RELATÓRIO DA OPERAÇÃO DESENVOLVIDA A PARTIR DE 24/25 DE ABRIL DE 1974
1. SITUAÇÃO
As F.A., descontentes com o governo, pretendem fazê-lo substituir.
2. MISSÃO
a) Ocupar, e defender das Forças Governamentais, o Aeroporto da Portela;
b) Ocupar e garantir o controlo da Vila de Mafra;
c) Ocupar e garantir o controlo do Aquartelamento.
3. FORÇA EXECUTANTE
a. Comandante
Major de Infantaria AURÉLIO MANUEL TRINDADE.
b. Comandantes das Sub-Unidades
- Companhia de Intervenção:
Comandante – Capitão de Infantaria RUI RODRIGUES
Adjuntos – Capitão de Infantaria ALBUQUERQUE
Capitão de Infantaria AGUDA
- Forças destinadas ao controlo da Vila de Mafra:
Comandante – Capitão de Infantaria VICENTE FERNANDES
Adjunto – Capitão de Infantaria BABO DE CASTRO
- Forças destinadas ao controlo de acessos:
Comandante – Tenente de Infantaria S: FERNANDES
- Forças destinadas à ocupação do Aquartelamento:
Comandante – Capitão de Infantaria SILVÉRIO
c. Meios
- Uma Companhia de Atiradores em 3 bigrupos de 50 homens cada.
- Dois grupos de combate a 40 homens cada.
- Um grupo de combate a 50 homens.
- Uma Companhia de Atiradores para a defesa do Aqurtelamento.
- Reserva.
Uma Companhia de Atiradores.
Duas Companhias do C.O.M./2º Ciclo
d. Articulação das Forças
- A indicada em c.
4. PLANOS ESTABELECIDOS PARA A ACÇÃO
a. Ao Toque de Ordem, saída do Aquartelamento dos Oficiais do Movimento para as suas casas de acordo com horários anteriores.
b. Em 242100ABR74 recolheram à E.P.I. os Oficiais do Movimento, que ficaram nos quartos até ser dado aos Emissores Associados o sinal do desencadear da Acção.
c. Em 242300ABR74 recolha à E.P.I. dos Oficiais, Praças e viaturas que estavam no campo em exercícios finais C.C.C./C.O.M.
d. Em 242400ABR74 os Oficiais do Movimento saíram dos seus quartos para formarem as Sub-Unidades de intervenção e contactarem com os Oficiais presentes na Unidade, que não estavam dentro do Movimento.
e. Em 250200ABR74 saída da Companhia para ocupação do Aeroporto.
f. Em 250215ABR74 saída das Forças para ocupação dos pontos chaves de Mafra, controlo da Vila de Mafra e controlo dos acessos a esta Vila.
g. Em 250400ABR74 ocupação do Aeroporto pelas Forças de intervenção
5. DESENROLAR DA ACÇÃO
Em 242400ABR74 processaram-se as seguintes acções:
- Telefonema do Oficial de Dia pra o Coronel FREITAS, informando-o de que havia uma chamada do QG/RML, pretexto este com vista à sua saída da residência.
- Os Comandantes das Forças de intervenção começam a formar e a preparar as suas Sub-Unidades.
- O Comandante da defesa do Aquartelamento começa a assegurar a sua defesa como se tivéssemos entrado de Prevenção Rigorosa.
- Em 250015ABR74 sai da sua residência o Coronel FREITAS, que foi abordado pelo Capitão SILVÉRIO e levado a um compartimento, onde se encontravam os Majores TRINDADE e CERQUEIRA DA ROCHA.
- Às 250016ABR74 o Coronel FREITAS é posto ao corrente da situação e começa a ser preparado para aderir ao Movimento.
- Em 250100ABR74, e a pedido do Coronel FREITAS, sai uma Equipe do Aquartelamento que se desloca a casa do Tenente Coronel ROCHA GOMES, para o trazer ao Aquartelamento.
- Em 250130ABR74 chega ao Aquartelamento o Tenente Coronel ROCHA GOMES e é-lhe exposta a situação.
