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4 de janeiro de 2012

344-Operação Safira Solitária


Com a devida vénia e agradecimento ao Carlos Fortunato dos Leões Negros.

20 de Dezembro 1971 - Operação Safira Solitária realizada por duas companhias de comandos africanos na zona de Morés, Oeste da Guiné, com vários contactos com forças do PAIGC. Disse o Comunicado Especial do Comando-Chefe: 
“...Montada a operação, denominada "Safira Solitária", foi esta levada a efeito por unidades da força africana e teve início ao alvorecer do dia 20 prolongando-se até à tarde do dia 26 tendo as nossas forças sido guiadas na floresta por elementos das populações da área pertencentes à nossa rede de informações que conhecia a localização precisa das posições inimigas.  Apesar de colhido de surpresa o inimigo estimado em 6 bigrupos, 2 grupos armados de armas pesadas instalados em posições fortificadas e cerca de 333 elementos armados da milícia popular, opôs durante os três primeiros dias tenaz resistência acabando todavia por ser desarticulado e aniquilado, tendo sofrido 215 mortos confirmados, entre os quais três cubanos, e alguns mercenários estrangeiros africanos, 28 capturados, além de apreciável número de feridos.  Segundo declarações dos capturados, encontravam-se na área pelo menos mais 4 elementos cubanos.  Verificou-se que o inimigo estava implantando no Morés um sistema de fortificação de campanha do qual se destacavam espaldões para armas pesadas e abrigos subterrâneos para pessoal.  Os grupos de guerrilha, pela resistência que ofereceram revelaram uma sensível melhoria de enquadramento e uma técnica mais avançada de guerra de posição.  No decurso da operação foi capturado o seguinte material: 1 canhão sem recúo B-10, 2 morteiros de 82 mm, 2 morteiros de 60mm, 3 metralhadoras pesadas Goryonov, 7 lança-granadas RPG-7, 14 espingardas automáticas Kalashnikov, 38 espingardas semi-automáticas Simonov, 8 espingardas Mosin Nagant, 14 pistolas metralhadoras PPSH, além de avultado número de armas de repetição, de cunhetes de munições, fitas e carregadores, destruídos no local por desnecessários. As nossas forças sofreram 8 mortos, 12 feridos graves e 41 feridos ligeiros." 
Amadu Bailó Djaló alferes da 1ªCompanhia de Comandos Africanos, conta que o seu grupo não participou no inicio da operação, e quando se juntou aos restantes comandos, estes estavam concentrados na zona dos cajueiros do Morés, que era perto da barraca central. Quando lá chegou começava a anoitecer, e apercebeu-se que já estavam ali desde o meio-dia, pelo que alertou para o perigo que isso representava, mas responderam-lhe, que se atacassem era bom, era maneira como lhe apanhava-mos todas as armas, pois estavam ali 200 comandos. 
Quando a noite caiu, o PAIGC  atacou, um violento e certeiro bombardeamento de morteiros, provocou de imediato muitos feridos, e uma fuga precipitada para outra posição, lançando a confusão. 
"Tivemos que fugir rapidamente para outra posição, pois as granadas caíram mesmo em cima de nós. mas depois regressei novamente ao local onde tinha estado, dado ter deixado lá a minha arma."  
Quando procurava a arma, uma voz chamou-o, era um soldado ferido, disse-lhe que estava ferido nos pés, como estava muito escuro, apalpou-lhe os pés para ver como estavam, eram uma massa de sangue, foi chamar o enfermeiro.  O enfermeiro chamou-o à parte e disse-lhe que não havia nada a fazer, ele iria morrer durante a noite, pois iria esvaziar-se em sangue até de manhã, altura em que poderia ser evacuado.
“Amadu voltou para me juntar ao meu grupo, mas no caminho chamaram-no novamente, era outro soldado ferido”.  
Estava ferido numa perna, parecia que tinha um tendão cortado, mas não teve tempo para o ajudar, a resposta dos comandos africanos ao poder de fogo do PAIGC revelava-se insuficiente para deter, e este avançava rapidamente no terreno, ao assalto às posições dos comandos, pelo que lhe disse voltaria para o vir buscar (quando lá voltou tinha sido morto pelo PAIGC com um tiro na cabeça). 
Amadu juntou-se ao seu grupo, e recuaram novamente, inicialmente queriam recuar para a zona das bananeiras, que era um local escuro e que dava alguma protecção, mas a Amadu pareceu-lhe demasiado óbvio, e disse para recuarem para o meio do capim, local com pouca protecção. 
"O PAIGC bombardeou com morteiros a zona das bananeiras, suspeitando que nós estávamos lá, e passou perto de nós da zona do capim, gritavam: "Cú, Cú", "Comando",  "Aparece se és homem", mas ficamos calados." - comenta Amadu.
Os confrontos pararam, pois conseguiram não ser detectados, e ao amanhecer deslocaram-se para uma zona, onde pudessem evacuar os feridos, mas ai receberam ordem para regressar, e o assalto à barraca central nunca se efectuou.
Quebá Sedi combateu desde 1963 até 1974, foi chefe de um bigrupo no Morés, e lembra-se bem da operação ocorrida em Dezembro de 1971, em que a tropa veio passar o natal com os combatentes pela liberdade da pátria. Segundo as suas palavras, o que se passou foi o seguinte: 
“Primeiro veio uma avioneta que andou a sobrevoar a mata, depois durante 13 dias, bombardeiros, helicópteros, e os canhões do Olossato, Bissorã, Cutia e Mansabá, bombardearam de dia e de noite o Morés. No fim dos bombardeamentos, devem ter pensado que estava tudo morto, e helicópteros trouxeram as tropas, que largaram em várias zonas, à volta do Morés.  Os combatentes fizeram-lhes duas emboscadas, mas depois perderam-lhes o rasto, muita gente pensou que se tivessem ido embora, pois não de ouvia nada. As tropas tinham-se reunido no Morés, na zona dos cajueiros, muito perto da barraca grande do Morés, era véspera de Natal, e era sua intenção atacar a barraca grande do Morés, no dia seguinte, pelo que passaram aqui a noite.  Um homem grande detectou o brilho de um cigarro, de um soldado que estava de pé a fumar, com a arma ao lado, e foi avisar os combatentes da barraca grande. O comandante da barraca grande era Abu Ladja, mas existiam ali outros comandantes como Lamam Sisse, Dique Daringue, e outros. Gerou-se alguma discussão se era mesmo tropa que estava ali, pois não queriam ir bombardear a população, uns diziam "É tuga", outros "É cá tuga". Dique Daringue foi encarregado de investigar, e os combatentes levaram 2 morteiros 60 e 2 morteiros 82. Dique Daringue para ter a certeza de que era tropa mandou disparar uma rajada, em resposta ouviu-se falar português, eram "tugas", e abriu-se fogo. As tropas tiveram muitos mortos e feridos, foram apanhadas muitas armas e um rádio. As tropas também conseguiram apanhar algumas armas, pois dias antes tinham encontrado em Bongontom uma arrecadação com armas velhas, e outra com armas novas no Morés".

(Publicado em 21/05/2006, e revisto em 1/08/2007 por Carlos Fortunato, http://leoesnegros.com.sapo.pt/ )

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