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20 de janeiro de 2012

362-Há nuvens que envolvem ainda o assassinato de Amílcar Cabral

Dalila Cabrita Mateus diz em “A PIDE/DGS na Guerra Colonial, 1961-1974” que «O assassínio de dirigentes foi um tipo de operações levado a cabo pela PIDE/DGS. No entanto, constituía um assunto delicado». E refere que o elemento dessa polícia incumbido de dar andamento ao plano para a liquidação de Amílcar Cabral escreveu à margem do processo: «Comuniquei particularmente ao chefe da Delegação que este assunto não pode ser objecto de correspondência oficial. Ou não se dizem ou não se fazem». Refere, por isso, que não é possível encontrar relatórios da PIDE sobre a liquidação de Amílcar Cabral, até porque, citando José Pedro Castanheira, in “Quem mandou Matar Amílcar Cabral”, o inspector adjunto Alberto Matos Rodrigues recomendou que «Em trabalhos desses, não se deixam provas».

E houve vários planos, assevera esta investigadora dos Arquivos da PIDE existentes na Torre do Tombo.
O primeiro terá sido em 1967, o do inspector Miguel António Cardoso, então chefe da delegação da PIDE na Guiné, que mandou vir de Conacri um antigo combatente para que, conhecedor dos locais por onde Cabral costumava passar nessa cidade, o matasse a tiro ou com granadas apreendidas aos guerrilheiros. Só que, azar, esse homem foi preso pela tropa portuguesa e deixou de valer. Mandou vir de Conacri mais dois elementos para o mesmo objectivo, mas, entretanto, foi substituído. O novo chefe da delegação achou que um deles era bêbedo e que o outro não tinha estofo e a operação foi abandonada.
Em 1969 houve outra tentativa, esta planeada pela Aginter Press, uma encapotada agência de informações sedeada em Portugal mas que, efectivamente, se dedicava ao recrutamento de mercenários. Tinha ligações com a PIDE e com a Legião Portuguesa desde 1966. Teve a colaboração da Secretaria de Estado da Informação e Turismo, do Ministério dos Negócios Estrangeiros e da Casa de Portugal em Paris, e participavam um diplomata senegalês, oposicionistas a Sékou Touré e elementos da FLING. O orçamento era superior a quatro mil contos, e o prémio em caso de êxito mil contos. Foi a Operação Chèvre. Se não deu ou não foi avante, a investigadora não precisa.
Veio, depois, a Operação Mar Verde, em Novembro de 1970, planeada e comandada por Alpoim Calvão, com o apoio de Spínola e de Marcelo Caetano. No livro de António Luís Marinho, “Operação Mar Verde, Um Documento para a História”, vêm as missões atribuídas a cada um dos grupos participantes na operação. Por exemplo, uma das do comandante Benjamim Lopes de Abreu era “a eliminação física do Presidente da República da Guiné Ahmed Sékou Touré” (documento 11). A ninguém foi explicitamente atribuída a missão da “eliminação física de Amílcar Cabral”. No entanto, ao 1º Ten. FZE Raul Eugénio Dias da Cunha e Silva tinha como missão: “Ataque e destruição de elementos e instalações do PAIGC em Conacry II: …41-Secretariado e habitação de Amílcar Cabral; 42-Casa de Aristides Pereira e