e para Guidaje, entre 8 de Maio e 8 de Junho de 1973: 
Mortos 22 
Feridos 70 
Viaturas destruídas 6 
Em suma, o primeiro objectivo do PAIGC foi isolar Guidaje, o segundo foi flagelar a posição e destruir o espírito de resistência das forças portuguesas e o último seria conquistar a povoação. Guidaje sofreu, entre o dia 8 e o dia 29 de Junho, 43 flagelações com artilharia, foguetões e morteiros. Logo no dia 8, esteve debaixo de fogo por cinco vezes, num total de duas horas, em 9, sofreu quatro ataques, em 10, três e até ao final todos os dias foi atacada. No total dos 43 ataques, a guarnição de Guidaje sofreu sete mortos, trinta feridos militares e quinze entre a população civil. Foram causados estragos em todos os edifícios do quartel.

Operação Ametista Real - a resposta 

O nítido agravamento da situação em Guidaje, que era particularmente nítido a partir de 8 de Maio, as notícias de grandes movimentações de tropas do PAIGC junto à fronteira com o Senegal, a dificuldade de reforçar e apoiar por terra aquela guarnição, dada a resistência encontrada pelas colunas que ali se dirigiam, e a existência de vários feridos que não podiam ser evacuados para os hospitais pelas limitações de emprego de meios aéreos, levaram o comandante-chefe a lançar uma operação de grande envergadura para envolver as forças do PAIGC que atacavam Guidaje e aliviar a pressão sobre aquela guarnição militar que permitisse reabastecê-Ia, retirar os feridos e substituir pessoal. 

Gravura inserta no livro
 "Guiné - 1968 e 1973 - 
Soldados uma vez, soldados para sempre", 
de Nuno Mira Vaz
Esta tarefa foi atribuída ao Batalhão de Comandos da Guiné, que recebeu a missão de «aniquilar ou, no mínimo, desarticular a organização do lN na região de Guidaje-Bigene». 

As forças executantes, num total de cerca de quatrocentos e cinquenta homens, foram assim organizadas: 

Comandante da operação - major Almeida Bruno. 

Agrupamento Romeu 

- 1.ª Companhia de Comandos - capitão António Ramos. 

Agrupamento Bombox 
Agrupamento Centauro 
- 3.ª Companhia de Comandos - capitão Raul Folques. 
As forças do Batalhão de Comandos saíram em 18 de Maio de Bissau numa LDG, apoiadas por duas LFG, e desembarcaram em Ganturé nessa tarde. Depois de um briefingem Bigene, saíram pelas 23 e 50h para Norte, pela seguinte ordem:
- Agrupamentos Bombox, Centauro e Romeu. 

Gravura inserta no livro "Guiné - 1968 e 1973 - Soldados uma vez, soldados para sempre", de Nuno Mira Vaz
 Pelas 5 e 30h, de 19 de Maio, a testa da coluna alcançou o itinerário que apoiava a base de Cumbamori, objectivo principal da operação. O Agrupamento Bombox passou para norte da estrada, o Agrupamento Centauro ocupou posições a sul e o Agrupamento Romeu instalou-se à retaguarda, numa pequena povoação. 
Ás 8 e 20h iniciou-se o ataque aéreo com aviões Fiat G-91, que destruíram os paióis da base, tendo as munições explodido durante algum tempo. 
Às 9 e 05h o Agrupamento Bombox executou o assalto inicial, provocando o primeiro contacto com as forças do PAIGC. Estes combates desenrolaram-se até às 14 e 10h, quando o comandante da operação deu ordem para o Agrupamento Centauro apoiar uma ruptura de contacto entre as suas forças e as do PAIGC. Foi uma operação de grande dificuldade, porque os combatentes de um e outro lado se encontravam muito próximos. O comandante do Agrupamento Centauro foi ferido, mas conseguiu realizar essa separação. 
Às 14 e 30h, o Batalhão de Comandos iniciou o movimento para a base de recolha e às 18 e 20h, os seus primeiros elementos chegaram a Guidaje. Em 20 de Maio, o mesmo batalhão saiu de Guidaje para Sinta, a pé, deixando ali os seus feridos e os militares que não se encontravam em condições de prosseguir a marcha. Em Sinta, embarcou numa LDG de regresso a Bissau. 
Nesta operação, o Batalhão de Comandos sofreu dez mortos, vinte e dois feridos graves e três desaparecidos, estimando ter causado sessenta e sete mortos, entre os quais, segundo informação mais tarde obtida no Senegal, uma médica e um cirurgião cubanos e quatro elementos mauritanos. 
Durante a acção, as forças do Batalhão de Comandos consumiram as seguintes munições: 
7,62mm(G-3)    26 700 
7,62mm(Kalash)    4 600 
Granadas de lança-granadas-foguete de 6 e 8,9 mm 292 
GranadasRPG-2eRPG- 71 
Granadas morteiros 195 
Granadas mão ofensivas e defensivas 268
A situação melhorou durante algum tempo, até porque o esforço do PAIGC se passou a concentrar na frente sul, sobre Guileje e Gadamael. 
Nestes 20 dias do mês de Maio e nesta região em torno de Guidaje, as forças portuguesas sofreram trinta e nove mortos e cento e vinte e dois feridos.

(Andelmo Aníbal e Carlos Matos Gomes, in http://guerracolonial.org, site da A25A/RTP)

- 2.ª Companhia de Comandos - capitão Matos Gomes. 

Em termos de efectivos, a guarnição portuguesa teria cerca de duzentos homens, na maioria do recrutamento da província, com as suas famílias, existindo em redor do quartel uma pequena aldeia com cada vez menos habitantes. 

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