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10 de abril de 2011

104-Papéis do baú da memória

Vi isto nuns papéis que encontrei:

Feitas as apresentações, a instrução começou pelas coisas mais simples, naturalmente, pela indicação de noções e regras de funcionamento. Toda a gente levou exemplares do RDM e do Manual do Oficial Miliciano. Eram os evangelhos, segundo foi explicado, o dever de obedecer e de fazer a guerra. Receberam manuais disto e daquilo, de armamento, de táctica militar, de uso do equipamento, sinais de combate, etc.

(a seguir há frases que não percebo, os papéis estão gastos e amarelados...)

O toque de corneta, a despertar, soou com tal brutalidade que mais parecia o chamamento para o juízo final. Mesmo já com esse som tornado habitual, todos se soergueram nas camas com o coração aos saltos. 
Se é assim que vai suceder aos mortos nesse dia definitivo, vai ser com certeza um dia terrível. Para os justos e predestinados ao gozo eterno é um castigo imerecido, não dá gozo nenhum, pelo contrário. Para os condenados ao inferno é demais antes do julgamento. Nem é justo antes de serem julgados. Não, com certeza que não será assim o despertar dos mortos no dia do juízo. Aliás, nem percebo. Para quê este dia se já há uns no céu e outros no inferno? Porquê esta encenação? Por certo só se explica por alguma manifestação de sadismo por parte da divindade. A não ser que algum bom comportamento dos já habitantes do inferno possa pesar nesse final juízo divino para a eternidade. Mas como sustentar, assim, que o  castigo é eterno logo após a morte? Mas, se for isso, porque não aproveitar e viver sempre e bem no pecado, redimindo-se depois com o bom comportamento no inferno? 
Deixa-te de tretas e levanta-te mas é.
Havia sempre o choque diário da corneta. Com o tempo, passou a ser de curta duração. O automatismo, a reacção padrão, fruto da repetição, instalara-se já como um comportamento feito de reflexos condicionados. O Aiveca foi dos primeiros a saltar da cama. O Pais, na cama ao lado, refilou como habitualmente: 
- "Cabrões de merda. Estava a dormir tão bem.  Acordaram-me mesmo na altura em que me ia pôr na miúda...". 
- "Este gajo só pensa na mulher. Não tens vergonha, pá?", disseram todos.
- "Vão-se foder. Vergonha é ser casado e não ter onde se ponha."
O Félix, que dormia perto, no vão duma janela, já arrumava metodicamente as coisas e fazia a cama. Era um tipo giro, dormia com uma espécie de pantufas de lã. 
- "Aqui ao pé da janela gelam-se-me os pés. Tive que mandar fazer isto. Não há quem mos aqueça".
Invariavelmente, vestiu o roupão, pegou na bolsa dos artigos de higiene, no rolo de papel higiénico e marchou calmamente.
- "Às cagadeiras, em frente marche. Desculpem se me descuidei. É que sofro dos intestinos."
Mas já todos à volta dele tinham debandado, tal era o pivete. Todos não. O Realinho deu meia volta na cama e virou-se de papo para o ar. Não havia nada que o demovesse. Nem o cabo corneteiro, o "juízo final", nem o Félix, "gás tóxico". 
Era assim todos os dias. Já todos estavam a escovar desalmadamente as botas, até fazer desaparecer a água que as ensopara na véspera, quando o Realinho, estremunhado, se sentava na cama e o Félix, todo lavado e bem cheiroso, aparecia calmamente do lado das cagadeiras.
- "É para compensar. Eu sei que me descuido muitas vezes, embora a mim não me cheire a nada."

(há mais umas coisas que não percebo)

Escadaria abaixo para chegar a tempo ao pequeno-almoço e à formatura da manhã. Quem chegar atrasado faz dez flexões!

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