Propaganda”. E diz ele, no seu relatório, que “decidi atacar primeiro e rapidamente os objectivos considerados de primeira importância: 41 e 42…”. Não é, pois, credível que a eliminação de Amílcar Cabral não fosse também um dos objectivos. Dalila Mateus narra que foi lançada sobre a casa de Amílcar Cabral uma chuva de obuses, tendo um deles acertado em cheio no quarto ao lado daquele onde dormia a mulher de Cabral, que teve de sair com os filhos pelas traseiras da casa. Numa casa ao lado ficaram gravemente feridos um casal jugoslavo e uma filha, uma outra filha deles morreu com um estilhaço na cabeça. E refere que Alpoim Calvão disse ao Público de 21 de Maio de 1991 que se Cabral estivesse em Conacri teria sido seguramente eliminado.
Em 1971 foi a delegação da PIDE em Cabo Verde que mobilizou mil contos para contratar um cabo-verdiano residente em Monróvia, na Libéria, e com anteriores ligações a Cabral e Agostinho Neto. Era para, com mais seis indivíduos, assassinar Amílcar Cabral e destruir um depósito de material de guerra em Conacri. Não resultou.
Mas a PIDE andava também atenta às divisões dentro do PAIGC.
Em Junho de 1967 teriam armadilhado a casa de Cabral em Koundaré e teriam sido enviadas cartas para Catió, Cabedu, Farim, Mansoa e Bula com o intuito de não serem acatadas as ordens de Amílcar Cabral. Os conjurados foram presos e fuzilados. E a PIDE afirma ter ouvido, na altura, que Nino Vieira encarou com simpatia “o movimento conspirativo do Boé”. Também em Setembro desse ano parece ter havido um atentado contra o Secretário-geral do PAIGC. Foi também o ano, constou em Dezembro, do descontentamento dos mandingas pelas baixas sofridas em combate e pelo facto de os cabo-verdeanos serem poucos a combater.
Em Janeiro de 1968 foi assinalado novo movimento de revolta e, nesse ano, as notícias das divisões no PAIGC levaram a PIDE a tomar nota e, como consta numa das pastas dos Arquivos da PIDE, “Em face desta notícia foi considerado superiormente que se devia procurar, por todos os meios, se necessário mesmo financeiros, explorar estas divergências”.
(...)
E conta Otelo Saraiva de Carvalho, em “Alvorada em Abril”, que o inspector Fragoso Allas (grande amigo de Spinola) lhe terá dito que “os tipos tinham ido longe demais, porque a missão era só raptar e conseguir trazer Amílcar Cabral para Bissau como refém”. 
É claro, então, que foi resultado de uma missão da PIDE. Não condiz o "era só raptar" com as declarações acima citadas do Ten. FZE Raul Eugénio Dias da Cunha e Silva, quando este diz que, na operação Mar Verde, decidiu a destruição do "Secretariado e habitação de Amílcar Cabral", bem como com Alpoim Calvão, que disse que Amílcar Cabral seria eliminado se estivesse em Conacri na altura da invasão.
Como se vê,  a eliminação dos líderes dos movimentos de libertação foi um objectivo desde sempre. Relativamente a Amílcar Cabral também o era em 1970. Não em 1973?...
Podem ler este texto completo que escrevi em 
http://coisasdaguine.blogspot.com/2011/01/42-amilcar-cabral-foi-assassinado-ha-38.html


