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18 de janeiro de 2012

357-Depoimento de Elisée Turpin


Elisée Turpin é um dos fundadores do PAIGC, no dia 19 de Setembro de 1956. Nasceu a 23 de Maio de 1930, em Bissau, onde frequentou Escolas Primária e Secundária.  
Mais tarde, vinha a concluir o curso de Contabilidade por correspondência. Foi empregado da Companhia Francesa S.C.O.A. – Sociedade Comercial Oeste Africana (de 1942 a 1956).  
De 1958 a 1964, Foi empregado da Casa António Silva Gouveia, e de 1964 a 1973, exerceu a função de Gerente da ANCAR.  
De 1973 a 1976, exerceu a função de Secretário Geral da Associação Comercial. A partir de 1976, começou a trabalhar por conta própria.  
Foi Militante do Partido Comunista Português na clandestinidade em Bissau, e é Militante do PAIGC desde a sua criação. 
O presente depoimento está ligado à fundação do PAIGC, expondo alguns factos de que se recorda e em que participou, para permitir uma maior e melhor percepção deste acontecimento histórico ocorrido em 19 de Setembro de 1956, em Bissau.
"... O espírito de revolta contra a presença colonial aumentou consideravelmente, a partir de 1942, altura em que o Governador da Província da Guiné era o Sr. Ricardo Vaz Monteiro, e o Administrador de Bissau era Pereira Cardoso.
O Governador Ricardo Vaz Monteiro, fortemente influenciado pela esposa Maria Augusta, quis introduzir o sistema de "Apartheid" na Província, ao tentar impor que nos estabelecimentos comerciais fossem criadas zonas separadas para brancos e pretos. A tentativa gorou, pois foi contestada pelos proprietários dos estabelecimentos comerciais.
Na sequência dessa tentativa, foi preso o maior comerciante guineense na altura, Sr. Benjamim Correia, alegadamente por se ter queixado junto do Governo Central de Lisboa sobre o ocorrido. Ele foi preso e transportado para Cabo Verde - Tarrafal. 
O mesmo Governador introduziu um código de postura em que era proibido andar nos passeios de Bissau a todo o indígena que não tivesse sapatos nos pés.
Estes factos e mais outros que ocorreram durante os anos 50, reforçaram o espírito nacionalista e patriótico em muitos guineenses. Foi nesse período dos anos 50 que o Amilcar Cabral regressou à Guiné e começou a fazer contactos com vista à criação duma Associação Desportiva, através da qual levávamos a cabo actividades políticas.
Alguns de nós eram militantes clandestinos do Partido Comunista Português, nomeadamente, Abílio Duarte e eu (mais tarde soube que o Rafael Barbosa o era também). Os activistas políticos não se conheciam todos, por motivos ligados à segurança.
Amilcar Cabral nos dizia que devíamos trabalhar como uma pirâmide. Isto é, o núcleo principal e de contactos permanentes seria pequeno, mas cada um devia ter a sua "Célula". Eu, por exemplo, tendo como Célula a Zona Velha da Cidade de Bissau (pois morava nessa zona), nunca tive contacto com Rafael Barbosa. Só mais tarde vim a saber dele, como sendo um dos principais activistas políticos desde anos 40 e um dos mentores da criação do Partido. 
                                                              A minha residência era no interior deste edifício.
Para além das Células, estabeleceram-se pontos focais, ou seja elos de ligação no interior do País. Por exemplo, o elo de ligação em Farim era o Dionísio Dias Monteiro; em Bolama era Carlos Domingos Gomes (Cadogo Pai); em Catio era Manuel da Silva. 
Lembro-me de algumas pessoas que se movimentavam na altura como activistas políticos e muitos deles envolvidos na criação do Partido:
  • Amilcar Cabral, Aristides Pereira, Rafael Barbosa, Luís Cabral, Abílio Duarte, Fernando Fortes, João Rosa, Inácio Semedo, Victor Robalo, Júlio Almeida, João Vaz, Domingos Cristovão Gomes Lopes.
Contudo, no dia 19 de Setembro de 1956, na fundação (criação formal do Partido, denominado PAI - Partido Africano da Independência), compareceram apenas 6 pessoas:
  • Amilcar Cabral, Aristides Pereira, Luís Cabral, Fernando Fortes, Júlio Almeida, Elisée Turpin.
Muitos não compareceram devido a constantes perseguições dos elementos da então PIDE. Nós que conseguimos participar no encontro, tivemos que ser muito prudentes e discretos: entravamos um a um e saíamos da mesma forma.
       Edifício onde foi fundado o PAI, sito no Bairro de Tchada, em Bissau.
O evento teve lugar no primeiro andar do edifício onde residiam Aristides Pereira e Fernando Fortes, no Bairro de Tchada, próximo do Hospital Nacional "Simão Mendes".
Eram volta das 5 horas de tarde desse dia. Foram aprovados os Estatutos do PAI elaborados e apresentados por Amilcar. A reunião deve ter durado cerca de 1 hora de tempo.
A partir dessa data, intensificaram-se os contactos, visando levar a mensagem junto dos guineenses e cabo-verdianos e anunciar as nossas intenções. O grosso das reuniões do PAI, a partir da sua criação, tiveram lugar na residência de João Rosa, que se situava no Chão de Papel.
Nessas movimentações participaram muitos outros activistas. Lembro-me de alguns:
  • Quintino Nosoline, Ladislau Lopes Justado, Manuel Lopes Justado, Rui Barreto, Epifanio Soto Amado, Alfredo Menezes, Carlos Correia José Ferreira de Lacerda, Gudifredo Vermão de Sousa (Tatá), Milton Sezimudo Pereira de Borja, José Opadai, Armando Lobo de Pina.
O intensificar de actividades e constantes movimentações políticas levaram a que a PIDE reforçasse as perseguições e, consequentemente, muitos activistas foram sendo aprisionados e torturados nas diferentes celas de prisões. Este facto e outros, nomeadamente os acontecimentos de Pindjiguiti em 1959, levaram à tomada de decisão do Partido de instalar a sua Direcção no país vizinho independente - Guiné Conakry...." 
  
http://www.paigc.org/  

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