- Em 250200ABR74 sai do Aquartelamento a Companhia auto-transportada destinada à ocupação do Aeroporto. Forças
- Em 250230ABR74 saem do Aquartelamento as Forças destinadas à ocupação dos “pontos chaves” da Vila de Mafra, ao controlo do acesso à Vila e ao controlo de toda a Vila.
- Em 250245ABR74 tinham sido ocupados os seguintes pontos chaves da Vila:
- Serviços Municipalizados
- Instalações da Companhia das Àguas
- Correios Telégrafos e Telefones
- GNR
- PSP
- Delegação da Manutenção Militar
Em 250400ABR74 a Companhia, depois de se ter deslocado de Mafra até à Portela, seguindo o itinerário MAFRA-MALVEIRA-LOURES-FRIELAS-CAMARATE-AEROPORTO, ocupou as seguintes dependências:
- Edifício principal, instalações da DGS, da Guarda Fiscal e Gabinete de Som.
- Depósito de Combustíveis e Esquadra da PSP.
- Torre de controlo de tráfego aéreo.
- A partir de 25400ABR74 em Mafra terminaram as operações militares, sendo os deslocamentos existentes apenas os necessários para a rendição do pessoal de vigilância e patrulhamento dos pontos ocupados.
- Em 251600ABR74 a Companhia instalada no Aeroporto recebeu ordem para com parte dos seus efectivos se deslocar para o Largo do Carmo a fim de combater as forças do RC7 fiéis ao Governo.
- Em 251700ABR74 a Companhia do Aeroporto recebeu ordem para ir ao RAL1 libertar os presos das Caldas, sendo anulada a ordem de ir para o Carmo. Deslocaram-se ao RAL1 o Capitão RODRIGUES e o Capitão ALBUQUERQUE que conversando com o Comandante da Unidade souberam que este tinha aderido ao Movimento há cerca de 30 minutos. Os presos foram libertos e os dois Oficiais regressaram ao Aeroporto.
- Finda esta missão, a Companhia recebeu nova missão de ir buscar a Monsanto o Ministro do Exército que ali se tinha refugiado. Deslocou-se aí o Capitão RODRIGUES com um efectivo de 33 homens; entabuladas conversações entre este Oficial e o General TAVARES MONTEIRO chegou-se à conclusão de que estavam em Monsanto as seguintes entidades:
- Ministro da Defesa
- Ministro do Exército
- Ministro da Marinha
- 4 Oficiais Generais
Todas estas entidades foram detidas e levadas sob escolta para o RE1.
- Na madrugada do dia 26 a Companhia recebeu a missão de ir ao Largo do Carmo a fim de evitar distúrbios.
- Em 260800ABR74 a Companhia foi substituída por Paraquedistas e foi-se apresentar ao RE1 ao Comando do Movimento.
- Em 260900ABR74 a Companhia da EPI começou a ser comandada pelo Major de Cavalaria BIVAR, o que bastante estranhou aos Oficiais da Companhia, já que todas as missões de importância tinham sido cumpridas cabalmente sem ser necessário um Major para comandar a Companhia, estavam dois destes Oficiais na EPI que para além de serem da máxima confiança dos Oficiais do Movimento conheciam todos os Oficiais s Praças da Unidade. Tudo isso deu como consequência haver na Companhia dosi Comandos distintos: um aceite e outro imposto, que vei trazer sérios problemas disciplinares pois as ordens eram cumpridas e não aceites, pelas Praças e Oficiais Subaltenos.
- Em 261000ABR74 a companhia da EPI juntamente com uma Unidade da Marinha tomou posse das instalações da DGS na rua António Maria Cardoso. Depois da ocupação do edifício, o resto da Companhia regressou ao RE1 deixando ficar nas instalações um grupo comandado pelo Capitão AGUDA.
- Assim que a Companhia chegou ao RE1 foi-lhe dada nova missão: controlar uma manifestação popular no Rossio. A missão foi cumprida tendo um indivíduo sido entregue no Comando Geral da PSP por se suspeitar ser da DGS. A missão acabou cerca das 2200.