E esta!!

BRUNO OLIVEIRA SANTOS entrevista ÓSCAR CARDOSO, inspector da PIDE
B.O.SA PIDE delineou algum plano secreto para matar Amílcar Cabral?
O.C: Não. Assim como lhe disse abertamente que a PIDE colaborou na eliminação de Eduardo Mondlane, também lhe garanto que nunca existiu nenhum plano para matar Amílcar Cabral. Quam matou Cabral foram dissidentes do PAIGC, a PIDE não teve nada a ver com aquilo. Essas histórias estão todas muito mal contadas. E na altura do 25 de Abril havia já um acordo entre o Nino Vieira e o nosso governo para aquele vir para Portugal, com a mulher e a filha, cuja colocação na Universidade estava já assegurada. Ora, quem conta essa história muito bem é o coronel Vaz Antunes, que estava então na Guiné, num opúsculo chamado Uma Diligência Interrompida. Os guerrilheiros do PAIGC estavam cansados, queriam acabar com a guerra e sobretudo não admitiam a sua subordinação aos cabo-verdianos.

QUEM MANDOU MATAR AMÍLCAR CABRAL?

Amílcar Cabral foi assassinado a tiro, à porta da sua residência na Guiné-Conacri, na noite de 20 de Janeiro de 1973. Sabe-se que é líder do PAIGC e principal dirigente dos movimentos de libertação das colónias portuguesas foi morto por um companheiro de luta, fuzilado dias depois, juntamente com quase uma centena de conspiradores. O que nunca se soube foi quem verdadeiramente o mandou matar, quem, na sombra, preparou e organizou o crime e tentou um golpe de estado no interior do partido. Terá sido uma facção guineense e negra, que não aceitava a liderança dos cabo-verdianos e mestiços? Qual o papel do despótico presidente da República da Guiné, Sekou Touré, que não suportava a projecção internacional de Cabral e a sua ligação à cultura portuguesa? E da PIDE/DGS, que pusera a sua cabeça a prémio, que se infiltrara na direcção do PAIGC e que tudo fizera para eliminar o principal inimigo do regime? Enfim, será que os militares portugueses estiveram de todo alheados desta trama, eles que, anos antes, comandados por Spínola, não haviam hesitado em invadir Conacri?
O livro que constitui o desenvolvimento de uma reportagem publicada no “Expresso” em 1993 procura desvendar todos estes enigmas, a partir de uma investigação feita em Portugal, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Senegal e República da Guiné, de uma centena de entrevistas e da consulta inédita aos arquivos da PIDE/DGS e do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Um contributo para desvendar um crime que permanece misterioso. Uma homenagem a uma figura grande da História contemporânea de África, comparável a Nelson Mandela.

Autor: José Pedro Castanheira

Editor: Relógio d’Água
Ano de edição: 1999 (3ª)

Os americanos também procuram baralhar...

Segundo os Serviços de Informação dos Estados Unidos, em relatório datado de 1 de Fevereiro de 1973, o crime resultara de um conflito “entre mulatos das ilhas de Cabo Verde e africanos do continente". O conflito racial instalado no seio do PAIGC vinha “de longa data" e havia também "oposição esporádica dura dos seus comandantes militares que se irritavam com os limites por ele (Amílcar Cabral) imposto à actividade militar na Guiné portuguesa e à continua subordinação dos militares aos objectivos políticos
Washington, 26 Dezembro – Trinta e seis anos depois do assassinato de Amílcar Cabral ( a 20 de Janeiro de 1973), o Departamento de Estado norte-americano libertou os documentos oficiais nele arquivados sobre a conspiração que eliminou o líder do PAIGC. Segundo os documentos norte-americanos agora revelados, um mês após o crime a Administração norte-americana mostrava-se convencida de que Portugal não esteve directamente envolvido na morte de Amilcar Cabral, não excluindo todavia a possibilidade da "cumplicidade de Lisboa".
Segundo os Serviços de Informação dos Estados Unidos, em relatório datado de 1 de Fevereiro de 1973, o crime resultara de um conflito “entre mulatos das ilhas de Cabo Verde e africanos do continente". O conflito racial instalado no seio do PAIGC vinha “de longa data" e havia também "oposição esporádica dura dos seus comandantes militares que se irritavam com os limites por ele (Amílcar Cabral) imposto à actividade militar na Guiné portuguesa e à continua subordinação dos militares aos objectivos políticos".
Lê-se que os norte-americanos manifestaram sérias reservas às confissões tornadas publicas de elementos envolvidos na morte de Amílcar Cabral que culparam Portugal pelo assassinato, mas apontam que, "na base daquilo que sabemos, a cumplicidade portuguesa não pode ser excluída".
Ao Estados Unidos estavam ao corrente da intenção do PAIGC declarar a independência da Guiné-Bissau nas zonas libertadas do território (que aconteceu em Setembro de 1973) e da existência de contactos de Portugal com representantes do movimento de libertação havidos nesse ano, que tinham decorrido em Paris.
Os documentos mostram também que o secretário de estado Henry Kissinger estava farto e irritado com a inflexibilidade portuguesa na questão colonial. Para Kissinger, lê-se, "não hà solução excepto tirar-lhes (os territórios)". “Eu sempre assumi que o único meio que os forçará a sair de Angola e Moçambique é os africanos tornarem as coisas tão quentes que eles sairão. Antes disso não sairão. Falar com eles não os vai levar a sair", disse Henry Kissinger. E opinava que os Estados Unidos deveriam tomar uma decisão política "para tentar levar os portugueses a saírem (de África) o mais rapidamente possível, usando o argumento que esse é o melhor meio para preservar os vestígios da sua posição". "Se seguirmos isso, isso é uma posição razoável … é um ponto de vista político perfeitamente legítimo. Mas não vai avançar só através de consultas”. Para Kisinger Portugal tinha duas opções: "aguentar o máximo tempo possível ou tentar sair o mais rapidamente possível" afirmando que na sua opinião o "meio de sair é seguir a via que De Gaulle escolheu" quando decidiu abandonar a Argélia.
Ou seja: os Estados Unidos, em fins de 1973, já tinham decidido abandonar o colonialismo português à sua própria sorte. Meses depois, dava-se em Portugal o golpe de Estado que derrubou a ditadura e abriu caminho à democracia, ao fim das guerras coloniais e à independência dos países africanos sob dominação portuguesa.


