Com a devida vénia e agradecimento ao Carlos Fortunato dos Leões Negros.
20 de Dezembro 1971 - Operação Safira Solitária realizada por duas companhias de comandos africanos na
zona de Morés, Oeste da Guiné, com vários contactos com forças do PAIGC. Disse
o Comunicado Especial do Comando-Chefe:
“...Montada a operação, denominada "Safira
Solitária", foi esta levada a efeito por unidades da força africana e teve
início ao alvorecer do dia 20 prolongando-se até à tarde do dia 26 tendo as
nossas forças sido guiadas na floresta por elementos das populações da área
pertencentes à nossa rede de informações que conhecia a localização precisa das
posições inimigas. Apesar de colhido de surpresa o inimigo estimado em 6 bigrupos, 2
grupos armados de armas pesadas instalados em posições fortificadas e cerca de
333 elementos armados da milícia popular, opôs durante os três primeiros dias
tenaz resistência acabando todavia por ser desarticulado e aniquilado, tendo
sofrido 215 mortos confirmados, entre os quais três cubanos, e alguns
mercenários estrangeiros africanos, 28 capturados, além de apreciável número de
feridos. Segundo declarações dos capturados, encontravam-se na área pelo menos
mais 4 elementos cubanos. Verificou-se que o inimigo estava implantando
no Morés um sistema de fortificação de campanha do qual se destacavam espaldões
para armas pesadas e abrigos subterrâneos para pessoal. Os grupos de
guerrilha, pela resistência que ofereceram revelaram uma sensível melhoria de
enquadramento e uma técnica mais avançada de guerra de posição. No
decurso da operação foi capturado o seguinte material: 1 canhão sem recúo B-10,
2 morteiros de 82 mm, 2 morteiros de 60mm, 3 metralhadoras pesadas Goryonov, 7
lança-granadas RPG-7, 14 espingardas automáticas Kalashnikov, 38 espingardas
semi-automáticas Simonov, 8 espingardas Mosin Nagant, 14 pistolas metralhadoras
PPSH, além de avultado número de armas de repetição, de cunhetes de munições,
fitas e carregadores, destruídos no local por desnecessários. As nossas forças
sofreram 8 mortos, 12 feridos graves e 41 feridos ligeiros."
Amadu Bailó Djaló alferes da 1ªCompanhia de Comandos
Africanos, conta que o seu grupo não participou no inicio da operação, e quando se juntou aos
restantes comandos, estes estavam concentrados na zona dos cajueiros do Morés,
que era perto da barraca central. Quando lá chegou começava a anoitecer, e
apercebeu-se que já estavam ali desde o meio-dia, pelo que alertou para o
perigo que isso representava, mas responderam-lhe, que se atacassem era bom,
era maneira como lhe apanhava-mos todas as armas, pois estavam ali 200
comandos.
Quando a noite caiu, o PAIGC atacou, um violento e
certeiro bombardeamento de morteiros, provocou de imediato muitos feridos, e
uma fuga precipitada para outra posição, lançando a confusão.
"Tivemos que fugir rapidamente para outra posição,
pois as granadas caíram mesmo em cima de nós. mas depois regressei novamente ao
local onde tinha estado, dado ter deixado lá a minha arma."
Quando procurava a arma, uma voz chamou-o, era um soldado
ferido, disse-lhe que estava ferido nos pés, como estava muito escuro,
apalpou-lhe os pés para ver como estavam, eram uma massa de sangue, foi chamar
o enfermeiro. O enfermeiro chamou-o à parte e disse-lhe que não havia
nada a fazer, ele iria morrer durante a noite, pois iria esvaziar-se em sangue
até de manhã, altura em que poderia ser evacuado.
“Amadu voltou para me juntar ao meu grupo, mas no caminho
chamaram-no novamente, era outro soldado ferido”.
Estava ferido numa perna, parecia que tinha um tendão
cortado, mas não teve tempo para o ajudar, a resposta dos comandos africanos ao
poder de fogo do PAIGC revelava-se insuficiente para deter, e este avançava
rapidamente no terreno, ao assalto às posições dos comandos, pelo que lhe disse
voltaria para o vir buscar (quando lá voltou tinha sido morto pelo PAIGC com um
tiro na cabeça).
Amadu juntou-se ao seu grupo, e recuaram novamente,
inicialmente queriam recuar para a zona das bananeiras, que era um local escuro
e que dava alguma protecção, mas a Amadu pareceu-lhe demasiado óbvio, e disse
para recuarem para o meio do capim, local com pouca protecção.
"O PAIGC bombardeou com morteiros a zona das
bananeiras, suspeitando que nós estávamos lá, e passou perto de nós da zona do
capim, gritavam: "Cú, Cú", "Comando", "Aparece
se és homem", mas ficamos calados." - comenta Amadu.
Os confrontos pararam, pois conseguiram não ser
detectados, e ao amanhecer deslocaram-se para uma zona, onde pudessem evacuar
os feridos, mas ai receberam ordem para regressar, e o assalto à barraca
central nunca se efectuou.
Quebá Sedi combateu desde 1963 até 1974, foi chefe de um
bigrupo no Morés, e lembra-se bem da operação ocorrida em Dezembro de 1971, em
que a tropa veio passar o natal com os combatentes pela liberdade da
pátria. Segundo as suas palavras, o que se passou foi o seguinte:
“Primeiro veio uma avioneta que andou a sobrevoar a mata,
depois durante 13 dias, bombardeiros, helicópteros, e os canhões do Olossato,
Bissorã, Cutia e Mansabá, bombardearam de dia e de noite o Morés. No fim dos
bombardeamentos, devem ter pensado que estava tudo morto, e helicópteros
trouxeram as tropas, que largaram em várias zonas, à volta do Morés. Os
combatentes fizeram-lhes duas emboscadas, mas depois perderam-lhes o rasto,
muita gente pensou que se tivessem ido embora, pois não de ouvia nada. As
tropas tinham-se reunido no Morés, na zona dos cajueiros, muito perto da
barraca grande do Morés, era véspera de Natal, e era sua intenção atacar a
barraca grande do Morés, no dia seguinte, pelo que passaram aqui a noite.
Um homem grande detectou o brilho de um cigarro, de um soldado que estava de pé
a fumar, com a arma ao lado, e foi avisar os combatentes da barraca
grande. O comandante da barraca grande era Abu Ladja, mas existiam ali
outros comandantes como Lamam Sisse, Dique Daringue, e outros. Gerou-se
alguma discussão se era mesmo tropa que estava ali, pois não queriam ir
bombardear a população, uns diziam "É tuga", outros "É cá
tuga". Dique Daringue foi encarregado de investigar, e os combatentes
levaram 2 morteiros 60 e 2 morteiros 82. Dique Daringue para ter a certeza
de que era tropa mandou disparar uma rajada, em resposta ouviu-se falar
português, eram "tugas", e abriu-se fogo. As tropas tiveram
muitos mortos e feridos, foram apanhadas muitas armas e um rádio. As tropas
também conseguiram apanhar algumas armas, pois dias antes tinham encontrado em
Bongontom uma arrecadação com armas velhas, e outra com armas novas no Morés".
(Publicado em 21/05/2006, e revisto em 1/08/2007 por
Carlos Fortunato, http://leoesnegros.com.sapo.pt/ )
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