- Em 262330ABR74 nova missão levou parte da Companhia até às instalações do Jornal Época. Esta missão teve como consequência serem detidos 3 elementos de pertencerem à DGS tendo a Companhia regressado à A.M. cerca das 0330.
- Em 270800ABR74 parte da Companhia, juntamente com elementos da Marinha, apossou-se das instalações da Escola Prática da DGS em Sete Rios, tendo regressado à A.M. às 1200.
- Em 271000ABR74 a outra parte da Companhia sob o comando do Capitão ALBUQUERQUE foi utilizada na escolta sob prisão, para a Trafaria, de um Comandante da LP.
- Em 271100ABR74 o resto da Companhia que se encontrava na rua António Maria Cardoso, sob o comando do Capitão AGUDA, foi utilizada na escolta, para Caxias, de elementos da DGS.
- Em 271300ABR74 parte do efectivo da Companhia foi utilizado na ocupação das instalações da LP, no Castelo de S. Jorge. Tendo sido ouvidos tiros na zona do Rossio, a força deslocou-se até a esta zona, onde foi detiso um indivíduo que se tinha refugiado na Esquadra da PSP, como elemento suspeito da DGS que foi entregue em Lanceiros 2.
- Em 271600ABR74 marcharam da EPI para Lisboa 3 Companhias de Atiradores, comandadas pelo Major CERQUEIRA DA ROCHA, que se apresentaram no QG/RML
- Em 281000ABR74 a Companhia iniciou o movimento para a EPI onde chegou perto das 1200.
- Em tempo oportuno foram recolhidas pelas Forças de Mafra, as armas e munições da LP de Torres Vedras, Lourinhã, Cadaval e Mafra.
Também em tempo oportuno foram ocupadas as instalações da LP em Torres Vedras, Lourinhã e Cadaval.
6. SERVIÇOS
a. Tansportes
Estes serviços funcionaram normalmente, e, dado que havia viaturas cedidas por empréstimo, para os exercícios finais do CCC/COM, foi possível motorizar 4 Companhias que chegaram a estar juntas em Lisboa e ficar com as viaturas mínimas para os serviços da Unidade.
b. Logistica
c. Os serviços de alimentação funcionaram bem. Pelos estudos feitos antes do início da acção, havia em Mafra alimentação para 5 dias.
d. Munições
Foi assegurada a existência na Unidade das munições necessárias para o desenrolar dos acontecimentos.
7. APOIOS
A GNR, a PSP e a população deram às Forças da EPI todo o apoio necessário para que a missão atribuída fosse muito facilitada. Cabe aqui uma citação especial a todo o pessoal que Trabalhava no Aeroporto, com relevo para o Sr. CHAVES DE ALMEIDA e o Director do Aeroporto que muito contribuíram para o bom sucesso da missão. Também ao Capitão Piloto Aviador MARTINS cabe uma citação muito especial pois foi graças a este Oficial que se garantiu a segurança do tráfego aéreo no território Nacional.
8. CONCLUSÕES E ENSINAMENTOS
Com determinação tudo se consegue.
9. DIVERSOS
Todo o pessoal que sob o comando do Capitão RODRIGUES cumpriu todas as missões que lhe foram atribuídas merece, pelo seu espírito de sacrifício e pelo seu querer de bem servir as causas do Movimento das Forças Armadas,é aqui louvado, pois todo o esforço que lhe foi exigido transcende o que até aqui era humanamente possível conseguir.
O COMANDO DO MFA/EPI
· Aurélio Manuel Trindade
Major de Inf.ª
· Jorge Manuel Silvério
Capitão de Inf.ª
· Rui Martins Rodrigues
Capitão de Inf.ª
· Carlos Alberto Frias Barata
Tenente de Inf.ª
· António da Silva Fernandes
Tenente de Inf.ª
in "O Refrencial, N.º 21" (boletim da Associação 25 de Abril)
Sem comentários:
Enviar um comentário