«Inventaram-se pretextos para a morte de Amílcar Cabral», diz Pedro Pires

      O Presidente de Cabo Verde, Pedro Pires, destacado líder da luta de libertação na Guiné-Bissau e em Cabo Verde, considera que muito "foi inventado" para não se encontrarem os responsáveis pela morte de Amílcar Cabral.
"Há causas e há pretextos e há gente que inventou pretextos para não se responsabilizar pela sua morte", afirmou Pedro Pires em entrevista à Agência Lusa sobre o assassínio de Amílcar Cabral, a 20 de Janeiro de 1973, na Guiné-Conacri.
    "O crime beneficiou a quem?", questiona-se Pedro Pires sobre a morte do principal impulsionador da guerra de libertação na então Guiné portuguesa.
      "Não foram contradições internas no seio do PAIGC que estiveram na génese da morte de Cabral, como alguns pretendem fazer crer", acrescenta, contrariando algumas teses sobre a matéria que ainda hoje desperta acesa discussão tanto na Guiné como em Cabo Verde.
Segundo o Presidente, "houve muitas tentativas de matar Cabral e todas falharam até 20 de Janeiro de 1973", na capital da Guiné- Conacri.
     "Depois de falhar no assalto a Conacri (a Operação Mar Verde, protagonizada pelo exército português), depois de falhar a tentativa de dividir o PAIGC dentro da Guiné, havia que atacar o lado mais fraco, que era a República da Guiné. E a razão está exactamente aí", entende Pedro Pires.
     Numa guerra "não há bons inimigos e maus inimigos", há apenas "o" inimigo "e ponto final", prosseguiu, adiantando que "o inimigo está sempre interessado em ganhar" e, na época, "o inimigo" era o exército colonial português.
       No PAIGC, insiste, "houve sempre o respeito pela dignidade do homem, logo também do inimigo, e muitos, no PAIGC não entendem até hoje essa linha de conduta. É neste contexto que se deve analisar a morte de Cabral, sempre no contexto de uma guerra".
     "A Guiné era o palco da luta mais avançada nas ex-colónias portuguesas, era preciso travá-la, e apareceu como método para isso, para travar esse avanço na luta, cortar a cabeça ao seu pilar mais forte", o líder histórico do PAIGC, Amílcar Cabral.
     Profundo conhecedor do processo histórico da independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde, Pedro Pires, fala ainda sobre a importância do pensamento de Amílcar Cabral para a resolução dos principais problemas nos dois países.
    "Na abordagem que Cabral faz da luta de libertação nacional, há muito de útil para Cabo Verde e para a Guiné-Bissau, mas também para a África no seu todo", adianta, lembrando, no entanto, que, como o próprio dizia, "era preciso ter em conta a forma de aplicar as ideias, porque a realidade varia na geografia e no tempo".
    "Nenhum pensamento pode abarcar toda a realidade e não há ideias puras, as ideias são sempre enriquecidas com a prática e a experiência individual e colectiva", insiste.
    Sobre os processos de evolução em Cabo Verde e Guiné-Bissau - o primeiro com índices de desenvolvimento considerados exemplares e uma democracia sólida, ao contrário do segundo, marcado por sucessivos golpes de Estado - Pedro Pires mostra-se prudente, indicando que não quer "correr o risco de ser mal interpretado".
    Mas, admite: "é uma matéria que deve ser discutida para se encontrarem as causas", nomeadamente nos escritos de Cabral, "onde existem várias referências para as razões que levaram a que os processos fossem tão díspares nos dois países".
   É "um desafio estimulante procurar trabalhar por essa via, encontrar as causas e as razões que levaram a que os dois países, que têm Cabral como grande referência, tivessem e tenham realidades tão distintas".
    E deixa a promessa: "Antes da minha morte, gostaria que muitas coisas ficassem clarificadas e vou fazê-lo". 
Fonte: www.noticiaslusofonas

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